quarta-feira, 31 de março de 2010

Cranks

O texto abaixo do Martin Gardner(Fads and Fallacies in the Name of Science, Dover) foi escrito pensando em cientistas. Leiter acha que com algumas modificações é uma descrição apropriada de alguns filosofos. Diria que cai como uma luva pra descrever alguns membros da comunidade dos economistas e, principalmente, os que não são membros, mas se comportam como se fossem...


[Some cranks] are brilliant and well-educated, often with an excellent understanding of the branch of science in which they are speculating. Their books can be highly deceptive imitations of the genuine article — well-written and impressively learned....[C]ranks work in almost total isolation from their colleagues. Not isolation in the geographical sense, but in the sense of having no fruitful contacts with fellow researchers.... The modern pseudo-scientist... stands entirely outside the closely integrated channels through which new ideas are introduced and evaluated. He works in isolation. He does not send his findings to the recognized journals, or if he does, they are rejected for reasons which in the vast majority of cases are excellent. In most cases the crank is not well enough informed to write a paper with even a surface resemblance to a significant study. As a consequence, he finds himself excluded from the journals and societies, and almost universally ignored by competent workers in the field..... The eccentric is forced, therefore, to tread a lonely way. He speaks before organizations he himself has founded, contributes to journals he himself may edit, and — until recently — publishes books only when he or his followers can raise sufficient funds to have them printed privately.

And here are Gardner's criteria for "crankhood":

He considers himself a genius.
He regards his colleagues, without exception, as ignorant blockheads. Everyone is out of step except himself....
He believes himself unjustly persecuted and discriminated against....
He has strong compulsions to focus his attacks on the greatest scientists and the best-established theories. When Newton was the outstanding name in physics, eccentric works in that science were violently anti-Newton. Today, with Einstein the father-symbol of authority, a crank theory of physics is likely to attack Einstein in the name of Newton....
He often has a tendency to write in a complex jargon, in many cases making use of terms and phrases he himself has coined...

Fonte: Leiter

terça-feira, 30 de março de 2010

Tradição e modernidade

É dificil escolher o vencedor do trofeu doutor abobrinha, os neoclassicos ou os seus criticos adeptos, na maioria dos casos, de uma combinação de marximo vulgar e um keynesianismo de fachada . Ambos possuem em comum o desprezo pela produção fora dos grupos a que pertencem. O primeiro grupo prefere reverenciar o último manual texto em voga no imperio e o segundo a eterna busca pela verdadeira leitura do velho alemão ou do fantasma que ronda Cambridge. É um comportamento tipicamente fundamentalista contrário ao que se espera de um verdadeiro agir acadêmico que deveria estar sempre aberto ao dialogo entre a tradição e a produção mais recente em sua área de conhecimento. Não se trata de um elógio ao erudito pedante perdido em algum lugar do passado, mas da capacidade de aprender e, se for o caso, mudar de opinião e reconhecer que estava errado. Um outro aspecto positivo deste dialogo com a tradição é evitar cair no ridiculo de reinventar a roda.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Fora Belluzzo, Já

Republico, com uma pequena alteração, o post de 18 de novembro de 2009. Continua atual, porque o incompetente do Belluzzo somente afunda a velha academia.


Não entendeu? ah!!!!, então voce não acompanha futebol e desconhece o preço que pagamos por livrar o bananão do risco de um trapalhão na Presidência do Bacen. Comparado com os estragos que o avvocato poderia fazer no Bacen, o cargo na Academia oferecia riscos bem menores. Argumento razoável, mas nunca imaginei a dimensão que a incompetencia dele - demonstrada no período do cruzado e na análise da crise mundial - poderia assumir. Confesso, que o subestimei e agora so me resta o grito: Fora Belluzzo.

Enquanto isso o Presidente - corintiano roxo - deve estar sorridente: poupou o país de uma escolha equivocada e ainda pode ver o arquirival do seu time do coração em mais uma temporada desastrosa, desta vez no campeonato paulista

Não resta dúvida: onde o avvocato pisa, somente cresce erva daninha.

domingo, 28 de março de 2010

sábado, 27 de março de 2010

Herança, Cecilia Meireles

Eu vim de infinitos caminhos,
e os meus sonhos choveram lúcido pranto
pelo chão.


Quando é que frutifica, nos caminhos infinitos,
essa vida, que era tão viva, tão fecunda,
porque vinha de um coração?


E os que vierem depois, pelos caminhos infinitos,
do pranto que caiu dos meus olhos passados,
que experiência, ou consolo, ou prêmio alcançarão?

sexta-feira, 26 de março de 2010

Como o debate na zona do euro afeta a economia mundial

Artigo interessante do Wolf sobre a relação entre a Zona do Euro e resto do mundo. Ecos da opinião de uma certa Dama de Ferro?



A Alemanha diz “nein”. Esta é a conclusão mais importante a ser extraída do debate sobre a política econômica da zona do euro. O que o governo alemão está dizendo é que a zona do euro deve se transformar em uma Grande Alemanha. Mas essa política teria implicações profundamente negativas para a economia mundial.

A carta desta semana ao “FT” de Ulrich Wilhelm, o porta-voz do governo alemão, e o artigo da semana passada de meu amigo, Otmar Issing, ex-membro do conselho do Banco Central Europeu, são significativos não apenas pelo que dizem, mas também pelo que não dizem.

O que eles dizem é que a Alemanha não correrá o risco de minar sua competitividade. O que eles não reconhecem é que a economia mundial tem um ajuste difícil à frente, para o qual a zona do euro e a Alemanha precisam contribuir.

Em relação ao primeiro, Issing é bem claro: “Após anos de divergência entre o custo do trabalho por unidade e as perdas em competitividade em vários países, a ideia que está ganhando terreno é de que a economia com maior superávit, a Alemanha, deve ajudar por meio da elevação de salários em prol dos países deficitários e da comunidade como um todo”. Pelo contrário, ele insiste, os salários até mesmo na Alemanha ainda estão altos demais, dado o desemprego elevado.

Eu considero difícil de discordar. Muitos países entraram na união monetária sem reconhecer as implicações para os mercados de trabalho. Em vez das reformas que o ingresso exigia, eles desfrutaram de uma grande festa. A festa acabou. Com os custos do trabalho por unidade na Alemanha estagnados e o euro ainda forte, os custos do trabalho nos países europeus periféricos deve cair acentuadamente. Esses países não têm alternativas dentro da união monetária na qual escolheram ingressar.

Quanto ao segundo dos dois pontos, Wilhelm oferece um parágrafo perturbador: “A chave para corrigir os desequilíbrios na zona do euro e restaurar a estabilidade fiscal está na elevação da competitividade da Europa como um todo. Quanto mais países com déficits em conta corrente conseguirem aumentar sua competitividade, mais facilidade eles terão para diminuir seus déficits públicos e de comércio exterior. Uma política menos voltada para a estabilidade na Alemanha danificaria a zona do euro como um todo”.

Eu considero impossível concordar. O que é fascinante a respeito desses comentários é que não há menção à demanda. Wilhelm está convidando todos a se juntarem a um mundo de soma zero de políticas “empobreça seu vizinho”, no qual todos os países tentam tirar participação de mercado dos demais. Em um tempo de fraqueza global, esta é uma recomendação autodestrutiva tanto para a zona do euro quanto para o mundo.

Mais precisamente, o que a Alemanha quer ver é um corte forte nos déficits fiscais por toda a zona do euro. Com a contração do déficit fiscal e o enfraquecimento da produção, a saída para cada país seria uma queda relativa nos custos do trabalho por unidade e uma maior exportação líquida. Se bem-sucedida, essa política transferiria a fraqueza econômica de cada país para outros países da zona do euro ou, mais provável, para o mundo, via um maior superávit de exportações líquidas da zona do euro.

Segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o déficit fiscal do governo geral na zona do euro será próximo de 7% do produto interno bruto neste ano. Presuma que isso deva ser cortado rapidamente para 3%, enquanto os superávits financeiros do setor privado permanecem próximos de 7% do PIB, como agora está implicitamente previsto. Então a conta corrente na zona do euro precisaria melhorar em cerca de 4% do PIB. Isso seria cerca de US$ 600 bilhões, ou quase 1% do PIB mundial.

Onde a Alemanha acha que ocorreria a compensação para os maiores déficits externos? Esta política certamente torna inviável o desafio de um ajuste pós-crise para os países com déficit, incluindo os Estados Unidos e o Reino Unido. Uma economia mundial aberta sobreviveria?

Talvez eu seja pessimista demais a respeito das implicações do arrocho fiscal previsto para a demanda. Talvez em alguns países o aumento da credibilidade da posição fiscal estimule os gastos privados. Mas, no geral, a zona do euro provavelmente experimentaria uma fraqueza renovada da demanda em casa ou exportaria essa fraqueza para o exterior.

