terça-feira, 31 de março de 2009

No caminho correto há uma pedra....

O pacote de redução de impostos vem a somar-se a outras medidas do governo para evitar que a crise ganhe uma dimensão que deixaria feliz os loucos de Cati, a turma do quanto pior melhor. São medidas, a meu ver, corretas e com grande chance de realmene evitar o pior. Há contudo, um porem: a perda de arrecadação está diminuindo, rapidamente, o grau de liberdade no uso de instrumentos de política fiscal o que, naturalmente, torna fundamental o repensar da política monetária. Como mencionado em outro post, o cenário mudou e quando isto ocorre é necessário o ajuste adequado no uso dos instrumentos da política econômica, incluindo a política monetária.

No caso da política fiscal, a queda na arrecadação e a desoneração fiscal podem tornar ainda mais complicado a obtenção de recursos para o plano habitacional recentemente proposto pelo governo. Ele é importante do ponto de vista macro e, principalmente, do social e não pode transformar-se em mais uma promessa para o dia de são nunca.

No imperio a decisão do Obama simplesmente confirma nosso diagnostico em um post antigo, o problema das duas montadoras americanas não tem solução tão facil quando se imaginava e o caminho da concordata continua sendo o mais provável. É o fim do imperio? ainda não. Vide a experiência britânica

segunda-feira, 30 de março de 2009

Tempo e paciência

Bresser tem razão em relação a importância do mercado, mas dificilmente se pode chamar de mercado o que esta sendo proposto no plano Obama. Dai ser no mínimo curioso a afirmação dele que "essa é uma bela ideia que usa do mercado para corrigir o próprio mercado". É hora de reler os conhecidos artigos do Hayek "Economics and Knowledge"(Economica, 1937) e "The Use of Knowledge in Society"( AER, 1945).

Tão pouco é relevante saber se as idéias são novas ou velhas: importa saber se oferecem respostas aos graves problemas da economia americana.

Bresser é um eterno otimista e isto não deixa de ser uma grande virtude, mas neste caso acho que é um otimismo sem fundamento, vazio. Este plano não vai dar certo porque parte de um diagnóstico errado e não em razão da competencia e ou incompetencia na sua gestão. Este é um detalhe importante, mas sempre esquecido pelos formuladores de planos econômicos, principalmente os do tipo salvadores da pátria.

O tempo da política nem sempre é compativel com o tempo da política econômica e apesar dos problemas políticos mencionados por Bresser e comentados em post antigo, o fato é que Obama tem cada vez menos tempo e seu capital politico por maior que seja, não é a prova de chuvas e trovoadas. Lembrai-vos do Bush do 11 de setembro.




"A medida para a compra de títulos podres nos EUA é inovadora e abre espaço para o próprio mercado atuar.

O programa anunciado na última semana pelo Tesouro americano, de subsídios aos investidores privados para que comprem títulos podres, está recebendo críticas fortes porque não resolveria o problema fundamental dos grandes bancos americanos, que é o da subcapitalização. Em vez de elogiarem o governo porque é uma ideia nova e bem estruturada do ponto de vista financeiro, representantes tanto da direita inteligente quanto da esquerda preocupada com a socialização das perdas protestaram.

Os primeiros reagiram negativamente porque, com essa medida, adiou-se a estatização dos bancos mais atingidos que julgam inevitável os segundos, porque é mais um subsídio ao setor financeiro.

Estou de acordo com Alan Greenspan e a "The Economist", segundo os quais a estatização provisória dos principais bancos provavelmente será, afinal, a solução. A experiência de longa depressão do Japão por não haver adotado essa política quando estourou a bolha financeira, em 1990, é bem conhecida. Compreendo a indignação do cidadão comum americano ao ver o governo aplicar bilhões de dólares no salvamento dos bancos. Mas compreendo também a prudência de Obama em não decidir imediatamente pela estatização.

Ainda que a direita inteligente seja a principal apoiadora da política, a direita comum, que é muito grande nos EUA, vê nela o fantasma do "socialismo". Com a política de compra de ativos por fundos privados, um ativo valorizado por 100 (número-índice representando dólares) pelo mercado por meio do leilão será comprado pelo fundo que ganhar o leilão. Este investirá 7 de seu próprio dinheiro e receberá 86 como empréstimo do setor privado garantido pelo Tesouro, o qual, por sua vez, investirá os 7 complementares, tornando-se sócio da operação. Usando o velho provérbio italiano, "si non è vero, è bene trovato".

Em um momento em que precisamos urgentemente de novas ideias -não porque as velhas ideias como a da expansão da liquidez ou a da política fiscal expansiva não sejam boas, mas porque se demonstram insuficientes ou muito caras-, essa é uma bela ideia que usa do mercado para corrigir o próprio mercado.

Clóvis Rossi transcreveu em sua coluna (25/3) crítica do correspondente do "El País" nos Estados Unidos de que, "de algum modo, a cobiça (dos potenciais investidores) e a alavancagem (desta vez com fundos públicos), demonizados como culpados da crise financeira, convertem-se em receita para o resgate". O texto é bom, e a indignação, compreensível, mas não é apenas com indignação que resolveremos a crise. Havia um problema fundamental de precificar os ativos podres dos bancos, e a ideia do leilão resolve com propriedade esse problema.

O Estado é a garantia maior com a qual pode contar uma sociedade, mas, sempre que seu governo consegue contar com o mercado para resolver problemas, principalmente de precificação, é muito bom, porque, nesse caso, o mercado é a instância competente e porque, dessa forma, ele se reanima e se fortalece -algo de que está muito precisado.

É possível que essa nova medida não seja suficiente para resolver o problema da subcapitalização dos grandes bancos americanos e que a nacionalização de alguns deles se revele afinal inevitável, mas é uma medida inovadora que abre espaço para o próprio mercado atuar e, se não resolver todos, resolverá uma parte dos problemas. O presidente Obama está pedindo "tempo e paciência" das pessoas diante da crise. Esperemos fazendo figa para que dê certo."

domingo, 29 de março de 2009

sábado, 28 de março de 2009

A Life , Sylvia Plath

Touch it: it won't shrink like an eyeball,
This egg-shaped bailiwick, clear as a tear.
Here's yesterday, last year ---
Palm-spear and lily distinct as flora in the vast
Windless threadwork of a tapestry.

Flick the glass with your fingernail:
It will ping like a Chinese chime in the slightest air stir
Though nobody in there looks up or bothers to answer.
The inhabitants are light as cork,
Every one of them permanently busy.

At their feet, the sea waves bow in single file.
Never trespassing in bad temper:
Stalling in midair,
Short-reined, pawing like paradeground horses.
Overhead, the clouds sit tasseled and fancy

As Victorian cushions. This family
Of valentine faces might please a collector:
They ring true, like good china.

