segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Realidade alternativa...

Existe o mundo e a realidade alternativa do marxismo talebã. No primeiro é possível visualizar as mudanças estruturais da economia e da sociedade brasileira. Não é um paraíso, mas a vida melhorou e uma combinação de economia de mercado e estado de bem estar social vai aos poucos sendo construido. Por falta de nome melhor, costumo chama-la de economia social de mercado. No mundo bastante peculiar do marxismo talebã nada de substancial ocorreu e nem poderia ser diferente: sem a revolução e superação do modo de produção capitalista estamos todos condenados a miséria e a servidão.

É um diagnóstico atraente e justifica o niilismo de catedra e longos e tediosos seminários sobre como tudo seria diferente se eles ouvissem os conselhos dos bravos revolucionários portadores da chave para a redenção da humanidade. Enquanto esperam, ocupam o tempo cultuando o que era moda nos idos de 1968. Clássicos, afinal, são eternos...

domingo, 27 de fevereiro de 2011

sábado, 26 de fevereiro de 2011

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Cenário pouco provável

A situação política no mundo arabe preocupa, naturalmente, mas não justifica, contudo, prognosticos sombrios sobre um novo choque do petroleo com consequencias apocalipticas sobre a economia mundia. Ate o momento as regiões atingidas não tem impacto significativo sobre a oferta mundial de petroleo. Redução na oferta de petroleo da Libia poderá ser rapidamente compensado pela Arabia Saudita, que ainda não sentiu o efeito da onda de mudanças pelas quais passa a região. Alias, é pouco provável que venha o sentir no futuro próximo o que torna pouco provável um cenário com preço elevado do petroleo por um período suficientemente longo para ter impacto sobre a economia mundial.


No caso deste cenário, pouco provavel, materializar-se o impacto sobre a economia americana será significativo e suficiente para tornar ainda mais fragil a sua debil recuperação econômica.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Martin Wolf e a Irlanda


Ótimo artigo do Martin Wolf sobre a Irlanda.



"Se eu fosse o senhor, não começaria por aqui". Esse desfecho da bem conhecida piada irlandesa nunca poderia ser mais pertinente. O Tigre Celta sofreu um colapso sob uma montanha de endividamento podre. Isso levanta perguntas sobre a quem cabe a responsabilidade pelos excessos financeiros. Esse é um tema para a eleição de hoje na Irlanda. E deveria ser para toda a Europa, amanhã.

Onde está a economia irlandesa agora? De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), nos últimos três anos, a queda acumulada do Produto Interno Bruto (PIB) real foi de 11%, do Produto Nacional Bruto (PNB) foi 16% e da demanda doméstica real foi de 22%. A taxa de desemprego saltou de 4,6% em 2007 para 13,3% em 2010. A relação entre a dívida pública e o PIB disparou de apenas 25% em 2007 para 95% em 2010.

O que causou essa calamidade? Como observa Philip Lane, do Trinity College: "Houve um verdadeiro milagre econômico irlandês, com crescimento muito rápido da produção, do emprego e da produtividade durante o período 1994-2000". Sem a entrada na zona euro, isso poderia ter se esvaziado. Mas a queda nos juros aumentou o risco de que iria surgir uma bolha de crédito no setor imobiliário. E foi o que ocorreu.

O professor Lane observa: "O sabor desse boom foi muito diferente daquele dos anos do Tigre Celta". Em particular, ele foi dominado por um surto na atividade de construção civil. "Além disso, essa "expansão nos investimentos imobiliários foi alimentada por rápida expansão do crédito, não apenas para as famílias, mas também para um pequeno grupo de construtoras".

A proporção de crédito privado em relação ao PIB saltou de cerca de 100% em 2000 para 230% em 2008. Instituições financeiras estrangeiras desempenharam um papel importantíssimo nesse boom de financiamento: o passivo externo líquido dos bancos irlandeses saltou de 20% do PIB em 2003 para mais de 70% no início de 2008.

A crise mundial provocou uma interrupção imediata da entrada de capitais. Em pânico, em setembro de 2008 o governo irlandês reagiu dando garantias sobre o endividamento dos bancos. À medida que cresciam os custos fiscais, puxados pelo desaquecimento e pela necessidade de socorrer os bancos, o que começara como uma crise financeira terminou como uma crise da dívida pública. Não é a primeira vez que um setor financeiro fora de controle arruina o setor estatal. Não será o último.

Como a crise foi tratada? Um ponto crucial é que não se trata de uma crise, mas de três: um colapso econômico, uma implosão financeira e um desastre fiscal. Em primeiro lugar, em vista da queda na demanda e da necessidade de contração fiscal, as perspectivas de recuperação dependem fortemente das exportações. Na segunda, os custos diretos do sistema de recapitalização deverão ficar em torno de 36% do PIB, segundo a corretora Goodbody. Para efeito de comparação, o custo da crise financeira asiática na Coreia do Sul foi de 31% do PIB, ao passo que o custo da crise atual para a Islândia poderá ser de apenas 13% do PIB. Nesse caso, a dívida pública poderia ser de 123% do PIB em 2014. Pouco mais de um terço desse aumento na relação da dívida pública, então, seria um resultado direto da recapitalização dos bancos.

Essa crise está além da capacidade da Irlanda de prosseguir sem colapso financeiro e inadimplência soberana. Os bancos tornaram-se dependentes do Banco Central Europeu, ao passo que o Estado irlandês perdeu acesso ao mercado privado, tendo os spreads acima dos títulos alemães atingido 600 pontos base. Antes de agosto de 2007, esse diferencial era negativo. Os mercados não tinham noção do que estava por vir.

Sem financiamento do BCE, os bancos teriam entrado em colapso. Sem financiamento externo, o governo teria ficado inadimplente. O pacote de socorro chegou a € 85 bilhões de (US$ 116 bilhões), ou 54% do PIB de 2010. O FMI ressaltou que os elevados riscos refletiam incerteza quanto aos prejuízos dos banco, a difícil perspectiva do endividamento, a despeito de um ajuste fiscal inédito, obscuras perspectivas de crescimento, contínuo foco do mercado nos países europeus periféricos e de eleição geral iminente. Há consenso nos mercados: os spreads sobre os títulos do Tesouro alemão praticamente não caíram.

Assim, o que poderia um novo governo procurar fazer? Seus graus de liberdade estão, infelizmente, limitados. Mesmo excluindo a recapitalização dos bancos, o déficit fiscal primário (antes do pagamento de juros) ficou perto de 10% do PIB no ano passado. Nos termos do programa do FMI, esse número deve ser convertido num superávit de 1,5% do PIB em 2015. Dada a falta de acesso aos mercados privados, o déficit teria que ser eliminado ainda mais rapidamente sem a ajuda oficial. Mais uma vez, o excesso de endividamento seria enorme, sob quaisquer premissas plausíveis. A Irlanda está condenada a uma austeridade fiscal por décadas, tendo em vista suas limitadas perspectivas de crescimento, pelo menos em comparação com seus anos de Tigre.

Excluído o apocalipse da inadimplência soberana, há duas escapatórias parciais. O mais trivial seria uma redução na taxa de juros sobre a tomada de financiamentos pela Irlanda: uma redução de 1% no juro pouparia ao Estado 0,4% do PIB por ano. Isso constituiria pelo menos uma pequena ajuda. Uma possibilidade mais proveitosa seria uma baixa contábil de dívida sênior e subordinada existente, que hoje soma 21,4 bilhões de euros (14% do PIB).

