domingo, 31 de maio de 2009

sábado, 30 de maio de 2009

Not Ideas About the Thing But the Thing Itself, Wallace Stevens

At the earliest ending of winter,
In March, a scrawny cry from outside
Seemed like a sound in his mind.

He knew that he heard it,
A bird's cry at daylight or before,
In the early March wind.

The sun was rising at six,
No longer a battered panache above snow . . .
It would have been outside.

It was not from the vast ventriloquism
Of sleep's faded papier mâché . . .
The sun was coming from outside.

That scrawny cry—it was
A chorister whose c preceded the choir.
It was part of the colossal sun,

Surrounded by its choral rings,
Still far away. It was like
A new knowledge of reality.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Fraca demanda doméstica é um problema crônico na Europa

Mais um artigo de leitura obrigatória do Martin Wolf. Enquanto isso, no grande bananão temos que conviver com jornalistas econômicos mediocres e a turma de sempre.


Por que a União Europeia está sofrendo tanto em uma crise que teve início nos Estados Unidos? A resposta é encontrada em quatro fraquezas: primeiro, a Alemanha, a maior economia da UE, é altamente dependente dos gastos nos países estrangeiros; segundo, várias economias da Europa Ocidental estão sofrendo de colapsos na demanda pós-bolha; terceiro, partes da Europa Central e Oriental também estão sendo forçadas a cortar gastos; e, quarto, os bancos europeus provaram ser vulneráveis tanto à crise americana quanto às dificuldades mais próximas de casa. Dadas estas realidades, a recuperação provavelmente será lenta e dolorosa.

Segundo as mais recentes previsões de consenso, a economia da UE deverá sofrer uma retração de 3,6% neste ano e de 3,7% na zona do euro, enquanto a previsão de retração nos Estados Unidos é de apenas 2,9%. Logo, a crise pune os frugais mais do que os perdulários. Parece tão injusto. Mas não é: os frugais dependem dos perdulários.

Um comentário na previsão de primavera da Comissão Europeia chega ao âmago do problema: "Como as exportações geralmente são o primeiro componente para recuperação do ciclo de negócios na zona do euro", ela argumenta, "o panorama das exportações é a chave". A zona do euro é a segunda maior economia do mundo. Por que deveria depender da recuperação da demanda externa? A resposta está na Alemanha. A Comissão prevê que a queda líquida das exportações será responsável por 3/5 da retração econômica de 5,4% neste ano.

Uma forma de ilustrar o que está acontecendo é em termos de balanços setoriais -a diferença entre renda e gastos (ou poupança e investimento) nos três principais setores: governo, privado e exterior. Por definição, a soma deles é zero. Normalmente, as mudanças no balanço do setor privado movem a economia. Quando o setor privado reduz seus gastos, o déficit em conta corrente encolhe e o balanço fiscal deteriora. Qual dos dois predomina depende de como uma economia em particular funciona.

Nós podemos determinar balanços implícitos do setor privado a partir das previsões da Comissão. Dentro da zona do euro, a Holanda e a Alemanha tiveram enormes superávits privados em 2007, de 9,5% e 7,8% do produto interno bruto, respectivamente. Seus superávits em conta corrente foram de 9,8% e 7,6%% do PIB, respectivamente. No geral, entretanto, a zona do euro não teve quase nenhum superávit no setor privado e em conta corrente. Logo, os superávits da Alemanha e Holanda foram compensados por déficits em outros lugares. Os da Espanha foram os mais importantes: o déficit do setor privado alimentado pela bolha foi de 12,3% do PIB em 2007 e seu déficit em conta corrente de 10,1%. Mas Grécia, Irlanda e Portugal também tiveram grandes déficits no setor privado e em conta corrente.

Entre 2007 e 2009, os balanços dos setor privado dos países com bolha estão previstos para oscilar dramaticamente para o superávit, de 15,8% do PIB na Irlanda e 14% na Espanha. Em ambos os países, a principal compensação será uma enorme deterioração nas posições fiscais, mas os balanços exteriores também deverão melhorar, em 3,6% e 3,2% do PIB, respectivamente. A previsão para o balanço privado do Reino Unido é de que melhore em 8,9% do PIB, compensado pela enorme deterioração da posição fiscal. Nos Estados Unidos, a previsão é de que o balanço privado passe de um déficit de 2,4% do PIB para um superávit de 8,6% ao longo de dois anos, uma alteração de 11% do PIB.

Resumindo, nas economias pós-bolha o setor privado deverá gastar muito menos, em relação à renda, neste ano do que há dois anos. O impacto sobre os países com superávit, dependentes das exportações do setor manufatureiro, tem sido devastador. Na Alemanha, o balanço do setor privado pouco deverá mudar mas, sendo uma economia dependente das exportações, será terrivelmente afetado pelos declínios nos gastos em outros lugares.

O impacto da crise na Europa Central e Oriental também é notável. Segundo o mais recente Panorama Econômico Mundial, os fluxos de capital para a Europa emergente cairão de 9,5% do PIB em 2007 para -0,7% neste ano. A mudança forçará declínios imensos nos déficits externos e grandes recessões. Os números para os minúsculos países bálticos são extraordinários: as reduções nos déficits em conta corrente previstas pela Comissão são de 21% do PIB para Letônia, 17% para a Estônia e 13% para a Lituânia entre 2007 e 2009. Na Letônia, o balanço do setor privado deverá sofrer uma alteração de 32% do PIB em dois anos. Não é de se estranhar que a Comissão preveja que o PIB poderá encolher em 13% na Letônia, 11% na Lituânia e 10% na Estônia em 2009.

O setor bancário da Europa também foi terrivelmente danificado. Segundo o mais recente Relatório de Estabilidade Financeira Global do Fundo Monetário Internacional, as baixas esperadas nos ativos dos bancos em 2009 e 2010 são de US$ 750 bilhões na zona do euro e US$ 200 bilhões no Reino Unido, contra apenas US$ 550 bilhões nos Estados Unidos. Além disso, o capital necessário para reduzir a alavancagem dos bancos da zona do euro para 25 para 1 seria de US$ 375 bilhões e o dos bancos do Reino Unido de US$ 125 bilhões, contra US$ 275 bilhões para os bancos americanos. Os bancos ocidentais também estão altamente expostos na Europa Central e Oriental: como comentou a Comissão, "os bancos dos 'velhos' países membros representam cerca 950 bilhões de participação estrangeira nos 'novos' países membros e outros mercados emergentes europeus, em um total de cerca de 82% da participação estrangeira total. Em termos absolutos, as maiores exposições são dos bancos da Áustria, Alemanha, Itália e França".

Os detalhes podem parecer complexos. Mas o ponto fundamental não é: a economia europeia ganhou uma ilusão de saúde com gastos insustentáveis em países periféricos em seu oeste, sul e leste. As bolhas de preços dos ativos, o crescimento do crédito e booms de investimento que caracterizaram estes gastos todos sofreram colapso, ao mesmo tempo em que uma bolha ainda mais significativa estourou nos Estados Unidos. O timing não é, é claro, coincidência. O colapso devastou a atividade nos países dependentes de exportação, dentre os quais a Alemanha é o mais importante. Além disso, como resultado da má gestão de risco, muitos bancos europeus também foram seriamente atingidos.

A questão é se a economia europeia pode esperar retornar à saúde via uma recuperação normal liderada pelo setor privado. Infelizmente, nas economias pós-bolha uma recuperação dessas é improvável: seria preciso esperar pelo acúmulo de ainda mais dívida por parte dos já altamente endividados.

Isto deixa duas respostas europeias, uma provável mas indesejável, a segunda improvável mas desejável. A resposta provável é que a demanda será estimulada por expansões fiscais insustentáveis nas economias pós-bolha. A resposta improvável é que a demanda privada aumentará nas economias com crédito, particularmente na Alemanha. Na ausência de ambas, a Europa esperará pelos Estados Unidos gastarem até retornarem ao vigor (temporário). É um quadro triste, independente do que "os brotos verdes" possam parecer mostrar.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Plural

Sempre que ouço a palavra plural, lembro de duas outras palavras usadas no passado, na epoca da guerra fria: democracia popular. Era assim que os regimes anti-capitalistas se autodenominavam, naturamente, não eram democráticos, e tão pouco populares. Quando alguem usa a expressão visão plural, ambiente plural, o significado parece ser o mesmo: justificar o injustificavel. Não por acaso o mesmo argumento é usado pela direita nos campi americano. Aqui, como lá, é a estratégia da minoria, interessada em incluir autores e ou visões, que por critérios acadêmicos, estariam ausentes do curriculum. Está é uma pratica que nega o principio básico da vida acadêmica, que deve ser meritocrático e livre de qualquer forma de patrulhamento ideológico. A única regra para inclusão de um autor ou pensamento deve ser sua relevância acadêmica e não sua visão política. Se usarmos o critério de afinidade ideológica, excluiriamos reacionários do quilate de T.S.Eliot, Pound e Celine, para ficar em uma lista de escritores bem conhecidos pelo talento e visão política no campo da direita pouco civilizada.