Elsewhere the landscape is more frank.
The light falls without letup, blindingly.

A woman is dragging her shadow in a circle
About a bald hospital saucer.
It resembles the moon, or a sheet of blank paper
And appears to have suffered a sort of private blitzkrieg.
She lives quietly

With no attachments, like a foetus in a bottle,
The obsolete house, the sea, flattened to a picture
She has one too many dimensions to enter.
Grief and anger, exorcised,
Leave her alone now.

The future is a grey seagull
Tattling in its cat-voice of departure.
Age and terror, like nurses, attend her,
And a drowned man, complaining of the great cold,
Crawls up out of the sea.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Pesquisa mensal de emprego

Saiu o resultado de fevereiro e para surpresa dos cavaleiros do apocalipse os numeros e a realidade que eles traduzem continuam diferentes dos desejos travestidos de previsões desta turma.



"A taxa de desocupação de fevereiro foi 0,3 ponto percentual maior que a de janeiro (8,2%) último e 0,2 ponto percentual inferior à de fevereiro do ano passado (8,7%). A população desocupada (1,9 milhão) teve um acréscimo de 51 mil pessoas (2,7%) em relação a janeiro, e uma redução de 29 mil pessoas (-1,5%) se comparada a fevereiro de 2008. A população ocupada (20,9 milhões) recuou (-1,0% ou menos 211 mil pessoas) em relação a janeiro e cresceu (1,4% ou mais 283 mil pessoas) na comparação anual. O número de trabalhadores com carteira assinada no setor privado (9,4 milhões) reduziu-se (-1,1% ou menos 109 mil pessoas) no mês e cresceu (3,4% ou mais 307 mil pessoas) no ano. Em relação a janeiro, o contingente de ocupados teve variação significativa apenas na Indústria extrativa, de transformação e distribuição de eletricidade, gás e água (-3,2%). No ano, todos os grupamentos de atividade ficaram estáveis.

O rendimento médio real habitual dos trabalhadores (R$ 1.321,30) não teve alteração significativa (-0,1%) no mês e subiu 4,6% frente a fevereiro de 2008. O rendimento médio real domiciliar per capita (R$ 835,21) caiu (-1,0%) no mês e subiu 3,6% no ano. A massa de rendimento real habitual dos ocupados (R$ 27,9 bilhões) teve queda (-1,1%) no mês e alta (6,2%) em relação a fevereiro de 2008."( IBGE)

quinta-feira, 26 de março de 2009

Causalidade equivocada

Como havia mencionado em outro post, gostei do artigo do Nakano na Folha de Domingo, mas discordo da análise em relação a política monetaria. Ele argumenta que "enquanto todos os demais BCs reagiam prontamente, expandindo fortemente o crédito doméstico e reduzindo os juros para contrabalançar a restrição no crédito externo, o nosso reagiu timidamente" e reconhece que "as reduções no compulsório tiveram pouco impacto num ambiente de incerteza aguda".

A pergunta obvia é porque a reação seria diferente no caso da redução da taxa de juros? A experiência internacional sugere que neste tipo de ambiente, a redução do juro não resolve o problema do crédito, pois o problema não é de liquidez, mas falta de confiança e da transformação da incerteza em panico. Neste caso a opção, racional, é pelo porto seguro, no caso brasileiro, a remuneração obtida no over. O equivoco é achar que uma remuneração menor mudaria o comportamento. Não foi a brusca contração do crédito que gerou "quase panico", mas este último que transformou uma redução esperada e normal, em ambiente de incerteza, na oferta do credito, em uma contração brutal. O único instrumento para minimizar, parcialmene, o problema é usar os bancos publicos e esta foi a política adotada pelo governo.

Panico e comportamento de manada, deixam marcas e leva algum tempo para o retorno à normalidade e é isto que está acontecendo.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Por que ainda estamos longe do sucesso

É sempre bom estar em boa companhia. O texto do Martin Wolf, publicado na Folha de hoje, defende, com muito mais elegância e inteligência, o mesmo argumento apresentado no meu último post, escrito nos primeiros minutos de terça feira e por isto aparece como segunda feira.

Minha preocupação cresce cada vez mais. Jamais esperei muito de europeus ou japoneses. Mas esperava que os EUA, sob um presidente novo e popular, agissem de maneira mais decidida. Em lugar disso, o Congresso está cedendo a um frenesi de populismo, e o governo se limita a esperar que tudo termine bem.
Emergiu nos EUA uma hostilidade explosiva ao setor financeiro. O Congresso debate taxar os bônus de executivos. E o procurador-geral de Nova York quer que sejam revelados os nomes. Isso equivale a um convite ao linchamento.
Se aprovadas, essas ideias levariam a um êxodo de pessoal qualificado dos bancos, destruiriam a confiança em acordos com o governo e ameaçariam o Estado de Direito. Que ideias assim sejam debatidas abertamente é um sinal claro das dimensões da raiva.
O mesmo cenário está envolvido no programa anunciado anteontem. Por ele, o governo fornece virtualmente todo o financiamento e arca com quase todo o risco, mas utiliza o setor privado para formar os preços dos ativos. Em troca, os investidores privados obtêm recompensas -talvez generosas- com base no desempenho.
Interpreto essa ideia como "esquema de alívio a fundos abutre". Mas vai funcionar? Depende do significado de "funcionar". Não se trata de um mecanismo real de mercado, porque o governo subsidia os riscos. Os preços podem não ser baixos o bastante para atrair compradores ou altos para satisfazer vendedores. Mas o esquema pode melhorar a situação lastimável das carteiras de operações dos bancos. Isso certamente não pode ser mau, pode? Na verdade pode, caso sirva como obstáculo a soluções mais fundamentais, porque ninguém -e especialmente não o Tesouro- acredita que esse esquema porá fim à subcapitalização crônica do setor. Por que esse esquema pode ser um obstáculo à recapitalização necessária? Primeiro, o Congresso pode decidir que ele torna a recapitalização menos importante; segundo, e mais importante, é provável que o plano torne a recapitalização pelo governo ainda menos popular.
Se o esquema funcionar, alguns fundos terão retornos extraordinários. Temo que isso sirva para convencer muitos americanos de que o governo é uma quadrilha que opera a favor de Wall Street. Agora imaginem o que pode acontecer caso, após a conclusão dos "testes de estresse" dos grandes bancos, o governo decida -surpresa! surpresa!- que é preciso oferecer mais capital. Como convencer o Congresso a desembolsar os recursos necessários?
A provisão de dinheiro público aos bancos é inaceitável para o público, e o controle pelo governo dos bancos é inaceitável para os banqueiros, que continuam influentes. Parecemos estar vivendo um impasse. A única saída é que a maior transparência propiciada pelos novos fundos venha a permitir que os grandes bancos levantem capital privado. Caso isso seja realizado na escala requerida -e estamos falando de até trilhões de dólares-, o novo plano seria um imenso sucesso. Será que os investidores estarão dispostos a fornecer as vastas somas requeridas por instituições com um histórico claro de gestão inepta? A confiança, quando destruída, nunca retorna rapidamente.
A conclusão, logo, é deprimente. Ninguém pode confiar em que os EUA já tenham solução confiável para o desastre bancário. Pelo contrário: com o público furioso, um Congresso em pé de guerra, um presidente tímido e um plano que depende de injetar dinheiro público em instituições subcapitalizadas, os EUA vivem um impasse.
Cabe a Obama encontrar uma saída. Quando se reunir com seus 19 colegas chefes de governo na semana que vem, não poderá alegar já tê-lo feito. E, se isso não basta para assustar, não sei o que bastaria.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Ainda sem solução...