Será que uma política monetária agressiva faria a diferença? O Banco Central Europeu tem sido bem-sucedido em sustentar um rápido crescimento do agregado monetário estreito durante a crise, mais do que, na verdade, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) e o Banco da Inglaterra. Mas o crescimento do agregado amplo ruiu. Além disso, a política monetária agressiva fracassou em deter a queda acentuada do PIB nominal, que encolheu em 2% ao ano no quarto trimestre de 2009 dentro da zona do euro.

Infelizmente, a política monetária parece estar pressionando em uma só direção. Ela deixou os bancos lucrativos e os banqueiros mais ricos, com um benefício modesto para a economia real. É improvável que isso mude tão cedo.

Uma solução alternativa seria ajudar o mundo a absorver maiores superávits de exportação da zona do euro, Estados Unidos, Japão e Reino Unido. É verdade que nenhuma saída sustentável do atual atoleiro pode ser concebida sem um aumento dos fluxos líquidos de capital para os países emergentes. Também parece evidente que é para aí que os superávits de poupança do mundo irão. Mas levará tempo e muita reforma para que isso aconteça.

Permita-me deixar claro o que estou dizendo e o que não estou dizendo sobre o papel da Alemanha na zona do euro e da zona do euro no mundo.

Eu não estou dizendo que a Alemanha tem culpa por produzir produtos manufaturados de primeira qualidade. Isso é um feito admirável. Eu também não estou dizendo que a Alemanha deva tornar seus trabalhadores não competitivos ou aceitar uma maior inflação.

Eu estou dizendo que os superávits da Alemanha só foram possíveis graças aos déficits dos outros países, e a estabilidade alemã graças à instabilidade dos outros países. Eu estou dizendo que parte das exportações líquidas da Alemanha foi ilusória, paga por tomada excessiva de empréstimos, frequentemente financiados pelos alemães. Eu estou dizendo que para que a periferia da Europa possa melhorar suas contas externas, ou a Alemanha deve compensar parte disso, ou a conta corrente da própria zona do euro deve se deslocar para um superávit, com os impactos adversos sobre uma economia mundial frágil.

Resumindo, a política econômica envolve mais do que apenas competitividade. Quando o mundo está tentando sair de uma profunda recessão, a demanda também importa. Na condição de quarta maior economia do mundo e coração da zona do euro, a Alemanha tem um papel a exercer no reequilíbrio da demanda global. Eu entendo que seja um desafio difícil. Mas mesmo assim ele precisa ser encarado.

Fonte: FSP

quinta-feira, 25 de março de 2010

Desenvolvimento com distribuição de renda, já

O Brasil é um país que apresenta uma performance econômica razoável, se saiu muito bem durante a recente crise econômica e apesar disto ainda há aqueles que discordam desta realidade e oferecem uma especie de realidade alternativa, argumentam que os dados apresentados seriam pura ficção do governo ou da classe dominante. Adicionam uma pitada populista: pessoas sem o que comer em regiões distantes, crianças na rua, etc. Parecem ter esquecido - se é que algum dia conheceram - a expressão Belindia, cunhada pelo Bacha. A parte Belgica, nos últimos anos aumentou, mas a porção India ainda é, infelizmente, alta. O país continua a ser socialmente injusto e não há razão econômica que justifique tal situação. É preciso recuperar temas dos anos 70, como por ex. "desenvolvimento com distriuição da renda", que foram esquecidos no combate a inflação e nunca retornaram à agenda econômica e política do grande bananão. Para tanto não é necessário recorrer as tentações populistas ou aos devaneios de modelos econômicos e políticos alternativos que prometiam o paraiso, mas produziram, somente, miseria política e econômica e um deserto espiritual.

quarta-feira, 24 de março de 2010

terça-feira, 23 de março de 2010

Bresser Pereira

Bom texto do Bresser Pereira, exceto pela menção ao vampiro brasileiro. Mas, ..., ninguem é perfeito.


Sempre afirmo que a política é a mais nobre e a mais importante das profissões. É a mais nobre porque apenas homens e mulheres dotados da capacidade de tomar decisões e de qualidade moral são capazes de exercê-la bem. É a mais importante porque a política influencia nossas vidas para o bem ou para o mal, porque é por meio dela que somos governados.
Essa afirmação sobre a nobreza da política sempre causa surpresa em meus interlocutores, porque leem todos os dias notícias sobre a corrupção dos políticos. Assim, a política não estaria associada à virtude da nobreza, e sim ao vício da corrupção.
Foi, portanto, com alegria que li no "Estado de S. Paulo" (14/3) uma entrevista de José Serra a Dora Kramer na qual ele defende "uma prática transformadora na política brasileira, começando pelo repúdio ao mote fatalista e reacionário de que a desonestidade é inerente à vida pública, que o poder necessariamente corrompe o homem".
Terá razão o governador paulista ao rejeitar a visão reacionária da política? Estarei eu correto quando defendo a política apesar dos constantes deslizes dos políticos? Para responder a essas questões, devemos considerar dois conceitos básicos.
O Estado é o sistema constitucional-legal e o aparelho público que o garante; é o instrumento por excelência de ação coletiva da nação; é a lei e a administração pública; é a expressão maior da nossa racionalidade coletiva.
A política, por sua vez, é a prática de argumentar e fazer concessões mútuas para alcançar o poder político e é a arte de governar o Estado moderno que foi inicialmente liberal e depois se tornou democrático. É por meio da política que reformamos permanentemente a sociedade e o Estado para que esse cumpra seu papel contribuindo de forma efetiva para os grandes objetivos políticos das sociedades modernas: segurança, autonomia nacional, desenvolvimento econômico, liberdade, justiça social e proteção do ambiente. Podemos obter algum sucesso na busca individual de nossa felicidade e segurança econômica. Entretanto, os demais objetivos políticos, e mesmo esses dois que acabei de citar, somente poderão ser atingidos por meio da construção política do Estado.
Não podemos esquecer que, conforme ensinou Max Weber, a ética na política é diferente da ética pessoal: é uma ética da responsabilidade, não da convicção. Para governar e promover o bem público, o político deve buscar a maioria e, para isso, é obrigado a fazer acordos ou compromissos que um indivíduo não precisa fazer. Não devemos, porém, confundir com a corrupção essa ética baseada na responsabilidade do político em alcançar bons resultados para a sociedade que governa.
Não se justifica, portanto, a tese do caráter intrinsecamente corrupto da política. A política é o grande instrumento de que dispõe a sociedade para reformar seu Estado. Só por meio da lei e da administração pública que a garante progrediremos na busca da segurança, da liberdade e da justiça. A identificação da política com busca exclusiva do poder pessoal e da riqueza é uma tese neoliberal e autoritária que desmoraliza a política para, assim, legitimar o governo das elites.
Precisamos ser implacáveis em relação à corrupção, mas não é por meio do moralismo negativista que lograremos atingir nossos grandes objetivos políticos. Para isso, não temos alternativa senão pensar a política em termos republicanos de virtude cívica e busca do bem comum.
Só assim estaremos fortalecendo nosso grande instrumento de ação coletiva que é o Estado.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Coerência, please

Artigo interessante e otimista do Nakano sobre o impacto da queda do muro de Berlin e a recente crise econômica no debate econômico. Não concordo totalmente com os argumentos apresentados: ele exagera, por ex. o papel do Estado e não menciona o papel dos cursos de pós graduação(mestrado e doutorado)brasileiros na formatação e manutenção da agenda econômica e da linha teorica ainda dominantes. A linha teorica da escola que ele dirige não é em nada diferente das que ele implicitamente critica no texto. Difícil imaginar uma agenda diferente, exceto pela retórica.