É um equivoco, me parece, incorporar à vida acadêmica, clivagens do mundo político, e transformar a vida acadêmica em uma reprodução em escala menor do que há de pior no mundo político. O mesmo argumento é valido para as disputas internas à comunidade dos economistas. Um minímo de civilidade e de linguagem comum são fundamentais, mas raras neste ambiente.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

The crisis of 2008: structural lessons

Interessante artigo do Acemoglu sobre a crise econômica. Concordo com a auto-critica e com os temores em relação a turma de sempre.


We do not yet know whether the global financial
and economic crisis of 2008 will go down in
history as a momentous or even uniquely catastrophic
event. Unwritten history is full of events that
contemporaries thought were epochal and are today
long forgotten. And on the other side of the scale, there
were many in the early stages of the Great Depression
that belittled its import. Though it is too soon to tell
how the second half of 2008 will feature in history
books, there should be no doubt that it signifies a critical
opportunity for the discipline of economics. It is an
opportunity for us - and here I mean the majority of the
economics profession, unfortunately myself included -
to be disabused of certain notions that we should not
have so accepted in the first place. It is also an opportunity
for us to step back and consider what the most
important lessons we have learned from our theoretical
and empirical investigations - that remain untarnished
by recent events - are and ask whether they can provide
us with guidance in current policy debates.

This Policy Insight first provides my views on what
intellectual errors we have made and what lessons these
errors offer us moving forward. My main objective,
however, is not to dwell on the intellectual currents of
the past, but to stress that economic theory still has a
lot to teach us and policy makers as we make our way
through the crisis. I would like to argue that several economic
principles related to the most important aspect
of economic performance, the long-run growth potential
of nations, are still valid and hold important lessons
in our intellectual and practical deliberations on policy.
But, curiously, these principles have played little role in
recent academic debates and have been entirely absent
in policy debates. As academic economists, it is these
principles and the implications of current policies for
the growth potential of the global economy that we
should be reminding policymakers of.

Para ler o resto do "paper" clique aqui

terça-feira, 26 de maio de 2009

Mais uma idéia fora de lugar

Bresser Pereira retoma um ponto que já foi muito controverso: controle de capitais na entrada. Depois da experiencia de alguns países ele deixou de ser tabu e passou a ser uma medida aceitável em situações em que ela é o opção menos ruim. Não me parece ser o caso atual do Brasil. Por enquanto é mais uma ídéia fora de lugar.



" Na semana passada, minha mulher, que não é economista, mas psicanalista, vendo o real voltar a se valorizar, disse-me que esse vaivém era muito ruim e, usando seu bom senso, perguntou por que não se limitavam a entrada e a saída de capitais. Não se limita a entrada de capitais, respondi-lhe, porque essa política vai contra os princípios fundamentalistas neoliberais aprendidos pelos economistas nas suas escolas e porque não interessa aos países ricos que os países em desenvolvimento tenham taxas de câmbio competitivas.
Já quanto à saída de capitais, a história é outra: não se deve limitá-las porque isso é sinal de fragilidade financeira do país, sinal de que ele não controlou seu déficit público e aceitou o "bom" conselho de "crescer com poupança externa", deixando, assim, que o país fosse inundado de dólares, euros e ienes.
A taxa de câmbio é o preço que, se os mercados funcionassem como seus fundamentalistas supõem, flutuaria mantendo-se razoavelmente estável e garantindo o equilíbrio da conta corrente do país. Entretanto, como esse excelente coordenador da economia que é o mercado não é capaz de realizar essa tarefa específica, a flutuação da taxa de câmbio nos países em desenvolvimento tem um viés para o lado da apreciação que, não sendo corrigido pelo governo, termina em crise de balanço de pagamentos. As causas dessa tendência são estruturais, associadas à doença holandesa e à maior rentabilidade dos investimentos, às quais se somam as políticas da ortodoxia convencional de crescimento com poupança externa, âncora cambial e taxas de juros elevadas.
Dada a existência dessa volatilidade e, principalmente, dessa tendência à sobreapreciação, os países em desenvolvimento bem-sucedidos administram sua taxa de câmbio evitando que a sobreapreciação ocorra. No passado, faziam isso com o regime de câmbio fixo, mas aos poucos ficou claro que era melhor deixar a moeda nacional flutuar no mercado e, ao mesmo tempo, administrá-la.
Essa era a prática recomendada por Keynes; é o que o bom senso determina. A ortodoxia neoliberal, porém, chama essa prática de "flutuação suja", insiste em que o mercado é bom coordenador do câmbio, apesar de todas as evidências em contrário, e, novamente contra toda evidência, afirma que é impossível administrar o câmbio e, finalmente, condena às chamas do inferno quem defender o controle de entradas quando os influxos de capital forem muito grandes; só economistas "populistas" poderiam fazer isso.
O problema não é apenas ideológico. Interessa aos operadores financeiros que haja flutuações no câmbio dos países em desenvolvimento porque essa é uma origem de seus ganhos. E principalmente interessa aos países ricos de onde nos vem a "verdade econômica" que a taxa de câmbio nos países em desenvolvimento tenda a ser alta. Dessa forma, sua desvantagem nos mercados internacionais causada por seus salários mais altos é compensada pelo câmbio sobreapreciado nos países em desenvolvimento, principalmente nos países de renda média que são seus grandes concorrentes.
O mal maior que os países em desenvolvimento enfrentam é a fragilidade financeira internacional. Se o país adotar uma política macroeconômica correta, baseada em Orçamento público equilibrado, juros moderados e câmbio competitivo, o país não precisará controlar a entrada de capitais, a não ser em momentos especiais. Se ouvir o fundamentalismo, estará sempre à beira da crise e pedindo ajuda a seus concorrentes mais ricos"

Fonte: FSP

domingo, 24 de maio de 2009

sábado, 23 de maio de 2009

The Cat And The Moon, William Butler Yeats

The cat went here and there
And the moon spun round like a top,
And the nearest kin of the moon,
The creeping cat, looked up.
Black Minnaloushe stared at the moon,
For, wander and wail as he would,
The pure cold light in the sky
Troubled his animal blood.
Minnaloushe runs in the grass
Lifting his delicate feet.
Do you dance, Minnaloushe, do you dance?
When two close kindred meet.
What better than call a dance?
Maybe the moon may learn,
Tired of that courtly fashion,
A new dance turn.
Minnaloushe creeps through the grass
From moonlit place to place,
The sacred moon overhead
Has taken a new phase.
Does Minnaloushe know that his pupils
Will pass from change to change,
And that from round to crescent,
From crescent to round they range?
Minnaloushe creeps through the grass
Alone, important and wise,
And lifts to the changing moon
His changing eyes.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Entendendo a dinâmica do real

Havia planejado comentar hoje o comportamento recente do real, mas depois de ler o excelente artigo do Mendonça de Barros, achei melhor simplesmente republica-lo no blog. Ele explica com elegância e maestria - que eu dificilmente conseguiria chegar próximo - o velho/novo problema da taxa de cambio. Apenas exclareço que estou entre aqueles que acreditam que em um sistema de metas de inflação a taxa de cambio deve variar livremente, não por omissão do Bacen - que deve sim fazer intervenções pontuais e usar a oportunidade para aumentar o volume de reservas -, mas por decorrência desse modelo de política monetária. Sobre inflation targeting e cambio recomendo a leitura do paper The Relationship Between Exchange Rates and Inflation Targeting Revisited, Sebastian Edwards, NBER, wp 12163


"Na última quarta, o Banco Central comprou mais de US$ 1 bilhão para evitar uma valorização significativa do real. No momento seguinte à realização do leilão, nossa moeda retomou o caminho de alta, flertando com a cotação de R$ 2,00. Apenas uma piora nos mercados internacionais na parte final do dia -e que continuou ontem- evitou que essa fronteira simbólica fosse cruzada. Mas, se o otimismo permanecer, será uma questão de tempo para que o mercado teste novamente o Banco Central.
Com o expressivo fortalecimento do real -quase 10% neste mês-, volta ao debate a questão da taxa de câmbio no Brasil. Como sempre, as questões econômicas acabam por radicalizar as posições dos analistas.
De um lado, estão os que defendem uma intervenção agressiva do BC para anular esse movimento e culpam os juros elevados por tudo o que está acontecendo. De outro, estão os que dizem que em um regime de metas de inflação a taxa de câmbio deve variar livremente seguindo as forças de mercado.
Não vou entrar no mérito dessas duas posições. Quero apenas dividir com o leitor da Folha meu entendimento sobre as forças que estão atuando no câmbio neste momento. Acredito que vivemos uma dinâmica nova, criada principalmente pelo otimismo com que os mercados internacionais veem hoje a economia brasileira. Passar pela crise em condições satisfatórias foi fundamental para consolidar essa avaliação.
Credenciado por isso, o real mudou de qualidade e passou a fazer parte de um seleto grupo de moedas emergentes.
Essa cesta flutua em função da força ou da fraqueza da moeda americana nos mercados, medida principalmente em relação ao euro e ao iene japonês. Em setembro, quando a falência do Lehman Brothers colocou o sistema financeiro mundial à beira do precipício, houve corrida ao dólar. Naquele momento de pânico, ele foi visto como moeda refúgio dos capitais financeiros e como proteção de patrimônio em geral. O resultado foi uma desvalorização generalizada da maioria das moedas, principalmente as dos emergentes. O real foi apanhado por essa tormenta e perdeu quase 40% de seu valor. O mesmo ocorreu com o won coreano, o peso mexicano, a lira turca e outras moedas emergentes. Mesmo o euro e a libra inglesa perderam valor.
Em meados de março, com a volta de certa dose de confiança em relação à recuperação da economia mundial, esse movimento começou a ser revertido. Os dólares acumulados nos dias de pânico estão sendo reciclados, provocando uma mudança na sua valorização dos últimos meses. A contrapartida desse movimento é o fortalecimento das demais moedas, principalmente algumas ligadas às economias que se portaram bem na crise, como o real.
Nossa moeda está sendo procurada de maneira intensa por investidores ansiosos em diversificar seus investimentos. Uma nova onda de entrada de capitais está ocorrendo e, se não acontecer uma reversão das expectativas em relação à economia mundial, deve continuar. Esse movimento é difícil de ser controlado sem uma coordenação entre bancos centrais, pois não é localizado apenas no Brasil. O BC pode apenas modular a valorização via compras da moeda americana no mercado, pela colocação dos chamados "swaps" cambiais reversos e por uma redução mais agressiva da taxa de juros Selic. Tentar administrar o valor do real sem levar em consideração essa nova dinâmica pode custar muito caro."