O BCE e os outros membros da União Europeia vetaram a ideia, temerosos de contágio. De fato, o pacote de socorro foi criado em parte para evitar isso. Ainda assim, a ideia de que os contribuintes deveriam socorrer os credores sêniores de bancos insolventes a tais riscos para a solvência de seu Estado é tanto injusto como irracional. Se o restante da UE estiver determinada a proteger os credores sênior, deveria compartilhar custo de fazê-lo. Por que deveriam os contribuintes do país tomador de empréstimos pagar tudo? O novo governo irlandês deveria colocar esse argumento com firmeza.

Por fim, quais são as lições dessa calamidade? Uma é antiga: um setor financeiro fora de controle cria uma euforia autorrealizável e, depois, pânico, como advertiu Hyman Minsky. No entanto, esse episódio em particular tem pelo menos duas lições específicas para a região do euro. Primeira, a entrada na região do euro também pode significar um enorme choque econômico. Segunda, a visão, popular na Alemanha, de que uma política fiscal rigorosa solucionaria todos os problemas está claramente equivocada. Antes da crise, a relação entre a dívida pública irlandesa e o PIB era 40 pontos percentuais menor do que na Alemanha. É verdade que a política fiscal irlandesa poderia ter sido mais apertada. Mas isso teria feito quase nenhuma diferença no resultado, a menos que pudesse ter sido capaz de gerar um grande superávit. De fato, com tal política, as taxas de juros de longo prazo poderiam ter sido menores e a disparada dos preços dos ativos ainda maior.

A calamidade fiscal irlandesa não é a causa da crise, mas a consequência. O grande problema foi o comportamento dos agentes privados que tomavam e concediam empréstimos. É isso que dever ser enfrentado. Comecem agora.

Martin Wolf é editor e principal comentarista econômico do FT.

Fonte: Valor

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Mais memórias

Era uma overdose de marxismo , observou um amigo dos tempos de graduação. Será que eramos todos(alunos) marxistas? Acho que não, mas no nosso circulo a maioria era ou nutria grande simpatia e chamavamos, entre nos, os unicampistas de marxistas bastardos. O alvo predileto de ataque era o livro do avvocato e do conhecido historiador. Um equivoco de fama precoce era o nome da resenha publicada no jornal da ditabranda. Para o nosso grupo era noticia velha e requentada. De tanto ler o livro, memorizamos passagens inteiras e a sua estrutura, mecanicista, tornava a tarefa bem fácil. Alguns admiravam os terceiro mundistas - não era o meu caso -, principalmente um conhecido representante, cativante, viajado e com um passado de lutas e glorias, material para um bom filme, se tivessemos, bons cineastas. Longos papos com ele eram sempre memoráveis e aprendiamos muito o que somente aumentava nossa admiração, mas não, necessariamente, concordância com sua linha de pensamento econômico. Tempos romanticos, observou um outro amigo.


O que restou? Boa pergunta. Os que eram, não são mais marxistas. Resultado da overdose? Em parte, sim, mas, também, resultado do continuo processo de aprendizado que nunca abandonamos. Marx era novidade, um objeto, antes proibido, que agora todos tinham acesso. Alem disto, a leitura era(é?) , aparentemente, fácil, se comparado com a "pedreira" keynesiano bastarda e a neoclássica. O marxismo é passado, mas não o desejo de um mundo socialmente mais justo. Continuamos no mesmo lado, apenas superamos a fase infantil e o encantamento com a grande ilusão do seculo passado.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

sábado, 19 de fevereiro de 2011

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Alexandre "eram os deuses astronautas" Schwartsman

Alexandre "eram os deuses astronautas" Schwartsman ataca de novo com o tom exagerado que lhe é peculiar. Tentativa, quem sabe, de purgação dos demonios do período unicampista da juventude. Felizmente este pecado não cometi. O seu ceticismo é esperado e ate justificável, mas "farra" é um exagero retórico e um grande equivoco. O perígo da política anti-ciclica é bem conhecido desde a publicação do artigo do Myrdal (1939), nem por isto deixa de ser fundamental em momentos de anormalidade econômica.


Na semana passada o governo federal anunciou um ajuste fiscal, marcado pela promessa de corte de R$ 50 bilhões em despesas. Parece muito, mas precisamos saber a) se é suficiente e b) se vai acontecer.
A resposta é infelizmente negativa nos dois casos (um desperdício, já que a negativa à segunda pergunta torna a primeira irrelevante, mas, mesmo assim, é importante compreender o porquê) e os motivos para isso devem ficar claros nos próximos parágrafos.
Comecemos por entender o que é realmente o corte anunciado. Uma mente menos afeita à particular forma de apresentação das contas públicas poderia interpretar que, da mesma forma que uma família em dificuldades financeiras reduz seu nível de gasto, o governo estaria disposto a diminuir suas despesas. Não é esse, porém, o caso.
De fato, o corte de R$ 50 bilhões aplica-se às despesas previstas no Orçamento da União para 2011, R$ 769 bilhões, e, posto em prática, traria o gasto federal neste ano para R$ 719 bilhões.
No entanto, como a despesa observada em 2010 ficou ao redor de R$ 657 bilhões, tal "corte" de despesas representa, na verdade, um aumento de R$ 62 bilhões no gasto público federal relativamente ao ano passado.
A família em dificuldades iria certamente à falência caso seu "corte de despesas" implicasse, como no caso do governo federal, aumento de quase 10% nos seus gastos.
Isso dito, como o crescimento do PIB nominal (o crescimento da economia acrescido da inflação) deve ficar em torno de 11%, a despesa federal, medida como proporção do PIB, deve sofrer queda modesta, de 17,9% para 17,7% do PIB.
Será que a redução do gasto, de 0,2 ponto percentual do PIB, será bastante para que o governo possa cumprir sua promessa e gerar um superavit primário de 3% do PIB neste ano? Novamente, à primeira vista, poderia parecer que sim. Visto que o superavit primário em 2010 atingiu 2,8% do PIB, 0,2 ponto do PIB a mais já traria o resultado fiscal para a meta.
Entretanto, como mostrei na minha última coluna, boa parte desse número resulta da criatividade contábil do governo, em particular a operação em torno da capitalização da Petrobras, que permitiu ao Tesouro registrar ganho de quase 1% do PIB, o qual, de resto, não se repetirá neste ano.
Assim, o governo deveria produzir um ajuste fiscal muito superior ao anunciado, caso realmente pretenda atingir a meta fiscal.
Tendo concluído que o corte é insuficiente para atingir a meta que o próprio governo definiu, precisamos saber ainda se ele é possível à luz dos constrangimentos naturais associados à rigidez orçamentária, até mesmo para determinar se há alguma possibilidade de aprofundamento do ajuste que possa nos trazer mais próximos à meta.
Contudo, dos R$ 769 bilhões orçados para 2011, cerca de R$ 550 bilhões representam despesas obrigatórias, com destaque para a folha de pagamento e as aposentadorias, de modo que o universo sujeito a cortes limita-se a cerca de R$ 220 bilhões, o chamado gasto discricionário.
Ainda assim, esse grupo compreende gastos sociais (o Bolsa Família, por exemplo), educação, saúde e os investimentos do PAC, que, segundo o compromisso oficial, seriam preservados dos cortes orçamentários (diga-se, aliás, que restrições legais também impedem a redução dos gastos com saúde relativamente ao PIB).
Caso tais promessas sejam honradas, mesmo a exequibilidade do corte fica ameaçada, pois este recairia sobre um conjunto que, dependendo das estimativas, equivaleria a entre R$ 60 bilhões e R$ 100 bilhões.
A triste verdade é que, se a política fiscal fosse mesmo "anticíclica", o ajuste deveria ter começado provavelmente ao final de 2009, quando se tornou claro que a recuperação econômica já estava devidamente enraizada.
Agora, depois da farra dos últimos anos, e novos gastos de R$ 85 bilhões em 2010, o ajuste não é só pequeno; é principalmente tardio.