O colapso do bloco soviético escancarou o fracasso do planejamento central e acabou com o seu mito. A queda do Muro de Berlim, em 1989, marcou o fim da ideologia do socialismo autoritário abraçado pelas esquerdas e, desde então, passou a prevalecer o outro extremo conservador com o mito do mercado livre, eficiente e que se autorregula. A grande crise e o colapso do sistema financeiro nos EUA e na Europa, em 2008, tornaram a intervenção maciça do Estado uma necessidade absoluta, marcando o fim dessa ideologia neoliberal.
Com o degelo das duas ideologias e a destruição de dois mitos poderosos, o planejamento central e o mercado livre e eficiente, abre-se neste início de década um período que deverá ser muito fértil para a revisão de todo o pensamento econômico com grande liberdade de pensar e abrindo espaço para posições mais pragmáticas e livres dos grilhões das ideologias e dos mitos.
As consequências desse degelo das grandes ideologias terão enorme repercussão. No Brasil, sabidamente a partir da década de 90, a opinião pública foi dominada pelo pensamento neoliberal. As políticas públicas passaram a ser formuladas com base na perspectiva de que, quanto menos Estado, melhor.
Mas os setores que abraçaram o neoliberalismo no Brasil, aliando-se politicamente aos conservadores, não levaram até as últimas consequências a destruição do Estado. Retirou-se da função-objetivo do Estado a promoção do desenvolvimento econômico e mesmo a geração de emprego. Destruiu-se a capacitação técnica de pensar e planejar a longo prazo e, estrategicamente, o futuro do país, supostamente um segmento dominado pelas esquerdas intervencionistas, e manteve-se intacto dentro do Estado o atraso: o segmento patrimonialista, clientelista e burocrático. Paradoxalmente, o neoliberalismo brasileiro impõe uma carga tributária e um imenso custo Brasil que sufocam o mercado.
Agora, abre-se um período de reflexão sem os mitos e dogmas do livre mercado que cerceavam o livre pensar, estabeleciam os limites do que pessoas sérias e respeitáveis poderiam falar. Falar em desenvolvimento econômico deixou de ser assunto de economista desocupado, como censurava um ministro do governo anterior. A política macroeconômica está incorporando o crescimento e a geração de emprego como seus principais objetivos. Controlar o fluxo de capitais e administrar a taxa de câmbio está deixando de ser uma obscenidade. Deficit público para fazer política anticíclica tem o apoio de todos. O Banco Central, pelo resultado da última reunião do Copom, parece começar a se libertar da cegueira imposta pelo pensamento ortodoxo. Com isso, abre-se a possibilidade de nos livrarmos da taxa de juros mais alta do mundo e da taxa de câmbio apreciada que está desindustrializando e transferindo empregos para o exterior.
Em suma, o Brasil está se libertando dos grilhões e da cegueira imposta pelo pensamento dominante no último quarto de século. Com isso, caminhamos para maior pragmatismo e convergência de pensamento, com perspectivas de retomarmos o projeto nacional de desenvolvimento, interrompido em 1980.

Fonte: FSP

domingo, 21 de março de 2010

sábado, 20 de março de 2010

Metaphors of a magnifico, Wallace Stevens

Twenty men crossing a bridge,
Into a village,
Are twenty men crossing twenty bridges,
Into twenty villages,
Or one man
Crossing a single bridge into a village.

This is old song
That will not declare itself . . .

Twenty men crossing a bridge,
Into a village,
Are
Twenty men crossing a bridge
Into a village.

That will not declare itself
Yet is certain as meaning . . .

The boots of the men clump
On the boards of the bridge.
The first white wall of the village
Rises through fruit-trees.
Of what was it I was thinking?
So the meaning escapes.

The first white wall of the village...
The fruit-trees...

sexta-feira, 19 de março de 2010

The big bank fix

Artigo bastante esclarecedor do Robert Skidelsky sobre as dificuldades políticas de reformas do setor bancário americano.


Two alternative approaches dominate current discussions about banking reform: break-up and regulation. The debate goes back to the early days of US President Franklin D. Roosevelt’s “New Deal,” which pitted “trust-busters” against regulators.

In banking, the trust-busters won the day with the Glass-Steagall Act of 1933, which divorced commercial banking from investment banking and guaranteed bank deposits. With the gradual dismantling of Glass-Steagall, and its final repeal in 1999, bankers triumphed over both the busters and the regulators, while maintaining deposit insurance for the commercial banks. It was this largely unregulated system that came crashing down in 2008, with global repercussions.

At the core of preventing another banking crash is solving the problem of moral hazard – the likelihood that a risk-taker who is insured against loss will take more risks. In most countries, if a bank in which I place my money goes bust, the government, not the bank, compensates me. Additionally, the central bank acts as “lender of last resort” to commercial banks considered “too big to fail.” As a result, banks enjoying deposit insurance and access to central bank funds are free to gamble with their depositors’ money; they are “banks with casinos attached to them” in the words of John Kay.

The danger unleashed by sweeping away the Glass-Steagall barrier to moral hazard became clear after Lehman Brothers was allowed to fail in September 2008. Bail-out facilities were then extended ad hoc to investment banks, mortgage providers, and big insurers like AIG, protecting managers, creditors, and stock-holders against loss. (Goldman Sachs became eligible for subsidized Fed loans by turning itself into a holding company). The main part of the banking system was able to take risks without having to foot the bill for failure. Public anger apart, such a system is untenable.

Premature rejection of bank nationalization has left us with the same two alternatives as in 1933: break-up or regulation. Taking his cue from Paul Volcker, a former chairman of the US Federal Reserve, President Barack Obama has proposed a modern form of Glass-Steagall.

Under the Obama-Volcker proposals, commercial banks would be forbidden to engage in proprietary trading – trading on their own account – and from owning hedge funds and private-equity firms. Moreover, they would be limited in their holding of derivative instruments, and Obama has suggested that no commercial bank should hold more than 10% of national deposits. The main idea is to reduce the risks that can be taken by any financial institution that is backed by the federal government.

The alternative regulatory approach, promoted by Nobel Laureate Paul Krugman and the chairman of Britain’s Financial Service Authority, Adair Turner, seeks to use regulation to limit risk-taking without changing the structure of the banking system. A new portfolio of regulations would increase banks’ capital requirements, limit the debt that they could take on, and establish a Consumer Financial Protection Agency to protect naïve borrowers against predatory lending.

This is not an either-or matter. In testimony to the Senate Banking Committee in early February, MIT’s Simon Johnson endorsed the Volcker approach, but also favored strengthening commercial banks’ capital ratios “dramatically” – from about 7% to 25% – and improving bankruptcy procedures through a “living will,” which would freeze some assets, but not others.

Many details of the Obama package are unlikely to survive (if, indeed, the plan itself does). But there are powerful arguments against the principles of his approach. Critics point out that “plain old bad lending” by the commercial banks accounted for 90% of banks’ losses. The classic case is Britain’s Royal Bank of Scotland, which is not an investment bank.

The commercial banks’ main losses were incurred in the residential and commercial housing market. The remedy here is not to break up the banks, but to limit bank loans to this sector – say, by forcing them to hold a certain proportion of mortgages on their books, and by increasing the capital that needs to be held against loans for commercial real estate.

Moreover, many countries with integrated banking systems did not have to bail out any of their financial institutions. Canada’s banks were not too big to fail – just too boring to fail. There is nothing in Canada to rival the power of Wall Street or the City of London. This enabled the government to swim against the tide of financial innovation and de-regulation. It is countries like the US and Britain, with politically dominant financial sectors competing to take over financial leadership of the world, that suffered the heaviest losses.

This is the point that the well-intentioned regulators miss. At root, the battle between the two approaches is a question of power, not of technical financial economics. As Johnson pointed out in his Congressional testimony, “solutions that depend on smarter, better regulatory supervision and corrective action ignore the political constraint on regulation and the political power of big banks.”

Such proposed solutions assume that regulators will be able to identify excess risks, prevent banks from manipulating the regulations, resist political pressure to leave the banks alone, and impose controversial corrective measures “that will be too complicated to defend in public.” They also assume that governments will have to the courage to back them as their opponents accuse them of socialism and crimes against freedom, innovation, dynamism, and so on. In fact, this chorus of abuse has already started, led by Goldman Sachs Chairman Lloyd Blankfein.

There is another interesting parallel with the New Deal. Roosevelt got the Glass-Steagall Act through Congress within a hundred days of his inauguration. Obama has waited over a year to suggest his bank reform, and it is unlikely to pass. This is not just because the banking crisis in 1933 was greater than today’s crisis; it is because much more powerful financial lobbies now stand between pen and policy. If reformers are to win, they must be prepared to fight the world’s most powerful vested interest.

Fonte: Project Syndicate

quinta-feira, 18 de março de 2010

Em ceu de brigadeiro..

Para o desespero da nova direita e seus aliados de extrema esquerda, os números da economia brasileira insistem em negar o cenario catastrofico por eles previsto. Os numeros do Caged, com o melhor fevereiro da historia, demonstraram a força da recuperação pós crise, com a recuperação de todas a cadeia produtiva e com ótima distribuição geografica, ou seja a recuperação esta disseminada por todos os setores da economia e, tambem, pelo país.

Neste cenario de forte recuperação e com previsão de um crescimento robusto do PIB para este ano é razoavel a preocupação do Bacen com a inflação, assim como a provável elevação da taxa de juros na próxima reunião. Mante-la no mesmo patamar, foi, me parece, uma decisão correta, mas dificilmente esta decisão será mantida na próxima reunião. Não estou defendendo a sua elevação, apenas reconhecendo que tal possibilidade não é todo desprovida de fundamento econômico. Aindo estou pensando no assunto...

quarta-feira, 17 de março de 2010

Campo minado?

Bom artigo, da Luciana Coelho, no jornal da ditabranda, sobre os dilemas da retaliação brasileira aos norte-americanos.