ps: recomendo fortemente a leitura da entrevista do Nouriel Roubini na Folha de hoje. acho que ele tem razão em relação a crise bancária ou de crédito. nos, usa, realmente ela esta longe do fim...

Fonte: FSP

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Boas noticias

"A taxa de desocupação ficou praticamente estável, pois suas variações em relação a março (9,0%) de 2009 e também a abril de 2008 (8,5%) não foram estatisticamente significativas. O rendimento médio real habitual dos trabalhadores (R$ 1.318,40) recuou (- 0,7%) na comparação mensal e teve alta de 3,2% frente a abril de 2008."(ibge)

Não é dificil imaginar a reação da direita civilizada e da extrema esquerda deslumbrada com números que insistem em negar o sonho deles. Como diria o velho poeta, não seria o caso de mudar a realidade para ajustar-se as previsões?

Já o esforçado economista da ditadura, no jornal da ditabranda, argumenta que o Fed não deveria ter deixado o Lehman Brothers ir a breca. Chama a decisão de grande barbeiragem. Ele parece esquecer que salvar esse banco seria simplesmente jogar o problema para o futuro e com uma gravidade ainda maior: o comportamento que gerou a crise não se alteraria. Melhor reler Hayek.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

De esquerda, mas católico...

No fim semana um amigo me apresentou como "um economista de esquerda, mas católico". Hoje no seminário em Barueri, meus alunos apresentaram uma opinião diferente: voce é de direita. Desta vez não fiquei surpreso. Na primeira vez, quando havia , recentemente, retornado da Inglaterra, a surpresa foi grande. Afinal meus amigos e colegas em Oxford me consideravam não apenas de esquerda, mas, também, marxista. É verdade que minha orientadora, me achava neoclassico, mas de esquerda. Quem tem razão? Acho que meu amigo.

Não assumir posições populistas e manter-se fiel a teoria econômica aceita pela maioria dos economistas mundo afora, parece ser uma receita perfeita para ser colocado no campo da direita. Não é agradavel, mas pior julgo ser colocado no campo da heterodoxia de galinheiro. Felizmente esse não é o caso do meu colega de seminário: um jovem economista marxista, mas que em se tratanto de análise macroeconômica é um ótimo keynesiano puro sangue, o que, alias, diz muito sobre a irrelevância da economia marxista. Não sei se ele concorda, mas... em nada altera a sua excelente apresentação. Ainda há esperança...

terça-feira, 19 de maio de 2009

Dia de cão...

Liguei as 14:00 e prometeram retorno a normalidade em duas horas: todo o sistema havia caido, argumentou o atendente. 17:00 volta, mas logo cai. Liguei novamente e a mesma promessa, retorno em duas horas e nada. Ligo para o UOL. Nada, nada, nada... Meia noite e continuava fora do ar. Acordo, ligo para o UOL e sou informado que ela constinua instavel. De fato está, mas ,por enquanto, é possível navegar, ate quando, sabe se lá.

Abro o jornal da Ditabranda e, para minha surpresa, nenhuma menção na primeira pagina, apenas uma "notinha" no caderno "cotidiano". Coisas do bananão: uma grande empresa deixa os seus clientes na mão e aquele que se considera o melhor e mais influente jornal do pais, faz uma não cobertura do problema.

Dificil a vida nos tristes trópicos. Regulamentanção, por estas bandas, é papo para boi dormir.

domingo, 17 de maio de 2009

sábado, 16 de maio de 2009

Nocturnos de la ventana, Federico García Lorca

1

Alta va la luna.
Bajo corre el viento.

(Mis largas miradas,
exploran el cielo.)

Luna sobre el agua.
Luna bajo el viento.

(Mis cortas miradas,
exploran el suelo.)

Las voces de dos niñas
venían. Sin esfuerzo,
de la luna del agua,
me fui a la del cielo.

2

Un brazo de la noche
entra por mi ventana.

Un gran brazo moreno
con pulseras de agua.

Sobre un cristal azul
jugaba al río mi alma.

Los instantes heridos
por el reloj... pasaban.

3

Asomo la cabeza
por mi ventana, y veo
cómo quiere cortarla
la cuchilla del viento.

En esta guillotina
invisible, yo he puesto
la cabeza sin ojos
de todos mis deseos.

Y un olor de limón
llenó el instante inmenso,
mientras se convertía
en flor de gasa el viento.

4

Al estanque se le ha muerto
hoy una niña de agua.
Está fuera del estanque,
sobre el suelo amortajada.

De la cabeza a sus muslos
un pez la cruza, llamándola.
El viento le dice "niña",
mas no puede despertarla.

El estanque tiene suelta
su cabellera de algas
y al aire sus grises tetas
estremecidas de ranas.

Dios te salve. Rezaremos
a Nuestra Señora de Agua
por la niña del estanque
muerta bajo las manzanas.

Yo luego pondré a su lado
dos pequeñas calabazas
para que se tenga a flote,
¡ay!, sobre la mar salada.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Não será desta vez...

Os números insistem em negar a materialização do cenário apocaliptico previsto para a economia brasileira - desejado? - pelos economistas da direita civilizada e da extrema esquerda deslumbrada(iletrada, diria um velho amigo, em matéria econômica). É o caso, por ex,do números do Sinalizador da Produção Industrial (SPI), que na opinião do Paulo Picchetti(IBRE-FGV), sinalizam uma recuperação que é "na verdade, um movimento de retomada de quem está saindo do fundo do poço". Concordo com a avaliação dele: o pior já passou. Mas não se deve esperar o paraiso ao virar a esquina.

Surpreendente a declaração, honesta, da Fazenda: em geral o agente político, de qualquer governo, sempre pinta um cenário mais roseo que a realidade. Crescimento próximo de zero é o que espero, mas a economia brasileira tem uma longa historia de desmentir previsões pessimistas.

Enquanto isso no Imperio,..., não há grandes novidades. Continua a dança de sempre a espera da nova onda: dificuldades no pagamento dos cartões de crédito.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Estudo do BC desvenda canais de transmissão da política de juros

O "paper" parece interessante e promissor, mas ainda não consegui uma cópia.


O Banco Central revela, pela primeira vez, como os movimentos na taxa básica de juros afetam a atividade econômica e a inflação. Um estudo, a ser apresentado hoje no seminário anual de metas de inflação, que marca dos dez anos desse regime no Brasil, explicita pela primeira vez como agem os chamados canais de transmissão da política monetária. O principal deles é o juro cobrado nos empréstimos a pessoas físicas. Quando o BC aperta a política monetária, esse canal responde por 62% da retração da atividade econômica.


Os bancos centrais em geral, incluindo o BC brasileiro, sabem pouco sobre como a política monetária se transmite para a economia. Quando o BC sobe os juros, é como se apertasse um botão de uma máquina que, mais para frente, vai provocar contração na atividade econômica e queda da inflação. O que acontece exatamente dentro da máquina é bastante incerto e muda ao longo do tempo. Um canal de política monetária que, em um momento, parece mais poderoso pode perder força em um contexto diferente.


Dois pesquisadores do BC, André Minella e Nelson F. Souza-Sobrinho, construíram um modelo matemático e estatístico que procura reproduzir o funcionamento da economia. A revelação é que os juros do crédito a pessoas físicas respondem pelo maior efeito sobre a atividade econômica. Não é de se estranhar, já que, nos últimos anos, o crédito ganhou importância como um dos motores do consumo. Do início de 1999, ano da adoção do sistema de metas de inflação, até agora, o crédito subiu de 26% para 42,5% do Produto Interno Bruto. A importância do canal juros ao consumidor sobre a atividade é também compatível com o peso, de cerca de dois terços, do consumo na demanda agregada.


