quinta-feira, 31 de março de 2011

Walk on the wild side

Pelo jeito caiu a ficha e o Bacen resolveu enfrentar a dança: nova previsão de PIB, inflação, meta de inflação somente para 2012. Qual será a reação do mercado. Incredulidade geral, é a reação provável. É uma aposta e tanto nas tais medidas macroprudenciais, que se não são novidades, enquanto medidas individuais, o são, no entanto, enquanto novo paradigma de politica monetária. Este não é uma detalhe pequeno e, em parte, explica o ceticismo de alguns... De minha parte acredito que é uma aposta arriscada, não tenho certeza se é recomendável em um país com um longo e tragico passado de convivência com a inflação. No entanto, reconheço, que na política monetária há menos certezas que em outras áreas da política econômica e como a inflação esta longe de estar sem controle é possível justificar este "walk on the wild side"...

quarta-feira, 30 de março de 2011

Piadas sobre economistas e economia

Três matemáticos e três economistas foram viajar de trem. Os matemáticos estavam rindo dos economistas, que haviam comprado somente um bilhete e iriam tomar multa. Quando o cobrador veio, os economistas foram para o banheiro. O cobrador bateu na porta do banheiro e um deles estendeu o bilhete com a mão, sendo bem sucedidos.
Noutro dia os matemáticos resolveram usar a mesma estratégia e compraram um só bilhete. Porém os economistas não compraram nenhum. Quando o cobrador estavam chegando os matemáticos foram para o banheiro. Quando ouviram as batidas na porta entregaram o bilhete ao condutor. O bilhete não retornou. Por que ? Os economistas pegaram e foram a outro banheiro.

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Dois homens estavam andando de balão e se perderam. Decidiram baixar o balão e perguntar para algum transeunte.
"Ei, você poderia nos dizer onde estamos ?"
"Vocês estão em um balão", respondeu o transeunte.
"A resposta é correta e absolutamente inútil. Este homem deve ser um economista", comentaram entre eles, no balão.
"E você deve ser um empresário", respondeu o transeunte.
"Exato. Como você sabe disto ?"
"Você tem uma excelente visão de onde está e mesmo assim você não sabe onde está."

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— Quantos economistas com MBA são necessários para trocar uma lâmpada ?
— Somente um, se você me contratar. Na verdade eu posso trocar a lâmpada, eu mesmo. Eu tive uma extensa experiência em troca de lâmpadas em minhas funções anteriores. Também fui reconhecido como Especialista em Troca de Lâmpadas e já lecionei a disciplina Gerenciamento de Lâmpadas. Minha única fraqueza é que em meu tempo vago, sou um trocador de lâmpadas compulsivo.

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Um dia um homem entrou na biblioteca, foi a seção de referência e pediu por livros de economia. Para a surpresa da bibliotecária nenhum dos livros de economia estavam na seção de referência. "Não há problema. Eu posso ir a outra biblioteca. Sou um homem muito ocupado e tirei este fim de semana para estudar economia"
Curiosa com a figura, a bibliotecária não resistiu e perguntou ao sujeito: "Mas por que é tão urgente para o senhor estudar economia ?"
"É que eu sou economista. Estou dando aulas nesta universidade já fazem dez anos. Como eu tenho uma importante reunião da segunda-feira, imagino que a economia tenha mudado nos últimos dez anos."

terça-feira, 29 de março de 2011

O problema do câmbio na visão de dois economistas da FGV-RJ


Pedro C. Ferreira e Renato F. Cardoso apresentam uma leitura interessante do problema do câmbio e que foge da mesmice dos defensores da tese da desisdustrialização.



As dificuldades enfrentadas pela indústria brasileira diante da valorização do real observada nos últimos anos têm suscitado um acalorado debate sobre as alternativas de política econômica disponíveis para se deter - ou, pelo menos, retardar - a suposta desindustrialização do país. Identificar as causas da valorização da moeda brasileira, bem como avaliar se elas tendem a se dissipar no futuro, constituem o primeiro passo para uma discussão objetiva do problema.

A valorização do real, ao longo dos últimos anos, decorre de três fatores principais. O primeiro consiste no aumento da confiança dos investidores em relação ao país, iniciada em 1994 com o Plano Real e as privatizações, aprofundada em 2000 com a Lei de Responsabilidade Fiscal, mas consolidada somente após a constatação, em 2003/4, de que a esquerda, uma vez no poder, havia se convertido - ou resignado - ao pragmatismo do século XXI. A menor percepção de risco atraiu capitais até então temerosos diante das incertezas que grassavam na antiga economia brasileira, apreciando o real.

O segundo fator foi a valorização das commodities exportadas pelo país, sobretudo a partir de 2005/6, decorrente das gigantescas importações asiáticas, sobretudo da China.

O terceiro consiste na política monetária expansionista dos países desenvolvidos, implantada a partir da crise de 2008, que aumentou o diferencial entre a taxa de juros brasileira e a internacional, atraindo capitais que valorizam o real. Note-se que a historicamente baixa poupança doméstica brasileira, fator que leva o país ter uma elevada taxa real de juros e consequente moeda valorizada, não pode ser incluída entre as causas da valorização recente, pois a poupança já era baixa antes da valorização observada nos últimos anos.

A maior confiança dos investidores no Brasil veio para ficar. Não sem razão: o eleitor brasileiro já deu todas as demonstrações de que rejeita aventuras. Por exemplo, ignorou a promessa populista de elevação do salário mínimo para R$ 600 do candidato derrotado à presidência. Também o fator China se mostra uma realidade de longo prazo. O espantoso crescimento da China resulta de um aumento acelerado da produtividade média do trabalhador chinês decorrente de dois fenômenos. O primeiro é a contínua migração de trabalhadores da agricultura tradicional de baixa produtividade para a indústria de alta produtividade. A agricultura chinesa ainda ocupa 55% de sua população, número semelhante ao observado no Brasil e Coreia em 1950. No mundo desenvolvido, a agricultura ocupa apenas 5% da população (no Brasil 10%), o que sugere haver ainda muito espaço para esse movimento continuar.

O segundo fenômeno que eleva a produtividade média do trabalhador chinês, tanto na indústria como no setor de serviços, são os ganhos de eficiência decorrente da gradual substituição de empresas estatais pelo setor privado. No Brasil, esses dois fenômenos já ocorreram no passado, mas na China podem ainda ter sobrevida por pelo menos duas décadas.

A alta produtividade da indústria chinesa não apresenta indícios de reversão. Sinal disso é o fato de o retorno do capital permanecer elevado, diante da incorporação de mais mão de obra oriunda da agricultura, bem como da melhoria da mão de obra já incorporada à indústria e aos serviços em decorrência do aumento da escolaridade. Mantidas as regras do jogo em vigor, a China continuará a crescer aceleradamente, sua renda per capita aproximando-se da de países como a Coreia e Taiwan. Seu apetite por commodities aumentará ainda mais, de modo que as exportações brasileiras de bens primários continuarão crescendo, contribuindo para a valorização do real.

Dos três fatores elencados acima, somente o terceiro tende a se dissipar com o passar do tempo, pois as economias centrais - que estão começando a sair da recessão - serão forçadas, futuramente, a retomar o controle monetário a fim de conter pressões inflacionárias. Isso significa que, de agora em diante, o Brasil precisará conviver com uma taxa de câmbio mais valorizada do que no passado, por absoluta falta de alternativa.

Nesse novo ambiente de câmbio valorizado, a proteção à indústria brasileira terá que vir de reformas microeconômicas que abrandem a pesada tributação, simplifiquem a complexidade fiscal, reduzam a burocracia, estimulem a poupança doméstica e a inovação, e dinamizem o mercado de trabalho. O que se precisa são de reformas que aumentem a produtividade do setor sem prejudicar o restante da economia, o que ocorreria com aumento das barreiras comerciais ou (mais) subsídios à indústria.

Buscar corrigir uma situação de longo prazo, permanente, com medidas recomendadas para choques temporários - acumulação de reservas e controle de capitais, por exemplo - é ineficaz e caro. Já tentamos isto no passado e pagamos um preço altíssimo: a tentativa de crescer a qualquer preço após os choques de petróleo dos anos setenta, ignorando uma mudança estrutural, nos levou a vinte anos de estagnação.

Pedro C. Ferreira e Renato F. Cardoso são professores do pós graduação da Escola de Economia (EPGE-FGV)

Fonte: Valors

segunda-feira, 28 de março de 2011

Curso de graduação em economia

É noticia velha, mas vale sempre repeti-la: a procura pelos cursos de graduação em economia continua em queda. Universidades muti-campi oferecem, no máximo, o curso em apenas um campus e várias uniesquinas tomaram a decisão empresarial de fechar o seu curso de economia. A abertura de alguns cursos direcionados a elite de modo algum altera, significativamente, esta tendência, mas pode indicar um caminho às instituições tradicionais para evitar que se repita o que ocorreu com os cursos de graduação em ciências sociais , filosofia entre outros.

Curiosamente, a procura pelo curso de graduação em economia , não apresenta o mesmo problema em outros países. Em geral o movimento é exatamente na direção oposta: forte demanda pelo curso. É claro que é uma realidade totalmente distinta da nossa em que a graduação é fortemente especializada.

Estranhamente, os conselhos de classe não apresentaram nenhuma proposta concreta para solucionar o problema e parecem fazer de conta que ele não existe. Enquanto a graduação em direito e medicina é pré-requisito pra lecionar na graduação dos respectivos cursos, o mesmo não acontece com a economia, apesar da legislação que regulamenta profissão de economista incluir docência de disciplinas de economia como exclusivas do graduado em economia. Alias, não raro sequer é exigido alguma formação em economia( graduação, mestrado ou doutorado). Não surpreende, portanto, a opção por outro curso na graduação, relegando a formação em economia somente para o mestrado e doutorado. Mas, este, não me parece, contudo ser a melhor explicação para o problema.


O conteudo programatico dos cursos de graduação em economia parece ser o grande responsável pela pouca atratividade do curso, alem, é claro da obrigatoriedade do TCC. Por varias razões os cursos optaram pela inclusão de varias disciplinas de história/ciências sociais em detrimento de disciplinas da área de finanças, monetária, internacional, entre outras ligadas ao mercado ou "market friendly", abrindo o caminho para o surgimento, com grande sucesso, dos cursos de graduação em administração. Não se trata, obviamente, de repetir o erro e excluir disciplinas, mas encontrar um solução que permita a mudança de rota. Não fazer nada ,seguramente, não é a melhor opção.

sábado, 26 de março de 2011

sexta-feira, 25 de março de 2011

Governo Lula na visão do Perry Anderson


Ótimo artigo de um raros intelectuais marxistas que ainda vale a pena ler. Sofisticado e bem informado, muito diferente do marxismo talebã ainda firme em sua campanha de destruição de qualquer ambiente/discussão acadêmica. Ate quando meu Deus, ate quando..



