segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Câmbio, Fiesp e Alexandre "eram os deuses astronautas"

A polêmica sobre o câmbio continua, desta vez, com a participação da FIESP. O argumento apresentado pelo Alexandre "eram os deuses astronautas" ainda me parece ser o mais convincente.

A moeda brasileira costuma derreter sob o impacto de turbulências econômicas mundiais -do crash de 1929 ao colapso da Rússia, em 1998. Foi o que ocorreu no início da atual crise, em setembro do ano passado, após a quebra do banco de investimentos Lehman Brothers: a cotação do dólar, que estava em R$ 1,55, pulou para uma faixa que variou entre R$ 2,30 e R$ 2,50.
No entanto, entre maio e agosto passados, a moeda brasileira voltou a se valorizar em relação ao dólar, de R$ 2,21 chegou à cotação de R$ 1,84.
Como explicar esse movimento? Para o Banco Central brasileiro e analistas de bancos privados, ele decorreu da recuperação parcial do preço de commodities exportadas pelo país e de virtudes da política econômica altiva do governo.
Mas um estudo inédito da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), ao qual a Folha teve acesso, aponta para outro motivo.
Segundo o estudo, o real se valorizou porque os investidores internacionais teriam voltado a colocar dinheiro em títulos públicos atrás do diferencial entre o juro alto no Brasil e as baixas taxas estrangeiras.
O estudo baseia sua conclusão no fato de que o fluxo financeiro para títulos de renda fixa se acelerou nos meses em que a taxa de câmbio se apreciou, enquanto outros tipos de investimentos perderam o gás.
Isso provaria a tese de que são eles um dos principais fatores por trás da apreciação da taxa de câmbio brasileira.
O trabalho foi preparado pelo departamento de comércio exterior da Fiesp e vai constar do primeiro número de um boletim quinzenal de avaliação da taxa de câmbio"

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"A Fiesp escolhe critérios errados para sustentar uma tese equivocada", dispara Alexandre Schwartsman, economista-chefe do Grupo Santander Brasil e ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, sobre o estudo da entidade empresarial sobre o fortalecimento da moeda nacional.
A Fiesp argumenta que o fluxo financeiro aumentou nos meses em que a taxa de câmbio se apreciou, e aponta correlação entre os fatos.
Para provar que a correlação não é verdadeira, o economista cita exemplos de períodos em que a moeda se apreciou sem que houvesse grandes fluxos financeiros.
"Por exemplo, o longo processo de apreciação da moeda que se estendeu de 2004 até a primeira metade de 2006. Na ocasião, a média dos fluxos financeiros líquidos no período foi negativa. Nem precisamos recuar tanto. Na primeira metade do ano passado, quando o dólar veio de R$ 1,96 para R$ 1,78, o fluxo financeiro médio foi negativo novamente."
Para o economista -e colunista da Folha-, a apreciação do real nos últimos meses tem relação direta com outro fator: o preço dos produtos básicos.
Segundo ele, quando os preços de commodities sobem, o real se aprecia, e quando os preços caem, o real se deprecia. Isso poderia ser observado nos últimos três anos, e não apenas no último trimestre, período coberto pelo estudo da Fiesp.
"Não quero dizer que não haja outros determinantes [para a valorização do real], incluindo a diferença das taxas de juros. Mas noto que a diferença da Selic caiu, do começo do ano para agosto, de 13,15% para 8,47%, o que deveria fazer o câmbio se depreciar."

Debate
Coordenador da pesquisa da Fiesp, Roberto Giannetti da Fonseca contesta Schwartsman com o seguinte argumento: "Isso é achismo. É o câmbio que determina o preço de commodity, principalmente nos produtos em que o Brasil é forte. Os exportadores repassam o custo cambial para o preço dos produtos que exporta".
Giannetti diz ainda que, embora os juros brasileiros tenham caído, eles ainda estão muito acima da média mundial, o que explicaria a arbitragem dos investidores.
Schwartsman rebate a crítica: "A composição do principal índice de commodities do mundo, o CRB da Reuters, tem pouco a ver com as exportações brasileiras. Ela inclui cobre, chumbo, estanho, zinco, borracha, resina, tecido para sacaria, óleo de soja e milho, entre outros."
Isso mostraria, segundo Schwartsman, como os preços globais de commodities são muito pouco afetados pela taxa de câmbio real/dólar. "A única conclusão possível é que são eles que afetam o valor do real." (MA)

Fonte: FSP