O segundo fator mais importante é o juro do crédito a empresas, que responde por 24% da contração da atividade econômica. Não estranha o efeito ser relativamente reduzido na comparação com o crédito aos consumidores, dizem os pesquisadores, já que a taxa de investimento é de cerca de 20%. Além disso, argumentam, uma boa parte do financiamento às empresas é feita por meio de crédito direcionado e por por bancos oficiais e, por isso, estão menos sujeitos aos efeitos das variações da Selic. O terceiro canal mais importante é o da demanda externa, que responde por 14% do declínio na atividade econômica.

Os pesquisadores fizeram dois exercícios econométricos para avaliar o efeito dos juros sobre a inflação. Num deles, que não inclui o chamado canal das expectativas, descobriram que 40% da redução da inflação ocorre por meio dos juros cobrados de pessoas físicas. O canal câmbio também responde por cerca de 40% da redução da inflação. Na teoria, altas de juros levam à apreciação cambial, que, por sua vez, levam a inflação menor. Esse resultado pode sugerir que o câmbio tem papel central no processo de desinflação. Mas essas conclusões devem ser vistas com cuidado. Na série estatística com a qual os pesquisadores trabalharam, houve intensos movimentos de câmbio, e isso tem influência nos resultados. Mais recentemente, os movimentos de câmbio não tem sido acompanhados, tão de perto, por oscilações na taxa de inflação.


O terceiro fator mais importante na redução da inflação é o canal dos juros para as empresas, com uma contribuição de 16%. Um dos problemas do exercício acima é que ele não leva em conta o canal das expectativas, algo central em um regime de metas de inflação. Quando esse fator é incluído nas contas, descobre-se que esse é o fator mais importante. Cerca de 80% da redução da inflação, segundo os pesquisadores, ocorre pelo canal das expectativas. O cambio responde por 12%; os juros às pessoas físicas, por 6,4%; e os juros às empresas, por 1,7%. Esse é um resultado da credibilidade da política monetária. Quanto mais crível a política monetária, menos a atividade econômica precisa se retrair para baixar a inflação.


Com esse estudo, é possível saber com precisão como a recente baixa de juros vai atingir a atividade e a inflação? É provável que não. A crise internacional provocou, aparentemente, uma quebra estrutural.



Fonte: Valor Econômico/Alex Ribeiro -14/05/09

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Alexandre "eram os deuses astronautas"

Bom artigo do Alexandre "eram os deuses astronautas". Ele tem toda razão, como alias reconheço em meu artigo no PUC em Noticias: a heterodoxia deveria reconhecer os meritos da política do Bacen.

Há riscos, obviamente, na mudança de rumos, mas dado o cenário atual da economia mundial, ele me parece necessário. Não confundir, contudo, alterações de política, com adoção do mambo jambo econômico.


"Há certo consenso de que o Brasil estará entre as primeiras economias que se recuperarão do forte choque externo. Em que pese o impacto negativo da queda das exportações, a verdade é que, em contraste com episódios anteriores, a crise internacional não se traduziu em contrapartida doméstica. Não vivemos uma crise fiscal, nem uma crise financeira, nem, por fim, uma crise do balanço de pagamentos, graças às políticas responsáveis adotadas antes do colapso global.
Já examinei aqui o papel central da mudança do perfil da dívida pública. Por conta da acumulação de reservas e da atuação do BC no mercado de derivativos, a dívida deixou de ser majoritariamente denominada em moeda estrangeira; ao contrário, o governo se tornou credor líquido em dólares, de modo que a depreciação da moeda reduziu a dívida pública, aliviando, ao invés de agravar, a situação fiscal.
Um fenômeno semelhante -a mudança do endividamento para o investimento direto- se passou no campo do financiamento externo da economia, também colaborando para a estabilidade do país ante a crise e, portanto, para as condições de retomada à frente. Entre 2003 e 2008, o ingresso de investimento direto estrangeiro atingiu pouco mais de US$ 140 bilhões, enquanto o investimento brasileiro no exterior ficou pouco aquém de US$ 75 bilhões. Nesse mesmo período, a dívida externa, líquida de reservas, caiu US$ 145 bilhões.
A contrapartida dessa mudança ficou aparente na evolução da conta corrente, em particular no que se refere ao serviço do capital estrangeiro. O pagamento de juros caiu à metade do que era, mas o pagamento de dividendos, pouco superior a US$ 5 bilhões/ano entre 2001 e 2003, chegou a quase US$ 34 bilhões no ano passado.
Poderia parecer um mau negócio, pois o retorno do investimento é, pelas razões examinadas abaixo, geralmente superior ao custo da dívida. Há, porém, motivo para crer que, ao final da história, foi uma boa escolha, dadas duas diferenças cruciais entre juros e dividendos.
Em primeiro lugar, o pagamento de dividendos se move em linha com o desempenho econômico: em bons anos, paga-se mais, mas, nos anos ruins, quando os lucros encolhem, os montantes caem. Em contraste, o pagamento de juros tipicamente não se altera com o estado da economia. Faça chuva ou faça sol, o pagamento é devido, o que, em épocas de vacas magras, pode se tornar um problema, como, aliás, a história revela.
Além disso, o pagamento de juros é usualmente denominado em moeda estrangeira, enquanto os dividendos são calculados sobre lucros gerados em moeda doméstica. Assim, a depreciação da moeda não altera o montante de juros devidos (em dólares), embora reduza o pagamento de dividendos.
Assim, no primeiro trimestre deste ano o déficit em conta corrente encolheu cerca de US$ 6 bilhões na comparação com o mesmo período em 2008. Desses, US$ 5 bilhões são devidos à menor remessa de dividendos, refletindo tanto a reversão cíclica como a desvalorização da moeda. Em outras palavras, quase 90% do ajuste externo se deu à custa do investidor estrangeiro, dentro, é bom dizer, das regras do jogo.
Vale notar que essa mudança no padrão de financiamento não ocorreu por acaso, mas resulta também de decisões de política, como as medidas de liberalização na área cambial e de capitais, pois não há quem coloque recursos onde existam riscos de não poder retirá-los. Continuamos, pois, a colher os frutos das políticas "ortodoxas" ao mesmo tempo em que flertamos com seu abandono. O que restará para colher nos " próximos anos?

Alexandre Schwartsman

Fonte: FSP

terça-feira, 12 de maio de 2009

Cade os economistas marxistas...

Crise econômica em escala mundial. Este era o grande sonho e previsão dos economistas marxistas e, curiosamente, ate o momento não encontrei nenhum trabalho interessante deles sobre a atual crise. Afinal o que aconteceu com o programa de pesquisa marxista? Esgotamento? Não é o que parece estar ocorrendo com outros programas de pesquisas, caso por ex. dos keynesianos, walrasianos, (neo)wicksellianos e ate mesmo os austriacos. Todos estão produzindo reflexões interessantes sobre a crise.

Recuperar a abordagem regulacionista parece ser a opção de alguns marxistas, mas os limites dessa abordagem já são por demais conhecidos e reconhecidos, ate mesmo por alguns dos seus (ex) membros mais importantes, caso, por ex, de Aglieta.

Há trabalhos de sociologos e filosofos marxistas - alguns interessantes -, mas de economistas, por enquanto nada. É lamentavel, se lembrarmos a qualidade e importância da produção de alguns economistas marxistas do passado.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Bento XVI chega a Israel


Curiosamente, no maior país(nominalmente) Católico, do mundo, a visita do Bento XVI a Terra Santa, tem recebido pouco espaço na mídia. O anticlericalismo, vulgar, continua sendo a regra, inclusive onde não deveria ser hegemonico: desnecessário mencionar o nome do lugar.



O papa Bento XVI chegou a Tel Avive, Israel, na manhã de hoje, 11, e foi recebido pelo presidente israelita Shimon Peres, e pelo primeiro-ministro Benjamin Netanvahu. “É uma missão espiritual da maior importância: uma missão de paz, querendo semear a tolerância e erradicar a intolerância do Estado hebraico. Eu respeito a sua posição e sua ação para por fim à violência e ao ódio do mundo e estou confiante de que o diálogo entre o Judaísmo e o Cristianismo continuará no espírito dos profetas", afirmou o presidente israelita.


Bento XVI fez votos para que “reais progressos e estabilidade” possam ser conseguidos e destacou o papel das famílias “enquanto veículos de paz”. “Tomo o meu lugar na longa fila de peregrinos cristãos vindos a estes lugares, uma fila que remonta aos primeiros séculos da história da Igreja e que – estou certo – prosseguirá no futuro. Venho, como tantos outros antes de mim, para rezar nos lugares santos, para rezar especialmente pela paz – paz aqui na Terra Santa, e paz em todo o mundo”.



Sobre as três grandes religiões monoteístas do mundo, o pontífice afirmou que têm veneração pela Terra Santa. Ele disse que por isso, todos os peregrinos devem ter a “possibilidade de a eles aceder livremente e sem restrições, de tomar parte a cerimônias religiosas e de promover a necessária manutenção dos edifícios de culto situados nos lugares sagrados”.



O papa lembrou-se do significado da palavra Jerusalém [cidade de paz], porém ressaltou a falta de paz que falta aos habitantes da Terra Santa. “Embora Jerusalém signifique cidade de paz, é de toda a evidência que ao longo de décadas a paz tem tragicamente vindo a faltar aos habitantes desta Terra Santa. As esperanças, de inumeráveis homens, mulheres e crianças, de um futuro estável e mais seguro depende do êxito das negociações de paz entre israelitas e palestinianos”.