Contrary to a well-known English dictum, stoical if self-exonerating, all political lives do not end in failure. In postwar Europe, it is enough to think of Adenauer or De Gasperi, or perhaps even more impressively, Franco. But it is true that, in democratic conditions, to be more popular at the close than at the outset of a prolonged period in office is rare. Rarer still – indeed, virtually unheard of – is for such popularity to reflect, not appeasement or moderation, but a radicalisation in government. Today, there is only one ruler in the world who can claim this achievement, the former worker who in January stepped down as president of Brazil, enjoying the approval of 80 per cent of its citizens. By any criterion, Luiz Inácio da Silva is the most successful politician of his time.

That success has owed much to an exceptional set of personal gifts, a mixture of warm social sensibility and cool political calculation, or – as his successor, Dilma Rousseff, puts it – rational assessment and emotional intelligence, not to speak of lively good humour and personal charm. But it was also, in its origins, inseparable from a major social movement. Lula’s rise from worker on the shop-floor to leader of his country was never just an individual triumph: what made it possible was the most remarkable trade-union insurgency of the last third of a century, creating Brazil’s first – and still only – modern political party, which became the vehicle of his ascent. The combination of a charismatic personality and a nationwide mass organisation were formidable assets.

Nevertheless, Lula’s success was far from a foregone conclusion. Elected in 2002, his regime got off to a dour start, and soon came close to disaster. His first year in office, dominated by the economic legacy of his predecessor, reversed virtually every hope on which the Workers’ Party had been founded. Under Fernando Henrique Cardoso, the public debt – nearly half of it denominated in dollars – had doubled, the current account deficit was twice the Latin American average, nominal interest rates
were over 20 per cent, and the currency had lost half its value in the run-up to the election. Argentina had just declared the largest sovereign default in history, and Brazil looked – in the eyes of the financial markets – to be on the brink of the same precipice. To restore investor confidence, Lula installed an unblinkingly orthodox economic team at the Central Bank and Ministry of Finance, which hiked interest rates yet further and cut public investment, to achieve a primary fiscal surplus higher even than the figure the IMF had demanded. For citizens, prices and unemployment rose as growth fell by 50 per cent. But what was bitter medicine for militants was nectar to bond-holders: the spectre of default was banished. Growth resumed in 2004 as exports recovered. Even so the public debt continued to rise, and interest rates were hoisted once more. Adherents of the previous regime, who had smarted under Lula’s criticisms of Cardoso, pointed triumphantly to the continuities between the two. For the Partido dos Trabalhadores there was little to boast about.

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quinta-feira, 24 de março de 2011

Portugal

Com a rejeição do seu plano de ajuste em resposta a crise econômica, o atual governo portugues vem juntar se uma serie de outros que não resistiram ao custo político de medidas dolorosas, porém necessárias. Estranhamente o governo grego conseguiu sobreviver a eleição e o pacote econômico parece ter sido digerido pela população. Confesso que esperava outro resultado, mas, por outro lado, ainda é cedo pra cantar vitória.

Qual será a consequencia da rejeição e queda do governo portugues? Um pacote semelhante aquele que resgatou a Irlanda do precipicio? Diria que é a resposta é sim, mas a contrapartida será a aprovação do pacote rejeitado pelo Parlamento, ou um novo conjunto de medidas muito semelhante. O fato é que , também, em Portugal o preço a ser pago não será nada agradável. Apesar disto e de outros, o euro e a comunidade economica europeia resiste as previsões tolas dos amadores que insistem em ver catastrofes onde há apenas percalços desagradáveis.

quarta-feira, 23 de março de 2011

A fritura do Mantega


Ótimo artigo do Vinicius Torres Freire no jornal da Ditabranda sobre a fritura do Mantega por parte daquele que não deveria ter sido convidado a fazer parte do governo. Alias, o Ministro da Fazenda não parece ser o único alvo: o outro seria o Ministro da Educação. O jornalista exagera a importância deste aprendiz de cozinheiro pela credibilidade da política econômica no inicio do governo Lula. Se ele fosse, de fato, o fiador, ela teria desaparecido com a sua demissão e isto não ocorreu. O odio de classe ainda não permite reconhecer que o merito é todo do Presidente Lula que, como Itamar Franco, vai ter que esperar algum tempo para receber o merito devido pelo sucesso da política econômica do seu governo. Coisas do bananão..



Pelo menos quatro pessoas com posições relevantes no mercado financeiro foram "tranquilizadas" pelo ministro Antonio Palocci, da Casa Civil, acerca de possíveis descaminhos heterodoxos da política econômica do Ministério da Fazenda, chefiado por Guido Mantega.
As conversas aconteceram entre fevereiro e este mês. Palocci tratava então de "acalmar" gente influente da praça financeira a respeito das "resistências" e "falhas de comunicação" da equipe econômica de Dilma Rousseff no que diz respeito à contenção de despesas e sua importância no combate à inflação.
Naquelas semanas pré-Carnaval, notava-se de vez que a inflação estava para ultrapassar o teto de tolerância da meta, e o governo se embananava com a apresentação do plano de cortes no Orçamento.
Palocci sugeriu que "equívocos" e "lapsos" de Mantega não refletiam a linha do governo. Mais uma vez, apresentava-se como o tutor da "política econômica responsável", nicho de mercado político que o ministro encontrou em 2002, ao final da campanha de Lula a presidente, e lhe rendeu o cargo de ministro, além de sucesso de público e crítica no setor privado, na finança em especial.
A bem da verdade, a política econômica de Palocci tirou da lama um país quase quebrado e deu crédito à gestão luliana da economia, motivo de histeria na praça ainda em 2003.
Um dos interlocutores do ministro não deu muita bola à "mensagem de tranquilidade". Embora "insatisfeito" com a falta de clareza do governo, não estava "preocupado", pois se importava mais com "os resultados que o governo vai entregar" do que com discursos; por fim, achava "intriga perda de tempo".
Dois outros ficaram em dúvida sobre o teor da "mensagem de tranquilidade": o governo estava avisando que iria mudar de equipe e política? Um quarto, mais jovem, interpretou a mensagem como "fritura mesmo". Fritura de Mantega.
No mesmo período, apareciam em jornais notas que sugeriam o desprestígio de Mantega no governo, tratavam de atritos com Palocci e do sucesso de Nelson Barbosa (um eventual novo ministro) com Dilma. Barbosa é secretário-executivo, o "formulador" do ministério e, claro, muito próximo de Mantega.
No dia 16 deste mês, o colunista Elio Gaspari escreveu nesta Folha que Mantega era vítima de fritura no governo. No dia seguinte, Dilma disse à coluna "Painel" da Folha que tinha "absoluta confiança no Mantega... Não vou aceitar nenhuma tentativa de diminuir a importância dele no meu governo". No mesmo dia, em entrevista ao jornal "Valor", explicitava que a política de Mantega era a política dela, ressaltando em particular os aspectos mais controversos (ao menos no "mercado") de seu programa econômico.
Todo mundo entendeu o recado, que, no entorno de Dilma, diz-se ser o seguinte: 1) Dilma não bulia com o Banco Central. A última "intervenção" da presidente no BC fora indicar o nome mais adequado para conduzir o BC (Alexandre Tombini) e ponto; 2) A política econômica é diferente mesmo, um desenvolvimento da política de Lula 2; que Mantega fora o responsável por dar início a essa política que, goste o mercado ou não, é essa mesmo anunciada pelo ministro da Fazenda; 3) Que sentira, sim, o cheiro da fritura de Mantega no próprio governo, e que não gostou nada disso.

Fonte: UOL

terça-feira, 22 de março de 2011

Delfim Netto e a inflação



Mais uma tentativa do esforçado economista da ditadura em agradar gregos e troianos. Ele é (era!!!!) o "darling" daqueles que ele, corretamente, denomina, no artigo, de "niilistas", que, alias, compartilham , com o marxismo talebã, um forte desprezo, pela teoria econômica. É verdade que no caso deste último grupo a isto se soma um imenso desconhecimento da própria teoria econômica, no estilo de um conhecido escritor: não li e não gostei.






O problema da inflação no Brasil está sendo tratado pelas novas políticas fiscal, monetária e cambial com o cuidado que merece. Na política fiscal não foi feito nenhum "choque dramático" (porque não era preciso), como exigem alguns fundamentalistas. É certo, entretanto, que as despesas correntes e as transferências da União crescerão menos em termos reais do que o crescimento provável do PIB.

A crítica fundamental a essa política é, curiosamente, "ad hominem": o ministro Mantega foi um gastador (diante de uma deficiência de demanda global); como pode ser um parcimonioso (diante de um excesso de demanda)? Como diria um velho conhecido, "quando a situação muda, eu mudo. E você?"

Na política monetária, a mudança de atitude do presidente Tombini, recuperando velhíssimos instrumentos (agora elegantemente chamados de "macroprudenciais"), tem sido objeto de desconfiança de muitos analistas do mercado financeiro. Apoiam-se numa pretensiosa "teoria monetária", cujos melhores autores em 2008 ainda não mencionavam, em seus "científicos" trabalhos e livros, sequer a palavra "crédito"! Prisioneiros de uma miopia produzida por um modelito de três equações perderam toda a imaginação.

Provavelmente, a manobra exclusiva com a taxa de juros cause menores "distorções" (medidas com relação a um modelo de validade duvidosa), mas também, provavelmente, compensadas no mundo real por um custo maior em termos de sacrifício de PIB. De qualquer forma, ainda que a econometria seja imaginosa, mas precária, existem claros indícios (até recentemente negados) que medidas macroprudenciais podem ser moderadas substitutas do falaciosamente simples aumento da taxa de juros. Aqui também, a crítica é "ad hominem": Tombini é um bom e respeitável técnico... mas é um "pombo"! A hora e o lugar exigiriam um "falcão" (um dos "idiots savants"), que acredita que há leis naturais que regem os mercados, particularmente o cambial.

O mais fantástico é a desconexão entre essas críticas e o que está acontecendo no mundo, particularmente com a revisão do conhecimento econômico. Ele se processa hoje sob o estímulo de quem já foi o maior defensor da equivocada ideologia que produziu o "pensamento único" apoiado numa suposta ciência monetária: o Fundo Monetário Internacional! Foi esse mesmo "pensamento único" que interditou a saudável crítica produzida por diferentes "visões do mundo econômico", que estimulou o controle da economia real pelo sistema financeiro e produziu a crise de 2007/09. No fim, consumiu-se na desmoralização...

Trata-se de uma tragédia. A descrença colocou dúvida sobre todo o conhecimento econômico - talvez seja melhor chamar de "economia política" - que foi e é de extrema importância para a boa governança do setor público e do setor privado. Essa visão niilista é a contrapartida do fundamentalismo: como a teoria econômica "fracassou", tudo é permitido nas políticas fiscal, monetária e cambial. Já sabemos como isso termina. O Brasil já foi vítima de múltiplas experiências desse tipo que tiveram alto custo econômico e social.

