terça-feira, 16 de setembro de 2008

A crise e o risco moral

Porque o Fed optou por deixar o Lehman falir, se antes havia ajudado a socorrer o Stearns? Não são situações idênticas? Apenas, na aparência. À época não era possível recorrer ao Fed, mas este não é mais o caso, devido às alterações implementadas pelo Bacen americano para evitar a repetição desse mesmo problema. O Lehman não tinha apenas um problema de liquidez, mas de insolvência e socorrê-lo seria manter o risco moral presente no mercado desde a crise do Long –Term Capital Managemen em 1998 e que, vinha sendo sancionado com uma política generosa de taxa de juros. Os dois eventos somados, reforçavam o risco moral . As intervenções recentes do FED - necessárias, é verdade - mantinham o risco moral. Não socorrer o Lehman foi um jeito inteligente -que implica, naturalmente, em riscos- de dar o recado ao mercado: a festa acabou, o risco moral chegou ao seu fim. Este argumento, sobre o papel do LTCM e do risco moral, do John Auters, colunista do Financial Times, é semelhante ao que apresentamos nos posts sobre a crise e, em claro, contraste com a visão de alguns economistas, que acham que o risco moral ainda não estava presente no mercado, e que a ação do Fed foi exatamente para evitá-lo.

Se, como argumentamos acima, o risco moral já estava presente no mercado, o próximo passo do Fed é manter a taxa de juros inalterada. Reduzi-la, seria, dar vida nova ao risco moral.

Qual o impacto sobre a economia brasileira? Difícil oferecer uma resposta, mas é possível, no entanto, descartar o cenário apocalíptico: fuga de capitais, depreciação exagerada da taxa de câmbio, que, para os heterodoxos radicais, exigiria alguma forma de controle de saída de capitais, entre outros delírios da turma que se passa por economista em Barão Geraldo, Perdizes e alhures.

Acho que o O´Neill tem razão, “vai depender como o Brasil vai lidar com a queda das commodities”, o que implica afirmar que ainda é cedo para descartar a tese de descolamento.