Fonte: FSP

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Oposição?

Bom artigo do Vinicius Torres Freire, no jornal da ditabranda, sobre a oposição. Uma oposição dura com propostas alternativas com bom fundamento, no caso das econômicas, à atual administração é sempre salutar e faz um bem danado a democracia. Para os apressados: em que pese o infeliz retorno da figura menor da famigerada republica de ribeirão preto e de seu ajudante de ordens ao governo, um escarnio, verdadeiro tapa da cara dos brasileiros que acreditam em honra, integridade e respeito ao cidadão comum, não mudei de lado e estou muito satisfeito com a política econômica da nova administração. Uma questão de coerência..


A agonia dos partidos de oposição é evidente desde 2010. Há tempos doentes de dengue programática e anorexia social, partidos como PSDB e DEM parecem agora ter se entregue à autoamputação.
Gilberto Kassab, prefeito de SP, pode causar hemorragia de um terço dos quadros do seu DEM, a caminho que está de algum outro partido, qualquer partido que lhe dê a legenda para o governo paulista em 2014 e boas relações com o petismo.
Caso se confirme a migração de Kassab, o DEM será um partido nanico, mas sem nacos de poder que alimentam os nanicos agregados ao petismo no poder.
José Serra talvez apenas ameace cortar braços e pernas de PSDB, dada a disputa que trava com Geraldo Alckmin e Aécio Neves, mas o fato mesmo de que sugira a cisão ilustra o baixo nível da discórdia tucana.
O desarranjo da oposição ficara evidente na derrota inglória de 2010, quando o PSDB fizera uma campanha desnorteada, sem programa, sem apelo ou base social e que descambava ora para a demagogia, ora populista ora direitista.
A desorientação tornou-se manifesta na conversa fiada da "refundação tucana". Aécio e Alckmin passaram a procurar um verniz partidário mais adequado aos novos tempos de hegemonia petista. Deram de falar sobre a importância de "políticas sociais", de se "aproximar" do "povo" e de sindicatos. Deram de pregar "oposição responsável" a Dilma, "cooperação" com o governo federal. Tudo isso é também um outro modo de fritar Serra, desafeto radical do petismo.
O motivo mais imediato da crise é o fato de que a coligação sudestina de PSDB-DEM tem quatro candidatos (Aécio, Alckmin, Serra e Kassab) para dois cargos em 2014 (governo paulista e presidente). Mas há mais. Kassab pensa em se bandear para um partido associado ao governo petista. Alckmin, como já se disse, é diplomático com Dilma Rousseff, e há mesmo setores do alckmismo ideológico que já se agregaram ao governismo, como Gabriel Chalita.
Há uma mudança climática na política, em parte resultado do sucesso do petismo-lulismo, do "desenvolvimentismo" e as várias derrotas ideológicas, políticas, eleitorais e morais de ideias ligadas à "modernização tucana". Tais reveses erodiram a base ideológica do tucanato e encolheram ainda mais sua base social-eleitoral.
Há os defeitos intrínsecos da oposição. O PSDB era o partido de certa elite sulista, escovada em universidades americanas, gente mais ilustrada da finança, da grande empresa e parte da universidade "modernizante" e de representantes mais "modernos" de elites regionais.
Os quadros ideológicos se foram, para ganhar a vida no mercado. A base social organizada jamais existiu. A grande finança aceita conviver com o PT, desde que não barbarizem demais o Banco Central e as contas públicas. A grande empresa foi cativada com subsídios. Os quadros políticos restantes do PSDB, sem projeto coletivo, se matam em nome de suas carreiras individuais. O DEM era um resquício de eras passadas, apenas.
Se a mudança é duradoura, não se sabe. Mas o sucesso acidental ou não do petismo ameaça explodir os partidos de oposição. Caso a agonia termine em mortes, estaremos diante da maior mudança partidária em quase um quarto de século.

Fonte: Valor

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Mais piadas....

Um matemático, um economista teórico e um econometricista são requisitados para achar um gato preto, que não existe, num quarto escuro e fechado.
O Matemático fica louco tentando achar o gato que não existe e vai parar no hospício.
O Economista Teórico não consegue achar o gato preto, entretanto sai do quarto dizendo orgulhosamente que pode construir um modelo para descrever todos os movimentos do gato com grande acurácia
O Econometricista passa uma hora dentro do quarto procurando o gato que não existe e depois grita, de dentro do quarto de que pegou o gato pelo pescoço.

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Um economista indiano explicava aos seus alunos de pós-graduação a teoria da reencarnação."Se você é um bondoso economista", disse, "você irá renascer como um físico. Mas se você for um maldoso economista, então você irá renascer como um sociólogo."
(P. Krugman, 1994)

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Três matemáticos e três economistas foram viajar de trem. Os matemáticos estavam rindo dos economistas, que haviam comprado somente um bilhete e iriam tomar multa. Quando o cobrador veio, os economistas foram para o banheiro. O cobrador bateu na porta do banheiro e um deles estendeu o bilhete com a mão, sendo bem sucedidos.
Noutro dia os matemáticos resolveram usar a mesma estratégia e compraram um só bilhete. Porém os economistas não compraram nenhum. Quando o cobrador estavam chegando os matemáticos foram para o banheiro. Quando ouviram as batidas na porta entregaram o bilhete ao condutor. O bilhete não retornou. Por que ? Os economistas pegaram e foram a outro banheiro.

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Dois homens estavam andando de balão e se perderam. Decidiram baixar o balão e perguntar para algum transeunte.
"Ei, você poderia nos dizer onde estamos ?"
"Vocês estão em um balão", respondeu o transeunte.
"A resposta é correta e absolutamente inútil. Este homem deve ser um economista", comentaram entre eles, no balão.
"E você deve ser um empresário", respondeu o transeunte.
"Exato. Como você sabe disto ?"
"Você tem uma excelente visão de onde está e mesmo assim você não sabe onde está."

domingo, 13 de fevereiro de 2011

sábado, 12 de fevereiro de 2011

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Frei Betto


Ótima entrevista/perfil da Maria Inês Nassif, com o Frei Betto




O dia 21 de janeiro amanheceu uma sexta-feira nublada. Foi um daqueles em que o céu caiu na cabeça dos paulistanos, no verão tardio de 2010 que só começou a acontecer em 2011. Entre dois temporais, o da manhã e o da tarde, Frei Betto e a repórter foram almoçar na Feijoada da Lana. Nos dois dias que separaram o convite do jornal para este "À Mesa com o Valor" de sua resposta, o irmão dominicano, escritor e jornalista Carlos Alberto Libânio Christo escolheu a dedo o restaurante. O estabelecimento serve a mais brasileira de todas as comidas, a feijoada, todos os dias. Lana Nowikow, a dona da feijoada, é uma jornalista, filha de imigrantes russos, que serve o seu famoso prato, antes acessível apenas aos amigos, num restaurante que forma filas imensas no fim de semana. Foi a última mulher de Sérgio de Souza, jornalista com quem Frei Betto trabalhou na revista "Realidade", nos anos 1960, e de cuja amizade desfrutou até o fim. Sérgio de Souza morreu em 2008. Lana continua amiga.