Temos hoje uma aceleração da taxa de inflação (e uma deterioração de suas expectativas), que deve merecer toda a atenção do governo. É óbvio que estamos diante de um fenômeno bastante complexo e que não pode ser resolvido satisfatoriamente com a receita suicida de cortar as despesas públicas (a demanda do governo) e aumentar a taxa de juros real para cortar a demanda privada, de forma a reduzir o crescimento do PIB a 3%, a taxa de inflação a 4,5% no fim de 2011 e deixar que a taxa de câmbio atinja o seu valor "natural" determinado pelo mercado.

A taxa de inflação é uma espécie de "radiador" que dissipa o calor das energias perdidas na ineficiência dos setores público e privado. Ela tem duas componentes: uma interna e outra externa. A interna parece ser menos resultado do excesso da demanda global do que da profunda mudança na sua qualidade (serviços não transacionáveis), resultado da própria política redistributiva do governo e do aumento real do salário mínimo.

A rigor, quando corretamente medido, o PIB cresceu em média (4 º trimestre 2010/4º trimestre 2006) 4,3% ao ano e, se não levarmos em conta a depreciação, tivemos formação bruta anual de capital de 8,9%. As fortes taxas de crescimento acumulado em 2010, contra os mesmos trimestres de 2009, são meros artefatos estatísticos, que medem uma recuperação abaixo da capacidade de produção, como se vê no gráfico. O crescimento médio em 2010 foi de 5%, e a formação bruta de capital, sem levar em conta a depreciação, 12%.

A componente externa é muito forte. Trata-se da elevação dos preços internacionais de nossas exportações primárias, que não podem mais ser corrigidos pela "evolução natural" da taxa de câmbio, sem pôr em risco a grande sofisticação do nosso setor industrial, quando comparado com o dos países como nosso mesmo nível de renda per capita.

São esses fatos que justificam a cautela do BC e os cuidados do Ministério da Fazenda.

Fonte: Valor

segunda-feira, 21 de março de 2011

domingo, 20 de março de 2011

sábado, 19 de março de 2011

sexta-feira, 18 de março de 2011

Abstenção

O jogo diplomatico tem regras e nuances que somente os seus participante conseguem entender. Deve ser por isto que não consigo entender a abstenção do Brasil na questão da Libia. O que o país tem a ganhar com o apoio, tácito, ao massacre do povo libio? Sim, porque na pratica a abstenção implica em dar carta branca ao carrasco do norte da Africa. Pior ainda, sinaliza que sua participação no Conselho de Segurança seria contrária ao interesse nacional americano e de outros países importantes no cenário internacional. Ah! mas esta em companhia da Alemanha...uh!!! e isto por acaso significa alguma coisa?

quinta-feira, 17 de março de 2011

Dilma no valor


Longa e já histórica entrevista com a Presidenta Roussef, publicada no Valor desta quinta-feira. O objetivo, aparentemente, é convencer o mercado do seu compromisso com o combate a inflação. Não acredito que o objetivo tenha sido alcançado em razão dos argumentos apresentados pela economista: heterodoxo , pouco convincente e semelhante - surprise, surprise - com os apresentados pela Fazenda e Planejamento. Aquele que não deveria ter sido convidado a fazer parte do Governo não deve ter ficado muito feliz. Como há uma enorme diferença entre discurso e prática; teoria econômica e politica econômica, ainda acho que o bom senso vai prevalecer...




A presidente Dilma Rousseff anunciou que vai abrir os aeroportos do país ao regime de concessões para exploração do setor privado. Disse, também, que é preciso acabar com o incentivo fiscal dado por vários Estados que reduziram para apenas 3% a alíquota do ICMS para bens importados que chegam ao país por seus portos. "Estão entrando no Brasil produtos importados com o ICMS lá embaixo. É uma guerra fiscal que detona toda a cadeia produtiva daquele setor", comentou a presidente, citando proposta de projeto de lei que já se encontra no Senado para acabar com essa distorção.
Dilma já definiu as propostas que enviará ao Congresso ainda neste semestre: a criação do Programa Nacional de Ensino Técnico (Pronatec) e do Programa de Erradicação da Pobreza, além de medidas específicas que alteram alguns tributos (e não uma proposta de reforma tributária). Ela admitiu, também, concluir a regulamentação da reforma da previdência do servidor público, com a aprovação da proposta que institui os fundos de pensão complementar. "Mas não vamos tirar direitos do trabalhador, não", assegurou.

Em entrevista ao Valor, a primeira concedida a um jornal brasileiro, a presidente adiantou: "Agora nós estamos nos preparando para fazer uma forte intervenção nos aeroportos. Vamos fazer concessões, aceitar investimentos da iniciativa privada que sejam adequados aos planos de expansão necessários. Não temos preconceito contra nenhuma forma de expansão do investimento nessa área, como não tivemos nas rodovias." Até o fim do mês ela deve enviar ao Congresso a medida provisória que cria a Secretaria de Aviação Civil com status de ministério, que agregará a Anac, a Infraero e toda a estrutura para fazer a política de aviação.

Diante da falta de mão de obra tecnicamente qualificada para atender à demanda de uma economia que cresce, o governo está concluindo o desenho do Pronatec, programa de pretende garantir que o ensino médio tenha um componente complementar profissionalizante. Promessa de campanha, o projeto de erradicação da pobreza terá como meta retirar o máximo possível dos 19 milhões de brasileiros da situação de miséria que ainda se encontram.

Desta vez, porém, o programa virá acompanhado de portas de saída, disse. A erradicação da pobreza usará o instrumental reformulado do Bolsa Família e terá tanto no Pronatec, quanto nos mecanismos do microcrédito e de novos incentivo à agricultura familiar, as portas de saída da mera assistência social. "Estamos passando as tropas em revista e mudando muita coisa", comentou a presidente. Nada disso, porém, prescinde do crescimento da economia. A seguir, a entrevista:

Valor: Qual o impacto do desastre no Japão sobre a economia mundial e sobre o Brasil?

Dilma Rousseff: Primeiro, acho que ficamos todos muito impactados. A comunicação global em tempo real cria em nós uma sensação como se o terremoto seguido do tsunami estivessem na porta de nossas casas. Nunca vi ondas daquele tamanho, aquele barco girando no redemoinho, a quantidade de carros que pareciam de brinquedo! Inexoravelmente, a comunicação faz com que você se coloque no lugar das pessoas! Essa é a primeira reação humana. Acredito, numa reflexão mais fria depois do evento, se é que podemos chamar alguma coisa de fria no Japão, acho que um dos efeitos será sobre o petróleo.

Valor: Aumento de preço?

Dilma: Vai ampliar muito a demanda de petróleo ou de gás para substituir a energia nuclear. Pelo que li, 40% da energia de base do Japão é nuclear. Os substitutos mais rápidos e efetivos são o gás natural ou petróleo. Acredito que esse será um impacto imediato. Nós sempre esquecemos da diferença substantiva entre nós e os outros países.

Valor: Qual?

Dilma: Água. Nesse aspecto somos um país abençoado. Não tenho ideia de qual vai ser a política de substituição de energia. Não sei como a Alemanha, por exemplo, vai fazer. Os Estados Unidos já declararam que não vão interromper o programa nuclear. Nós não temos a mesma dependência. Temos um elenco de alternativas que os outros países não têm. A Europa já usou todo o seu potencial hídrico. Energia é algo que define o ritmo de crescimento dos países e o Brasil tem na energia uma diferença estratégica e competitiva.

Valor: E tem o pré-sal. O governo poderia acelerar o programa de exploração?

Dilma: Não. Vamos seguir num ritmo que não transforma o petróleo em uma maldição. Queremos ter uma indústria de petróleo, desenvolver pesquisas, produzir bens e serviços e exportar para o mundo. Não podemos apostar em ganhos fáceis. Temos que apostar que o pré-sal é um passaporte para o futuro. Não vamos explorar para usar, mas para exportar. Queremos nossa matriz energética limpa e queremos, também, ter ganhos na cadeia industrial do petróleo. Esse é um país continental com uma indústria sofisticada e uma das maiores democracias do mundo. Não somos um paisinho.

Valor: A sra. acha que a tragédia no Japão vai atrasar a recuperação da economia mundial?

Dilma: Acredito que atrasa um pouco, mas também tem um efeito recuperador, de reconstrução. O Japão vai ter que ser reconstruído. É impressionante o que é natureza. Nem nos piores pesadelos conseguimos saber o que é uma onda de dez metros.

Valor: O esforço de reconstrução de uma parte do Japão deve demandar grandes somas de recursos. Isso pode reduzir o fluxo de capitais para o Brasil?

Dilma: Pode ter um efeito desses. Acho que vai haver um maior fluxo de dinheiro para lá e isso não é maléfico. Tem dinheiro sobrando para tudo no mundo. Para a reconstrução do Japão, para investir aqui e para especular.

Valor: O governo, preocupado com a taxa de câmbio, tem mencionado a necessidade de novas medidas. Uma delas seria encarecer os empréstimos externos para frear o processo de endividamento de bancos e empresas? A sra. já aprovou essas medidas?

Dilma: Primeiro, é preciso distinguir o que é dívida para investimentos do que é dívida de curto prazo. Imagino que quem está se endividando esteja fazendo "hedge". Todo mundo aí é adulto.

Valor: Mas o governo prepara um pacote de medidas cambiais?

Dilma: Tem uma coisa que acho fantástica. Às vezes abro o jornal e leio que a presidenta disse isso, pensa aquilo, e eu nunca abri minha santa boca para dizer nada daquilo. Tem avaliações de que um ministro subiu, outro desceu, que são absurdas. Absurdas! Falam que tais ministros estão desvalorizadíssimos na bolsa de apostas. Acho que o governo não pode se pautar por esse tipo de avaliação. Nenhum presidente avalia seus ministros dessa forma. E nenhum presidente pode fazer pacotes de acordo com o flutuar das coisas. Toma-se medidas que tem a ver com o que se está fazendo. Mas posso lhe adiantar algumas coisas.

Valor: Quais?

Dilma: Eu não vou permitir que a inflação volte no Brasil. Não permitirei que a inflação, sob qualquer circunstância, volte. Também não acredito nas regras que falam, em março, que o Brasil não crescerá este ano. Tenho certeza que o Brasil vai crescer entre 4,5% e 5% este ano. Não tem nenhuma inconsistência em cortar R$ 50 bilhões no Orçamento e repassar R$ 55 bilhões para o BNDES garantir os financiamentos do programa de sustentação do investimento. Não tem nenhuma inconsistência com o fato de que o país pode aumentar a sua oferta de bens e serviços aumentando seus investimentos. E ao fazê-lo vai contribuir para diminuir qualquer pressão de demanda. Hoje, eu acho que aquela velha discussão sobre qual é o potencial de crescimento do país tem que ser revista.

Valor: Revista como?

Dilma: Você se lembra que diziam que o PIB potencial era de 3,5%? Depois aumentou, e baixou novamente durante a crise global, pela queda dos investimentos, não? E aumentou em 2010, com crescimento de 7,5% puxado pelo aumento de bens de capital. Então, isso não é consistente.