A bolsa americana ganhou algum folego a brasileira e outras seguiram na mesma dança: luz no fim do tunel, diria o mais otimista. Tolices, naturalmente. Não há nada de novo no plano proposto por Obama. É a velha e requentada proposta do governo Bush. Como explicar a boa reação dos mercados? Simples, o subsidio, implicito na proposta, vai deixar feliz os bancos sem problemas. O grande perdedor continua sendo o contribuinte americano.

A proposta não resolve o grande problema: a capitalização dos bancos, apenas tenta resolver o problema de confiança existente no mercado. Como ele não surgiu do nada - é o resultado de uma percepção correta da situação de alguns bancos - dificilmente deixará de existir, no máximo, poderá reduzir, por um período curto de tempo, retomando com mais força. É ai que mora o perigo.

Obama, aparentemente, não tinha outra saida. A solução correta sabemos ser a colocada em pratica na Suecia nos anos 90. Ela contudo implica em grande intervenção no mercado, mas precisamente em alguma forma de estatização, ainda que provisoria, dos bancos com problemas. O clima político, como mencionado em outro post, em relação a maior intervenção do Estado na economia, ainda mantem se prisioneiro do famigerado período da guerra fria e impede qualquer discussão adulta do problema.

Marolinha que virou tsunami

Não é todo dia que um membro importante da oposição elogia o diagnóstico do Presidente Lula. Aliás ele é mais generoso que, alguns, dos membros do próprio governo e, também, do seu partido. Gostei da análise, exceto da parte referente a política monetária - em um post futuro voltarei a este tópico - que, ironicamente, é a parte que cabe a oposição neste grande latifundio em que se transfornou o governo atual. O embate com a area monetária não é novo e repete o mesmo padrão do governo anterior.

Tinha razão nosso presidente quando disse que a crise financeira mundial chegaria ao Brasil suavemente e seria transitória. Estávamos construindo um círculo virtuoso de crescimento baseado no aumento de emprego e de salários, acompanhado de elevação na produtividade, desenvolvendo um dinamismo baseado na expansão do mercado interno. Mas a incapacidade de diagnosticar e a excessiva cautela das autoridades monetárias fizeram a marolinha virar tsunami. O FMI estimou a queda do PIB global no quarto trimestre de 2008 em 5% (taxa anualizada), 6% nos EUA e na zona do euro e 13% no Japão. Pelo mesmo critério, a queda do PIB no Brasil, no mesmo período, foi de 15,2% -o país foi um dos que sofreram maior redução na produção e no emprego, e queda de 45,3% nos investimentos! Dada essa queda, vamos amargar recessão neste ano, e, se as respostas na área monetária e creditícia continuarem tímidas como a última decisão do Copom, não demoramos a concluir que o PIB poderá ter contração, que poderá superar quatro pontos percentuais.
No agregado, pelo canal do comércio, a crise chegou ao Brasil como uma marolinha. Numa economia fechada como a nossa, a queda nas exportações e nos preços das commodities teve impacto mínimo na contração da demanda agregada porque as importações sofreram forte desaceleração. Pelo canal da destruição de riqueza, com queda nas Bolsas, prejuízos nos fundos de investimento e aplicações em derivativos tóxicos, o impacto também não foi grande. O canal da desalavancagem ficou circunscrito a poucas empresas -as que apostaram em derivativos exóticos- e a pequenos bancos.
Foi pelo canal do crédito e da incerteza que a crise chegou ao Brasil. Enquanto todos os demais BCs reagiam prontamente, expandindo fortemente o crédito doméstico e reduzindo os juros para contrabalançar a restrição no crédito externo, o nosso reagiu timidamente. Argumentou-se que o crédito externo representava pequena parcela do crédito bancário total e que o problema de liquidez estava restrito a pequenos bancos. Esqueceram do efeito multiplicador de crédito e que houve parada total no fluxo de recursos que vinha pelo mercado de capitais. As reduções no depósito compulsório tiveram pouco impacto num ambiente de incerteza aguda em que o próprio BC, pagando 13,75% ao ano para aplicações no over, criava alternativa óbvia de aplicação. E, como previsto, as medidas não conseguiram compensar o crédito externo. Assim, a contração brusca de crédito para as empresas foi brutal, gerando um quase pânico, levando-os a paralisar os investimentos, a cancelar os pedidos e a frear a produção preventivamente, já que a demanda não havia caído, como as vendas do comércio comprovam, a não ser naqueles setores diretamente afetados pelo crédito, como o automobilístico.
O erro grosseiro do BC já custou 800 mil postos de trabalho. Em mais dois ou três meses, aqueles que perderam o emprego vão reduzir a demanda, provocando queda na produção e gerando novas demissões. Infelizmente, o erro de política monetária obrigará o governo a acionar mais ativamente a política fiscal, que, aliás, não tem muito espaço.

Yoshiaki Nakano

domingo, 22 de março de 2009

sábado, 21 de março de 2009

Não é socialismo, idiota

Semana complicada, politicamente, para a nova administração americana. O chamado "escandalo" do bonus deu pano pra manga, debates acirrados na CNN e munição para a velha direita na Fox. Alias a turma deste canal tem um conhecimento muito precário de economia e um discurso ideológico anti-estado tipico do período da guerra fria. Se a visão deles prevalecer - e este risco existe - a crise vai ganhar um contorno ainda pior... Assistindo aos comentários desta turma começo a entender o clima político que levou a reversão da política fiscal nos anos 30 e ao grande desastre econômico do período.