"O senhor ainda é gourmet?", pergunto, enquanto nos servimos do caldo de feijão, ao qual adicionamos generosas porções de cebola e cebolinha picadas, além da indispensável pimenta. Era a entrada. "Sou 'gourmãe'", responde o dominicano, que, embora em sua profícua obra de escritor, que totaliza 51 livros, ostente 2 livros de culinária, não admite rivalizar com os dons da mãe, Maria Stela Libânio Christo, a papisa da comida mineira que escreveu "Fogão à Lenha", o livro que todo aficionado em culinária e nas tradições daquele Estado já leu, com prazer. Foi cozinheiro de cela, no período em que esteve preso por ligações com a ALN de Carlos Marighella (os dominicanos deram apoio operacional ao grupo), mas era comida para 40 presos, com os ingredientes de que dispunha. Era difícil cozinhar com arte, conta. Mas continua gostando de cozinhar, revela, durante o almoço.

Nas festas de fim de ano, costuma fazer cuscuz marroquino, uma de suas especialidades. No último, para a imensa família reunida: mãe, 7 irmãos, 10 sobrinhos e 30 sobrinhos-netos, dos quais 14 crianças pequenas. "Cuidado, senão você vai acabar pisando em algum bebê", brincou o irmão, enquanto Frei Betto desempenhava a função de cozinheiro do dia. A mãe tem hoje 92 anos, pouco cozinha, embora ainda anote umas receitas.

Frei Betto foi preso, em 1969, quando estava abrigado num seminário dominicano na cidade gaúcha de São Leopoldo, o Cristo Rei. Foi para lá em maio. Já sabia que estava sob a mira da polícia. Em novembro iria para a Alemanha cursar teologia. Tinha que aguentar até lá. Antes de embarcar, todavia, recebeu de Marighella a incumbência de passar foragidos pela fronteira. Quando a polícia estava atrás de Frei Betto, dois jornalistas tentaram contato com o religioso para avisá-lo de que ele era a bola da vez. Encontraram a senhora que seria o contato deles numa procissão. Ela cantava um hino religioso e, no mesmo tom da música, deu o recado: "O padre que vocês estão procurando já caiu". Chegaram tarde.

Apesar da opção religiosa de Frei Betto, seu pai cultivava um anticlericalismo visceral, daqueles que define que padre nenhum entra na sua casa. Diferentemente do filho, era conservador. "Ele era um juiz de extrema-direita, americanófilo e anticlerical", conta o frade. Depois que o filho foi preso, passou a ver a política com outros olhos. "Ele foi mudando a cabeça e terminou a vida, em 1992, apoiando a Teologia da Libertação", diz Frei Betto. Aproximou-se da religião porque mudou de posição política. "Uma das únicas vezes que saiu do Brasil foi para conhecer Fidel Castro."

Tornar-se dominicano, todavia, não foi um ato de rebeldia. A mãe, dona Stela, não apenas era católica, mas militava na Ação Católica, o movimento que originou a esquerda católica. Carlos Alberto militava na Juventude Estudantil Católica (JEC) e depois, estudante de jornalismo, na Juventude Universitária Católica (JUC), dois movimentos nos quais os dominicanos eram ativos. E, daí, aproveita para deixar claro: nunca foi padre. Apenas é irmão. Pode celebrar missa e matrimônio apenas por delegação do bispo, mas não pode ministrar outros sacramentos, como confissão, batismo ou crisma. Essa foi uma opção. "Acho que aí tem um pouco da influência do anticlericalismo do meu pai, mas eu não tenho jeito de lidar com uma paróquia. Minha vocação é outra. A Ordem dos Dominicanos é oficialmente conhecida como a Ordem dos Pregadores. Hoje seria a ordem dos comunicadores, da comunicação."

É curioso conversar com Frei Betto. Entre um e outro gole de limonada suíça, fala com a mesma desenvoltura de marxismo e da experiência mística vivida com a leitura das obras de Santa Teresa de Ávila, que o salvou de uma crise de fé, ainda no noviciado. O marxismo é, para ele, uma ferramenta, um método de análise importante. "Sempre me interessei muito pelo marxismo. Desde que iniciei minha militância no movimento estudantil, no início dos anos 60, em Belo Horizonte, atuei muito em aliança com o PCB contra os setores conservadores." A ligação entre fé e marxismo o aproximou da revolução sandinista, na Nicarágua, no fim dos anos 70, construída por uma aliança entre marxistas e católicos. Foi no aniversário do primeiro ano da revolução, em julho de 1980, que conheceu Fidel Castro. Foi a primeira de longas conversas - "os irmãos Castro jamais conseguem receber alguém por uma ou duas horas somente", diz Frei Betto. "Parece coisa de mineiro", observo. O religioso ri. Aceita a semelhança. "É, parece."

Nessa conversa inicial, que durou das 14 horas às 6 do dia seguinte, Frei Betto fez duas perguntas ao líder cubano. "Eu perguntei por que o governo e o Partido Comunista Cubano eram confessionais. Ele levou o maior susto. Disse: 'Somos oficialmente ateus'. E eu respondi: 'Exatamente por isso são confessionais. Negar a religião é confessionalidade. Não existe nenhuma prova científica da existência de Deus, mas não existe também da não existência'. Ele disse que eu tinha razão, que não havia pensado nisso. Anos depois, eles mudaram a Constituição e o Estado e o partido passaram a se declarar laicos", conta. A segunda observação foi sobre as relações do governo com a Igreja Católica, e Fidel reconheceu que elas não eram boas.

Em 1981, Frei Betto foi a Cuba como mediador de entendimentos entre o governo cubano e a igreja. Acredita que foi um trabalho bem-sucedido - a ponto de a igreja ter monitorado o processo de soltura dos presos políticos. Em 1975, o dominicano lançou o livro "Fidel e a Religião". Depois de Cuba, foi convidado também para mediar as relações entre igreja e Estado em países do Leste Europeu: Polônia, Rússia e Tcheco-Eslováquia. "Já era muito tarde, o socialismo já estava desmoronando", lamenta.

Vamos ao bufê. A feijoada está espalhada por panelas de barro com feijão e outras com carnes variadas. A laranja é cortada como em Minas: a casca é tirada de forma a machucar a fruta e retirar a película branca que a separa da polpa. Depois, a polpa é cortada em pedaços que obedecem ao tamanho do gomo. Frei Betto arruma a feijoada no prato com capricho: em separado, o feijão, duas grandes costelas de porco (das quais se tira pouca carne, mas a mais saborosa da feijoada), paio, a farofa e o montinho de couve. Vê, com pesar, o seu prato ser confiscado pelo fotógrafo para o registro que o leitor encontra nesta página. Para um gourmet, não deve ter sido agradável ver o prato esfriar sob flashes numa mesa ao lado do bufê. Ainda bem que é jornalista. Manteve a paciência.