"O Brasil está longe do consenso na decisão final sobre a retaliação aos EUA por conta dos subsídios que o país paga a seus produtores de algodão. A desarmonia é mais evidente no que se refere à propriedade intelectual, quando o ineditismo da medida atravanca o caminho da promessa à prática.
Apesar da publicação das duas listas de alvos possíveis das sanções, a cacofonia de pedidos e resistências internas que marcou a elaboração de ambas volta a aparecer na discussão sobre sua aplicação.
Há divergências entre o Itamaraty e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior sobre como aplicar as sanções, se de fato elas devem ser a plena força e sobre como dividir custos e benefícios da decisão -tanto os políticos como os econômicos.
Crescem também as dissonâncias entre setores envolvidos na retaliação, sobretudo os agrícolas e o farmacêutico.
Ao quadro se soma a percepção, do lado brasileiro, de que os EUA tentam minar a discussão por dentro, fazendo ofertas de vantagens e/ou pressões pontuais por setor, na expectativa de que eles passem a pressionar contra as sanções .
Após sete anos, a Organização Mundial do Comércio deu ao Brasil em setembro o direito de aplicar sanções contra os EUA em duas frentes. A primeira é a dos bens. A segunda, inédita, é a retaliação cruzada, que permite medidas em outro setor que não o que originou a disputa. O país escolheu o mais sensível deles para os americanos: propriedade intelectual.
O problema é que nem o Brasil nem seu antagonista sabem como lidar com essa nova carta. Os EUA, por ora, pagam para ver se é blefe. E o Brasil, mesmo tendo um trunfo, pode acabar o jogo com o morto na mão.
Existe consenso razoável de que a retaliação em bens, calculada em US$ 591 milhões para os próximos 12 meses, será efetivada. A dúvida paira sobre a retaliação cruzada, que soma US$ 238 milhões.
Aí, à primeira vista, os focos são direitos de autor sobre produtos audiovisuais (filmes, essencialmente) e em patentes de medicamentos. Ambos deixariam de ser pagos no período de aplicação das sanções.
Mas se há um ponto de convergência entre os brasileiros é que os americanos só ouvem a palavra "genéricos". A ameaça à bilheteria de produções hollywoodianas não recebeu mais do que muxoxos dos EUA e o eco de que querem negociar. Na frente interna, foi vista como impopular (o país afinal abraçou a bandeira do combate à pirataria) e pouco eficaz.
Já o foco nas farmacêuticas, o trunfo, esbarra no custo. As sanções são por período limitado, e quebrar a patente de um genérico para produzi-lo no país por um ou dois anos somente não seduz a indústria.
A saída seria a importação de um determinado medicamento genérico de outro país que já quebrou a patente -a Índia, por exemplo. Ainda assim, discute-se se inserir um terceiro governo na história não abriria um flanco para questionamentos dos EUA na própria OMC.
Do lado brasileiro, há quem ache que a mera possibilidade é suficiente para pressionar os americanos. Há quem acredite, contudo, que Washington só levará Brasília a sério se a ameaça virar fato. E há ainda os que apostam que o governo Obama preferirá pagar a conta, para não empenhar seu caro capital político ao mexer com um programa de subsídios -e um lobby agrícola- enraizado no Congresso norte-americano."

Fonte: FSP

terça-feira, 16 de março de 2010

Rogoff

Importante entrevista com O Rogoff, na edição desta terça-feira do jornal da ditabranda. Recomendo, também, a leitura do artigo de um dos donos do jornal sobre a política externa brasileira. Não concordo, necessariamente, com a opinião do autor, porém é um importante primeiro passo na discussão de um tema ausente nos jornais brasileiros. Já o artigo da Catanheda é um ótimo exemplo do complexo de terceiro mundo que ainda predomina na midia nacional.



FOLHA - O senhor afirma que um grande fluxo de capital pode dar a falsa impressão de que o governo promoveu um forte crescimento. Esse é o caso do Brasil, que deve crescer 6% em 2010?
KENNETH ROGOFF - Não estava me referindo especificamente ao Brasil. Mas um país que tenha forte entrada de capital por cinco anos parecerá que tem uma situação melhor do que tem. Muito desse crescimento que o Brasil terá se deve à base de comparação, com a saída da recessão. O Brasil tem muito para ganhar em produtividade e reformas microeconômicas.
FOLHA - O Brasil e outros emergentes terão de tomar medidas para evitar a alta de suas moedas por conta desse capital?
ROGOFF - É sempre importante ficar de olho nas entradas de capital. Os países nessa situação podem adotar medidas "amigas" do mercado para evitar uma entrada excessiva de recursos, que pode ser inconveniente. Para evitar que o real suba, talvez o governo tenha de adotar medidas nesse sentido.

FOLHA - Algum país conseguiu adotar medidas inteligentes nesse sentido? Qual a sua avaliação sobre o imposto aos investidores estrangeiros no Brasil?
ROGOFF - A Índia e alguns países da Ásia estão prestando muita atenção nesse assunto; o Brasil também. E o Brasil tem mais condições de fazer isso porque tem um mercado financeiro muito mais fluído, o que é bastante saudável. Não tenho visto tantas medidas inteligentes dos países emergentes para evitar que suas moedas tenham excesso de volatilidade. O problema é como fazer.

FOLHA - O esquecimento faz parte da natureza dos mercados?
ROGOFF - Não só dos mercados. As pessoas realmente se esquecem. Além de esquecer, negam que algumas coisas tenham acontecido! As crises financeiras acontecem com uma grande regularidade. A Grécia, que todos olham agora, passou quase toda a sua história em default (calote). O Brasil é um dos países que mais estiveram em moratória. O país esteve em default em um a cada quatro anos. Na Grécia, foi um a cada dois anos. Quantas pessoas sabem que a Grécia tem um histórico pior do que o Brasil? Quase ninguém.

FOLHA - Daqui a quanto tempo a crise atual será esquecida?
ROGOFF - Diria que demora uns 15 anos; é o tempo em que uma criança se torna adolescente e acha que está em um mundo diferente. Imagino que hoje algumas pessoas no Brasil não saibam como era a inflação...

FOLHA - Qual país será a próxima Grécia?
ROGOFF - Há vários países vulneráveis na Europa: Hungria, Espanha, Irlanda, Portugal. Não acredito que a Europa terá tanto sucesso em resolver esses problemas.

FOLHA - E fora da Europa?
ROGOFF - Há um número grande de emergentes com uma situação bastante boa. Brasil e América Latina estão melhores do que a Europa.

FOLHA - Por que poucos países nunca entraram em default?
ROGOFF - Parte da razão é que esses países precisavam mais da comunidade financeira. Mas é uma amostra tão pequena que é difícil saber.

segunda-feira, 15 de março de 2010

domingo, 14 de março de 2010

sábado, 13 de março de 2010

Reflexão n°.1, Murilo Mendes

Ninguém sonha duas vezes o mesmo sonho
Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio
Nem ama duas vezes a mesma mulher.
Deus de onde tudo deriva
E a circulação e o movimento infinito.


Ainda não estamos habituados com o mundo
Nascer é muito comprido.

sexta-feira, 12 de março de 2010

quinta-feira, 11 de março de 2010

O dólar de duas cabeças

Interessante artigo do Vinicius Torres no jornal da Ditabranda. Confesso que não havia, ainda, pensado no assunto. O argumento do Dib é interessante, mas não de todo convincente.