A realidade do inicio deste seculo, como já mencionei em outro post, é bem diferente da do seculo passado, mas há um ponto em comum: a burrice e o discurso ideológico da direita americana continua a ser o grande inimigo da boa política econômica. É bom lembrar, mais uma vez, que não se trata de socialismo - um sistema que já se mostrou economicamente inferior a economia de mercado - ou algo parecido, mas de tentar evitar um cenário econômico e social ainda pior. E isto por um simples motivo: a conta, inevitavelmente, ficaria para a turma do andar de baixo.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Novidades no front Ocidental

Queda de arrecadação, alteração do valor esperado do PIB para este ano e a inevitável mudança no valor do superavit primário. Noticias que deixam alguns loucos do Cati muito felizes. Os numéros da arrecadação não é surpresa para ninguem, tão pouco a revisão do PIB: cá entre nós 2% ainda é um número muito otimista, não espero um número negativo, mas muito mais próximo do zero. Ah! é claro não resiste, e resolvi colocar minha colher neste angu.

Falando em otimistas, vale a pena ler a coluna do Mendonça de Barros, na Folha, de hoje. Análise honesta e interessante com um final bem otimista, no campo do que ele chama de "certezas menos certas": " a economia brasileira poderá voltar a crescer, mesmo que modestamente, ao redor de 3% ao ano, na virada de 2009 para 2010". É possível? Tenho lá minhas dúvidas, mas a história econômica do grande bananão é cheia de surpresas. Algumas ruins, a maioria, felizmente, são boas. Esta pode ser mais uma delas.

Já no imperio as coisas vão de mal a pior. Por enquanto o máximo que se alcançou com uma serie de medidas, algumas heterodoxas, foi simplesmente ganhar tempo. Sem uma solução adequada para o setor bancário é dificil ver luz no fim do tunel.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Alone ,Edgar Allan Poe

From childhood's hour I have not been
As others were; I have not seen
As others saw; I could not bring
My passions from a common spring.
From the same source I have not taken
My sorrow; I could not awaken
My heart to joy at the same tone;
And all I loved, I loved alone.
Then- in my childhood, in the dawn
Of a most stormy life- was drawn
From every depth of good and ill
The mystery which binds me still:
From the torrent, or the fountain,
From the red cliff of the mountain,
From the sun that round me rolled
In its autumn tint of gold,
From the lightning in the sky
As it passed me flying by,
From the thunder and the storm,
And the cloud that took the form
(When the rest of Heaven was blue)
Of a demon in my view.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Nós podemos arcar com o custo do salvamento da economia mundial?

Como sempre, uma ótima analise do Wolf sobre a crise econômica. Recomendo, tambem o artigo de hoje na Folha do Alexandre "eram os deuses astronautas".


Nós podemos arcar com o custo desta crise? Os governos destruirão sua solvência, à medida que sacrificam seus balancetes para resgatar os setores privados excessivamente endividados?

O debate, como tem ocorrido com frequência, é entre os Estados Unidos e a Alemanha. Assim, em um discurso na semana passada, Tim Geithner, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, notou que "o FMI pediu para os países implantarem um estímulo fiscal de 2% do PIB agregado por ano em 2009 e 2010. Este é um marco referencial razoável para guiar nossos esforços individuais. Nós achamos que o G20 deve pedir ao FMI que informe os esforços de estímulo dos países em comparação à queda relativa das taxas de crescimento". Não é preciso dizer, nenhum compromisso foi firmado, com a Alemanha se mostrando particularmente resistente.

Todavia, um grande estímulo fiscal foi implantado. É o que esperariam os leitores da recente pesquisa sobre o pós-crise financeira, de autoria de Carmen Reinhart, da Universidade de Maryland, e Kenneth Rogoff, de Harvard. Estes autores concluíram, a partir do estudo de 13 grandes crises financeiras, que o aumento médio da dívida pública real nos três anos que se seguiram a uma crise bancária foi de 86%. Em alguns desses casos, o aumento foi de mais de 150%*.

Logo, há um bom motivo para esperar aumentos imensos do endividamento do setor público por todo o mundo, mesmo entre tomadores de empréstimo soberanos com classificação triplo A? A resposta é: sim. Se for assim, isto garante algum tipo de calote? A resposta é: não. Em um recente estudo, a equipe do Fundo Monetário Internacional sugere por que estas são as respostas corretas**.

Em 2012, como sugere o FMI, a relação entre dívida pública bruta e produto interno bruto poderá ser de 117% na Itália; 97% nos Estados Unidos; 80% na França; 79% na Alemanha; e 75% no Reino Unido. No Japão, que ainda exibe as cicatrizes do legado da uma bolha imensa, a relação poderia chegar a 224%. As atuais previsões são evidentemente muito maiores do que as feitas antes da crise.

Mas os saltos em endividamento não são particularmente onerosos, desde que a disposição dos governos para evitar o calote não seja questionada. Presuma, por exemplo, que a taxa de juro real destes países bem classificados seja de 1 ponto percentual acima da taxa de crescimento de longo prazo de suas economias. Então a exigência para estabilizar a relação entre dívida pública e PIB em 100% é um superávit orçamentário primário (superávit menos o juro) de apenas 1% do PIB.

Todavia, três contra-argumentos podem ser apresentados.

Primeiro, em alguns casos, os déficits fiscais primários são muito grandes. Entre os maiores países avançados, isto é particularmente verdadeiro neste ano -nos Estados Unidos, a previsão é de -9,9% do PIB; no Japão e Reino Unido, a previsão para ambos é de -5,6%; na Espanha, a previsão é de -4,9%. Os déficits primários na França, Alemanha e Itália são bem menores, de -3,6%; menos 1,1% e mais 1,1%, respectivamente. Logo, estabilizar a dívida exige um grande ajuste fiscal em alguns países.

Segundo, a disposição política de coibir os déficits, elevando impostos e cortando gastos, pode ser questionada. Isto poderia se tornar uma profecia que cumpre a si mesma, com fuga das taxas de juros que aumentam a dívida, necessitando um arrocho fiscal cada vez mais oneroso (e portanto menos plausível).

Terceiro, o aumento final do endividamento poderia ser ainda maior do que o previsto pelo FMI. Isto seria consistente com a experiência. A explicação inicial seria a de que a economia mundial entrou em uma deflação prolongada no balancete, comparável à do Japão nos anos 90.

Eu responderia contra estes argumentos.

Primeiro, os mercados estão otimistas em relação às perspectivas fiscais: a inflação esperada permanece contida nos Estados Unidos e no Reino Unido e as taxas de juros dos títulos convencionais de 10 anos do governo americano e britânico permanecem abaixo de 3%.

Segundo, o custo de tratar do fardo adicional dos idosos é muito superior do que qualquer custo plausível da crise. Nas previsões do FMI, o atual valor dos custos fiscais dos idosos nos Estados Unidos é 15 vezes o custo da crise.