De volta à varanda, onde nos acomodamos, o barulho intenso dos ônibus que passam na rua Aspicuelta agora se mistura com a forte chuva. Falamos mais alto, assim como as demais mesas ao nosso lado. Frei Betto conclui seu raciocínio sobre o cruzamento entre Deus e Marx. "Seria complicado conciliar as duas coisas se eu considerasse o marxismo uma religião, como muitos marxistas consideram. Mas eu considero como um método de análise. Assim como São Tomás de Aquino pôde embasar a sua teoria em Aristóteles, que era pagão, a Teologia da Libertação também pode articular com categorias marxistas."

Fugimos da chuva. Abrigados lá dentro, Frei Betto, eu, o fotógrafo e o motorista, pedimos a sobremesa. Frei Betto não conseguiu o frugal abacaxi que pediu. "Está muito azedo", desencorajou a garçonete. Um delicioso pudim de claras foi parar no meio da mesa, por culpa minha - um pedaço imenso, que precisou da ajuda dos demais para chegar ao fim.

Só então eu me sinto à vontade para matar um pouco da curiosidade que, acho, toda pessoa que não tem religião cultiva em relação a Frei Betto, o dominicano que respira política e sempre ganhou sua vida trabalhando em jornais e revistas, escrevendo livros e dando palestras: "O senhor não sentiu falta de uma vida 'civil'?" Ele ri. Não devo ser a primeira pessoa a ter perguntado isso, porque a resposta está na ponta da língua: "Nunca tive saudades dos filhos que nunca tive. A religião me dá muita liberdade e eu gosto muito disso". E, entre risos, observa: "Eu conheço tão intimamente a vida conjugal dos outros que não sinto inveja". Tem vários amigos que deixaram a vida religiosa para casar e se arrependeram. Um deles, que não teve filhos, foi aceito na ordem novamente quando se separou, 20 anos depois.

A conversa acompanha o ritmo da chuva. Frei Betto conta sobre os tempos da "Realidade", a revista que foi o padrão de jornalismo dos anos 60, e da "Folha da Tarde", jornal do grupo "Folha de S. Paulo". Chegou a chefe de reportagem. Ele, o diretor da "Folha da Tarde", Jorge Miranda, e o jornalista Flávio Tavares eram inseparáveis, no jornalismo e na militância política. A revista "Veja" daquela época volta para a história quando ele repete um comentário que escreveu em um dos seus livros biográficos, o "Batismo de Sangue": todo "ponto" [encontro] que ia cobrir, a senha para encontrar a pessoa era a "Veja" debaixo do braço. Assim era com quase todo militante político. Em 1968, quando mais de mil estudantes foram fazer um encontro da UNE na pequena Ibiúna, calcula-se a quantidade de "Vejas" que foram necessárias para cobrir todos os pontos das pessoas que foram para lá de todo o Brasil.

Frei Betto nunca foi do PT, ao contrário do que muitos pensam; continua amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, embora tenha entrado no seu primeiro governo e não poupado críticas quando saiu, mas conta que tem um pacto de não falar na amizade. Ela está fora disso. E, apesar de todas as críticas - basicamente, a de que o governo substituiu o Fome Zero, que previa portas de saída do programa, pelo Bolsa Família, que é um programa compensatório de renda -, julga que o presidente Lula fez o melhor governo do período republicano. Falta ainda. Principalmente educação - "falta um Paulo Freire, falta um Anísio Teixeira". A questão ambiental também ficou para trás.

Falta também superar os anos de ditadura, afirma Frei Betto. Foram 21 anos que travaram a criação artística. A literatura não produz mais obras de arte. "Não houve uma revolução educacional depois da ditadura. Faltou reforma agrária, que poderia ter segurado população no campo e ter evitado a ocupação desordenada das cidades, responsável, por exemplo, pela catástrofe ocorrida na região serrana do Rio, que resultou em cerca de mil mortos."
Acaba o café e a chuva passa. De repente, Frei Betto se apressa. Esqueceu o guarda-chuva no carro. É a chance que tem de chegar seco ao convento dominicano, em Perdizes, onde mora. Despedimo-nos. Eu, lamentando a evidência de que, na hora de escrever, muita história teria que ficar de fora das páginas do jornal. A vida intensa de Frei Betto, política e religiosa, não cabe em um tabloide. E certamente não se esgota nos livros biográficos que colecionou ao longo da vida.

Fonte: Valor

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Rapido no gatilho...

A atual administração foi rapida no gatilho: corte de 50 bi no orçamento sinaliza ao mercado que não haverá complacência no combate à inflação. Ainda não foi detalhado onde ele será realizado e há sempre motivo para certo ceticismo em relação a decisão do executivo face as demandas, raramente razoaveis, do legislativo. isto, contudo, não reduz de modo algum a importancia do anuncio do corte. Era um sinal fundamental e no momento correto.

Ele, contudo, não elimina a necessidade de elevação da taxa de juros para um patamar acima do desejado pela atual administração e não há motivo algum para pagar para esperar...postergar não é uma opção....

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A situação ainda é tranquila...

A inflação de 0,83 % confirma aquilo que havia mencionado em outro post: o juro deve subir para um patamar acima daquele que se inferi dos documentos e entrevistas do Bacen. Alias, ele deveria ter elevado os juros no final do ano passado, mas optou pela política de credito, basicamente, me parece, por razões políticas. O custo político parece ser menor. O temor é a manutenção desta opção limitada.

O corte de gastos deverá, também, ser maior que o ventilado pela atual administração, o que, tem um custo político nada desprezível, porem, melhor usar a primeira metade do mandato para fazer o trabalho necessário, que deixa-lo para os dois últimos anos. Ai sim, seria suicídio político e burrice do ponto de vista da política econômica.

A Presidenta Dilma é economista, graduada por uma ótima Universidade, e sabe que a contenção de gastos e elevação dos juros é o que deve ser feito para manter a inflação controlada. A situação ainda é tranquila...

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Entrevista com o Persio Arida.


Nada como ler uma entrevista com alguem que realmente conhece e gosta de economia. É um ótimo antidoto contra a superficialidade da heterodoxia




O senhor acredita que vivemos uma guerra cambial?

PERSIO ARIDA: É preciso colocar o fenômeno em perspectiva. É natural, para países que se desenvolvem tardiamente e de fato entram numa rota de crescimento sustentável, que suas moedas se valorizem. A apreciação também é resultante da institucionalização. A noção de que o investimento em economias emergentes tem riscos institucionais, como riscos de expropriação e mudanças abruptas no quadro regulatório, está se dissipando. Além disso, o Brasil não tem comércio apenas com os EUA. Se olharmos o real com relação a uma cesta de moedas, a apreciação é menor do que parece, porque o dólar se desvalorizou contra as demais moedas.

Ou seja: viveríamos uma apreciação, mesmo sem a desvalorização forçada da China ou as emissões de moeda nos EUA?