Valor: A sra. comunga ou não da ideia de que é possível ter um pouquinho mais de inflação para obter um pouco mais de crescimento?

Dilma: Isso não funciona. É aquela velha imagem da pequena gravidez. Não tem uma pequena gravidez. Ou tem gravidez ou não tem. Agora, não farei qualquer negociação com a taxa de inflação. Não farei. E não acho que a inflação no Brasil seja de demanda.

Valor: Não?

Dilma: Pode ser que essa seja a divergência que nós temos com alguns segmentos. Nós não achamos que ela é de demanda. Achamos que há alguns desequilíbrios em alguns setores, mas é inequívoco que houve nos últimos tempos um crescimento dos preços dos alimentos, que já reduziu. Teve aumento do preço do material escolar, dos transportes urbanos, que são sazonais.

Valor: E a inflação de serviços que já passa de 8%?

Dilma: Há crescimento da inflação de serviços e isso temos que acompanhar. Mas o que não é possível é falar que o Brasil está crescendo além da sua capacidade e que, portanto, tem um crescimento pressionando a inflação. O mundo inteiro, na área dos emergentes, está passando por isso. Houve um processo de pressão inflacionária que tem componente ligado às commodities e, no Brasil, tem o fator inercial. Mas é compatível segurar a inflação e ter uma taxa de crescimento sustentável para o país. Caso contrário, é aquela velha tese: tem que derrubar a economia brasileira.

Valor: Derrubar o crescimento?

Dilma: Nós não vamos fazer isso. Não vamos e não estamos fazendo. Estamos tomando as medidas sérias e sóbrias. Estamos contendo os gastos públicos. Tanto estamos que os resultados do superávit primário de janeiro e fevereiro vão fechar de forma significativa para o que queremos. Vamos conter o custeio do governo. Estamos esfriando ao máximo a expansão do custeio. Agora, não precisamos expandir o investimento para além do maior investimento que tivemos, que foi o do ano passado. Vamos mantê-lo alto. Olhe quanto investimos em janeiro: R$ 2,5 bilhões pagos. O pessoal fala dos restos a pagar. Ninguém faz plano de investimento de longo prazo no Brasil sem fazer restos a pagar.

Valor: São mais de R$ 120 bilhões. Não está muito alto?

Dilma: Por quê? Ou nosso investimento é baixo ou é alto. Eu levei dois anos - 2007 e 2008 - brigando para fazer a BR-163, entre o Paraná e o Mato Grosso. É todo o escoamento da nossa produção e agora ela decolou. Está em regime de cruzeiro. Estamos nos preparando para ter uma forte intervenção nos aeroportos.

Valor: Intervenção como?

Dilma: Vamos fazer concessões, aceitar investimentos da iniciativa privada que sejam adequados aos planos de expansão necessários. Vamos articular a expansão de aeroportos com recursos públicos e fazer concessões ao setor privado. Não temos preconceito contra nenhuma forma de expansão do investimento nessa área, como não tivemos nas rodovias. Porque não fizemos a BR-163 quando eu era chefe da Casa Civil?

Valor: Por quê?

Dilma: Quando cheguei na Casa Civil havia um projeto para privatizá-la completamente. Esse projeto virou projeto de concessão e eu o recebi assim. Fomos olhá-lo e sabe quanto era o cálculo da tarifa média? R$ 900. Isso mostra que essa rodovia não era compatível com concessão. Talvez no futuro, quando tivesse que duplicar, fosse por concessão porque ela já teria se desenvolvido e criado fontes geradoras para si mesma. A Regis Bittencourt dá para fazer concessão, pois ela se mantém. O que não é possível é usar o mesmo remédio para todos os problemas.

Valor: E como será para os aeroportos?

Dilma: Vamos fazer concessão do que existe - fazer um novo terminal, por exemplo. Posso fazer concessão administrativa com cláusula de expansão. Posso fazer concessão onde nada existe, como a construção de um aeroporto da mesma forma que se faz numa hidrelétrica. É possível que haja necessidade de investimentos públicos em alguns aeroportos. O Brasil terá que ter aeroportos regionais. Nós vamos criar a Secretaria de Aviação Civil com status de ministério, porque queremos uma verdadeira transformação nessa área. Para ela irá a Anac, a Infraero e toda a estrutura para fazer a política.

Valor: Quando a sra. vai mandar para o Congresso a medida provisória que cria a secretaria?

Dilma: Estou pensando em mandar até o fim deste mês.

Valor: Quem vai ocupar a pasta da Aviação?

Dilma: Ainda estamos discutindo em várias esferas um nome para a aviação civil.

Valor: O nome do Rossano Maranhão não está confirmado?

Dilma: Nós sempre pensamos no Rossano para várias coisas. Não só eu. O presidente Lula também. Nós o consideramos um excepcional executivo.

Valor: Eu gostaria de voltar à questão da inflação. A sra. disse que não vai derrubar a economia e vai derrubar a inflação. É isso?

Dilma: Não é só isso. Eu não negocio com inflação.

Valor: Há quem argumente, na ponta do lápis, que não é possível reduzir a inflação de 6% para 4,5% e crescer 4,5% a 5% ao ano.

Dilma: Você pode fazer várias contas. É só fazer um modelo matemático. Agora, se ela é real...

Valor: Mesmo com o corte de R$ 50 bilhões nos gastos públicos, a política fiscal do governo não é contracionista de demanda. Ela é menos expansionista do que foi no ano passado.

Dilma: Ela é uma política de consolidação fiscal.

Valor: O que significa isso?

Dilma: É porque achamos que o que estamos fazendo não é... É como cortar as unhas. Vamos ter que fazer sempre a consolidação fiscal. Na verdade, temos que fazer isso todos os anos, pois se você não olhar alguns gastos, eles explodem. Se libera os gastos de custeio, um dia você acorda e ele está imenso. Então, você tem que cortar as unhas, sempre. Nós estamos cortando as unhas do custeio, vamos cortar mais e vamos fazer uma política de gerenciar esse governo. Estamos passando em revista tudo o que pode ser cortado e isso tem que ser feito todos os anos.

Valor: O que significa não negociar com a inflação do ponto de vista de cumprimento da meta?

Dilma: Significa que a meta é de 4,5% e nós vamos perseguir 4,5%. Tem banda para cima, banda para baixo (margem de tolerância de 2 pontos percentuais), mas nós sempre tentamos, apesar da banda, forçar a inflação para a meta até tê-la no centro.

Valor: Os mercados não estão acreditando nisso. Acham que o Banco Central foi frouxo no aumento dos juros, até porque o Palácio do Planalto teria autorizado um aumento de 0,75 ponto percentual e o presidente do BC (Alexandre Tombini) não usou essa autorização...

Dilma: Eu não vejo o Tombini há um mês, não vejo e não falo. Aproximadamente... eu lembro uma vez que ele viajou e a última vez que falei com ele foi antes dessa viagem.

Valor: O Tombini é "dovish" [neologismo inglês derivado de 'dove', pombo, que indica um defensor de juros mais baixas e com postura mais tolerante com a inflação]?

Dilma: E eu sou arara (risos).

Valor: Preocupa a descrença dos mercados na política antiinflacionária?

Dilma: O mercado todo apostou que esse país ia para o beleléu em 2009. E no fim de 2009 a economia já tinha começado a se recuperar. O mercado apostou numa taxa de juro elevadíssima quando o mundo já estava em recessão. Então eu acho que o mercado acerta, erra, acerta, erra, acerta. Não acho que temos que desconsiderar o mercado, não. A gente tem que sempre estar atento à opinião dele, que integra um dos elementos importantes da realidade. Um dos principais, mas não o único. Eu vou considerar essa história de "dovish" e "hawkish" (pombo ou falcão) uma brincadeira, um anglicismo.

Valor: Quando a sra. vai mandar para o Congresso a medida provisória que cria a secretaria?

Dilma: Estou pensando em mandar até o fim deste mês.

Valor: Quem vai ocupar a pasta da Aviação?

Dilma: Ainda estamos discutindo em várias esferas um nome para a aviação civil.

Valor: O nome do Rossano Maranhão não está confirmado?

Dilma: Nós sempre pensamos no Rossano para várias coisas. Não só eu. O presidente Lula também. Nós o consideramos um excepcional executivo.

Valor: Eu gostaria de voltar à questão da inflação. A sra. disse que não vai derrubar a economia e vai derrubar a inflação. É isso?

Dilma: Não é só isso. Eu não negocio com inflação.

Valor: Há quem argumente, na ponta do lápis, que não é possível reduzir a inflação de 6% para 4,5% e crescer 4,5% a 5% ao ano.

Dilma: Você pode fazer várias contas. É só fazer um modelo matemático. Agora, se ela é real...

Valor: Mesmo com o corte de R$ 50 bilhões nos gastos públicos, a política fiscal do governo não é contracionista de demanda. Ela é menos expansionista do que foi no ano passado.

Dilma: Ela é uma política de consolidação fiscal.

Valor: O que significa isso?

Dilma: É porque achamos que o que estamos fazendo não é... É como cortar as unhas. Vamos ter que fazer sempre a consolidação fiscal. Na verdade, temos que fazer isso todos os anos, pois se você não olhar alguns gastos, eles explodem. Se libera os gastos de custeio, um dia você acorda e ele está imenso. Então, você tem que cortar as unhas, sempre. Nós estamos cortando as unhas do custeio, vamos cortar mais e vamos fazer uma política de gerenciar esse governo. Estamos passando em revista tudo o que pode ser cortado e isso tem que ser feito todos os anos.

Valor: O que significa não negociar com a inflação do ponto de vista de cumprimento da meta?

Dilma: Significa que a meta é de 4,5% e nós vamos perseguir 4,5%. Tem banda para cima, banda para baixo (margem de tolerância de 2 pontos percentuais), mas nós sempre tentamos, apesar da banda, forçar a inflação para a meta até tê-la no centro.

Valor: Os mercados não estão acreditando nisso. Acham que o Banco Central foi frouxo no aumento dos juros, até porque o Palácio do Planalto teria autorizado um aumento de 0,75 ponto percentual e o presidente do BC (Alexandre Tombini) não usou essa autorização...

Dilma: Eu não vejo o Tombini há um mês, não vejo e não falo. Aproximadamente... eu lembro uma vez que ele viajou e a última vez que falei com ele foi antes dessa viagem.

Valor: O Tombini é "dovish" [neologismo inglês derivado de 'dove', pombo, que indica um defensor de juros mais baixas e com postura mais tolerante com a inflação]?

Dilma: E eu sou arara (risos).

Valor: Preocupa a descrença dos mercados na política antiinflacionária?