Terceiro, não faz sentido evitar uma ação que reduziria enormemente os custos econômicos reais da crise agora para eliminar uma crise fiscal hipotética e evitável posterior. Isto seria como cometer suicídio para parar de se preocupar com a morte.

Todavia, é sábio limitar os riscos fiscais de longo prazo. As ações mais importantes são coibir gastos de longo prazo relacionados à velhice. Mas também há uma agenda atual: reequilibrar a demanda mundial.

Os países com superávit terceirizam para seus parceiros comerciais o trabalho de gastarem até falirem, enquanto os repreendem por serem perdulários. Portanto, o motivo para os Estados Unidos, Reino Unido e Espanha terem déficits fiscais imensos é por estarem compensando o colapso dos gastos privados em casa e da exportação no exterior. Isto é insustentável a longo prazo.

O risco agora é de que os países com superávit esperem que a recuperação venha de uma expansão fiscal enorme e sustentável nos países deficitários. Alguns analistas argumentam que os Estados Unidos deveriam ter se recusado a adotar qualquer ação fiscal, deixando isto para os países com superávit. Infelizmente, isso significaria uma depressão global. Todavia, sem um reequilíbrio não haverá uma recuperação saudável. Neste sentido, os Estados Unidos estão certos e a Alemanha está errada.

*O Pós-Crise Financeira, janeiro de 2009, www.nber.org

**O Estado das Finanças Públicas, março de 2009, www.imf.org

Fonte: UOL on line

terça-feira, 17 de março de 2009

Viola no saco.

Esta aberta a temporada de chutes sobre o PIB brasileiro. Os mais otimista apostam em queda de 0,5% e os pessimistas em 4,5%. Qual o motivo pra tal discrepância? Habilidadade futebolistica? Estado de conservação da bola de cristal. É um espetaculo lamentável que somente reforça o preconceito contra a profissão. Previsões são parte do nosso trabalho, mas um pouco de cautela e modestia não faria mal a ninguem.

O cenário econômico atual não é o corriqueiro e tão pouco há precedente histórico. O mundo no inicio deste novo seculo é bem diferente daquele dos anos 20 do seculo passado e por isto mesmo, por mais tentador que seja, comparações com a crise de 29 é o equivalente de um chute, so que direcionado ao passado.

Modelos econometricos são otimos, mas é o tipo de ferramenta de pouca valia em situações de anormalidade. Melhor colocar a viola no saco e acompanhar os indicadores com mais acuidade.

segunda-feira, 16 de março de 2009

A queda do PIB

A solidão não faz bem a ninguem, mas as vezes é inevitavel em razão da pobreza das análises econômicas que tenho que ouvir sem poder fazer comentários: melhor ficar em silêncio concordando com tudo que prolongar a tortura. O problema não é a discordância ou o referência teorico, mas a ausência total de argumentação econômica. Por isto é sempre agradável ler os artigos do Bresser. Concordando ou discordando de suas análises, há sempre teoria econômica e boa argumentação. Melhor ainda quando ha concordância, como é o caso do artigo de hoje. É verdade que sou muito mais cético quanto ao impacto de uma queda na taxa de juros sobre o resultado do PIB, afinal, como já comentamos em outro post, há uma grande dose de panico e comportamento de manada. Como bom caipira que sou, sei o quanto é dificil retomar o caminho quando isto ocorre.


A principal notícia da semana passada foi a da queda do PIB (Produto Interno Bruto) de 3,6% no último trimestre de 2008 em relação ao trimestre anterior. Os indicadores já disponíveis em relação aos dois primeiros meses de 2009, porém, são ambíguos. As vendas a varejo, por exemplo, apresentaram resultados positivos. Não está ainda definido se já estamos ou não em recessão.
Ninguém pode afirmar que a queda da produção no quarto trimestre era inevitável, mas está claro que poderia ter sido menor se o governo brasileiro, principalmente seu Banco Central, houvesse começado a baixar a taxa de juros antes, e com mais firmeza. Só começou a reduzir a Selic neste ano, mas a boa decisão, que poderia ter sido tomada antes, foi a redução da taxa, na última semana, em 1,5 ponto percentual.
A queda do PIB foi maior do que se esperava, de forma que a reação foi de surpresa e de pessimismo.
Não creio, entretanto, que esse dado altere a avaliação de que a crise econômica global atingirá relativamente menos o Brasil do que a maioria dos demais países. A queda elevada no quarto trimestre ocorreu em relação a um trimestre anterior aquecido, em que a economia cresceu a uma taxa anualizada de 7%. Em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, o quarto trimestre de 2008 apresentou ainda um crescimento de 1,3%. No ano, tivemos um crescimento de 5,1%. Neste ano, o crescimento será muito menor, mas espero que ainda seja positivo.
O desempenho da produção neste ano vai depender muito da política do governo. Até hoje temos sido tímidos em reagir à crise global, mas o único erro grave foi adiar a baixa da taxa de juros. Agora é necessário que o governo aja com maior determinação.
Os jornais noticiam a preocupação do governo com a meta de superávit primário -um problema que, no momento, não faz sentido. O equilíbrio fiscal é sempre um objetivo fundamental, e Keynes nunca propôs déficits públicos crônicos; mas, em momentos de recessão como este, a expansão fiscal torna-se mandatória.
Já mostrei em outros artigos que esta crise representa uma oportunidade para o Brasil, graças, principalmente, ao fato de que ela causou a elevação da taxa de câmbio para um nível mais próximo ao do equilíbrio industrial. Mas, além de representar uma oportunidade para crescimento, a crise representa também uma oportunidade para realizar mudanças institucionais, porque nesses momentos as resistências originadas em ideologias e interesses perdem força. Duas são especialmente necessárias: substituir a meta de superávit primário pela de déficit público e iniciar o processo de desindexação dos contratos firmados pelo governo.
O superávit público é uma meta absurda que serve principalmente para esconder os juros pagos pelo governo. A indexação de contratos com participação do Estado, por sua vez, é um mal. Não há instituição que mais dificulte o controle da inflação do que a indexação. O Brasil foi o país que mais longe foi na indexação, e, em consequência, sofreu 15 anos de alta inflação. No Plano Real, essa indexação foi reduzida, mas não foi eliminada. Cerca de um terço dos preços continuam indexados -e essa é a principal causa da resistência da inflação em cair verticalmente diante da crise.

Luiz Carlos Bresser Pereira

domingo, 15 de março de 2009

sábado, 14 de março de 2009

Culpe os economistas, não a economia

Dani Rodrik tem razão. Leitura obrigatória para o Bruxo e a turma que o idolatra( incluive a velha e retrogada esquerda ex-marxista-leninista). Afinal a esperança é a última que morre.