ARIDA: A taxa de câmbio é sempre um valor relativo. Obviamente, a política monetária expansionista dos Estados Unidos, ao enfraquecer o dólar, contribuiu para a apreciação do real. Também é evidente que a política chinesa tem efeito. Meu ponto é que a apreciação, ao menos em boa medida, é consequência natural do nosso progresso. A questão seria melhor colocada assim: será que a apreciação está rápida demais? O fato de termos um déficit de conta corrente não nos autoriza a dizer que a apreciação está muito rápida. Ao contrário do que normalmente se pensa, é razoável esperar que o Brasil apresente um déficit em conta corrente nas condições atuais. De um lado, a poupança do governo é praticamente inexistente; de outro, a poupança privada não é suficiente para sustentar o volume de investimento necessário para crescer 5% ou 5,5% ao ano de forma sustentável. Seria ótimo se tivéssemos mais poupança interna, mas o fato é que, como os EUA, a nossa poupança é historicamente mais baixa do que a dos países asiáticos. Sem poupança externa - ou seja, sem déficit de conta corrente - não conseguiríamos atingir nossa taxa potencial de crescimento.

Mas há uma enorme preocupação de gente do próprio governo com o déficit.

ARIDA: Eu não teria essa preocupação nos níveis atuais do déficit. Primeiro, porque se trata de um déficit sustentável. Segundo, porque é um déficit associado a investimento e não a consumo. Terceiro, porque, no curto prazo, não vejo aumento significativo nem na poupança pública, nem na poupança privada. Daí a nossa dependência em relação à poupança externa.

E a desindustrialização?

ARIDA: De novo, essa questão ganha uma dimensão temporal. É natural que, à medida que o país se desenvolva, o salário real suba, o país fique mais educado e você perca a competitividade em indústrias que dependam de mão de obra barata. Esta perda de competitividade não é ruim. É claro que é um fenômeno traumático porque a mobilidade de mão de obra não é instantânea. Você não emprega aqui o que desempregou acolá num mesmo momento, mas é de se esperar que, à medida que o país se desenvolva, ele perca a competitividade em algumas indústrias e ganhe em outras.

Mas e se não há tempo suficiente para que as indústrias criem empregos no mesmo ritmo em que perdem?

ARIDA: É um fenômeno de apreciação prematura do câmbio e não é um problema simples. O Brasil hoje tem uma posição única no planeta: tem crescimento alto para padrões internacionais. Tem taxas de juros, portanto, remunerações atraentes para o mercado financeiro. É uma democracia de massas, um país pacífico, com respeito ao direito de propriedade, com escala e aberto ao capital estrangeiro. Essa conjugação de fatores não existe em lugar nenhum do mundo. Do ponto de vista financeiro, como o Brasil tem taxas de juros muito altas, o investidor entra assim mesmo e o que se vê é que as várias medidas adotadas pelo governo para segurar a valorização têm eficácia por apenas um período de tempo.

E como resolver o problema?

ARIDA: O governo está sempre inovando, mas o aspecto conceitual para o qual eu queria chamar a atenção é que o segredo para evitar a apreciação muito rápida é não diminuir a volatilidade do câmbio. Quando você comprime a volatilidade do câmbio, todo mundo entra, porque as taxas de juros são atraentes.

Quem vai comprar dólar para viajar ou exportar vai odiar ouvir isso.


ARIDA: Vou dar como exemplo as intervenções do Banco Central do Japão em 2004, quando o iene chegou a 103 por dólar. O BCJ fez um diagnóstico de que o principal motor da apreciação era claramente um processo especulativo. Eles compraram dólares sem nenhuma referência, sem qualquer anúncio e erraticamente, ou seja, volumes maciços e aleatoriamente. Isso acabou provocando uma enorme volatilidade no mercado de câmbio e perdas enormes para quem estava apostando. É um extremo, um exemplo a ser refletido.


A questão dos juros está atrelada necessariamente à questão cambial ou reflete mais custo Brasil, burocracia, spread bancário etc.?

ARIDA: O juro necessário para sustentar a inflação constante no Brasil, na ausência de choques, é muito mais alto que em outros lugares. Podemos até argumentar que, ao longo do tempo ele está caindo, mas é um processo surpreendentemente lento de convergência a padrões internacionais. O mercado financeiro brasileiro é muito sofisticado, mas o horizonte de tempo das aplicações e empréstimos é curto. Por inércia, acostumou-se a pensar que no Brasil só vale a pena ter ativos financeiros se a taxa de juros real for muito alta. Se não, é melhor consumir. Em épocas inflacionárias, isso tinha razão de ser porque os ativos financeiros tinham riscos. Hoje, isso não é verdade. Fenômenos de memória coletiva sobrevivem por períodos muito mais longo de tempo do que a racionalidade econômica indicaria.

E as reformas institucionais?

ARIDA: Elas ficaram meio fora de pauta, mas continuam tão importantes quanto antes: a reforma fiscal, previdenciária, trabalhista. É claro que, quando o país cresce mais rápido, as tensões diminuem e as necessidades de fazer reformas diminuem também.

Até que ponto a inflação é perigosa?

ARIDA: O Brasil entrou numa rota de pleno emprego com pressão inflacionária (taxa de inflação no teto da banda no fim do ano). A razão é que as políticas de saída, ou seja, de reversão do megaestímulo dado após o colapso do Lehman Brothers, não foram implementadas em tempo. Isso vale para a política fiscal, a política monetária e mesmo a política de concessão de crédito da Caixa e do BB. O que aparentemente vivemos agora é a correção de rota para manter a inflação sob controle. É difícil achar o ponto exato da reversão de estímulos. Os responsáveis pela política econômica no mundo inteiro (e aqui também) preferiam errar demorando para remover os estímulos do que errar retirando-os prematuramente. O diagnóstico implícito era que a inflação decorrente da excessiva demora seria um problema mais simples de lidar do que a recaída recessiva causada por uma retirada prematura.

Quais são suas preocupações com respeito à economia mundial?

ARIDA: Das ameaças que se consegue enxergar, a mais evidente é a europeia, onde você tem uma superposição entre dívida soberana e dívida bancária enorme. Há um problema de excessivo endividamento em um número de países da periferia com trajetórias que, com as taxas de juros atuais, são claramente inviáveis. Então é um jogo onde, só faz sentido não reestruturar a dívida se você imaginar que haverá uma normalização das taxas de financiamento em breve. É uma situação delicada, com consequências imprevisíveis.


Fonte: O Globo

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O PIG e o interesse nacional

Somente o odio de classe explica o comportamento do PIG ao ex-Presidente Lula. Usam e abusam de tomadas de posição da atual administração como comprovação dos erros do Lula. Não raro, encontram, divergências inexistentes e distorcem pronunciamentos para vender seu peixe que continua a exalar o odor caracteristico dos produtos do PIG.