Concluindo seu discurso, Bento XVI saudou, de modo especial, os fiéis e bispos católicos, exprimindo a sua alegria por esta visita pastoral. Ele fez ainda menção ao encerramento do Ano da Família, precisamente na visita a Nazareth, e confiou às comunidades cristãs da Terra Santa uma missão: “Através do vosso testemunho fiel àquele que pregou o perdão e a reconciliação, através do vosso empenho em defender a sacralidade de cada vida humana, podereis fornecer um contributo particular para que cessem as hostilidades que desde há tanto tempo afligem esta terra. Rezo para que a continuidade da vossa presença em Israel e nos territórios Palestinianos produza muitos frutos na promoção da paz e do respeito mútuo entre todos os povos que vivem nas terras da Bíblia”

Fonte: CNBB

domingo, 10 de maio de 2009

sábado, 9 de maio de 2009

The Mother Of God, William Butler Yeats

The threefold terror of love; a fallen flare
Through the hollow of an ear;
Wings beating about the room;
The terror of all terrors that I bore
The Heavens in my womb.

Had I not found content among the shows
Every common woman knows,
Chimney corner, garden walk,
Or rocky cistern where we tread the clothes
And gather all the talk?

What is this flesh I purchased with my pains,
This fallen star my milk sustains,
This love that makes my heart's blood stop
Or strikes a Sudden chill into my bones
And bids my hair stand up?

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Metas de inflação

Pois é,..., não demorou muito para aparecer a primeira resposta ao artigo do Wolf( post de ontem). Melhor dizendo, tentativa de resposta, já que o artigo do ex-professor da Gavea, parece desconhecer por completo o debate sobre os limites e problemas do sistema de metas de inflação. Enquanto Wolf está preocupado em abrir o debate sobre os problemas enfrentados pelo policy maker, o ex-professor, parece mais preocupado em reafirmar a "fé", desprovida de razão, em um dado modelo de política monetária.


"Entre as vítimas da atual crise estão as convicções sobre a racionalidade da política monetária que foi construída nos últimos 20 ou 30 anos. O celebrado articulista Martin Wolf, do Financial Times, publicou na edição de quarta-feira um artigo que é um bom exemplo de como convicções baseadas em camadas finas de reflexão quebram com facilidade e afundam as vítimas incautas nas águas geladas da confusão mental. Motivado pela saia-justa em que se encontra a maioria dos bancos centrais no mundo, o articulista afirma que a crise requer que se redesenhe a abordagem da estratégia de metas. Será?

Mesmo depois que a Grande Recessão tiver dado lugar à recuperação, a busca por uma "nova racionalidade" ressoará a música da tolerância inflacionária que sempre deleita os ouvidos dos governantes. Tempos de déficits salvadores, dívidas perdoadas, intervenções bem-intencionadas, redistribuições ferozes de renda e riqueza costumam ser sucedidos por novas dificuldades: Estados gestores, preços relativos distorcidos e conciliação via inflação. A alta de preços persistente é a "solução" para as distorções que não puderem ser conciliadas por mais impostos e outros sacrifícios direcionados.

Mas as instituições equipadas para evitar a desorganização inflacionária, os bancos centrais, estão sob fogo em toda parte. No centro do sistema, seus balanços explodem com ativos sem preços. Uma mistura de "afrouxamento quantitativo" com afrouxamento normativo e qualitativo. Na periferia do sistema os estragos apenas começam. Os balanços dos Tesouros são onerados por operações de salvamento e de generosas compensações, que terão, mais cedo ou mais tarde, de ser financiadas. Se a recuperação for rápida, a valorização dos ativos e as receitas tributárias diminuem os custos. Se demorar mais do que os governantes imaginam, como é mais provável, resta um processo potencialmente explosivo de acumulação de passivos públicos.

Uma linha curiosa de raciocínio leva à conclusão, como a de Wolf, de que os bancos centrais estão "presos a estratégias ultrapassadas". Não entendo. Afinal, se houve (e de fato houve) erros na condução da política monetária americana na era Greenspan, foram o julgamento sobre a eternidade da Grande Moderação e sobre a capacidade de autorregulação do sistema financeiro. Greenspan errou porque não reagiu a tempo aos excessos. Enquanto, no centro do sistema econômico global, os bancos centrais são culpados por terem agido de forma pró-cíclica, na periferia do sistema econômico global a insatisfação com os bancos centrais tem sido capitalizada pelos novos porta-estandartes de velhas ideias, brandindo suas espadas contra o dragão da maldade das taxas de juros contracíclicas.

Tal como os ludistas, que na revolução industrial investiam contra as máquinas que aumentavam a produtividade do trabalho, os modernos ludistas, que investem contra a lógica da política monetária, defendem políticas ainda mais expansionistas onde a crise é menos severa e menos expansionistas onde a recessão é mais devastadora. Os autos da fé antimonetarista onde são imolados os banqueiros centrais mostram saudade das virtudes da maleabilidade permitida pela inflação.

A confusão mental produz esse milagre. Mas não produz receita para uma política econômica coerente. A coerência exige que o banco central tenha capacidade e independência para interromper um ciclo de euforia, o que é naturalmente frustrante para os políticos que julgam produzir felicidade perene com crédito farto. Alan Greenspan só conseguiu fazer o bem e gerar baixos custos de investimento porque, antes dele, Paul Volcker não relutou em contrariar as expectativas de mercado e a vontade dos políticos.

O Banco Central celebra dez anos da estratégia de metas no Brasil. Essa estratégia tem sido um sucesso na manutenção da confiança. A política monetária foi mais pró-cíclica precisamente nos EUA, que não adotam as metas. Como mostrou John Taylor, o Fed praticou taxas de juros bem abaixo das que resultariam de uma regra de Taylor, uma regularidade empírica que consegue explicar o que fazem os bancos centrais bem-sucedidos, não importa muito o que dizem que fazem.

Aqui, como em todos os países onde foi adotada, a estratégia de metas não é o Santo Graal da política monetária, mas uma forma de organizar o debate econômico mundial em torno do que se pode esperar do Banco Central em termos minimamente racionais. "

*Dionísio Dias Carneiro, economista, é diretor da Galanto Consultoria e do IEPE/CdG

Fonte: O Estado

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Bancos centrais devem visar mais do que apenas a inflação

Os problemas e limites do modelo de metas inflacionárias são bem conhecidos, mas devido ao "relativo sucesso" no Brasil, raramente comentados em público. O debate no grande bananão acabou restrito a questão dos juros elevados, ignorando, totalmente, sua relação, obvia, como o modelo de política monetária adotado. Quem sabe a crise e o artigo abaixo do Martim Wolf, consigam mudar este cenário.


O estabelecimento de meta de inflação fracassou? Os bancos centrais em grande parte escaparam da culpa pela crise. Mas eles merecem isso?

Há mais de cinco anos, Ben Bernanke, o atual presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), fez um discurso sobre a "Grande Moderação" - a decrescente volatilidade da inflação e do produto em relação às duas décadas anteriores. Nele, ele enfatizou o papel da política monetária aprimorada. Os banqueiros centrais se sentiam orgulhosos de si mesmos. O orgulho precede uma queda. Hoje, eles estão lidando com a mais profunda recessão desde os anos 30, um sistema bancário cuja vida depende do governo e o risco de deflação. Como as coisas deram tão erradas?

Isso não é coisa pouca. Ao longo de quase três décadas, os legisladores e os acadêmicos se tornaram cada vez mais confiantes de que tinham encontrado, na meta inflacionária, o santo graal do dinheiro fiduciário. Foi uma longa jornada desde o padrão ouro do século 19, passando pelo padrão restaurado de câmbio-ouro dos anos 20, caos monetário dos anos 30, sistema Bretton Woods de taxas de câmbio ajustáveis dos 50 e 60, fim da convertibilidade do dólar em ouro em 1971 e metas monetárias dos anos 70 e 80.

Frederic Mishkin, da Universidade de Colúmbia, um ex-diretor do Federal Reserve e um forte defensor de meta de inflação, argumentou, em um livro publicado em 2007, que a meta de inflação é uma "uma estratégia que inclui a informação para a condução da política monetária".* Em outras palavras, a meta de inflação permite a consideração de todas as variáveis relevantes - taxa de câmbio, preço das ações, preços dos imóveis e os preços dos títulos de longo prazo - via seu impacto sobre a atividade e inflação potencial. Agora que estamos convivendo com a implosão do sistema financeiro, esta visão não é mais plausível.

Não menos desacreditada é a visão relacionada, também promovida pelo Fed, de que é melhor lidar com o pós-estouro das bolhas de preços de ativos do que estourá-las antecipadamente. O prof. Mishkin escreveu que "é altamente presunçoso achar que as autoridades do governo, mesmo que sejam banqueiros centrais, saibam mais que os mercados privados quais devem ser os preços dos ativos". Hoje, poucos se importariam com tal presunção, dados os custos das crises financeiras que seguem as bolhas de preços de ativos acompanhadas por grandes expansões no crédito privado.

