sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Sem a ética, ciência, técnica e política podem ser usadas não para o bem mas para o mal

No encontro com os Universitários de Roma, o Papa recomenda a Encíclica "Spe salvi", e apresentou a seguinte reflexão


A [...] reflexão, que desejo propor-vos, refere-se à recente Encíclica sobre a esperança cristã intitulada, como sabeis, Spe salvi, "salvos na esperança", palavras tiradas da Carta de São Paulo aos Romanos (8, 24). Entrego-a idealmente a vós, queridos universitários de Roma e, através de vós, a todo o mundo da Universidade, da escola, da cultura e da educação. Não é porventura o tema da esperança particularmente congenial aos Jovens? Em particular, proponho que façais objecto de reflexão e de confronto, também de grupo, aquela parte da Encíclica na qual falo da esperança na época moderna. No século XVII a Europa conheceu uma autêntica mudança epocal e desde então foi-se afirmando cada vez mais uma mentalidade segundo a qual o progresso humano é só obra da ciência e da técnica, enquanto à fé competiria apenas a salvação da alma, uma salvação meramente individual. As duas ideias principais da modernidade, a razão e a libberdade, separaram-se de Deus para se tornar autónomas e cooperar na construção do "reino do homem", praticamente contraposto ao Reino de Deus. Eis então que se difunde uma concepção materialista, alimentada pela esperança que, mudando as estruturas económicas e políticas, se possa dar vida finalmente a uma sociedade justa, onde reina a paz, a liberdade e a igualdade. Este processo que não está privado de valores e de razões históricas contém contudo um erro de fundo: de facto, o homem não é só o produto de determinadas condições económicas e sociais; o progresso técnico não coincide necessariamente com o crescimento moral das pessoas, aliás, sem princípios éticos a ciência, a técnica e a política podem ser usadas como aconteceu e como infelizmente ainda acontece não para o bem mas para o mal dos indivíduos e da humanidade.
fonte:(©L'Osservatore Romano - 22 de Dezembro de 2007),

domingo, 23 de dezembro de 2007

Cristofobia

O tópico é a controversia sobre ausência de qualquer menção as raizes cristãs da Europa na proposta da Constituição Europeia, mas as reflexões do Professor Joseph H.H.Weiler, da New York University, se aplicam ,tambem, às discussões sobre diferentes questões nos tristes trópicos . No livro “Uma Europa Cristã”, ele afirma: ”É um absurdo que na futura Constituição Europeia não se mencionem as raízes cristãs da Europa” [...]“...devo recordar que a eleição constitucional de metade dos países membros da União Europeia é a de ter em conta e mencionar o cristianismo... uma Europa cristã não é uma Europa exclusivista ou necessariamente confesional, mas que respeita por igual todos os seus cidadãos, crentes e laicos, cristãos e não cristãos”. A citação a seguir é uma excelente descrição da praxe intelectual, aparentemente, hegemônica no Brasil. “Quanto à cristofobia, falo sobretudo, de um sentido cultural, de uma tendência que existe, e é a do progresso identificado com o laicismo. Há quem leia Habermas ou Derrida com autêntica devoção, mas não lê uma Encíclica do Papa, que é igualmente profunda e enriquecedora”.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Les Crimes Cachés du Communisme

A edição de outubro de 2007(numéro spécial), da revista francesa L`histoire, é dedicada aos arquivos inéditos dos "crimes cachés du communisme". O editorial, reproduzido, abaixo, levanta questões importantes e quem sabe um dia consiga chegar aos ouvidos e mentes dos bravos revolucionários brasileiros que ainda comemoram a revolução de Outubro. A revista pode ser encontrada em qualquer boa revistaria/banca de jornais de São Paulo.

Ne pas oublier Lénine

Il y a quatre-vingt-dix ans éclatait la révolution d'Octobre. Jadis, on la commémorait, même em Occidente, à son de trompes, parce que Lénine et ses camarades avaient incarné pendant longtemps l'idéal prolétarien et humain de l'emancipation, de la libération, de la venue d'un monde fraternel. Aux temps de la déstalinisation, Lénine avait été épargné; il passait pour le bon communiste trahi par le mauvais.

Près de vingt ans après la chute du mur de Berlin et l'implosion du communisme soviétique, le ton n'est plus celui de la célébration. Il est difficile aujourd'hui d'eluder les responsabilités de Lénine dans la mise em place d'un régime de terreur. Ce que, pendant des décennies, l'Occidente lui-même s'était refusé de savoir a été porte au grand jour, d'abord par une avante-garde intellectuelle des pays de l'Est, puis par les historiens mettant à profit l'ouverture d'archives jusque-là inaccessibles. Ce sont ces sources inédites qui sont à l'origine de notre numéro spécial.