O Brasil terá duas instituições oficiais com poder e fundos para intervir na taxa de câmbio? Isto é, que possam vender e comprar dólares, de modo a interferir na cotação da moeda americana, em reais? Desde a criação do Fundo Soberano do Brasil (FSB), em 2008, a hipótese está na cabeça do mercado. Com a regulamentação do Conselho Deliberativo do FSB, em fevereiro, o tema ressurgiu. Ou seja, suspeita-se que, além do Banco Central, o Tesouro possa intervir no câmbio.
O FSB é o cofre que guarda o que o governo chama de sobras do superavit primário, daquilo que poupa anualmente. O dinheiro do FSB seria usado como reserva para anos recessivos e de baixa arrecadação.
Enquanto não é utilizada, tal reserva poderia ser aplicada em títulos estrangeiros. Logo, o fundo pode comprar dólares. A Secretaria-Executiva do Conselho do FSB ficou com a Secretaria do Tesouro, da Fazenda. O Conselho é composto pelos ministros da Fazenda e do Planejamento e pelo presidente do Banco Central.
Darwin Dib, economista do Itaú Unibanco, explicita a suspeita do mercado, em relatório do banco. Sob o subtítulo "O Céu é o Limite", Dib começa assim seu texto: "O Tesouro pode agora intervir à vontade no mercado de câmbio".
Hoje, só o Banco Central intervém no câmbio. Compra dólares para as reservas internacionais ou os vende, a depender da situação do mercado.
Em nome do Tesouro, o Banco do Brasil compra moeda estrangeira apenas o bastante para pagar a dívida externa. O Tesouro não tinha, pois, como acumular reservas: o que entrava saía. Com o FSB, poderia haver um segundo caixa cambial.
Uma instituição financeira federal, o Banco do Brasil, seria o agente financeiro do FSB. Na verdade, um Fundo Fiscal de Investimentos e Estabilização seria constituído no BB a fim de operar para o FSB.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse várias vezes a esta coluna que o objetivo do FSB não seria intervir no câmbio. Segundo Mantega, as compras de dólares do FSB seriam espaçadas, vinculadas apenas à "otimização" dos recursos do fundo. Dizia ainda Mantega que tais compras seriam discutidas com o BC de modo a não causar "ruído" na atuação do governo (BC) sobre o câmbio. De resto, o governo não faria mais dívida a fim de engordar o fundo a fim de intervir no câmbio.
Dib argumenta que o Tesouro, entenda-se a Fazenda, vez e outra se manifesta sobre o nível ideal do câmbio, coisa que o BC se recusa a fazer. No regime de metas de inflação, em tese o câmbio flutua livremente. A meta do BC é a inflação, não o preço do real. Um novo agente oficial no câmbio pode dar ao mercado ideias de pisos e tetos de cotação da moeda. Mais, pode cometer intervenções excessivas e desnecessárias no mercado. O que por sua vez poderia suscitar reações do BC.
O FSB, de resto, agiria de modo "invisível", sustenta Dib. Diferentemente das ações do BC, as supostas e possíveis ações do Tesouro não apareceriam nos canais que o mercado observa a fim de verificar o que se passa com fluxos e apostas dos agentes privados (posição dos bancos, variação das reservas internacionais).
Em suma, o texto de Dib diz que o FSB (Fazenda) pode atravessar o samba do câmbio do BC.

Fonte: UOL

quarta-feira, 10 de março de 2010

On J.D. Salinger

Michael Greenberg, apresenta uma leitura concisa,mas interessante, do Salinger, um dos melhores escritores americanos.


"Rereading J.D. Salinger after his death on January 27, I am struck by an improbable connection between his work and that of Jack Kerouac. Both were writing in the late Forties and Fifties, from opposite ends of the social spectrum, but with a relentless ethos of nonconformism at the center of their fiction. Salinger, however, has none of Kerouac's easy American Romanticism, much less his patriotic celebration of the open road. Salinger's world is one of constricted New York spaces: bathrooms, restaurants, hotel rooms, buses, a tiny obstructed table in a piano bar where one barely has room enough to sit down. The high cost of not conforming is far more palpable in Salinger than in Kerouac. For Salinger's characters, to be different isn't a choice but a kind of incurable affliction, a source of existential crisis rather than social liberation.

There's no alternative "lifestyle" for Holden Caulfield or the members of the Glass family to retreat to, as there is for the Beats, no group of like-minded adventurers. Salinger's characters aren't after thrills. Their quest is for an impossible purity that drives them away from the workaday world, toward a dangerous, self-burying seclusion. "We're...freaks with freakish standards," says Zooey Glass to his sister Franny. "We're the Tattooed Lady, and we're never going to have a minute's peace, the rest of our lives, till everybody else is tattooed, too."

Salinger's subject is the burden of having these freakish standards, of being what Tolstoy called "an aristocrat of the spirit." His freaks are the sort most people would envy—good-looking, witty, talented, well off. But they are paralyzed by their uncompromising sensibility. Franny, a gifted actress, abruptly quits the stage to seek the attainment of satori through repetitive, entrancing prayer. Acting embarrasses her. "I began to feel like such a nasty little egomaniac," she tells her boyfriend. The boyfriend accuses her of behaving as if "you're the only person in the world that's got any goddam sense." He wonders if maybe she's afraid to compete. "It's just the opposite," says Franny.

Don't you see that? I'm afraid I will compete—that's what scares me.... Just because I'm so horribly conditioned to accept everybody else's values, and just because I like applause and people to rave about me, doesn't make it right. I'm ashamed of it. I'm sick of it. I'm sick of not having the courage to be an absolute nobody.
Effortlessly distinguished, Franny seems the furthest you can be from a nobody; in Salinger's world this becomes the logical reason for wanting to be one.

Holden Caulfield in The Catcher in the Rye is beset by a similar crisis of authenticity. It isn't merely that most people are "phony"; the deeper problem is that sincerity itself is suspect. Like the members of the Glass family, Holden lives in a hell of second-guessing, in which every motive—even those behind seemingly altruistic acts—is potentially corrupt. He demands a purity that is impossible because it opposes the basic machinery of human nature. Thus, to be a high-minded lawyer, for instance, who goes about "saving innocent guys' lives," would be tainted by the fact that you wouldn't know

if you did it because you really wanted to save guys' lives, or...you did it because what you real ly wanted to do was be a terrific lawyer, with everybody slapping you on the back and congratulating you in court when the goddam trial was over.... How would you know you weren't being a phony? The trouble is, you wouldn't.
Intent is given equal moral weight to action, even when intent can't be definitively known. Under the circumstances, the only solution is the renunciation of ambition itself. Salinger's characters are like aspiring monks with no religion.

Throughout Salinger's fiction there is a highly defined, consistent aesthetic, so exacting that it negates creative action itself. In The Catcher in the Rye, a virtuosic jazz pianist has stooped to "dumb, show-offy ripples in the high notes, and a lot of other very tricky stuff that gives me a pain in the ass." The people in the club listening to the pianist roar their approval, "the same morons that laugh like hyenas in the movies at stuff that isn't funny." Attending a Broadway play starring the universally worshiped actors Alfred Lunt and Lynn Fontanne, Holden remarks, "They were good, but they were too good." The delivery of their lines was

supposed to be like people really talking and interrupting each other and all. The trouble was, it was too much like people talking and interrupting each other.... If you do something too good, then, after a while, if you don't watch it, you start showing off. And then you're not as good any more.
Holden is instinctively postmodern, too knowing to suspend disbelief, and hyperaware of the motif or trope that is behind every formal performance. At Radio City Music Hall

a guy came out in a tuxedo and roller skates on, and started skating under a bunch of little tables, and telling jokes while he did it. He was a very good skater and all, but I couldn't enjoy it much because I kept picturing him practicing to be a guy that roller-skates on the stage.
To be a true artist, the performer must give up being on stage.

Near the end of the novel Holden has an elaborate fantasy of living in seclusion in a cabin in the country. "I'd have this rule that nobody could do anything phony when they visited me. If anybody tried to do anything phony, they couldn't stay." Holden doesn't make good on the fantasy, but his creator did, living reclusively in Cornish, New Hampshire, for more than fifty years, in what appears to have been a state of relative contentment. According to Salinger he continued to write about the Glass family during those years. He declined to publish these books, if that's what they are, while he was alive, disgusted perhaps with the vagaries of "ego, ego, ego. My own and everybody else's," as Franny put it. He seemed to regard his literary success as a moral stain. It would be hard to think of a contemporary American writer whose personal life was more true to the ethos of his fiction."

Fonte: NYBooks

terça-feira, 9 de março de 2010

Comunicado MRE-Camex sobre o contencioso do algodão

Decisão correta, mas deve ser vista como ponto de partida para negociações. Não deixa, contudo, de ser um marco, já que o Brasil foi, segundo o FT, o primeiro país em desenvolvimento a tomar tal iniciativa contra os USA e torna-se ainda mais significativo quando se leva em consideração que, como relatado no mesmo jornal,' many years ago a US trade delegate “negotiating” with his Australian counterpart allegedly leant across the table and said: “We eat countries like you for breakfast.” Não se deve, obviamente, exagerar o simbolismo, tão pouco despreza-lo.


"Foi publicada hoje (8/3) a lista final de bens, aprovada pelo Conselho de Ministros da Câmara de Comércio Exterior (Camex), que terão suas alíquotas de Imposto de Importação majoradas para os Estados Unidos da América, conforme autorização do Órgão de Solução de Controvérsias da Organização Mundial do Comércio (OMC) de, 19 de novembro de 2009, no contencioso EUA – Subsídios ao Algodão (DS267). A OMC também foi notificada hoje da mesma lista.

A resolução da Camex entrará em vigor no prazo de trinta dias.

O valor total de retaliação atingido com a lista de bens é de US$ 591 milhões. O restante do valor de retaliação a que tem direito o Brasil – US$ 238 milhões (perfazendo o total autorizado de US$ 829 milhões) – será aplicado nos setores de propriedade intelectual e serviços.