À medida que o mundo ruma atabalhoadamente para a beira de um precipício, críticos do ofício da economia vêm levantando questionamentos sobre a sua cumplicidade na crise atual. E com razão: os economistas têm muito pelo que responder.
Foram os economistas os que legitimaram e popularizaram a ideia de que um setor financeiro sem amarras representava um benefício para a sociedade. Eles falavam quase de maneira unânime quando se tratava dos "perigos da regulamentação excessiva do governo". Seu conhecimento técnico - ou o que se assemelhava a isso à época - lhes conferiu uma posição privilegiada de formadores de opinião, bem como acesso aos corredores do poder.
Muito poucos dentre eles (exceções notáveis, como Nouriel Roubini e Robert Shiller) soaram os sinos de alarme sobre a crise que se anunciava. Pior ainda, talvez, a profissão fracassou em oferecer orientação proveitosa para desviar o mundo da sua rota de desordem atual. A respeito do estímulo fiscal keynesiano, as opiniões dos economistas variaram de "absolutamente essencial" a "ineficaz e prejudicial".
A respeito da re-regulamentação das finanças, há um grande número de boas ideias, mas pouca convergência. Do quase consenso em torno das virtudes do modelo centrado em finanças do mundo, o ofício da economia passou para uma quase total ausência de consenso sobre o que deve ser feito.
Assim sendo, será que a economia está precisando de uma grande sacudida? Devemos deitar fogo nas nossas cartilhas atuais e reescrevê-las do zero?
Na verdade, não. Sem recorrer à caixa de ferramentas do economista, sequer poderemos começar a entender a crise atual.
Por que, por exemplo, a decisão da China, de acumular divisas estrangeiras, levou uma instituição de crédito imobiliário em Ohio a assumir riscos excessivos? Se a sua resposta não usar elementos de economia comportamental, teoria da agência, economia da informação e economia internacional, entre outros, provavelmente continuará seriamente incompleta.
A falta não reside no campo da economia, mas no campo dos economistas. O problema é que os economistas (e os que lhes dão ouvidos) ficaram excessivamente confiantes nos seus modelos preferidos do momento: os mercados são eficientes, a inovação financeira transfere risco aos melhor capacitados para arcá-lo, a auto-regulamentação funciona melhor e a intervenção do governo é ineficaz e prejudicial.
Eles esqueceram que havia muitos outros modelos que levavam a direções radicalmente diferentes. O orgulho arrogante gera pontos cegos. Se algo necessita de reparo, é a sociologia da profissão. As cartilhas - pelo menos as usadas nos cursos avançados - são ótimas.
Não-economistas tendem a enxergar a economia como uma disciplina que venera mercados e um conceito estreito de eficiência (de alocação). Se o único curso de economia que você frequenta é o típico giro introdutório, ou se você for um jornalista pedindo que um jornalista dê uma rápida opinião sobre um tema de política pública, é o que realmente vai encontrar. Mas pegue mais alguns cursos de economia, ou consuma mais tempo em salas de seminários avançados, e receberá um quadro diferente.
Economistas do trabalho se concentram não só na forma como sindicatos podem distorcer mercados, mas também, na forma como, sob certas condições, eles podem melhorar a produtividade. Economistas do comércio estudam as implicações da globalização sobre a desigualdade dentro de e através de países. Os teóricos das finanças escreveram abundantemente sobre as consequências do fracasso da hipótese de "mercados eficientes". Macroeconomistas da economia aberta examinam as instabilidades das finanças internacionais. O treinamento avançado em economia requer aprendizagem detalhada das falhas de mercado, e sobre o sem-número de formas nas quais os governos podem ajudar os mercados a funcionarem melhor.
A macroeconomia pode ser o único campo aplicado na disciplina de economia no qual mais treinamento aumenta a distância entre o especialista e o mundo real, devido à sua dependência de modelos altamente irreais, que sacrificam a relevância em favor do rigor técnico. Lamentavelmente, em vista das necessidades atuais, os macroeconomistas fizeram pouco progresso em planos de ação desde que John Maynard Keynes explicou como as economias podem ficar atoladas no desemprego devido à demanda agregada insuficiente. Alguns, como Brad DeLong e Paul Krugman, dirão que o campo já regrediu.
A ciência econômica é na verdade um conjunto de ferramentas com múltiplos modelos - cada qual uma apresentação diferente e estilizada de algum aspecto da realidade. A habilidade de um economista depende da sua capacidade de escolher cuidadosamente o modelo apropriado para a situação.
A fertilidade dos economistas não se refletiu no debate público porque os economistas tomaram demasiada liberdade. Em vez de apresentar menus de opções e relacionar as vantagens e desvantagens relevantes - a razão de ser da Economia - muitas vezes os economistas preferiram transmitir suas próprias preferências políticas e sociais. Em vez de serem analistas, eles têm sido ideólogos, preferindo um conjunto de ordenamentos sociais em detrimento de outros.
Além disso, os economistas têm hesitado em compartilhar as suas dúvidas com o público, temendo "fortalecer os bárbaros". Nenhum economista pode estar completamente seguro de que seu modelo predileto esteja correto. Mas quando ele e outros o defendem a ponto de excluir as alternativas, acabam transmitindo um grau exagerado de confiança sobre o tipo de rota de ação exigido.
Paradoxalmente, portanto, a desordem reinante na profissão representa, talvez, um reflexo melhor do verdadeiro valor agregado da profissão face ao seu enganoso consenso anterior. A economia pode, na melhor das hipóteses, tornar claras as opções para os formuladores de políticas; ela não pode fazer essas escolhas para eles.

Quando os economistas discordam, o mundo fica exposto a legítimas diferenças de opinião sobre como a economia funciona. É no momento em que eles concordam tanto que o público deve tomar cuidado.

Dani Rodrik é professor de economia política na Escola de Governo John F. Kennedy da Universidade Harvard e foi o primeiro a receber o Prêmio Albert O. Hirschman do Conselho de Pesquisa de Ciências Sociais © Project Syndicate/Europe´s World, 2009. www.project-syndicate.org

sexta-feira, 13 de março de 2009

Besteirol do bruxo

O Bruxo ataca novamente e desta vez com um besteirol daqueles: emissão monetária para combater a crise é uma solução desesperadora e justificavel no caso britanico e americano. Advogar o mesmo para o caso brasileiro é doideira demais, já que a situação ainda é perfeitamente administrável via política de taxa de juros. Alem do mais a situação econômica brasileira, exceto pelo setor de bens comercializaveis, está longe do cenário apocaliptico pintado pela mídia. Como ja haviamos comentado a crise um dia atingiria a economia brasileira, mas os bons fundamentos e uma política econômica inteligente podem reduzir, significativamente, o seu impacto assim como sua extensão no tempo.