A complacência em relação à Grande Moderação levou primeiro ao Grande Desemaranhamento e então à Grande Recessão. O setor privado foi complacente em relação ao risco. Mas também o foram os legisladores.

E que papel exerceu a política monetária? Eu posso identificar três críticas relacionadas aos bancos centrais.

Primeiro, John Taylor, da Universidade de Stanford, um ex-funcionário do governo Bush, argumenta que o Fed perdeu seu rumo ao manter as taxas de juros baixas demais no início dos anos 2000 e assim ignorando sua epônima regra de Taylor, que relaciona as taxas de juros à inflação e produção.** Isto causou o boom imobiliário e o subsequente estouro destrutivo.

O prof. Taylor tem um ponto adicional: ao baixar demais as taxas, o Fed, segundo ele, também fez com que baixassem as taxas oferecidas por outros bancos centrais, portanto gerando bolhas por grande parte do mundo. Em retrospecto, por exemplo, a autonomia do Banco da Inglaterra era muito menor do que a imaginada: quanto maior a diferença da taxa de juro com a dos Estados Unidos, mais dinheiro especulativo ingressava. Isso induziu uma queda dos padrões da concessão de crédito e assim uma bolha de crédito.

Segundo, vários críticos argumentam que os bancos centrais deviam visar os preços dos ativos por causa dos enormes estragos subsequentes que os estouros das bolhas provocam. A. Andrew Smithers, da Smithers & Co. com sede em Londres, nota em um recente relatório ("Inflação: Nem Inevitável e Nem Útil", 30 de abril de 2009), que "ao permitir bolhas de ativos, os bancos centrais perderam o controle de suas economias, de forma que os riscos tanto de inflação quanto de deflação aumentaram".

Logo, quando os preços nominais dos ativos e o crédito associado se desalinham da renda nominal e dos preços dos bens e serviços, uma entre duas coisas provavelmente acontecerá: um colapso dos preços dos ativos, com ameaça de falência em massa, depressão e deflação; ou os preços de bens e serviços são elevados a um nível consistente com os preços altos dos ativos, sendo que neste caso há inflação. A curto prazo, os bancos centrais também se veem voltados a políticas monetárias não convencionais que apresentam efeitos monetários imprevisíveis.

Finalmente, os economistas da tradição "austríaca" argumentam que o erro foi estabelecer taxas de juros abaixo da "taxa natural". Isso, argumentou Friedrich Hayek, também aconteceu nos anos 20. O resultado é uma alocação imprópria de recursos. Também gera um crescimento explosivo de crédito inseguro. Então, em uma recessão - como argumentou o economista americano, Irving Fisher, em seu "Debt-Deflation Theory of Great Depressions", publicado em 1933 - a deflação no balancete se estabelecerá, agravada enormemente pela queda dos preços e encolhimento da renda.

Seja qual for a crítica que se aceite, parece claro, olhando para trás, que a política monetária foi muito frouxa. Como resultado, nós agora enfrentamos dois desafios: limpar a bagunça e desenvolver uma nova abordagem à política monetária.

Para a primeira, nós temos três alternativas: liquidação, inflação ou crescimento. Uma política de liquidação ocorreria por meio de falência em massa e o colapso de grande parte do crédito existente. Esta é uma escolha insana. Uma política deliberada de inflação redespertaria as expectativas inflacionárias e levaria, inevitavelmente, a outra recessão, visando restabelecer a estabilidade monetária. Isso nos deixa apenas o crescimento. É essencial sustentar a demanda e retornar ao crescimento sem inflar outra bolha de crédito. Isso será difícil. Por este motivo é que não deveríamos ter caído no atoleiro, para começar.

Para a segunda, a escolha a curto prazo certamente será "meta de inflação" mais algo. Descartada deve ser a abordagem de "gestão de risco" do Fed, que provocou uma resposta desnecessariamente assimétrica aos choques econômicos negativos. Adotada deve ser uma "tendência contra o vento" sempre que os preços dos ativos subirem rapidamente e a níveis excepcionalmente altos, juntamente com uma abordagem contracíclica "macroprudente" às exigências do capital em instituições financeiras importantes para o sistema.

Esta crise não prevista é certamente um desastre para a política monetária. A maioria das pessoas - eu entre elas - achou que tínhamos finalmente encontrado o santo graal. Agora sabemos que era uma miragem. Esta pode ser a última chance do dinheiro fiduciário. Se não conseguir ser aprimorado para funcionar melhor do que antes, quem sabe o que nossos filhos poderão decidir? Talvez, em desespero, eles até mesmo adotarão o que ainda considero ser o absurdo do ouro.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

O tunel sem fim

O esforçado economista da ditadura e novo "darling" da esquerda deslumbrada, parece cansado do novo papel - greta garbo quem diria... - e lembra, em artigo no jornal da ditabranda, que " a crise de 2008 mostra, na verdade, uma falha do Estado-regulador, corrompido pela ideologia do "mercado perfeito". Não fala a favor da ressuscitação do Estado-produtor como tendo sido sugerido por alguns afoitos". Ele tem toda razão quanto a crise ser deste tipo particular de Estado, mas erra ao fazer a ligação com a tal ideologia. A crise mostra os limites da regulamentação que independe desta ou daquela ideologia. Ela, também, recoloca a seguinte questão: se é muito importante para quebrar, então não deveria ser privado, já que sabemos não existir regulamentação perfeita. É so consultar os trabalhos do finado J.J.Laffont.


Os números da produção industrial não são uma Brastemp, mas no atual cenário mundial, mesmo números como estes, são um verdadeiro alivio. Nenhuma surpresa, tambem, em relação ao setor automobilistico: havia nos numeros muita antecipação de compra.

Enquanto isto no Imperio, Pepino o Breve, descobriu o que já sabiamos: vai ter que colocar mais dim dim em vários bancos. Alguem ai está vendo luz no fim do tunel?

terça-feira, 5 de maio de 2009

Uma boa noticia.

Abro o jornal e la esta a manchete sobre o setor externo: era o único aspecto negativo dos dados comércio internacional e foi justamente o escolhido pelo jornal da Ditabranda. Era naturalmente esperado, afinal manufaturados é o setor mais fortemente atingindo pela crise, motivo de contração de economias importantes como a alemã e a japonesa, por ex. Portanto, nenhum novidade.

O ponto positivo é a recuperação espetacular das exportações em relação ao mês passado;14,8 e pequena queda nas exportações;-5,6. Em momento de forte retração no comércio internacional, os números são muito bons. Eles são explicados pelo bom desempenho da economia chinesa, o que, alias, não deixa de ser surpreendemente, mas são, tambem, o resultado de um longo processo de diversificação das pautas de exportação, que por sinal ainda continua ocorrendo.

Há quem veja esta alteração da composição da pauta, como sendo um processo de retorno ao passado, mas me parece ser um equivoco. Ela simplesmente demonstra a força da economia brasileira, algo dificil de ser aceito pela direita civilizada e a esquerda deslumbrada.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

O fim da era Thatcher

Interessante artigo do Bresser Pereira sobre as origens do chamado neoliberalismo. Estou de acordo em relação ao neoliberalismo em regimes democraticos, mas enquanto opção de política econômica acho que tudo começou no Chile. Nenhum outro país foi tão rico em experiencias opostas de política econômica em tão curto espaço de tempo: socialismo democratico e, depois do golpe de estado, o neoliberalismo da ditadura.



Em 2008 , antes do "outubro negro", escrevi nesta coluna (21/ 4) que a onda neoliberal havia chegado ao fim. Agora, Gideon Rachman ganhou a manchete do "Financial Times" (28/4) afirmando que "terminou a era Thatcher, tudo a que a dama de ferro se opôs está de volta".

De fato, o governo de Margaret Thatcher no Reino Unido, eleito em maio de 1979, 18 meses antes de Ronald Reagan nos Estados Unidos, marcou o início da "experiência neoliberal".

Durante 30 anos, o mundo copiou suas políticas: "privatização, desregulação, redução de impostos, abolição dos controles de câmbio, assalto ao poder dos sindicatos, a celebração da criação de riqueza em vez da distribuição de riqueza". Engana-se, entretanto, Rachman quanto ao final da sua frase. A criação de riqueza foi antes de riqueza fictícia, não da riqueza real. A experiência neoliberal fracassou sob todos os ângulos: as taxas de crescimento econômico diminuíram, a renda concentrou-se em toda parte, a instabilidade econômica aumentou, e agora essa experiência termina de forma inglória com a crise global.

A tese de que as políticas neoliberais tornavam os países mais competitivos, porque ao diminuírem os salários os faria mais dinâmicos, não se confirmou. Os dois grandes países que as adotaram no limite foram a Rússia de Mikhail Gorbatchov e Boris Ieltsin e a Argentina de Carlos Menem. Sabemos quão desastroso foi seu resultado. Quanto mais um país adotou as políticas neoliberais, menos cresceu. A redução dos salários foi alcançada, mas: (1) essa redução causou insuficiência de demanda e obrigou os países a produzirem mais bens de luxo e menos bens de salário para compatibilizar oferta e procura, e (2) as políticas neoliberais de desregulamentação salarial minaram a solidariedade social, levando os trabalhadores a perder sua identificação com suas empresas e com seu país e 3) a liberalização financeira tornou as economias nacionais mais sujeitas a crises, que se multiplicaram em todo o mundo: a desregulação "big bang" do setor financeiro promovida por Thatcher em 1986 está na origem da crise atual.