O valor da retaliação autorizado ao Brasil e determinado pelos árbitros da OMC é o segundo maior da história da OMC e decorre do descumprimento, pelos EUA, das determinações dos painéis e do órgão de apelação da OMC, que por quatro vezes confirmaram a incompatibilidade dos subsídios norte-americanos para seus produtores e exportadores de algodão com as regras multilaterais de comércio. As contramedidas autorizadas poderão vigorar enquanto os EUA mantiverem a atual situação de descumprimento dessas regras.

A autorização concedida ao Brasil para aplicar contramedidas, também nas áreas de serviços e propriedade intelectual, é o reconhecimento, pela OMC de que, no presente caso, não seria “praticável” ou “efetivo” adotar contramedidas apenas na área de bens e de que “as circunstâncias são suficientemente sérias” para justificar recursos a medidas em outras áreas, para induzir os EUA a observarem as decisões das mais altas instâncias da OMC. A lista de bens será complementada, no curto prazo, por lista de medidas na área de direitos de propriedade intelectual e outros, uma vez concluído o processo de consulta pública, que deverá ser iniciado até a próxima reunião da Camex, prevista para 23 de março.

O governo brasileiro lamenta ter que adotar as presentes medidas, pois acredita que a retaliação comercial não é o meio mais apropriado para lograr um comércio internacional em bases mais justas. Contudo, após quase oito anos de litígio e mais de quatro anos de descumprimento pelos EUA das decisões do órgão de Solução de Controvérsias, e na ausência do oferecimento de opções concretas e realistas que pudessem permitir a negociação de uma solução satisfatória para o contencioso, resta ao Brasil fazer valer seu direito, autorizado pela OMC. Dessa forma, busca o País salvaguardar a credibilidade e legitimidade do sistema de solução de controvérsias daquela Organização.

O Brasil permanece aberto a um diálogo com os EUA que facilite a busca de solução mutuamente satisfatória para o contencioso."

segunda-feira, 8 de março de 2010

Bresser Pereira e o Irã


Meu querido Mestre, Bresser Pereira, esta coberto de razão. Não sei se ele concorda, mas é um dos melhores intelectuais católicos da atualidade.




"A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, esteve no Brasil na semana passada para convencer nosso governo a apoiar novas sanções econômicas contra o Irã, mas não obteve êxito. Talvez porque os interesses do Brasil nesse caso não sejam os mesmos dos EUA, ou porque nossa avaliação do problema da proliferação nuclear seja diferente da americana.

Depois do Iraque e de suas armas de destruição em massa, o Irã se tornou "o grande problema" da política internacional, e os Estados Unidos e a Europa ameaçam esse país com novas sanções, porque estaria construindo capacidade nuclear. Tenho dúvidas de que seja essa a motivação principal contra o Irã, dada a "lógica" da política internacional americana desde o 11 de Setembro, mas não vou me ater a essa questão.

A pergunta mais importante é: será que o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares é tão relevante para a paz mundial? Há um pressuposto tácito entre os bem pensantes de todo o mundo de que o tratado é fundamental para a paz, de forma que ninguém se dispõe a discuti-lo, mas é preciso fazê-lo.

Dois são seus objetivos formais: impedir que novos países se tornem capazes de produzir armas atômicas e promover o desarmamento nuclear dos países potências nucleares. Entretanto, significativamente, nenhum desses dois objetivos definidos em 1970 está sendo cumprido. Depois do tratado, a Índia, o Paquistão, Israel e provavelmente a Coréia do Norte se tornaram potências nucleares. E não houve sanções maiores contra os três primeiros países. Por outro lado, não tenho notícia da redução que o tratado previa dos arsenais atômicos dos grandes países.

Embora isso não esteja escrito, o objetivo maior do tratado é impedir que "países irresponsáveis" se armem nuclearmente. É impossível não estar de acordo com essa idéia. Mas o que é um país responsável? Por que o Paquistão e Israel são responsáveis enquanto o Irã não é? Não tenho dúvida quanto ao perigo de um país como a Coréia do Norte, enquanto é difícil, para mim, ver mais perigo no Irã do que, por exemplo, no Paquistão. O Irã é um grande país, herdeiro de uma civilização milenar. Entre os países do Oriente Médio, só a Turquia se compara a ele em termos de desenvolvimento. E é um país que se sente gravemente ameaçado desde que realizou sua revolução nacionalista e islâmica, em 1979.

A questão da ameaça é importante. Os grandes países não cumpriram o tratado, não se desarmaram, porque isso não é do seu interesse nem, creio eu, do interesse do resto do mundo. Ainda que haja outras razões para a paz mundial existente entre os grandes países desde 1945, a "détente" nuclear continua a ser uma delas. Nenhum país ousa atacar outro que tenha força nuclear. Ora, se a posse de armas atômicas é uma boa razão para a Rússia ou a para China não atacarem os EUA e vice-versa, por que não seria também uma boa razão para Israel não atacar o Irã e vice-versa? Os israelenses não tiveram dúvida quanto a essa questão. Por que os iranianos teriam menos legitimidade em ter a mesma opinião?

As armas nucleares são um perigo para todo o mundo, mas são também uma razão para que potências nucleares não façam mais guerras entre si. Não vivemos no mundo perfeito dos nossos sonhos, mas isso não se deve à existência de armas nucleares. O mundo tem problemas muito mais graves do que a eventual entrada do Irã no clube das potências nucleares. Vamos tratar desses problemas e deixar o Irã em paz."

Fonte: FSP

domingo, 7 de março de 2010

sábado, 6 de março de 2010

The snow man, Wallace Stevens

One must have a mind of winter
To regard the frost and the boughs
Of the pine-trees crusted with snow;

And have been cold a long time
To behold the junipers shagged with ice,
The spruces rough in the distant glitter

Of the January sun; and not to think
Of any misery in the sound of the wind,
In the sound of a few leaves,

Which is the sound of the land
Full of the same wind
That is blowing in the same bare place

For the listener, who listens in the snow,
And, nothing himself, beholds
Nothing that is not there and the nothing that is.

sexta-feira, 5 de março de 2010

quinta-feira, 4 de março de 2010

Jurassicos

A direita adora acusar a esquerda jurassica de aparelhamento do Estado, esquecendo, naturalmente, que esta foi sua praxis durante o longo período em que, praticamente, detinha o monopolio do poder político. Este dominio ainda é visto como natural, dai a grita em relação a perda dos privilègios mantidos ao longo dos seculos. Sim, seculos porque esquerda no poder, no grande bananão, ainda é uma raridade. Se esse passado faz do discurso da direita um grande exercicio de hipocrisia não justifica, contudo, o aparelhamento colocado em pratica pela esquerda jurassica.

Ao aparelhamento, o bom uso do companheiro de viagem, um novo elemento veio a somar-se a praxis dos jurassicos: o discurso da pluralidade. Naturalmente, como era de se esperar, tem um significado muito peculiar e criativo, reminiscência, quem sabe, de habito adquirido no passado: democracia popular, movimento pela paz entre os povos e outros cujo significado era justamente o oposto... Há uma outra caracteristica, que explica o diminuto espaço dos jurassicos no governo atual: incompetência.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Direita volver


No campeonato de FEBEAPA brasileiro não é fácil escolher o vencedor: a esquerda jurassica ou a velha/nova direita golpista. As tolices da esquerda são bem conhecidas, já as da direita ainda estão camufladas em editoriais e em um número crescente de artigos de sub-intelectuais. Um bom exemplo é o encontro realizado recentemente e objeto da reportagem da Carta Maior, que republicamos abaixo. Há um ponto em comum entre esses vários sub-intelectuais: militancia, no passado, no PCB, que produziu, aliás, um dos mais famosos quadros da direita brasileira- Carlos Lacerda. O odio dessa turma ao PT é bastante conhecido e independente da opinião que cada um de nos possa ter em relação a este partido, há um merito que é inegável: a inclusão dos trabalhadores na política institucional e ter ajudado a enviar o PCB para o lixo da historia. Restaram, no entanto, os seus orfãos que com seu odio nos ajudam a não esquecer porque foram apeados do poder na europa do leste: sempre foram e continuam a ser os inimigos dos trabalhadores e os melhores aliados da direita...




"Se algum estudante ou profissional de comunicação desavisado pagou os R$ 500,00 que custavam a inscrição do 1º Fórum Democracia e Liberdade de Expressão, organizado pelo Instituto Millenium, acreditando que os debates no evento girariam em torno das reais ameaças a esses direitos fundamentais, pode ter se surpreendido com a verdadeira aula sobre como organizar uma campanha política que foi dada pelos representantes dos grandes veículos de comunicação nesta segunda-feira, em São Paulo.