A crise no setor de bens comercializaveis é o resultado de problemas no comércio mundial, à secura do credito no setor bancário privado e a imprudência de alguns empresas que esqueceram qual era o seu negócio e brincaram de empresas financeiras. E por isto não me parece correto culpar a politica econômica do atual governo pelos problemas do setor. A bem da verdade as medidas do governo foram adequadas.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Song on the End of the World, Czeslaw Milosz

On the day the world ends
A bee circles a clover,
A Fisherman mends a glimmering net.
Happy porpoises jump in the sea,
By the rainspout young sparrows are playing
And the snake is gold-skinned as it it should always be.

On the day the world ends
Women walk through fields under their umbrellas
A drunkard grows sleepy at the edge of a lawn,
Vegetable peddlers shout in the street
And a yellow-sailed boat comes nearer the island,
The voice of a violin lasts in the air
And leads into a starry night.

And those who expected lightning and thunder
Are disappointed.
And those who expected signs and archangels' trumps
Do not believe it is happening now.
As long as the sun and the moon are above,
As long as the bumblebee visits a rose
As long as rosy infants are born
No one believes it is happening now.

Only a white-haired old man, who would be a prophet,
Yet is not a prophet, for he's much too busy,
Repeats while he binds his tomatoes:
No other end of the world there will be,
No other end of the world there will be.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Nada será como antes?

1,5 como argumentamos ontem está de muito bom tamanho. A turma de sempre esperava mais: 2,0. Seria um erro, mas, se necessário, na próxima reunião uma nova redução não deve ser descartada.

O credito continua escasso e alguns setores estão sentindo fortemente os problemas no comercio internacional. Nem sempre é possível substituir, no curto prazo, o mercado externo pelo doméstico e quando possível o aumento na oferta leva a inevitavel queda de preços. O governo deveria estar atento ao problema para evitar a piora deste cenário.

De resto ainda é cedo para analise definitivas e previsões apocalipticas a respeito do futuro da economia brasileira que, alias, não é a economia com pior performance. A midia esqueceu da Russia, Ucrania entre outros menos conhecidos e em situação muito pior.

terça-feira, 10 de março de 2009

É hora de reduzir os juros

Nunca fiz parte do coro que pedia reduções da taxa de juros. Mas agora o cenário mudou e, como dizia o velho Keynes, quando isto ocorre é necessário rever a opinião.Somente o fundamentalismo tolo mantem a mesma opinião, quando há alterações que justificam e pedem mudanças. Uma redução corajosa na taxa selic, algo como 1,5 não seria uma demonstração de fraqueza do Banco Central, de submissão a turma de sempre. Ao contrário seria uma confirmação de demonstração de fidelidade a boa teoria econômica.

A turma de sempre sonha com um Bacen com um perfil diferente, menos conservador e mais criativo. Concordo com o segundo desejo, mas não com o primeiro. O Bacen é por definição conservador, se abrir mão desta caracteristica o risco é muito maior de fazer besteiras. Então como ser criativo? Afinal, aparentemente, isto não seria compativel com um comportamento conservador. Discordo. Há espaço para criatividade, mesmo em práticas conservadores. É a capacidade de combinar as duas que faz toda a diferença.

Quanto a turma de sempre, melhor ignora-la, afinal macroeconomia não é exatamente a área de expertise desta turma.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Obama começou bem

Dona Vera tem toda razão na sua avaliação dos USA. E desta vez, também, concordo com o velho mestre: Obama, ate o momento, está sendo fiel a seus compromissos de campanha. Dai ser uma esperança para o mundo, sinceramente, não sei, mas ate pode ser o caso. É bom, contudo, não esquecer do Carter, um excelente governo - pioneiro na política dos direitos humanos - que tornou-se a ante-sala para a revolução conservadora liderada pelo grande canastrão. A crise se aprofunda e as soluções/propostas apresentadas por Obama estão loge de serem uma maravilha...Corte de impostos na crise atual não é a solução, já que não aumenta o consumo, apenas reduz as dividas. É preciso reconhecer que estamos em territorio desconhecido e o risco de quebrar a cara , por isto mesmo, é alto.



Desde outubro negro de 2008, todas as notícias econômicas são de uma crise que se espalha, mas as piores continuam a vir dos Estados Unidos. Não é surpreendente porque foi esse país que mergulhou mais fundo no neoliberalismo e na financeirização -as duas distorções mortais de um capitalismo que podia ser mais civilizado, um capitalismo que, nos 30 anos após a Segunda Guerra Mundial, sob a liderança desse mesmo país, havia demonstrado ser compatível com estabilidade, crescimento, desconcentração da renda. Talvez por isso na semana passada minha mulher, Vera, lendo mais uma má notícia, comentou: "É triste ver os Estados Unidos, um país que já contribuiu tanto para o progresso da humanidade, encontrar-se em situação tão difícil".

Não importa saber agora por que ocorreu essa reversão do destino, quais foram os erros cometidos, mas reconhecer quão importante são os Estados Unidos para a ciência, para a cultura e para a economia do mundo e torcer por seu povo. Mais especificamente, torcer por seu novo presidente. Creio que hoje esse é um sentimento universal que não decorre de eventual generosidade das pessoas, mas do fato de que um governo mais democrático, mais competente e mais bem-sucedido nos Estados Unidos beneficiará todo o mundo. Por isso, estamos acompanhando os passos de Barack Obama. E, por isso, eu me alegro ao verificar que ele está começando bem seu governo.

Sei bem que essa é uma avaliação subjetiva que pouco vale, mas já existem fatos concretos. O primeiro foi o grande pacote fiscal de US$ 780 bilhões que ele já logrou aprovar no Congresso. Dessa forma, reconheceu sem hesitar que neste momento o estímulo fiscal é a prioridade. É verdade que os republicanos lograram prejudicar a política ao substituir o aumento de gastos direcionados para um aumento das isenções de impostos que beneficiam os ricos. Mas em compensação o presidente logrou incluir em seu pacote fiscal o perdão parcial das dívidas hipotecárias que deram origem à crise -uma medida que ataca a origem mais direta da crise.

A grande virada de política econômica deste início de governo, porém, foi a proposta de Orçamento. Depois de quase 30 anos de neoliberalismo, de reduzir sistematicamente os impostos dos ricos e de caminhar na direção de uma taxa única de Imposto de Renda, vimos agora uma guinada decisiva na direção oposta. Conforme informou David Leonhardt, do "New York Times", o novo Orçamento prevê forte elevação dos impostos sobre os ricos, para além do patamar para o qual Bill Clinton os elevara, enquanto reduz os tributos sobre o resto da população para menos do que estavam sob Clinton e George W. Bush. Propôs cerca de US$ 100 bilhões por ano de aumento dos impostos sobre os ricos -em sua maioria adiados até 2011, quando se presume que a recessão terá terminado- e US$ 50 bilhões por ano em cortes líquidos para os não-ricos. Além disso, o Orçamento é um caminho na direção de mudanças amplas na política de saúde, de educação e de proteção do ambiente. Dessa forma, Obama está sendo fiel a seus compromissos de campanha e dando esperança para o mundo.