Dilma: O mercado todo apostou que esse país ia para o beleléu em 2009. E no fim de 2009 a economia já tinha começado a se recuperar. O mercado apostou numa taxa de juro elevadíssima quando o mundo já estava em recessão. Então eu acho que o mercado acerta, erra, acerta, erra, acerta. Não acho que temos que desconsiderar o mercado, não. A gente tem que sempre estar atento à opinião dele, que integra um dos elementos importantes da realidade. Um dos principais, mas não o único. Eu vou considerar essa história de "dovish" e "hawkish" (pombo ou falcão) uma brincadeira, um anglicismo.

Valor: Na visita do presidente Obama? Qual?

Dilma: Na área de satélites, especialmente para avaliação do clima, e parcerias em algumas outras áreas. Vou lhe dar um exemplo: acho fundamental o Brasil apostar na formação no exterior. Todos os países que deram um salto apostaram na formação de profissionais fora. Queremos isso nas ciências exatas - matemática, química, física, biologia e engenharia. Queremos parceria do governo americano em garantia de vagas nas melhores escolas. Nós damos bolsa. Vamos buscar fazer isso não só nos Estados Unidos, e de forma sistemática.

Valor: O que a sra. espera de fato dessa visita?

Dilma: Acho que tanto para nós quanto para os Estados Unidos o grande sumo disso tudo, o que fica, é a progressiva consciência de que o Brasil é um país que assumiu seu papel internacional e que pode, pelos seus vínculos históricos com os Estados Unidos e por estarmos na mesma região, ser um parceiro importantíssimo. Isso a gente constrói. Agora, essa consciência é importante. Nós não somos mais um país da época da "Aliança para o Progresso", um país que precisa desse tipo de ajuda. Não que a aliança para o progresso não tenha tido seus méritos, agora não é isso mais que o Brasil é. O Brasil é um país que os EUA tem que olhar de forma muito circunstanciada.

Valor: Como assim?

Dilma: Que outro país no mundo tem a reserva de petróleo que temos, que não tem guerra, não tem conflito étnico, respeita contratos, tem princípios democráticos extremamente claros e uma forma de visão do mundo tão generosa e pró-paz? Uma questão é fundamental: um país democrático ocidental como nós tem que ser um país que tenha perfeita consciência da questão dos direitos humanos. E isso vale para todos.

Valor: Para o Irã e para os EUA?

Dilma: Se não concordo com o apedrejamento de mulheres, eu também não posso concordar com gente presa a vida inteira sem julgamento (na base de Guantânamo). Isso vale para o Irã, vale para os Estados Unidos e vale para o Brasil. Também não posso dar uma de bacana e achar que o Brasil pode ficar dando cartas e não olhar para suas próprias mazelas, para o seu sistema carcerário, por exemplo, sua política com relação aos presos. E isso chega ao direito de uma criança comer, das pessoas estudarem. Isso é direito humano. Mas é também, no sentido amplo da palavra, o respeito à liberdade, a capacidade de conviver com as diferenças, a tolerância. Um país com as raízes culturais que nós temos, que tem uma cultura tão múltipla, e que tem esse gosto pelo consenso, pela conversa, tudo isso caracteriza uma contribuição que o Brasil pode dar para a construção da paz no mundo. Acho que o mundo nos vê como um país amigável.

Valor: A sra. disse recentemente que não fará reforma da previdência social. Mas a regulamentação da reforma da previdência do setor público que está parada no Congresso, será feita?

Dilma: Isso é outra coisa. Já está no Congresso e vamos tentar ver se ele vota. Mas não vamos tirar direitos do trabalhador, não. Nem vem que não tem!.

Valor: A regulamentação da previdência pública, com a criação dos fundos de previdência complementar, não seria apenas para os novos funcionários?

Dilma: É. Mas aí temos que ver como será feito. Não estamos ainda discutindo isso.

Valor: E a reforma tributária? Há informações que a sra. enviará quatro projetos distintos, mudando determinados tributos. É isso mesmo?

Dilma: Estão entrando no Brasil produtos importados com o ICMS lá embaixo. É uma guerra fiscal que detona toda a cadeia produtiva daquele setor. Mas não vou adiantar o que vamos enviar ao Congresso porque não está maduro ainda. Vamos mandar medidas tributárias e não uma reforma. Vamos mandar várias para ter pelo menos uma parte aprovada. Mandaremos também o Programa Nacional de Ensino Técnico (Pronatec) e o programa de Erradicação da Pobreza.

Valor: Como serão esses dois?

Dilma: Não posso lhe adiantar porque também não estão fechados. O Pronatec vai garantir que o ensino médio tenha um componente complementar profissional, de um lado, e, de outro lado, garantir que tenha uma formação para os trabalhadores brasileiros de forma que não sobre trabalhador numa área e falte em uma outra. Isso é um pouco mais complicado e não posso dar todas as medidas por que elas interferem em outros setores. Já a questão do ICMS é uma regulamentação que já está no Senado.

Valor: E a desoneração de folha salarial sai?

Dilma: Não posso lhe falar sobre as medidas tributárias.

Valor: São para este ano?

Dilma: Na nossa agenda é para este semestre.

Valor: Qual a proposta para a erradicação da pobreza?

Dilma: É chegar ao fim de quatro anos mais próximo de retirar da pobreza os 19 milhões de brasileiros que ainda faltam.

Valor: O instrumental é o Bolsa Família?

Dilma: Nos já começamos a mexer no Bolsa Família, aumentando a parte de crianças. É com isso, com uma parte do Pronatec, que vai ajudar, é com microcrédito, incentivo à agricultura familiar de uma outra forma. Estamos passando as tropas em revista e mudando muita coisa. E tem que ter sintonia fina. Há profissionais dedicados ao estudo da pobreza que diz que se você não focar, olhando a cara dela, você não consegue tirar as pessoas. E nós queremos, desta vez, estruturar portas de saída.

Valor: Para todos e não só para os 19 milhões a que a sra se referiu?

Dilma: Para todo mundo.

Valor: Uma porta de saída será o Pronatec?

Dilma: Também. As saídas estão aí e estão em manter a economia crescendo.

Valor: A reunião anual da Assembleia de Acionistas da Vale será dia 19 de abril. Nessa reunião deve se decidir sobre a permanência ou não do presidente Roger Agnelli, cujo contrato de trabalho termina dia 30 de abril. Ele será substituído ou pode ser reconduzido?

Dilma: Não sei.

Valor: A sra. não sabe?

Dilma: Você vai ficar estarrecida, mas não sei.

Fonte: Valor

quarta-feira, 16 de março de 2011

Martin Wolf e o Japão,

Martin Wolf, como sempre, uma leitura indispensável. Desta vez para entender, um pouco, o futuro da economia do Japão.


"Do que não se pode falar, é preciso ficar no silêncio". Assim o filósofo Ludwig Wittgenstein determinou limites a nosso discurso. Sobre o sofrimento e ansiedade de seres humanos fustigados pelas forças da natureza, não escreverei. Persiste, no entanto, a necessidade de avaliar as consequências para o Japão e o resto do mundo.

Se há alguma civilização acostumada a tais tragédias, essa é a japonesa. Seu povo vai superar. Uma questão maior é saber se o que emergirá da tragédia será algo mais positivo.

Quais são, então, as consequências econômicas de uma calamidade dessa escala? Mais diretamente, tal tragédia destrói a riqueza e desestabiliza a economia. É notável, neste caso, o impacto da calamidade nas atitudes em relação à indústria nuclear mundial. Os prejuízos terão de ser compartilhados entre os que os sofreram diretamente e as seguradoras, tanto privadas como públicas. Depois, virá uma onda de reconstrução, que realocará os gastos e, em tempos de vagarosidade econômica, provavelmente também os aumentará. Esse impacto nos gastos vai, por sua vez, afetar as posições fiscal e monetária do país, além da balança externa.

Tudo isso está claro, qualitativamente. É bem mais difícil fazer estimativas quantitativas razoáveis, até porque há uma crise nuclear em andamento. O Goldman Sachs, em sua maneira minuciosa, divulgou estimativa em torno a 16 trilhões de ienes (US$ 198 bilhões) para o custo total de danos a prédios, instalações produtivas e assim por diante. É 1,6 vez o valor da destruição provocada pelo terremoto de Hanshin, em 1995. Se a soma estiver correta, o custo será de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) e de menos de 1% da riqueza nacional. O mercado acionário japonês, no entanto, perdeu US$ 610 bilhões desde sexta-feira, 12% do PIB - provavelmente uma reação exagerada.

A desestabilização econômica desta vez será mais grave do que em 1995, em parte, pelas interrupções da energia elétrica. Muito dependerá da duração dessas interrupções. Se continuarem até o fim de abril, argumenta o Goldman Sachs, o declínio no PIB real no segundo trimestre deverá ser seguido por uma recuperação no terceiro trimestre. Se continuarem por todo o ano, o PIB deverá contrair-se em 2011.


De qualquer forma, parece extremamente improvável que o impacto será da mesma magnitude que o da crise financeira mundial, que derrubou o PIB do Japão em 10% entre os primeiros trimestres de 2008 e 2009, o maior declínio dentro do G-7, grupo dos sete principais países de alta renda. O impacto, desta vez, certamente será bem menor.

O golpe nas seguradoras será grande. Estimativas iniciais para a cobertura das perdas vão de US$ 10 bilhões a US$ 60 bilhões. Essas previsões vêm sendo elevadas constantemente. Poderá ser um dos desastres mais caros da história. Além disso, segue-se a dois grandes terremotos na Nova Zelândia e às enchentes na Austrália. O setor mundial de seguros será colocado à prova. Os governos, no entanto, são as seguradoras de última instância. Isso também será verdade no Japão. O setor bancário também perderá dinheiro. Os números das perdas, contudo, sugerem que não serão muito difíceis de superar.

Os gastos fiscais relacionados ao terremoto de Hanshin totalizaram 5,2 trilhões de ienes (US$ 64 bilhões) ao longo de cinco anos. Se o custo para o governo com o terremoto atual chegar a 1,6 vez o custo anterior, o total ficaria em torno a US$ 100 bilhões, o que representa 2% do PIB ou uma media anual de 0,4% do PIB em cinco anos. Também haverá algum impacto nas receitas fiscais. É cedo demais para ter confiança nesses números. Ainda assim, as somas são pequenas demais para ter qualquer influência significativa na solvência fiscal.

Previsões da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) colocam a dívida bruta governamental em 204% do PIB no fim deste ano e o endividamento líquido em 120%. O déficit fiscal do governo é previsto em 7,5% do PIB neste ano. Contra esses números, os custos esperados com a reconstrução pós-terremoto parecem quase uma bagatela. Além disso, o impacto de curto prazo de qualquer aumento nos gastos deverá ser benigno. No quarto trimestre de 2010, o PIB ficou 4% abaixo do nível em que estava no primeiro trimestre de 2008. Há espaço substancial para aumentos na demanda e elevações correspondentes na produção.

Algumas pessoas, olhando de fora, se perguntam se o governo do Japão pode arcar com gastos adicionais. Eles precisam fazê-lo: O Japão pode e inquestionavelmente pagará essas somas relativamente modestas. O setor privado japonês possui superávit financeiro grande o suficiente para cobrir o déficit do governo e exportar capital substancial ao exterior. O Japão, como um todo, é o maior credor mundial, com ativos externos líquidos equivalentes a 60% do PIB. Em resumo, os ativos do setor privado japonês excedem amplamente os passivos do setor público.