Promovido por um instituto defensor de valores como a economia de mercado e o direito à propriedade, e que tem entre seus conselheiros nomes como João Roberto Marinho, Roberto Civita, Eurípedes Alcântara e Pedro Bial, o fórum contou com o apoio de entidades como a Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), ANER (Associação Nacional de Editores de Revista), ANJ (Associação Nacional de Jornais) e Abap (Associação Brasileira de Agências de Publicidade). E dedicou boa parte das suas discussões ao que os palestrantes consideram um risco para a democracia brasileira: a eleição de Dilma Rousseff.

A explicação foi inicialmente dada pelo sociólogo Demétrio Magnoli, que passou os últimos anos combatendo, nos noticiários e páginas dos grandes veículos, políticas de ação afirmativa como as cotas para negros nas universidades. Segundo ele, no início de sua história, o PT abrangia em sua composição uma diversidade maior de correntes, incluindo a presença de lideranças social-democratas. Hoje, para Magnoli, o partido é um aparato controlado por sindicalistas e castristas, que têm respondido a suas bases pela retomada e restauração de um programa político reminiscente dos antigos partidos comunistas.

“Ao longo das quatro candidaturas de Lula, o PT realizou uma mudança muito importante em relação à economia. Mas ao mesmo tempo em que o governo adota um programa econômico ortodoxo e princípios da economia de mercado, o PT dá marcha ré em todos os assuntos que se referem à democracia. Como contraponto à adesão à economia de mercado, retoma as antigas idéias de partido dirigente e de democracia burguesa, cruciais num ideário anti-democrático, e consolida um aparato partidário muito forte que reduz brutalmente a diversidade política no PT. E este movimento é reforçado hoje pelo cenário de emergência do chavismo e pela aliança entre Venezuela e Cuba”, acredita. “O PT se tornou o maior partido do Brasil como fruto da democracia, mas é ambivalente em relação a esta democracia. Ele celebra a Venezuela de Chávez, aplaude o regime castrista em seus documentos oficiais e congressos, e solta uma nota oficial em apoio ao fechamento da RCTV”, diz.

A RCTV é a emissora de TV venezuelana que não teve sua concessão em canal aberto renovada por descumprir as leis do país e articular o golpe de 2000 contra o presidente Hugo Chávez, cujo presidente foi convidado de honra do evento do Instituto Millenium. Hoje, a RCTV opera apenas no cabo e segue enfrentando o governo por se recusar a cumprir a legislação nacional. Por esta atitude, Marcel Granier é considerado pelos organizadores do Fórum um símbolo mundial da luta pela liberdade de expressão – um direito a que, acreditam, o PT também é contra.

“O PT é um partido contra a liberdade de expressão. Não há dúvidas em relação a isso. Mas no Brasil vivemos um debate democrático e o PT, por intermédio do cerceamento da liberdade de imprensa, propõe subverter a democracia pelos processos democráticos”, declarou o filósofo Denis Rosenfield. “A idéia de controle social da mídia é oficial nos programas do PT. O partido poderia ter se tornado social-democrata, mas decidiu que seu caminho seria de restauração stalinista. E não por acaso o centro desta restauração stalinista é o ataque verbal à liberdade de imprensa e expressão”, completou Magnoli.

O tal ataque
Para os pensadores da mídia de direita, o cerco à liberdade de expressão não é novidade no Brasil. E tal cerceamento não nasce da brutal concentração da propriedade dos meios de comunicação característica do Brasil, mas vem se manifestando há anos em iniciativas do governo Lula, em projetos com o da Ancinav, que pretendia criar uma agência de regulação do setor audiovisual, considerado “autoritário, burocratizante, concentracionista e estatizante” pelos palestrantes do Fórum, e do Conselho Federal de Jornalistas, que tinha como prerrogativa fiscalizar o exercício da profissão no país.

“Se o CFJ tivesse vingado, o governo deteria o controle absoluto de uma atividade cuja liberdade está garantida na Constituição Federal. O veneno antidemocrático era forte demais. Mas o governo não desiste. Tanto que em novembro, o Diretório Nacional do PT aprovou propostas para a Conferência Nacional de Comunicação defendendo mecanismos de controle público e sanções à imprensa”, avalia o articulista do Estadão e conhecido membro da Opus Dei, Carlos Alberto Di Franco.

“Tínhamos um partido que passou 20 anos fazendo guerra de valores, sabotando tentativas, atrapalhadas ou não, de estabilização, e que chegou em 2002 com chances de vencer as eleições. E todos os setores acreditaram que eles não queriam fazer o socialismo. Eles nos ofereceram estabilidade e por isso aceitamos tudo”, lamenta Reinaldo Azevedo, colunista da revista Veja, que faz questão de assumir que Fernando Henrique Cardoso está à sua esquerda e para quem o DEM não defende os verdadeiros valores de direita. “A guerra da democracia do lado de cá esta sendo perdida”, disse, num momento de desespero.

O deputado petista Antonio Palocci, convidado do evento, até tentou tranqüilizar os participantes, dizendo que não vê no horizonte nenhum risco à liberdade de expressão no Brasil e que o Presidente Lula respeita e defende a liberdade de imprensa. O ministro Hélio Costa, velho amigo e conhecido dos donos da mídia, também. “Durante os procedimentos que levaram à Conferência de Comunicação, o governo foi unânime ao dizer que em hipótese alguma aceitaria uma discussão sobre o controle social da mídia. Isso não será permitido discutir, do ponto de vista governamental, porque consideramos absolutamente intocável”, garantiu.

Mas não adiantou. Nesta análise criteriosa sobre o Partido dos Trabalhadores, houve quem teorizasse até sobre os malefícios da militância partidária. Roberto Romano, convidado para falar em uma mesa sobre Estado Democrático de Direito, foi categórico ao atacar a prática política e apresentar elementos para a teoria da conspiração que ali se construía, defendendo a necessidade de surgimento de um partido de direita no país para quebrar o monopólio progressivo da esquerda.

“O partido de militantes é um partido de corrosão de caráter. Você não tem mais, por exemplo, juiz ou jornalista; tem um militante que responde ao seu dirigente partidário (...) Há uma cultura da militância por baixo, que faz com que essas pessoas militem nos órgãos públicos. E a escolha do militante vai até a morte. (...) Você tem grupos políticos nas redações que se dão ao direito de fazer censura. Não é por acaso que o PT tem uma massa de pessoas que considera toda a imprensa burguesa como criminosa e mentirosa”, explica.

O “risco Dilma”
Convictos da imposição pelo presente governo de uma visão de mundo hegemônica e de um único conjunto de valores, que estaria lentamente sedimentando-se no país pelas ações do Presidente Lula, os debatedores do Fórum Democracia e Liberdade de Expressão apresentaram aos cerca de 180 presentes e aos internautas que acompanharam o evento pela rede mundial de computadores os riscos de uma eventual eleição de Dilma Rousseff. A análise é simples: ao contrário de Lula, que possui uma “autonomia bonapartista” em relação ao PT, a sustentação de Dilma depende fundamentalmente do Partido dos Trabalhadores. E isso, por si só, já representa um perigo para a democracia e a liberdade de expressão no Brasil.

“O que está na cabeça de quem pode assumir em definitivo o poder no país é um patrimonialismo de Estado. Lula, com seu temperamento conciliador, teve o mérito real de manter os bolcheviques e jacobinos fora do poder. Mas conheço a cabeça de comunistas, fui do PC, e isso não muda, é feito pedra. O perigo é que a cabeça deste novo patrimonialismo de estado acha que a sociedade não merece confiança. Se sentem realmente superiores a nós, donos de uma linha justa, com direito de dominar e corrigir a sociedade segundo seus direitos ideológicos”, afirma o cineasta e comentarista da Rede Globo, Arnaldo Jabor. “Minha preocupação é que se o próximo governo for da Dilma, será uma infiltração infinitas de formigas neste país. Quem vai mandar no país é o Zé Dirceu e o Vaccarezza. A questão é como impedir politicamente o pensamento de uma velha esquerda que não deveria mais existir no mundo”, alerta Jabor.

Para Denis Rosenfield, ao contrário de Lula, que ganhou as eleições fazendo um movimento para o centro do espectro político, Dilma e o PT radicalizaram o discurso por intermédio do debate de idéias em torno do Programa Nacional de Direitos Humanos 3, lançado pelo governo no final do ano passado. “Observamos no Brasil tendências cada vez maiores de cerceamento da liberdade de expressão. Além do CFJ e da Ancinav, tem a Conferência Nacional de Comunicação, o PNDH-3 e a Conferência de Cultura. Então o projeto é claro. Só não vê coerência quem não quer”, afirma. “Se muitas das intenções do PT não foram realizadas não foi por ausência de vontades, mas por ausência de condições, sobretudo porque a mídia é atuante”, admite.