Em 1988, quando escrevi o trabalho "O ciclos da intervenção do Estado" (disponível em meu site), eu previa que a onda neoliberal terminaria dentro de algum tempo, como, naquela década, terminara o ciclo desenvolvimentista e social iniciado em 1930. Embora afirmasse que a tendência geral, porque compatível com a democracia, era a do aumento gradual da regulação estatal e da garantia universal dos direitos sociais, eu afirmava que esse processo não era linear, mas sujeito a ciclos. Confesso, entretanto, que não esperava que o final do neoliberalismo ocorresse tão depressa e de forma tão violenta.

Ainda que derrotado, o neoliberalismo não morreu. No final de seu artigo, Rachman duvida que o incentivo ao trabalho pregado pelo neoliberalismo tenha sido destruído pelos bônus recebidos por banqueiros enquanto estes levavam seus bancos à quebra lembra a célebre frase de Thatcher: "Não há alternativa" e cobra uma alternativa coerente. Tolice, as alternativas existem, mas não são exprimíveis em equações matemáticas coerentes com o que pretendem os economistas neoliberais.

São fruto da experiência e do bom senso combinados com modelos teóricos abertos, como são a teoria keynesiana e a teoria estruturalista do desenvolvimento econômico. O neoliberalismo não voltará tão cedo: sua crise é incomparavelmente mais grave do que a desaceleração econômica que, nos anos 1970, facilitou o assalto neoliberal.

Bento XVI fala sobre a crise econômica mundial

O texto abaixo é uma " resposta dada pelo Papa a uma pergunta feita por um sacerdote, em seu encontro com o Clero de Roma (26 de Fevereiro de 2009)".

Esta questão [da crise econômica] toca o nervo dos problemas do nosso tempo. Eu distinguiria entre dois níveis. O primeiro é o nível da macroeconomia, que depois de realiza e vai até ao último cidadão, o qual sente as conseqüências de uma construção errada. Naturalmente, denunciar isto é um dever da Igreja. Como sabeis, há muito tempo que preparamos uma Encíclica sobre estes pontos. E no longo caminho vejo como é difícil falar com competência, porque se não for enfrentada com competência uma determinada realidade econômica não pode ser credível. E, por outro lado, é preciso falar também com uma grande consciência ética, digamos criada e despertada por uma consciência formada pelo Evangelho. Portanto é preciso denunciar estes erros fundamentais que agora são evidenciados pela queda dos grandes bancos americanos, os erros na base. No final, é a avareza humana como pecado ou, como diz a Carta aos Colossenses, avareza como idolatria. Devemos denunciar esta idolatria que vai contra o verdadeiro Deus e a falsificação da imagem de Deus com outro deus "dinheiro". Devemos fazê-lo com coragem, mas também concretamente. Pois os grandes moralismos não ajudam se não forem substanciados com conhecimentos da realidade, que ajudam também a compreender o que se pode fazer concretamente para mudar pouco a pouco a situação. E, naturalmente, para o poder fazer são necessários o conhecimento desta verdade e a boa vontade de todos.

Chegamos aqui ao ponto forte: existe realmente um pecado original? Se não existisse poderíamos fazer apelo à razão lúcida, com argumentos acessíveis a todos e incontestáveis, e à boa vontade que existe em todos. Só assim poderíamos progredir bem e reformar a humanidade. Mas não é assim: a razão também a nossa é obscurecida, vemo-lo todos os dias. Porque o egoísmo, a raiz da avareza, consiste em querer sobretudo a si mesmo e ao mundo para si. Existe isto em todos nós. É o obscurecimento da razão: ela pode ser muito douta, com maravilhosos argumentos científicos, mas, contudo, está obscurecida por falsas premissas. Deste modo vai em frente com grande inteligência e com grandes passos pelo caminho errado. Também a vontade está, digamos, inclinada, dizem os Padres: não está simplesmente disponível para fazer o bem mas procura sobretudo a si mesmo ou o bem do próprio grupo. Por isso encontrar realmente o caminho da razão, da razão verdadeira, já é uma coisa não fácil e dificilmente se desenvolve num diálogo. Sem a luz da fé, que entra nas trevas do pecado original, a razão não pode desenvolver-se. Mas precisamente a fé encontra depois a resistência da nossa vontade. Esta não quer ver o caminho, que constituiria também um caminho de renúncia a si mesmo e de uma correção da própria vontade a favor do outro e não para si mesmo.

Por isso é necessária, diria, a denúncia razoável e raciocinada dos erros, não com grandes moralismos, mas com razões concretas que se tornem compreensíveis no mundo da economia de hoje. A denúncia disto é importante, é um mandato para a Igreja desde sempre. Sabemos que na nova situação que se veio a criar com o mundo industrial, a doutrina social da Igreja, começando por Leão XIII, procura fazer estas denúncias e não só as denúncias, que não são suficientes, mas também mostrar os caminhos difíceis nos quais, passo a passo, se exige o consentimento da razão e da vontade, juntamente com a correção da minha consciência, à vontade de renunciar num certo sentido a mim mesmo para poder colaborar no que é a verdadeira finalidade da vida humana, da humanidade.

Dito isto, a Igreja tem sempre a tarefa de vigiar, de procurar ela mesma com as melhores forças de que dispõe, as razões do mundo econômico, de entrar neste raciocínio e iluminá-lo com a fé que nos liberta do egoísmo do pecado original. É dever da Igreja entrar neste discernimento, neste raciocínio, fazer-se ouvir, também nos diversos níveis nacionais e internacionais, para ajudar e corrigir. Este não é um trabalho fácil, porque muitos interesses pessoais e de grupos nacionais se opõem a uma correção radical. Talvez seja pessimismo, mas parece-me realismo: enquanto houver o pecado original nunca conseguiremos uma correção radical e total. Mas devemos fazer o possível para obter correções pelo menos provisórias, suficientes para fazer viver a humanidade e para impedir o domínio do egoísmo, que se apresenta sob pretextos de ciência e de economia nacional e internacional.

Este é o primeiro nível. O outro é o sermos realistas. E ver que estas grandes finalidades da macrociência não se realizam na microciência a macro-economia na micro-economia sem a conversão dos corações. Se não existem os justos, também não existe a justiça. Devemos aceitar isto. Portanto a educação para a justiça é uma finalidade prioritária, poderíamos dizer que é a prioridade. Porque São Paulo diz que a justificação é o efeito da obra de Cristo, não é um conceito abstrato, relativo a pecados que hoje não nos interessam, mas refere-se precisamente à justiça integral. Só Deus no-la pode dar, mas no-la concede com a nossa cooperação a diversos níveis, a todos os níveis possíveis.
Não se pode criar no mundo a justiça apenas com modelos econômicos bons, que são necessários. A justiça só se realiza se existem os justos. E os justos não existem se não há o trabalho humilde, quotidiano, de converter os corações. E de criar justiça nos corações. Só assim se expande também a justiça corretiva. Por isso o trabalho do pároco é muito fundamental não só para a paróquia, mas para a humanidade. Porque se não houver justos, como disse, a justiça permanece abstrata. E as estruturas boas não se realizam se se opõe o egoísmo também de pessoas competentes.

Este nosso trabalho, humilde, quotidiano, é fundamental para alcançar as grandes finalidades da humanidade. E devemos trabalhar juntos a todos os níveis. A Igreja universal deve denunciar, mas também anunciar o que se pode fazer e como se pode fazer. As conferências episcopais e os bispos devem agir. Mas todos devemos educar para a justiça. Parece-me que ainda hoje é verdadeiro e realista o diálogo de Abraão com Deus (cf. Gn 18, 22-33), quando o primeiro diz: deveras destruirás a cidade? Talvez haja nela cinqüenta justos, talvez dez. E dez justos são suficientes para fazer sobreviver a cidade. Mas, se faltam dez justos, com toda a doutrina econômica, a sociedade não sobrevive. Por isso devemos fazer o necessário para educar e garantir pelo menos dez justos, mas se for possível, muitos mais. Precisamente com o nosso anúncio fazemos com que haja muitos justos, com que esteja realmente presente a justiça no mundo.

Como efeito, os dois níveis são inseparáveis. Se, por um lado, não anunciamos a macrojustiça, a micro não cresce. Mas, por outro lado, se não fizermos o trabalho muito humilde da micro-justiça também a macro não cresce. E sempre, como disse na minha primeira Encíclica, com todos os sistemas que podem crescer no mundo, além da justiça que procuramos, permanece necessária a caridade. Abrir os corações à justiça e à caridade é educar na fé, é guiar para Deus.