A dívida do governo é uma forma de o Japão dever dinheiro a si mesmo. Em algum ponto, sem dúvida, a dívida se transformará em tributação, seja aberta ou encoberta (esta última na forma de inflação e reduções no valor das dívidas governamentais japonesas). Como o total de arrecadação do governo ainda é de apenas 33% do PIB, elevar os impostos não deverá ser realmente complicado. A ideia de que o governo se depara com uma iminente crise fiscal me soa demasiado bizarra.

O banco central tem um papel importante a desempenhar na provisão de liquidez, o que vem fazendo. À medida que o capital japonês volte para casa, o iene se valorizará. As autoridades deveriam responder a isso tentando mantê-lo baixo. Minha visão de longa data é a de que nunca se deveria ter permitido o iene subir tanto. Se isso tivesse sido cumprido com determinação, teria detido a deflação.

Enquanto isso, o governo tem a oportunidade de unir o país em torno a um programa de reformas e de fortificação. O foco de tal programa não seriam esforços para elevar o crescimento da produtividade. Desde 1990, a produção japonesa por hora subiu tanto quanto a dos Estados Unidos. Um problema maior para o Japão é o superávit da poupança das empresas. Uma política que encorajasse as empresas a distribuir entre os acionistas bem mais de seus lucros ajudaria. Se isso ocorresse, os planos para cortar os déficits fiscais no longo prazo também funcionariam.

É na adversidade que um país mostra sua bravura. Os japoneses, certamente, farão exatamente isso nesta ocasião. Cabe aos líderes acompanhar a valentia do povo. Se tiverem capacidade de fazê-lo, a partir do grande desastre talvez ainda esteja por vir a ressurreição.

Fonte: Valor

terça-feira, 15 de março de 2011

Japão e Oriente Médio

O mercado esta nervoso e não sem razão: o perigo de contaminação radioativa preocupa e tem impacto psicológico negativo no curto prazo , a situação no oriente médio ficou ainda mais complicada com o pedido de socorro do país sede de importante base americana e, pior ainda, vizinho do maior produtor de petroleo. Este último evento me parece mais significativo, do ponto de vista econômico, do que a delicada situação no japão, ainda que, devo reconhecer, se os temores se realizarem, a industria nuclear sofrerá um forte abalo. Ainda não está claro o tamanho do impacto e as repercussões no mercado de energia.

O caso do Bahrein parece ser uma cópia da solução Líbia que, apesar dos protestos para a plateia, foi aceita pelo Ocidente, Alguem tem dúvida que o Ocidente resolveu dar um tempo para o grande coronel fazer o trabalho sujo? Naturalmente, há limites nesta opção, mas o fato é que, na pratica, sinaliza para os outros países da região que esta é uma opção viável, desde que ofereça resultado positivo em curto espaço de tempo.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Japão.

Qual o impacto da tragedia japonesa na economia mundial? Boa pergunta, mas é ainda cedo pra oferecer uma resposta. mas dificilmente será significativo. Em relação a própria economia japonesa o impacto deve ser maior no curto prazo, dois ou 3 meses, e menor no longo prazo. A sociedade japonesa já demonstrou possuir uma capacidade fantastica de superar tragedias e situações dificeis, como atesta sua performance no pós segunda guerra mundial.

domingo, 13 de março de 2011

sábado, 12 de março de 2011

sexta-feira, 11 de março de 2011

Zumbis


Ótimo artigo do Marcio Garcia, da PUC-Rio, sobre a reinvenção da roda pelos gestores da política monetária da nova administração.



A inovação cênica mais impressionante do desfile das escolas de samba no Rio foi a comissão de frente da Unidos da Tijuca, com seus mortos-vivos cujas cabeças despencavam bruscamente. Também na economia, ideias que pareciam enterradas voltam a empolgar alguns economistas. Para o bem de nossa economia, cabe reenviar tais zumbis econômicos de volta às sepulturas. Vamos a eles.

Tornou-se frequente o argumento de que, no governo Dilma Rousseff, o Banco Central (BC) teria passado a fazer uso de um conjunto mais diversificado de instrumentos, ditos macroprudenciais, para combater a inflação. Disso decorreria necessidade de menor elevação dos juros. Na realidade, tais instrumentos têm sido largamente usados na economia brasileira, há décadas, para conter a expansão do crédito. O principal deles, os recolhimentos compulsórios ao BC, atinge, no Brasil, provavelmente os níveis mais elevados no mundo há muitos anos. Prova disso é que o combate à crise pôde contar com a liberação de cerca de R$ 100 bilhões de compulsórios dos bancos, que muito ajudaram a restituir a liquidez. Os aumentos dos compulsórios em 2010, aliados a outras medidas que restringiram o crescimento do crédito, não constituem novidade entre nós. Após o Plano Real, quando a demanda agregada crescia perigosamente, o BC impôs grande aumento de compulsórios, instituindo até um inusitado compulsório sobre empréstimos bancários.

Temos, sim, larga experiência no uso de tais medidas administrativas no controle inflacionário. O problema é que, não obstante o auxílio que a liberação dos compulsórios possa ter prestado ao combate à crise em 2008, não é claro que o uso dos compulsórios para controle do crédito e da inflação seja uma experiência exitosa no Brasil (ou em outros países). A verdade é que os compulsórios foram aqui elevados em momentos em que a demanda agregada explodia e não se queria deixar todo o trabalho aos juros. Passada a explosão da demanda, a redução dos compulsórios foi sempre muito gradual, permanecendo seus níveis anormalmente elevados quando comparados a padrões mundiais.

Embora muito menos citados do que juros altos, compulsórios elevados, constituem, ao lado daqueles, a base da política monetária extremamente apertada necessária para manter a inflação sob controle desde o Plano Real, simplesmente porque a política fiscal tem sido tradicionalmente muito frouxa. Os bons macroeconomistas brasileiros estão roucos de afirmar a necessidade de mudar o mix de políticas macroeconômicas para se ter uma política fiscal menos expansionista e uma política monetária mais frouxa. Entretanto, nosso sistema político parece incapaz de gerar coalizões que consigam conter de forma duradoura a expansão de gastos públicos.

Também tem sido propalada a ideia de que, a partir da mudança no comando do BC, teria passado a haver melhor coordenação entre as políticas fiscal e monetária. Essa é uma avaliação pouco razoável, uma vez que a mudança se deu no comando do BC, que não responde pela política fiscal, a origem do problema. Como se sabe, manteve-se o mesmo ministro da Fazenda, que levou adiante a equivocada e eleitoreira expansão fiscal em 2010. Por que, então, a pretensa coordenação de agora deveria conduzir a uma melhor política fiscal?

As últimas medidas fiscais mostram que a essência de tal expansionismo não mudou. Em que pese a boa iniciativa do corte de despesas públicas deste ano, que precisa ainda ser complementada por um plano plurianual de controle do crescimento de gastos, o governo continua a expandir a demanda agregada com sucessivos e altamente onerosos aportes a bancos públicos, ao BNDES, sobretudo. Assim, é difícil que o uso de pretensos novos instrumentos de política monetária, ou o ilusório aprimoramento da coordenação BC/Fazenda, venha a permitir a redução permanente dos juros reais na economia brasileira sem colocar em risco o cumprimento da meta para a inflação.

Outro zumbi que afronta a economia é a presunção de que a convergência da inflação para a meta possa ser feita sem afetar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). A menos de imprevisíveis choques favoráveis, como a improvável queda dos preços de commodities, a redução da inflação acarretará, sim, custos de PIB e de desemprego. Se o desenho da política macroeconômica (monetária, fiscal e cambial) procurar elidir tais custos, é muito provável que a inflação não venha a convergir para a meta tão cedo.

Nunca é demais repetir. É fundamental que os condutores de nossa política econômica tenham claro que a volta da inflação à meta (4,5%) em 2012, dados o equivocado expansionismo fiscal de 2010 e os choques de custos que vêm do exterior, requererá, sim, que o PIB cresça aquém de seu crescimento potencial. Isso significa que o crescimento deste ano não poderá chegar a 4% e que serão necessárias decisões duras, como cortar despesas do governo na carne e interromper de vez os repasses aos bancos públicos.

Em suma, é ilusório achar que passamos agora a dispor de novo instrumental de política econômica que nos permitiria obter, sem custos, os benefícios de baixa inflação com crescimento. Tal discurso tem um risco muito conhecido, o da alta inflação. O Brasil ainda não completou a maioridade quanto ao controle inflacionário, duramente conquistado apenas em 1994. A reação dos agentes econômicos brasileiros à alta da inflação tende a ser muito maior do que a que se observa nos países que não viveram a hiperinflação. A ata do Copom, divulgada ontem, volta, apropriadamente, a mencionar a inércia inflacionária, e a advertir, indiretamente, contra a indexação de salários, como a regra adotada para a correção do salário mínimo ("um risco importante reside na possibilidade de concessão de aumentos nominais de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade"). Não convém brincar, é melhor deixar o zumbi da inflação bem enterrado.

Fonte: Valor

quinta-feira, 10 de março de 2011

Alexandre "eram os deuses astronautas" Schwartsman

A grande noticia durante o reinado do momo, foi a saída de Alexandre "eram os deuses astronautas" do cargo de economista chefe do banco espanhol. Sou cliente do banco e não fiquei nada feliz com a decisão, mas também conheço o seu ex-expregado e ate consigo entender a decisão. Fomos colegas por um curto período de tempo e como lecionavamos no mesmo dia, sempre era possível trocar algumas palavras. Ele era tucano e tinha uma pessima impressão do PT. Acertou em relação ao primeiro e errou feio na analise do segundo: sua participação no governo petista é prova do seu erro de avaliação. Política nunca foi o forte dele. Mas era e é um bom economista. Li e gostei muito da sua dissertação de mestrado, mas nunca compartilhei sua paixão pela teoria neoclássica e sua visão sobre o uso da matemática em economia. Admirador e estudioso de Sraffa e dos chamados neo-ricardianos, leitor de Wittgenstein, era difícil engolir as suas teses, apresentadas com a modestia que era - parece ainda ser - sua marca registrada.

O mais importante é que ele conhecia e gostava muito de economia e isto, no meu mundo, é o que realmente conta. Ótimo professor deveria voltar a Universidade e ajudar a criar um ambiente adequado ao debate acadêmico. Por enquanto o que temos é tão simplesmente tapinhas nas costas ...

quarta-feira, 9 de março de 2011

The new humanism


Ótimo artigo do Davi Brooks sobre individualidade e sociabilidade. Tema que, naturalmente, interessa ao economista, exceto se ele for da turma que se passa por economista e ou marxista talebã.