Hora de reagir
E foi essa atuação consistente que o Instituto Millenium cobrou da imprensa brasileira. Sair da abstração literária e partir para o ataque.
“Se o Serra ganhasse, faríamos uma festa em termos das liberdades. Seria ruim para os fumantes, mas mudaria muito em relação à liberdade de expressão. Mas a perspectiva é que a Dilma vença”, alertou Demétrio Magnoli.

“Então o perigo maior que nos ronda é ficar abstratos enquanto os outros são objetivos e obstinados, furando nossa resistência. A classe, o grupo e as pessoas ligadas à imprensa têm que ter uma atitude ofensiva e não defensiva. Temos que combater os indícios, que estão todos aí. O mundo hoje é de muita liberdade de expressão, inclusive tecnológica, e isso provoca revolta nos velhos esquerdistas. Por isso tem que haver um trabalho a priori contra isso, uma atitude de precaução. Senão isso se esvai. Nossa atitude tem que ser agressiva”, disse Jabor, convocando os presentes para a guerra ideológica.

“Na hora em que a imprensa decidir e passar a defender os valores que são da democracia, da economia de mercado e do individualismo, e que não se vai dar trela para quem quer a solapar, começaremos a mudar uma certa cultura”, prevê Reinaldo Azevedo.

Um último conselho foi dado aos veículos de imprensa: assumam publicamente a candidatura que vão apoiar. Espera-se que ao menos esta recomendação seja seguida, para que a posição da grande mídia não seja conhecida apenas por aqueles que puderam pagar R$ 500,00 pela oficina de campanha eleitoral dada nesta segunda-feira."

Fonte: Carta Maior

terça-feira, 2 de março de 2010

Torres a economia e as eleições

Vinicius Torres,no jornal da ditabranda, apresenta uma boa analise do cenário político/econômico do grande bananão. Discordo, no entanto, do peso que ele da ao Aecio. Ele seria relevante se alterasse o estado de espirito do eleitor, ou seja se conseguisse vender a idéia que em seu governo a sensação de bem estar seria ainda melhor que aquela que prevalece no momento atual. É o campo da subjetividade e não é nada fácil interferir nesta esfera da vida humana...


Na melhor das hipóteses para a oposição, a disputa do eventual candidato tucano José Serra contra a lulista Dilma Rousseff será muito apertada, como ficou muito evidente nos resultados da pesquisa Datafolha, publicada no domingo por esta Folha. Trata-se de um aperto que pode em breve se tornar sufocante para o PSDB e seu ainda inefável candidato.
Os empecilhos maiores da oposição ora parecem os seguintes:
1) pelo menos 42% dos entrevistados pelo Datafolha dizem que votariam "com certeza" num candidato apoiado por Lula. No Nordeste, são 56%. É a região onde há mais resistência ao tucanato, menos base política para o PSDB e, enfim, onde as transformações socioeconômicas dos anos Lula foram sentidas com mais intensidade pelo cidadão comum;
2) Lula, tido como "bom/ótimo" por 73% dos ouvidos na pesquisa, ainda não apareceu oficialmente na TV pedindo votos a Dilma, dia após dia, como no horário eleitoral. Um terço do eleitorado ainda não sabe que Lula apoia Dilma;
3) afora a hipótese de nova catástrofe na economia mundial, a sensação de bem-estar material no Brasil vai crescer ao longo do ano;
4) a oposição não tem "discurso", como se diz. Obviamente, porque não tem candidato. Quando tiver, encontrará um território quase todo ocupado pelo lulismo. No que interessa mais imediatamente ao grosso do eleitorado, o lulismo dirá que transferiu mais renda para os pobres, que houve mais empregos, que a renda subiu, que no tempo do governo da agora oposição (FHC) a vida era pior etc. etc.
Como o cidadão comum ainda não está muito preocupado com a eleição, tucanos mais otimistas podem dizer que o resultado da pesquisa é um tanto impressionista. Ou que Serra lidera mesmo sendo ainda o candidato fantasma, e com a máquina lulista a toda.
Podem notar ainda que cerca de dois terços do eleitorado dizem que não deixariam de votar num candidato só porque ele é da oposição. Que Dilma, dia após dia na TV, pode ser um desastre. Até pode.
Resta saber se o leitor liga para isso. Mas, enfim, o que levaria o eleitor a escolher a oposição? Em épocas de crescimento, desemprego em baixa e menos crimes horrendos na TV, a saúde vai ao primeiro lugar das preocupações do eleitor. Na saúde, não aconteceu nada de impressionante e visível nos anos Lula. Mas é possível cavar quantos votos com isso?
Impostos demais, por exemplo, são sempre um mote. Mas a maioria do eleitorado não sabe quanto paga de impostos, a maioria indiretos. Educação? Pesquisas várias mostram que o povo ficou mais satisfeito com a escola, que continua péssima. Mas há mais material, uniforme e comida que no tempo dos pais das crianças, os eleitores.
E é um tema estadual. E um telhado de vidro também da oposição. Recorrer ao confronto de biografias talvez seja uma saída restante. Nessa eleição apertada, ter um vice puxador de votos, carismático, com bom trânsito no "Brasil, brasileiro" e líder em um Estado cheio de votos e "nacionalista" seria muito conveniente. Trata-se, é claro, de Aécio Neves, de Minas.

Fonte: FSP

segunda-feira, 1 de março de 2010

Bresser Pereira e impostos sobre os ricos

Gostei do artigo do velho mestre Bresser Pereira. Acho que ele tem razão em relação ao imposto, mas no grande bananão qualquer proposta socialmente justa ainda que fundamentada na lógica econômica é, em geral, politicamente dificil de ser implementada.


Nos países ricos -nos EUA, na União Europeia, no Japão-, a recuperação depois da crise financeira global de 2008 é lenta e insuficiente. O desemprego continua crescendo e já está em torno de 10% da população economicamente ativa. Apenas as Bolsas se recuperaram; mas isso não decorreu da melhoria da economia real, e sim do fato que os bancos centrais baixaram os juros e inundaram seus países de liquidez.
Dessa forma, essa recuperação é antes causa de preocupação do que de alegria, porque indica novas bolhas especulativas.
A causa desse mau desempenho está no lado da demanda. As empresas desempregam porque não têm para quem vender. Internamente não há fonte de demanda porque as famílias e as empresas estão pagando suas dívidas para recuperar sua solvência. No plano externo, também não há demanda entre os países ricos, porque aqueles que se endividaram (EUA, Espanha e Irlanda, principalmente) precisam pôr em ordem suas contas.
Diante da crise, a solução adotada por todos os países foi uma política fiscal expansionista que evitou o caos econômico. Mas os gastos fiscais não lograram promover uma recuperação sustentada das economias por duas razões: primeiro porque uma parte desse gasto se traduziu em isenção de impostos para os ricos -um tipo de política com baixo efeito multiplicador; segundo porque mesmo os gastos em investimentos não sinalizaram para os investidores privados perspectiva de crescimento sustentado da demanda, mas apenas aumento "once and for all" da demanda.
Que fazer alternativamente? Economistas como Martin Wolf pedem que os países de renda média aumentem suas importações, mas isso já está acontecendo. Como esses países foram menos atingidos pela crise exatamente porque estavam menos endividados, eles já voltaram a crescer de maneira satisfatória e, em consequência, voltaram a aumentar suas importações. O desempenho relativamente bom do Japão no último trimestre, por exemplo, deveu-se principalmente às importações da China.
Não resta, portanto, alternativa para os países ricos senão manter provisoriamente a política fiscal expansionista, até porque ela está sob seu controle. Mas essa política que envolveu deficit públicos perto de 10% do PIB não pode ser simplesmente continuada. A dívida pública dos países ricos tornou-se altíssima: a do Japão já alcança 226% do PIB, a dos EUA, 99,8%, a da França, 92,5%.
Que fazer então? Uma alternativa é financiar o aumento dos gastos do Estado que tenham efeitos multiplicadores criando demanda e emprego e financiá-los com impostos adicionais e progressivos sobre os ricos -sobre aqueles cuja propensão marginal a consumir é relativamente baixa. Dessa forma, o aumento da poupança privada não neutralizará a expansão do gasto público.
Quando escrevi a primeira versão deste artigo, na semana passada, pensei que estava propondo algo arrojado. Mas descobri em seguida que estava "descobrindo a América" pela segunda vez... Não obstante estar em campanha eleitoral, o governo britânico de Gordon Brown já promoveu o aumento do Imposto de Renda progressivo marginal de 40% para 50%. Mais cedo ou mais tarde essa política terá que ser considerada pelos demais países ricos. Nos 30 Anos Gloriosos do Capitalismo (1949-1978), o Imposto de Renda marginal chegou a alcançar 90%. Foi reduzido nos 30 Anos Neoliberais do Capitalismo. Voltará, agora, a ser elevado não apenas por uma questão de justiça mas também de lógica econômica.


Fonte: FSP