"La folie de la Révolution fut de vouloir instituer la vertu sur Terre. Quand on veut rendre les hommes bons et sages, libres, modérés, généreux, on est amené fatalement à vouloir les tuer tous", a fait dire à l'un de ses personnages Anatole France. Tel est le paradoxe de toute révolution dont le rêve central est de changer l'homme, créer l'homme nouveau et um peuple neuf. L'enterprise implique um pédagogie mais aussi une violence d'Etat. La terreur imposée est à proportion de l'ambition. Les arrestations arbitraires, les condamnations sommaires, les liquidations de masse, la police politique omniprésente, la surveillance ininterrompue de chacun, les persécutions religieuses, les déportations, l'encouragement à la delation on été érigés en système permanent de gouvernement. Des pratiques qui ont laissé de profondes cicatrices. Aujourd'hui, en Europe de l'Est, dans ces pays si improprement nommés "démocraties populaires", les mémoires douloureuses et les ressentiments enfouis refont surface pour s'installer parfois au coeur du débat public. On n'en a pas fini avec les effets de la terreur.

"Oublier Lénine" était dans les années 1970 un slogan des intellectuels de gauche pour qui le bolchevisme n'était plus un exemple à suivre. Aujourd'hui, devant le bilan humain du communisme soviétique, dont il fut le fondateur, mais aussi des régimes qui, en Chine, au Cambodge ou dans l'ancien glacis soviétiques aprés 1945, se sont réclamés du "marxisme-léninisme", le mot d'ordre des historiens doit bien
être de "ne pas oublier Lénine".

sábado, 1 de dezembro de 2007

Marx e a esperança( excertos da Carta Encíclica SPE SALVI do Sumo Pontifíce Bento XVI)


"20. O século XIX não perdeu a sua fé no progresso como nova forma da esperança humana e continuou a considerar razão e liberdade como as estrelas-guia a seguir no caminho da esperança. Todavia a evolução sempre mais rápida do progresso técnico e a industrialização com ele relacionada criaram, bem depressa, uma situação social completamente nova: formou-se a classe dos trabalhadores da indústria e o chamado « proletariado industrial », cujas terríveis condições de vida foram ilustradas de modo impressionante por Frederico Engels, em 1845. Ao leitor, devia resultar claro que isto não pode continuar; é necessária uma mudança. Mas a mudança haveria de abalar e derrubar toda a estrutura da sociedade burguesa. Depois da revolução burguesa de 1789, tinha chegado a hora para uma nova revolução: a proletária. O progresso não podia limitar-se a avançar de forma linear e com pequenos passos. Urgia o salto revolucionário. Karl Marx recolheu este apelo do momento e, com vigor de linguagem e de pensamento, procurou iniciar este novo passo grande e, como supunha, definitivo da história rumo à salvação, rumo àquilo que Kant tinha qualificado como o « reino de Deus ». Tendo-se diluída a verdade do além, tratar-se-ia agora de estabelecer a verdade de aquém. A crítica do céu transforma-se na crítica da terra, a crítica da teologia na crítica da política. O progresso rumo ao melhor, rumo ao mundo definitivamente bom, já não vem simplesmente da ciência, mas da política – de uma política pensada cientificamente, que sabe reconhecer a estrutura da história e da sociedade, indicando assim a estrada da revolução, da mudança de todas as coisas. Com pontual precisão, embora de forma unilateralmente parcial, Marx descreveu a situação do seu tempo e ilustrou, com grande capacidade analítica, as vias para a revolução. E não só teoricamente, pois com o partido comunista, nascido do manifesto comunista de 1848, também a iniciou concretamente. A sua promessa, graças à agudeza das análises e à clara indicação dos instrumentos para a mudança radical, fascinou e não cessa de fascinar ainda hoje. E a revolução deu-se, depois, na forma mais radical na Rússia.
21. Com a sua vitória, porém, tornou-se evidente também o erro fundamental de Marx. Ele indicou com exactidão o modo como realizar o derrubamento. Mas, não nos disse, como as coisas deveriam proceder depois. Ele supunha simplesmente que, com a expropriação da classe dominante, a queda do poder político e a socialização dos meios de produção, ter-se-ia realizado a Nova Jerusalém. Com efeito, então ficariam anuladas todas as contradições; o homem e o mundo haveriam finalmente de ver claro em si próprios. Então tudo poderia proceder espontaneamente pelo recto caminho, porque tudo pertenceria a todos e todos haviam de querer o melhor um para o outro. Assim, depois de cumprida a revolução, Lenin deu-se conta de que, nos escritos do mestre, não se achava qualquer indicação sobre o modo como proceder. É verdade que ele tinha falado da fase intermédia da ditadura do proletariado como de uma necessidade que, porém, num segundo momento ela mesma se demonstraria caduca. Esta « fase intermédia » conhecemo-la muito bem e sabemos também como depois evoluiu, não dando à luz o mundo sadio, mas deixando atrás de si uma destruição desoladora. Marx não falhou só ao deixar de idealizar os ordenamentos necessários para o mundo novo; com efeito, já não deveria haver mais necessidade deles. O facto de não dizer nada sobre isso é lógica consequência da sua perspectiva. O seu erro situa-se numa profundidade maior. Ele esqueceu que o homem permanece sempre homem. Esqueceu o homem e a sua liberdade. Esqueceu que a liberdade permanece sempre liberdade, inclusive para o mal. Pensava que, uma vez colocada em ordem a economia, tudo se arranjaria. O seu verdadeiro erro é o materialismo: de facto, o homem não é só o produto de condições económicas nem se pode curá-lo apenas do exterior criando condições económicas favoráveis"