Over the course of my career, I’ve covered a number of policy failures. When the Soviet Union fell, we sent in teams of economists, oblivious to the lack of social trust that marred that society. While invading Iraq, the nation’s leaders were unprepared for the cultural complexities of the place and the psychological aftershocks of Saddam’s terror.
We had a financial regime based on the notion that bankers are rational creatures who wouldn’t do anything stupid en masse. For the past 30 years we’ve tried many different ways to restructure our educational system — trying big schools and little schools, charters and vouchers — that, for years, skirted the core issue: the relationship between a teacher and a student.

I’ve come to believe that these failures spring from a single failure: reliance on an overly simplistic view of human nature. We have a prevailing view in our society — not only in the policy world, but in many spheres — that we are divided creatures. Reason, which is trustworthy, is separate from the emotions, which are suspect. Society progresses to the extent that reason can suppress the passions.

This has created a distortion in our culture. We emphasize things that are rational and conscious and are inarticulate about the processes down below. We are really good at talking about material things but bad at talking about emotion.

When we raise our kids, we focus on the traits measured by grades and SAT scores. But when it comes to the most important things like character and how to build relationships, we often have nothing to say. Many of our public policies are proposed by experts who are comfortable only with correlations that can be measured, appropriated and quantified, and ignore everything else.

Yet while we are trapped within this amputated view of human nature, a richer and deeper view is coming back into view. It is being brought to us by researchers across an array of diverse fields: neuroscience, psychology, sociology, behavioral economics and so on.

This growing, dispersed body of research reminds us of a few key insights. First, the unconscious parts of the mind are most of the mind, where many of the most impressive feats of thinking take place. Second, emotion is not opposed to reason; our emotions assign value to things and are the basis of reason. Finally, we are not individuals who form relationships. We are social animals, deeply interpenetrated with one another, who emerge out of relationships.

This body of research suggests the French enlightenment view of human nature, which emphasized individualism and reason, was wrong. The British enlightenment, which emphasized social sentiments, was more accurate about who we are. It suggests we are not divided creatures. We don’t only progress as reason dominates the passions. We also thrive as we educate our emotions.

When you synthesize this research, you get different perspectives on everything from business to family to politics. You pay less attention to how people analyze the world but more to how they perceive and organize it in their minds. You pay a bit less attention to individual traits and more to the quality of relationships between people.

You get a different view of, say, human capital. Over the past few decades, we have tended to define human capital in the narrow way, emphasizing I.Q., degrees, and professional skills. Those are all important, obviously, but this research illuminates a range of deeper talents, which span reason and emotion and make a hash of both categories:

Attunement: the ability to enter other minds and learn what they have to offer.

Equipoise: the ability to serenely monitor the movements of one’s own mind and correct for biases and shortcomings.

Metis: the ability to see patterns in the world and derive a gist from complex situations.

Sympathy: the ability to fall into a rhythm with those around you and thrive in groups.

Limerence: This isn’t a talent as much as a motivation. The conscious mind hungers for money and success, but the unconscious mind hungers for those moments of transcendence when the skull line falls away and we are lost in love for another, the challenge of a task or the love of God. Some people seem to experience this drive more powerfully than others.

When Sigmund Freud came up with his view of the unconscious, it had a huge effect on society and literature. Now hundreds of thousands of researchers are coming up with a more accurate view of who we are. Their work is scientific, but it directs our attention toward a new humanism. It’s beginning to show how the emotional and the rational are intertwined.

I suspect their work will have a giant effect on the culture. It’ll change how we see ourselves. Who knows, it may even someday transform the way our policy makers see the world.

Fonte: NYTimes

terça-feira, 8 de março de 2011

segunda-feira, 7 de março de 2011

Average Joe: The Return of Stalin Apologists


Falar em retorno no grande bananão não me parece apropriado, principalmene na terra das jabuticabas exóticas, afinal eles nunca deixaram de ser dominantes, usando a velha rotina do seu venerado mestre. Alias, esta é ainda a melhor explicação pra vários eventos, afinal são conhecidos pela política de terra arrasada, onde somente erva daninha sobrevive .




For more than twenty years now, many thinkers in Russia have been free to reject Communism openly and borrow without fear or hesitancy from the latest Western intellectual fashions. This includes the West’s penchant for moral relativism, which has been embraced with particular enthusiasm by Stalin apologists, who have, in the manner of Holocaust deniers, been working feverishly to establish the Man of Steel’s innocence, in particular for the mass bloodletting of the Great Terror. The strange fruits of this revisionist endeavor, which has accompanied a general surge in Russian nationalism and imperialism, have cropped up in bookshops as shelves overflow with volumes adorned with Joseph Stalin’s face, sanitized of its pockmarks, the authors determined to “prove” the utter innocence of the Soviet leader. Apologetics of this order stopped forever after Khrushchev denounced his predecessor in 1956—or so it was thought. But in fact the freeze on Stalinism has been thawing ever since the fall of Communism two decades ago.

The Mystery of 1937, a work brought out in 2010 by the prestigious publishing house Eksmo as part of its “Classics of the Russian Thought” series, is representative of this growing publishing trend. The book consists of three long essays by Yurii Zhukov, Vadim Kozhinov, and Yurii Mukhin, whose collaboration seems calculated to rehabilitate the old adage that any transformation of Russia requires a serious tyranny. But Kozhinov argues that the history of the Great Terror is a record of falsification: both Lenin and Stalin meant well and their only mistake was the lack of control over the secret police apparatus. Moreover, had other leaders, such as Mikhail Tomski or Nikolai Bukharin (who were shot for “right-wing deviationism” in 1936 and 1938, respectively), seized power, the Great Terror would have been much more ruthless.

Who is responsible then for the millions of victims of the Soviet purge years? No one. All the bloodletting was the function of impersonal forces of history. In the Russian context, according to Kozhinov, such deaths were the more or less natural result of a Time of Troubles (velikaia smuta), which, “as everyone knows,” occur cyclically in Russian history. There are repeated downturns and crises in capitalism that cannot be prevented. Why not in Soviet history as well?

But in addition to being the result of the Time of Troubles, the Great Terror, according to Kozhinov, was also a period of imperial restoration for Russia. Is this a shocking logical misfire? No. It is a natural conclusion flowing from Marxist-Leninist dialectics, according to whose formula contradictions complement and pervade each other. Therefore, Kozhinov concludes (in logic recalling the tortured intellectual gymnastics of the Politburo) that restoration is a contradiction of revolution. The latter is utterly alien and damaging to Russia; the former is wholesome and healing. The less revolution occurs, the more the real Russia emerges. In fact, the restoration of Russia consists of countering the revolution in all its stages. Thus Stalin’s Great Terror, with its millions of deaths, was actually a counterrevolution (“understandably a very relative one”) to restore Russia.

While defending Stalin’s innocence, Kozhinov also touches upon the so-called “Jewish problem”—from which he also exonerates the Soviet generalissimo. Stalin and his minions have nothing in common with the Black Hundred pogromist legacy of the end of the czar’s regime. On the contrary, they really respected Jews. “Why while discussing the phenomenon of ‘the year 1937’ are so many Jewish names always mentioned?” Kozhinov asks. The explanation is obvious and entails the deployment of Marxist dialectics and social Darwinism. Jews poured into Russia in the wake of the 1917 revolution because the ban on Jewish migrations outside of the Pale of Settlement was abolished. There were officially only 6,400 Jews in Moscow in 1912 and 241,700 in 1933. Their ascent occurred further because members of the traditional Russian elite were exterminated. The Russian Jews replaced them through a “natural selection” process because, on the average, they were better educated than the rest of Russian society. The Jews adapted better to the new circumstances in the Soviet Union, and their “overrepresentation” in Stalin’s government and party institutions occurred “naturally,” just as the Great Terror did later on. Each was part of a complex social process of historical evolution that had little to do with Stalin himself. If Jews (and others) perished in the Terror, it was simply because of the inexorable forces of history. Jews were more heavily represented at the higher reaches of Soviet power than other groups, so more of them died.

Incidentally, Kozhinov is virtually the sole neo-revisionist of 1937 who brings up Soviet Jews. Unlike the National Bolsheviks and neo-Nazis in today’s Russia, the “mainstream” revisionists have tended not to play the Jewish card. If anything, they deny that there was Jewish participation (or “overrepresentation”) in Communism, which they, for nationalistic reasons, insist was purely a Russian affair.

In his contribution to The Mystery of 1937, Yurii Zhukov takes a different path but reaches a similar destination. For him, the reason why millions died was that Communist Party cadres failed to grasp that the Soviet leader was trying to turn away from the idea of world revolution, to embrace the concept of peaceful coexistence and essentially return to the paradigm of the Russian Empire. Instead of cooperating with these noble goals, Zhukov claims, party activists and the secret police defied Stalin by clinging irrationally to their outdated revolutionary ideals. Thus, it was only natural that they should be swept away from the USSR’s political scene. Regrettably, they dragged down many innocent people along with themselves, but clearly this was their fault and not Stalin’s. If these Communist activists had not insisted on indulging in revolutionary fantasies inimical to the country’s well-being, millions would not have died.

The third author of the book, Yurii Mukhin, whose prior work has argued, against compelling evidence from the former Soviet archives, that it was indeed the Germans and not the Soviets who massacred the Polish officers in the Katyn Forest during the Second World War, significantly ups the ante when he holds that the Great Terror occurred because the party’s “top brass” hated Stalin so irrationally that he was forced to purge them and their allies in the military to ensure the survival of the state. Mukhin also asserts that the deaths of “hundreds of thousands” of kulaks (or allegedly prosperous farmers) and representatives of the ethnic minorities were justified by the fact that they were furthering the plots of warmongering Adolf Hitler. The suggestion here is that while Stalin struggled heroically to strengthen Russia’s defenses, others throughout the Soviet ranks worked to undermine him hand in glove with fascist foreign enemies. The lone leader understood the threat and saved Russia through decisive measures.



The interpretations at the heart of The Mystery of 1937 can be seen in other works as well—most of them suggesting that events of the 1930s occurred precisely as the Communist Party mouthpiece Pravda described them at the time. At least that is the conclusion of A. B. Martirosyan’s 200 Myths about Stalin, published in 2008 by Veche. Martirosyan brazenly asserts that the terror of 1937 was not initiated by Stalin himself and that it is a lie to claim that he permitted the torture of prisoners during NKVD police interrogation sessions. Documents proving that the dictator sanctioned the bloodbath were brazenly falsified, according to Martirosyan. The most mendacious of all the charges is the claim that that there was no anti-Soviet conspiracy by Marshal Mikhail Tukhachevsky. The former chief of the Red Army was indeed a treasonous officer who deserved to be put against the wall without any discussion. All in all, Martirosyan demolishes forty-five pernicious myths about Stalin’s participation in the Great Terror. After this stupendous neo-revisionist tour de force, only the most bitter detractor would dare blame anything on the goodly Soviet dictator.