Não contentes em continuar com a infame campanha contra Lula, criticam o comportamento da atual administração em relação aos eventos no Egito. Gostariam que ela fosse mais direta e pedisse a renuncia já do ditador egipcio, pelo menos é o que dizem da boca pra fora. Fosse este o comportamento do Governo, criticariam por ser pouco diplomatico e comprometer as boas relações do Brasil com o mundo arabe e o bico de sinuca que seria o caso de uma sobrevida do grupo que da as cartas do Egito. Dificil agrada-los, diria ser esta uma missão impossível. O objetivo do PIG continua sendo o mesmo: encurtar a gestão petista no governo federal e recolocar no seu lugar a nova e a velha direita derrotadas na última eleição. Não se trata, naturalmente, do golpe no velho estilo, mas reduzir o grau de manobra do governo e definir sua agenda, ou seja impor ao governo federal a agenda do PIG e aliados.

Procedimento natural em regime democratico, diria alguns, é verdade, mas no caso do bananão a tal agenda não leva em consideração o interesse nacional, pelo simples e bom motivo que tal expressão não faz parte do vocabulário do PIG, mais preocupado em defender o interesse do Imperio e aliados. Falar em agenda é, inclusive, um exagero, melhor falar de rancores e reafirmação do complexo de patinho feio.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

sábado, 5 de fevereiro de 2011

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Mais piadas sobre economistas e economia

Economia é o único campo onde duas pessoas podem ganhar um Prêmio Nobel dizendo exatamente coisas opostas.

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Um matemático, um contador e um economista se candidataram para o mesmo emprego.
O entrevistador chamou o matemático e perguntou "Quanto é 2 + 2 ?". O matemático respondeu. "Quatro". "Mas quatro exatamente ?", indagou o entrevistador. O matemático olhou surpreso para o entrevistador e disse "Sim, quatro, exatamente."
Chamou o contador e perguntou a mesma questão: "Quanto é dois mais dois ?". O contador disse: "Na média 4, acrescente ou tire 10%, mas na média é quatro."
Por último chamou o economista. "Sr. Economista, quanto é dois mais dois ?". O economista levantou, trancou a porta, fechou a cortina, sentou próximo ao entrevistador e perguntou: "Diga-me uma coisa...o que você quer igualar?"

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Sete razões para estudar Economia:
1. Economistas são armados e perigosos: "Cuidado com nossas mãos invisíveis !"
2. Economistas podem ofertar quando são demandados.
3. Você pode falar de dinheiro sem sempre ter de fazer dinheiro em alguma coisa.
4. Mick Jagger e Arnold Schwarzenegger estudaram economia e veja no que se tornaram.
5. Quando você está na fila de desempregados, ao menos você sabe porque você está lá.
6.Embora a Ética ensine que a virtude tem sua própria recompensa, na Economia nós aprendemos que a recompensa tem sua própria virtude.
7. Quando você está bêbado você pode falar para todo mundo que você está apenas pesquisando a lei da utilidade marginal decrescente.

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Economistas só fazem sexo com modelos.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Marcio Garcia e o câmbio


Ótima entrevista da Angela Bittencourt, do Valor, com o Marcio Garcia da puc-rj. Acho que ele tem razão: o cambio apreciado veio para ficar.



Valor: O governo conseguirá conter a apreciação do real ou a apreciação veio para ficar?

Márcio Garcia : O câmbio apreciado veio para ficar, a não ser que ocorra uma crise externa, que parece que não vai haver, ou uma crise interna, que sempre podemos engendrar, a exemplo de Hugo Chávez, que consegue fazer o PIB da Venezuela diminuir, apesar de todo seu potencial. No cenário bom, vamos continuar crescendo num mundo onde as principais economias estarão se recuperando. Nossa principal missão é saber como tirar o melhor proveito dessa situação, crescendo mais e melhorando a vida da população, sobretudo a mais pobre.

Valor: Existe saída para o governo?

Garcia : Para esfriar a demanda e depreciar a taxa real de câmbio, o receituário clássico manda fazer um aperto fiscal. E, no Brasil, o efeito seria ainda mais importante, uma vez que o Banco Central precisa sustentar o juro alto para manter a inflação sob controle por causa da expansão da demanda. Se houvesse uma ajuda da política fiscal, os juros poderiam ser bem mais baixos, atraindo menos capital e ajudando a depreciar a taxa de câmbio nominal e a taxa real, que é a que interessa para a competitividade. É muito claro, há muito tempo, o que se deve fazer com a política fiscal, para aliviar a política monetária e mitigar a apreciação cambial. Mas até a virada [de governo] o Brasil vinha fazendo, segundo o nosso ministro da Fazenda, uma política fiscal anticíclica, embora o país estivesse crescendo a quase 8% ao ano. Agora, essa política anticíclica não seria mais necessária e teria início um grande ajuste fiscal. Antes tarde do que nunca. Aguarda-se, ansiosamente, os anúncios das medidas concretas. Nos próximos quinze dias tem que sair algo grande. Um corte grande, profundo, no Orçamento deste ano e a divulgação de um plano plurianual de controle do crescimento dos gastos correntes. E, embora já tenha havido declarações no sentido oposto, deve-se retomar os projetos de longo prazo como a reforma da previdência, a reforma trabalhista e tributária. O efeito sobre a taxa real de câmbio dos ajustes de longo prazo pode até não ser grande, mas o crescimento e a produtividade (e, portanto, a competitividade) serão muito beneficiados.
Valor: As medidas tomadas até agora são eficientes?

Garcia : No curto prazo, o que se tem feito? Uma série de controles de entrada de capital e intervenções do Banco Central. Isso pode dar resultado? Muito pouco. Se continuar a política de afrouxamento monetário quantitativo do Federal Reserve (banco central americano), expulsando capital dos Estados Unidos, e a China prosseguir com intervenções para manter seu câmbio super depreciado, controles de entrada de capitais serão ineficientes, pois os agentes encontrarão formas de driblar esses controles.

Valor: Qual é o problema das intervenções?

Garcia : As intervenções têm o problema de serem extremamente caras, sobretudo se o Banco Central continuar elevando o juro. Há um amplo diferencial de juros que leva a um custo fiscal da ordem de US$ 30 bilhões ao ano. É dinheiro toda vida. Possivelmente muito mais para do que precisaríamos para enfrentar qualquer percalço na economia mundial. Se tivéssemos hoje menos US$ 100 bilhões de reservas, teríamos US$ 200 bilhões, aproximadamente o valor que tínhamos quando eclodiu a crise internacional, após a falência do Lehman Brothers. O custo já seria reduzido a 2/3 do atual, o que não é pouca economia. Se aguentamos a tempestade perfeita em 2008 com US$ 200 bilhões, por que precisamos mais agora? Recentemente, o BC voltou a intervir no mercado via swap reverso, que é equivalente a comprar dólar futuro. Intervir via swap reverso é apenas marginalmente mais barato do que intervir via compra de reservas. Não é a diferença de custo que justificaria intervir via swap reverso. A melhor justificativa para fazê-lo está na possível maior eficiência da intervenção conjunta (spot e futuro) para depreciar o real. No entanto, eu não acho que tal argumento tenha muito mérito. Mas é uma questão empírica. Com os dados das atuais intervenções, espero, nos próximos meses, poder dirimir esta dúvida. O mesmo vale para as intervenções a termo com entrega física.

Valor: E os controles de capital?

