sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Ainda a última médida do setor externo

Retomando o post de ontem: um amigo me informa que na Fazenda tem ótimos profissionais nesta área, dai não ter procedência chamar por profissionais, eles já estariam lá. Não tenho por que discordar da opinião deste amigo, mas não me parece que esses profissionais estão sendo ouvidos. Minha avaliação quanto a eficácia da medida, não é muito diferente da expressa pelo L.C.Mendonça de Barros no artigo abaixo. Ele é do partido da oposição, mas também é um ótimo economista.


Volto mais uma vez à questão da valorização do real. Finalmente o governo resolveu agir para tentar estancar -ou pelo menos reduzir- a queda do dólar em relação à nossa moeda. O leitor da Folha já conhece meu pensamento em relação a esse assunto. Discordo dos analistas que não consideram isso um problema e me preocupo muito com o fortalecimento do real. Principalmente enquanto durar a posição atual da China em relação à sua moeda e a política monetária do Federal Reserve nos Estados Unidos.
Portanto parece-me correta a posição do ministro Guido Mantega de tentar interferir na formação da taxa de câmbio. Vivemos um período em que as autoridades de economias importantes estão atuando nos mercados de câmbio. O yuan chinês, mantido artificialmente constante em relação ao dólar, é, de longe, o fator externo mais relevante por trás da valorização do real e de outras moedas de países emergentes.
No caso da China, o mecanismo de defesa do yuan é simples: o banco central chinês compra qualquer quantidade de dólares que entra no país mantendo fixa a cotação de sua moeda em relação ao dólar norte-americano. Para viabilizar esse sistema de câmbio fixo, conta com mecanismos institucionais que tentam impedir a entrada de capitais financeiros de curto prazo.
Além disso, o sistema está ancorado em alta geração de poupança interna, minimizando os riscos inflacionários dessa política. Acredito que apenas em 2010, quando a recuperação chinesa estiver consolidada, vá ocorrer uma valorização do yuan e uma redução na pressão sobre outras moedas, como o real. Já no caso norte-americano, a influência do Fed na manutenção do dólar fraco é mais sutil: os juros quase a zero fazem com que os especuladores tomem dinheiro emprestado em dólares e os troquem por outras moedas como o real. Apenas com a retomada da normalidade da política monetária norte-americana é que vai desaparecer essa fonte temporária de desvalorização do dólar perante quase todas as outras moedas. Coisa também para 2010, talvez já no fim do primeiro semestre.
Minha intuição diz que o valor do dólar norte-americano, quando essas duas forças forem retiradas, será próximo a R$ 1,80. Enquanto elas permanecerem, não descarto a hipótese de vermos a moeda norte-americana sendo negociada a R$ 1,60. Por isso, acredito que uma intervenção do governo nesse período faça sentido.
Se concordo com a preocupação do ministro Mantega, discordo frontalmente do instrumento escolhido por ele para enfrentar esse problema. Uma primeira crítica é que essa medida isolada não tem a menor chance de ter sucesso, pois o Banco Central acredita na teoria do câmbio flutuante puro. E, sem o engajamento do Banco Central nesse difícil combate, as chances de sucesso são inexistentes.
Em segundo lugar, na forma como foi definido o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) pelo Ministério da Fazenda, será fácil para as instituições financeiras evitá-lo. A própria imprensa trouxe ontem um cardápio de dez alternativas para tanto. Com o pagamento de uma taxa inferior a 1% a um intermediário financeiro, pode-se evitar o pagamento do IOF. Nessa hipótese, teríamos o pior dos mundos: a criação de um custo adicional para os investimentos financeiros no Brasil sem que o Tesouro Nacional se beneficie pela arrecadação de impostos