Mythbusting also abounds in 1937: The Principal Myth of the 20th Century, published jointly by Eksmo and Yauza in 2010, in which Dimitrii Lyskov augments and enriches Martirosyan’s approaches. He begins by stressing that “the thesis” about the hundreds of thousands, millions, or even tens of millions of victims of the Soviet system is a myth circulated by Mikhail Gorbachev as part of his effort to dismantle the Soviet Union. True, there was repression in the 1930s, but enemies of the people were likewise legally suppressed everywhere else in the world at the time. Lyskov also insists that we remember that at the time of the Great Terror, Soviet prisons held just as many inmates as American prisons. Does anyone accuse FDR of overseeing a repression? Why should Stalin and his people be singled out for having upheld the law? Why do we even talk about 1937? That year was nothing exceptional in terms of the Soviet system, Lyskov insists. There were more deaths during Russia’s Civil War (1917–22) and in the Great Famine (1932–33), as well as in its postwar replay (1946). What’s the big deal about 1937?

Now that Lyskov and his literary comrades have exposed the lies about Stalin’s murder of his opponents inside the Soviet regime, other post-Soviet intellectuals can get on with the job of glorifying the Great Leader and his henchmen. Thus Alexandr Sever openly lauds Stalin with the title of his book, The Secret of the Year 1937: The Great Mission of the NKVD (published in 2008 by Moscow’s Algoritm). By 1937, according to Sever, so much mendacity, falsehood, and corruption had insinuated itself into the Soviet system that someone had to clean up the whole racket. Good thing Joseph Stalin stepped in to save the situation—and backed by a figure who was nearly as heroic: secret police chief Lavrentii Beria, “the marshal of secret victories.”

A more sophisticated example of Stalinist apologetics came in 2009 when Yuza and Eksmo published Leonid Naumov’s ‘The Bloody Dwarf’ against the Leader of Nations: Yezhov’s Plot. Naumov considers the pro-Stalin historian J. Arch Getty, a UCLA history professor who has soft-pedaled the Great Terror for American audiences, to be his master. One of Getty’s more significant contributions to revisionism was the shifting of blame for the bloody purges from Stalin to Nikolai Yezhov, head of the NKVD in the mid-1930s. But this apparently didn’t go far enough, and Getty later exculpated Yezhov as well in a 2008 monograph published by Yale University Press (and coauthored with Oleg V. Naumov—apparently a distant relative of Leonid’s) called Stalin’s ‘Iron Fist’: The Times and Life of N. I. Yezhov, in which Getty and Naumov write, “Although it seems so from our liberal perspective, Yezhov’s cruelty was not in contradiction with the specific ideas of humanity and community he shared with his fellows.”

Leonid Naumov’s ‘The Bloody Dwarf’ is simply a variation on his mentor’s themes. In his introduction, the Russian apprentice explains that as far as the Great Terror goes, three competing interpretations exist in the post-Soviet world—all of them borrowing, consciously or not, from Western intellectual debates. First, there is the boring old “totalitarian school,” represented by such scholars as Nikita Petrov, currently the deputy head of Memorial, a Russian-based human rights organization. According to Petrov and his colleagues, it is fairly easy to establish who was responsible for the crimes, both at the levels of decision making and execution. The monstrosities of Communism materialized not as some deus ex machina, but rather they were conceived, debated, and implemented by particular individuals, beginning with Stalin himself.

The second interpretation of the Great Terror, according to Naumov, relies on the “modernization theory.” Its adherents argue that the atrocities of the 1930s derived not only from the ruthlessness of Stalin and his followers, but also, and perhaps primarily, from the objective necessity of the drive for industrialization. The Communists commenced a radical transformation of Russia’s society, which could not help but produce collateral damage. In this light, the Great Terror was not a result of the sinfulness of human nature but rather a stage in an inevitable historical process.

Third is the “revisionist orientation,” represented most prominently outside of Russia by J. Arch Getty and the University of Chicago’s Sheila Fitzpatrick, who sees the Great Terror as the consequence of the USSR’s newfound social mobility and concludes that in such chaotic political flux inadvertent atrocities were bound to be committed. This is obviously Naumov’s favored group. He delights in invoking the higher authority of these Western allies and the shrewdness of their ideas. He supports the positions of Getty and Fitzpatrick, but with some innovative caveats. According to the Russian revisionist, a plot to assassinate Stalin had probably been hatched by his comrades, and the Great Terror was simply a form of self-defense.

The following “truth” emerges from Naumov’s manipulation of circumstantial evidence: At the beginning of 1937, Stalin realized that “Yezhov’s group” had gained so much strength that it was capable of threatening his very power. Although he was not certain that his secret police boss was even contemplating an attack, in a knee-jerk spasm of better-safe-than-sorry self-defense, he resolved to preempt the alleged threat. Stalin was unable to act directly, however, because it could have endangered his own position. Therefore the Soviet dictator resolved to push Yezhov to undertake such actions against Nikolai Bukharin and others of his own “associates” who would eventually compromise the security chief and lead him into a trap. Simultaneously, the master of the Kremlin prepared a purge, or a cadre replacement, within the ranks of the political police. The men handpicked to spearhead the purge would ultimately destroy the Yezhov team. And precisely this came to pass.

Egged on by Stalin, as well as his own power lust, Yezhov launched the Great Terror. Once it was under way, Stalin tapped Lavrentii Beria to attack “the bloody dwarf” for errors and distortions, and then to replace him. Naumov further claims that even after he was fired as the Commissar of Internal Affairs, Yezhov was planning to overthrow Stalin during the commemorations of the Bolshevik seizure of power in 1938. In the end, the purged policeman concluded that he lacked the strength to execute his coup and decided to forgo this act of desperation.

Can the Great Terror then be considered as part of the Dostoyevskian dichotomy of crime and punishment? Naumov argues that it cannot. Another lecture on the dialectical forces of history is hardly necessary.



A mirror image of Nazi apologetics—including Holocaust denial—but without the moral and intellectual stigma, Stalinist revisionism has a long pedigree. Its initial, primitive version was actually offered up by Nikita Khrushchev in his “Secret Speech” at the Twentieth Party Congress in 1956. The most recent incarnation is the growing body of work suggesting that the time of Stalin was neither evil nor dark but, to the contrary, wholesome and enlightened. Even the former dissident Alexander Zinovev declared himself a dedicated Stalinist during the Yeltsin years. Even so, Zinovev’s Stalin: The Flight of Our Youth (published by Eksmo and Algoritm in 2002) is one of the best explanations of the transformation of attitudes among some of the Russian intelligentsia. In this confession-as-novel, the author assumes the persona of a Stalinist-careerist snitch. He sympathetically presents the dilemmas faced by such an individual and apologizes for acts that a decent human being would have to consider criminal.

Zinovev’s was an opening salvo of neo-revisionism. On the heels of his ruminations, there appeared such manifestos as Maxim—nomen omen—Kalashnikov’s Forward to the USSR-2, published by Pauza in 2003, in which the pundit openly calls for the restoration of the Soviet Union with all its totalitarian encrustations.

The current wave of Stalin nostalgia has a certain desperate brio and seeks the total expiation of the former dictator, facts be damned. Someone familiar with the Russian intellectual scene cannot help but be surprised not only by the sheer volume of books about Stalin’s innocence but also by their accessibility. Does all this mean that a new generation of Russian historians, failing to find a moral compass in Russia’s past, have resolved to forge Stalin into a new Ivan the Terrible or Peter the Great? Or does this reflect the continuing moral and intellectual confusion in the post-Soviet sphere? Or is it merely part of a delayed effort to rehabilitate almost anything that was challenged under Gorbachev and Yeltsin?

The year 1937 is a crucial symbol of the struggle between memory and Stalinist propaganda. It touched “foreigners” and also, on a vast scale, the Russian intelligentsia and people, including Communist Party members. The Great Terror of the Purges has more resonance for contemporary Russians than, say, the Holodomor (the Ukrainian famine), the Doctor’s Plot, or the Finnish Operations of the NKVD. Stalin apologists find it a far easier tool by which to augment the post-Soviet moral chaos that still characterizes Russian intellectual life.

After we had purchased a few of the books mentioned above at a bookstore in Kamenets Podolsk, a town that has been, by turns, Polish, Ottoman, Russian, and now Ukrainian, or, more precisely, post-Soviet, we asked the clerk if she had anything else on the same subject. She enthusiastically handed us two handsomely published volumes by Grigorii Klimov, who died in New York three years ago. The author argues in a highly sophisticated and scholarly way that “latent homosexuals” rule the world, including Russia. And their confederates are other “degenerates” and “passive lesbians,” the latter often “Jewesses.” We were tempted to say that this is different story. But maybe not.
Tomasz Sommer is a journalist, publisher, and editor and co-owner of the Polish weekly Najwyzszy Czas!. Marek Jan Chodakiewicz is the Kosciuszko Chair in Polish Studies at the Institute of World Politics. He translated and expanded Dr. Sommer’s original article.

Fonte:World Affairs Journal

domingo, 6 de março de 2011

sábado, 5 de março de 2011

sexta-feira, 4 de março de 2011

É hora de cortar...

O JN conseguiu a proeza de transformar uma boa noticia, o crescimento do PIB, em noticia ruim. Pior que ele somente o marxismo talebã e sua vocação irresistivel para o quanto pior melhor. O fato é que, conforme post/previsão no primeiro trimestre de 2010, o PIB ficou acima de 7%, mais precisamente, 7,5%. Quanto mencionava esta previsão a reação era, com raras exceções, invariavelmente, de incredulidade. Resta sempre, o consolo que santa da casa não faz milagre...

O fundamental agora é pensar o presente para garantir o crescimento sustentável no futuro e reconhecer que, infelizmente, um número como o do ano passado em 2011 não é bem vindo, já que seria acompanhado do velho e conhecido dragão inflacionário. É por isto que o corte de gastos não pode, não deve ser timido e tão pouco uma ficção. Não é recomendável delegar somente a política monetária a difícil tarefa de manter a inflação sob controle.

Para aqueles que consideram um equivoco apoiar a eleição da Dilma e criticar a timidez na gestão fiscal, apenas recordo que o outro candidato representava um projeto claramente de direita e, portanto, de defesa dos privilégios e a manutenção da secular injustiça social no grande bananão. A atual administração foi eleita para dar continuidade ao projeto de construção de um país socialmente mais justo e é um erro imaginar que isto é possível com uma política econômica populista e irresponsável...

quinta-feira, 3 de março de 2011

O vicio...

O Copom mais uma vez foi muito cauteloso e, me parece, equivocado: 0,5 não é, definitivamente, suficiente. Empurrar com a barriga e esperar alguma racionalidade por parte da Fazenda é perda de tempo. A lamentável performance da dupla dinamica parece não deixar dúvidas quanto a falta de vontade em relação aos cortes necessários para manter a inflação sob controle. Mais uma vez a política monetária será a única responsável pelo que resta de sanidade no estranho mundo da política econômica dos heterodoxos.

O caso brasileiro ilustra muito bem o problema da política anti-ciclica: é um vicio, quando deveria ser uma virtude.