Garcia : Como disse, não acho que controle de entrada de capitais sejam instrumentos eficientes para depreciar a taxa de câmbio, sobretudo se forem caros e permanecerem por longos períodos. A eficácia das intervenções cambiais esterilizadas dependem de os ativos financeiros brasileiros não serem substitutos perfeitos dos ativos estrangeiros. Isso vale quando se tem um mercado pequeno. Mas com a economia pujante, com comércio exterior e fluxo cambial maiores, mais e mais agentes no mundo querem colocar dinheiro no Brasil. Então, nossos ativos estão se tornando cada vez mais substitutos de ativos estrangeiros, caso em que a eficácia das intervenções cambiais esterilizadas diminui. Por exemplo, os bancos agora recolhem depósito compulsório sobre posições vendidas em câmbio, mas em algum momento alguém em algum banco vai encontrar uma saída para que a intermediação ou arbitragem seja feita através de uma empresa não regulada pela autoridade monetária. Medidas para driblar os controles já ocorreram no Brasil numa época em que o país exportava US$ 50 bilhões. Hoje, o Brasil exporta três vezes mais. É mais fácil, portanto, levar as arbitragens para fora dos bancos.
Valor: O governo já esgotou o arsenal de medidas?

Garcia : Temo que haja outros controles de entrada de capitais. E isso é um problema não só porque, no médio prazo, os controles não adiantarão, mas também porque, para crescermos a uma taxa de 5% ao ano, precisaremos de 4% a 5% do PIB de capital externo para financiar o excesso do investimento sobre a poupança doméstica. Em breve, isso será equivalente a US$ 100 bilhões. Talvez em 2012 ou até em 2011. Portanto, quando dependemos de ingresso de capital desse tamanho, tomar medidas contra a entrada de capital é algo potencialmente problemático, inclusive, porque não dá para diferenciar o capital especulativo do capital que se quer atrair. Medidas podem acabar afugentando investidores de longo prazo, dos quais precisamos para crescermos a 5%. Não acho que as medidas tomadas até agora espantaram alguém. Mas a geração de mais e mais medidas cria instabilidade regulatória. Isso leva temor aos investidores e o país pode até pagar caro por isso. É necessário cautela. Por que não fazer primeiro o que se sabe que funciona, o ajuste fiscal? Como diz um colega, se o problema é no rim, não adianta mexer no estômago.

Fonte: Valor

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Ainda sobre o Estado indutor

O esforçado economista da ditadura ainda acredita nos poderes magicos do Estado Indutor, mas esquece de mencionar como é dificil articular este tipo de Estado com o sistema democrático. Não digo que é impossível ou que não deve ser tentado, apenas que não é uma poção magica. Ele ainda mantem-se fiel ao paradigma de desenvolvimento econômico hegemonico no pós segunda guerra mundial `a esquerda e à direita. O fundamental, me parece ser, um sistema de economia social de mercado, em que o papel do Estado é maior que em um modelo tipico liberal, mas menor que no sistema indutor que ele parece defender.


Uma das funestas consequências da crise construída pelo sistema financeiro internacional, sob os olhos complacentes das autoridades monetárias, foi a desmoralização da economia de mercado como instrumento eficiente de um Estado indutor (constitucionalmente controlado) para criar as condições do desenvolvimento social e econômico num contexto compatível com a liberdade de iniciativa individual.

Todos sabemos que ela não foi inventada. É produto de um processo que começou há mais de 130 mil anos, quando os homens abandonaram a África para ocupar o mundo. Sendo um processo, foi encontrando mecanismos flexíveis para satisfazer os objetivos sempre mutáveis dos homens. Esses, lentamente, transcenderam às suas necessidades materiais.

É esse caminho da "humanização" do homem, a rigor explorado apenas nos últimos 300 anos, que permitiu sextuplicar a população mundial, que aumentou em mais de sete vezes a disponibilidade per capita de bens e serviços e aumentou (graças à ciência e à tecnologia) a expectativa de vida ao nascer de 35 para 70 anos.

É claro que tal organização está longe de ser plenamente satisfatória, mesmo porque, sendo um processo, a cada momento criam-se novas "necessidades": a civilização sempre exige mais civilização... Ela está longe de ser perfeita e terminada, mas todas as alternativas construídas por cérebros peregrinos, que imaginaram construir a "sociedade perfeita" habitada pelo "homem perfeito", fracassaram miseravelmente. O século XX é um cemitério dessas aventuras. O século XXI promete mais alguns cadáveres...

Os economistas estão sempre atentos a relações entre eventos e, quando as encontram, inventam histórias para "explicá-las". Uma história que tem sobrevivido desde Adam Smith (que "explica bem o caso da Holanda e da Inglaterra) é que aquela economia de "mercado" só aparece e se desenvolve quando a sociedade aceita e dá dignidade à atividade exercitada pelos que têm iniciativa, e os benefícios de suas "inovações" podem ser apropriados por eles. Isso, obviamente, exige um Estado indutor, com mãos leves e amigável com relação a eles.

Essa história talvez "explique" melhor do que as funções de produção o fenomenal desenvolvimento da China, a partir de 1978, e da Índia a partir de 1991. Os fatores de produção (terra, mão de obra e capital) e as funções de produção inventadas pelos economistas já estavam lá em estado latente há dezenas de anos, e a produtividade total dos fatores, medida estatisticamente, era muito próxima de zero. O que faltava era um Estado indutor que: 1) respeitasse e dignificasse a atividade do setor privado; 2) libertasse o "espírito animal" dos empresários para utilizar e dar maiores oportunidades de progresso à mão de obra; e 3) garantisse que cada um poderia apropriar-se dos benefícios de sua iniciativa.

O mesmo fenômeno talvez se repita na Rússia, onde o governo promete remover o "entulho" que sobrou depois da queda da URSS, quando a transferência da atividade estatal para o setor privado foi entregue aos feudos do velho Partido Comunista. Houve, até agora, simples transferência da ineficiência estatal para uma cleptocracia, que destruiu até os setores de ponta tecnológicos do país. Diante da necessidade imposta por uma nova eleição (em 2012), Vladimir Putin apela para uma reabilitação moral da atividade econômica privada.

A nova "meta" é dar dignidade ao lucro honestamente obtido e libertar o espírito empreendedor pela ampliação da competição; privatizar US$ 50 bilhões de ativos (inativos!), que estão nas mãos do Estado (vender hotéis e times de futebol!); cortar as asas dos oligopólios (que estão ainda nas mãos de velhos companheiros da KGB!); estimular a abertura de novos investimentos, diminuindo a burocracia; ampliar a venda de tecnologia nuclear; diminuir a dependência do setor energético com fontes alternativas; proteger com tarifas e estimular com subsídios os setores automotivo e aeroespacial, a agricultura e diversificar a exportação de petróleo. A China hoje importa ¾ do total.

Para quem ainda tem dúvida que o respeito à dignidade da atividade industrial de bens e serviços (que nada tem a ver com os predadores financeiros!) é fundamental, basta observar os últimos movimentos de Barack Obama. Ameaçado pelas urnas, tenta uma reaproximação com o setor real da economia americana.

Seu maior erro foi a pirueta inicial para agradar os democratas: salvar os desonestos que produziram a crise à custa de 17 milhões de desempregados (metade dos quais há mais de seis meses) que ganhavam a vida honestamente. Como agora também os EUA sabem, a urna corrige o excesso do falso tecnicismo econômico. Às vezes um pouco tarde...

Essas historietas têm muitas e proveitosas lições para o Brasil.

Fonte: Valor