L.C.Bresser Pereira

domingo, 8 de março de 2009

sábado, 7 de março de 2009

Financeirização

Li e reli mas continuo não comprando a idéia de financeirização e riqueza fictícia. Para Bresser, em recente artigo, a financeirização seria uma distorção da atividade do sistema financeiro, manifesto no papel da especulação. Sinceramente, parece metafisica, no pior sentido do termo, com resquicio de um certa visão moral,que pensava, perdida no tempo. Aparentemente, estava errado.

A especulação faz parte do funcionamento do mercado financeiro e de vários mercados e desempenha um papel importante que está longe de ser, sempre, desestabilizador.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Tempo de reler Wicksell, Keynes, Hayek e Schumpeter.

O resultado da produção industrial de janeiro não é muito diferente do que eu esperava. Ok, reconheço esperava um número um pouco melhor, mas não muito. E por isto mesmo mantenho a minha avaliação: sim a crise vai atingir a economia brasileira, porem com uma intensidade bem menor que em outros países. O desemprego devera aumentar, mas prefiro, por enquanto, resistir a tentação e não chutar um número. Melhor esperar... Continuo otimista.

Já no Império meu pessimismo parece não ser pareo para o que está acontecendo no dia a dia e o impensável provavelmente vai acontecer: a estatização, na prática, da grande Cia ou a sua falência. Não sera o primeiro icone americano a desaparecer, mas o impacto, da falência ou da estatização, sobre as expectativas deverá tornar a crise ainda pior.

Cada escola tem uma ótima explicação para a crise que estamos vivendo, mas a melhor palavra, na minha opinião, é purgação. Tempo de reler Wicksell, Keynes, Hayek e Schumpeter.

quinta-feira, 5 de março de 2009

March Elegy, Anna Akhmatova

I have enough treasures from the past
to last me longer than I need, or want.
You know as well as I . . . malevolent memory
won't let go of half of them:
a modest church, with its gold cupola
slightly askew; a harsh chorus
of crows; the whistle of a train;
a birch tree haggard in a field
as if it had just been sprung from jail;
a secret midnight conclave
of monumental Bible-oaks;
and a tiny rowboat that comes drifting out
of somebody's dreams, slowly foundering.
Winter has already loitered here,
lightly powdering these fields,
casting an impenetrable haze
that fills the world as far as the horizon.
I used to think that after we are gone
there's nothing, simply nothing at all.
Then who's that wandering by the porch
again and calling us by name?
Whose face is pressed against the frosted pane?
What hand out there is waving like a branch?
By way of reply, in that cobwebbed corner
a sunstruck tatter dances in the mirror.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Farewell to the Neo-Classical Revolution

È um texto antigo - publicado em setembro de 2008 -, mas a sua leitura, hoje, é ainda mais relevante, já que não há mais dúvidas quanto ao retorno da intervenção estatal, direta, na economia.


The neo-classical revolution believed that markets were much more cyclically stable than Keynes believed, that the risks in all market transactions can be known in advance, and that prices will therefore always reflect objective probabilities.

Such market optimism led to de-regulation of financial markets in the 1980’s and 1990’s, and the subsequent explosion of financial innovation which made it “safe” to borrow larger and larger sums of money on the back of predictably rising assets. The just-collapsed credit bubble, fueled by so-called special investment vehicles, derivatives, collateralized debt obligations, and phony triple-A ratings, was built on the illusions of mathematical modeling.

Liberal cycles, the historian Arthur Schlesinger thought, succumb to the corruption of power, conservative cycles to the corruption of money. Both have their characteristic benefits and costs.

But if we look at the historical record, the liberal regime of the 1950’s and 1960’s was more successful than the conservative regime that followed. Outside China and India, whose economic potential was unleashed by market economics, economic growth was faster and much more stable in the Keynesian golden age than in the age of Friedman; its fruits were more equitably distributed; social cohesion and moral habits better maintained. These are serious benefits to weigh against some business sluggishness.

History, of course, never repeats itself exactly. Circuit-breakers are in place nowadays to prevent a 1929-style slide into disaster. But when the financial system, left to its own devices, seizes up, as it now has, we are clearly in for a new round of regulation. Industry will be left free, but finance will be brought under control.

Para ler o resto do artigo clique aqui

terça-feira, 3 de março de 2009

Otimistas

A taxa de degelo das economias do capitalismo maduro é impressionante e deverá continuar por um bom tempo. Esta na hora de reler os austriacos. Ok, a análise deles tem problemas, mas pelo menos nos ajuda a não seguir por caminhos errados. Isto, por si só, já é de grande ajuda.

Primeiro foi a revista da nova e velha direita que foi tomada por um otimismo sádio, agora é o excelente analista da Folha - um pessimista de carteirinha. Ele argumenta, na coluna de hoje que " a economia brasileira despiora um tico. "Despiora", sim. Tem de ser na base do neologismo, pois apenas nos recuperamos do infarto geral de dezembro". Ainda é um otimismo envergonhado, mas já é um avanço em relação a maioria dos jornalistas que continuam com o besteirol de sempre sobre a crise econômica...

Na mesma Folha, mas em outro caderno - a ilustrada - João Pereira Coutinho apresenta uma boa defesa do capitalismo.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Mais do mesmo...

A AIG esta novamente passando o pires e curiosamente agora se fala que ela será estatizada.Palavas, palavras,..., ela foi, na prática e aos olhos do mercado estatizada quando o Estado americano a socorreu no ano passado. É como o casal que mora junto e resolve visitar o cartório ou a igreja para tornar o relacionamento oficial. Algo semelhante deverá ocorrer com um grande banco. É questão de tempo.

No grande bananão, como comentamos no último post, ate mesmo a revista da velha e da nova direita caiu na real: a crise, quando atingir o Brasil, terá um impacto menor que em outros países. É claro que o setor exportador será afetado e o desemprego, localizado, deverá aumentar. Problemas que medidas adequadas de política econômica poderá tornar menos doloroso.

A tão criticada política de acumulo de reservas passou, em um passe de magica, de vicio para virtude. Pelo andar da carruagem a turma de sempre ainda vai ter que reconhecer os meritos da política do Bacen.

domingo, 1 de março de 2009