Fonte: Núcleo de Fé e Cultura

domingo, 3 de maio de 2009

sábado, 2 de maio de 2009

A Supermarket In California , Allen Ginsberg

What thoughts I have of you tonight, Walt Whit-
man, for I walked down the sidestreets under the trees
with a headache self-conscious looking at the full moon.
In my hungry fatigue, and shopping for images,
I went into the neon fruit supermarket, dreaming of
your enumerations!
What peaches and what penumbras! Whole fam-
ilies shopping at night! Aisles full of husbands! Wives
in the avocados, babies in the tomatoes!--and you,
Garcнa Lorca, what were you doing down by the
watermelons?

I saw you, Walt Whitman, childless, lonely old
grubber, poking among the meats in the refrigerator
and eyeing the grocery boys.
I heard you asking questions of each: Who killed
the pork chops? What price bananas? Are you my
Angel?
I wandered in and out of the brilliant stacks of
cans following you, and followed in my imagination
by the store detective.
We strode down the open corridors together in
our solitary fancy tasting artichokes, possessing every
frozen delicacy, and never passing the cashier.
Where are we going, Walt Whitman? The doors
close in an hour. Which way does your beard point
tonight?
(I touch your book and dream of our odyssey in the
supermarket and feel absurd.)
Will we walk all night through solitary streets?
The trees add shade to shade, lights out in the houses,
we'll both be lonely.
Will we stroll dreaming ofthe lost America of love
past blue automobiles in driveways, home to our silent
cottage?
Ah, dear father, graybeard, lonely old courage-
teacher, what America did you have when Charon quit
poling his ferry and you got out on a smoking bank
and stood watching the boat disappear on the black
waters of Lethe?

Berkeley 1955

sexta-feira, 1 de maio de 2009

O conserto dos sistemas financeiros falidos está apenas começando

Mais um artigo fundamental do Martin Wolf. Leitura obrigatória, principalmente, para a turma de sempre: condenamos o pecado - no caso o desconhecimento da teoria econômica elementar - e não o pecador.


Seremos capazes de arcar com o conserto de nossos sistemas financeiros? A resposta é sim. Nós não podemos arcar com as consequências de não consertá-los. A grande pergunta é qual a melhor forma de fazê-lo. Mas consertar o sistema financeiro, apesar de essencial, não é o bastante.

O mais recente Relatório de Estabilidade Financeira Global do Fundo Monetário Internacional (FMI) fornece uma análise convincente e grave sobre o estado do sistema financeiro. A equipe levantou suas estimativas das perdas como sendo próximas de US$ 4,4 trilhões. Isso em parte porque o relatório inclui estimativas de baixas em ativos europeus e japoneses, em US$ 1,193 trilhão e US$ 149 bilhões, respectivamente, e dos ativos de mercados emergentes mantidos por bancos em economias maduras, em US$ 340 bilhões. Também porque as baixas dos ativos originados nos Estados Unidos saltaram para US$ 2,712 trilhões, em comparação a US$ 1,405 trilhão em outubro passado e meros US$ 945 bilhões em abril do ano passado.

O FMI também estima as necessidades adicionais de capital dos bancos. Ele começa com as perdas totais relatadas até o final de 2008, que chegam a US$ 510 bilhões nos Estados Unidos, US$ 154 bilhões na zona do euro e US$ 110 bilhões no Reino Unido. O capital levantado até o final de 2008 é, de novo, US$ 391 bilhões nos Estados Unidos, US$ 243 bilhões na zona do euro e US$ 110 bilhões no Reino Unido. Mas o FMI estima baixas adicionais em 2009 e 2010 em US$ 550 bilhões nos Estados Unidos, US$ 750 bilhões na zona do euro e US$ 200 bilhões no Reino Unido. Contra isso, ele estima os lucros líquidos em US$ 300 bilhões nos Estados Unidos, US$ 600 bilhões na zona do euro e US$ 175 bilhões no Reino Unido.

O FMI aponta a relação entre o total do capital comum e o total de ativos -uma medida em que confiam os investidores queimados por relações mais sofisticadas, corrigidas pelo risco- foi de 3,7% nos Estados Unidos no final de 2008, mas 2,5% na zona do euro e 2,1% no Reino Unido. O FMI conclui que o capital extra necessário para reduzir a alavancagem para 17 para 1 (ou capital comum para 6% do total de ativos) seria de US$ 500 bilhões nos Estados Unidos, US$ 725 bilhões na zona do euro e US$ 250 bilhões no Reino Unido. Para uma alavancagem de 25 para 1, a injeção necessária seria de US$ 275 bilhões nos Estados Unidos, US$ 375 bilhões na zona do euro e US$ 125 bilhões no Reino Unido.

Nas atuais circunstâncias difíceis, as chances de levantar essas somas junto aos mercados são zero. Parte do motivo é que ainda podem provar ser insuficientes. Afinal, as estimativas do FMI de baixas potenciais apenas de ativos americanos cresceram quase três vezes em apenas um ano. Não causaria surpresa se crescessem novamente.

Mas estas não são as únicas somas necessárias. Os governos forneceram até agora US$ 8,9 trilhões em financiamento aos bancos, por meio de facilidades de empréstimo, esquemas de compra de ativos e garantias. Mas isto é menos de um terço de suas necessidades de financiamento. Com base na suposição de que os depósitos crescem atrelados ao PIB nominal, o FMI estima que o "gap de refinanciamento" dos bancos -a rolagem das dívidas de curto prazo por atacado, mais o vencimento das dívidas de longo prazo- subirá de US$ 20,7 trilhões no final de 2008 para US$ 25,6 trilhões no final de 2011, ou pouco mais de 60% do total de seus ativos. Isso parece uma receita para um imenso encolhimento nos balancetes. Além disso, mesmo estas somas ignoram o desaparecimento do empréstimo securitizado via o chamado "sistema bancário paralelo", que foi particularmente importante nos Estados Unidos.

O FMI também fornece novas estimativas dos custos fiscais finais dos esforços de resgate. No extremo mais alto estão os Estados Unidos e o Reino Unido, com 13% e 9% do PIB, respectivamente. Em outros lugares, os custos são mais baixos. Estas, felizmente, são somas bancáveis. De fato, em comparação ao impacto da recessão sobre a dívida pública, elas parecem bastante administráveis. É verdade que os custos provavelmente acabarão sendo maiores. Mas a grande probabilidade continua sendo a de que os custos fiscais de recessões profundas são substancialmente maiores do que os do resgate financeiro. A recusa em resgatar os sistemas financeiros por parecer caro demais é um caso clássico de ser "penny wise, pound foolish" (cuidadoso no gasto de pequenas somas, mas não no gasto de grandes somas).

Um melhor argumento para a recusa em socorrer os bancos é seu efeito nocivo sobre os incentivos. A alternativa então seria a falência. Jeremy Bulow, da Universidade de Stanford, e Paul Klemperer, da Universidade de Oxford, apresentaram um esquema que poderia fazer isso de modo limpo. As funções bancárias valiosas de cada instituição seriam separadas em um novo banco "ponte", deixando as dívidas (fora os depósitos) no banco velho. Os credores deixados para trás receberiam uma participação acionária no novo banco. Os governos poderiam "inteirar" alguns credores além desse nível, sem inteirar todos os credores, como agora.

Uma opinião respeitável presume que seria melhor fornecer um resgate pleno aos credores em instituições importantes para o sistema. O argumento para isso é que esta é a única forma de eliminar futuro pânico. A objeção não é o custo fiscal. É que surgiria um número limitado de instituições complexas, "grandes demais para falir". Seus credores naturalmente acreditariam estar emprestando aos governos. Isto seria uma receita para catástrofes ainda maiores nos anos futuros.

Mas a imposição de grandes prejuízos aos credores é de fato arriscada. Teria que provavelmente ser feita simultaneamente em toda parte. Apenas após ficar óbvio quais bancos sobreviventes são sólidos é que alguém estaria disposto a emprestar para eles sem garantias.

Pior que esta escolha entre alternativas desagradáveis é o fato de que o caminho para a recuperação provavelmente será lento, independente de qual seja escolhido. Como nota o mais recente Panorama Econômico Mundial em um capítulo importante, as recessões que ocorrem após crises financeiras são incomumente severas. Assim como as recessões sincronizadas globalmente.

Mas agora estamos vivendo uma recessão sincronizada globalmente que coincide com uma imensa crise financeira que emana dos países principais da economia mundial, particularmente os Estados Unidos. Esta é uma receita para uma longa recessão e uma fraca recuperação. O que quer que seja feito a respeito do sistema financeiro, "desalavancagem" é a ordem do dia. A posição do Reino Unido nisto parece horrível. Mas a dos Estados Unidos também parece bem ruim, até mesmo comparada à do Japão nos anos 90.

Para melhor ou para pior, as autoridades decidiram resgatar seus sistemas financeiros com dinheiro do contribuinte. Quase todos os países afetados devem poder arcar com isso, pelo menos segundo os números do FMI. Assim, tendo tomado a decisão fundamental de impedir a falência, eles devem devolver seus sistemas financeiros à saúde o mais rapidamente que puderem.

Mesmo assim, essa provará ser uma condição necessária, mas não suficiente, para um retorno à saúde econômica robusta. O volume da dívida torna a desalavancagem inevitável. Mas ela mal começou. Aqueles que esperam por um rápido retorno ao que consideravam normal há dois anos estão iludidos.