segunda-feira, 30 de abril de 2012

Austeridade não é o remedio para todos os males..



Mais um belo presente da S&P para a Espanha : rebaixou a nota de 11 bancos espanhois. A medida já era esperada e , portanto, já havia sido antecipada pelo mercado. Ela, no entanto, vem reforçar o diagnóstico sobre a fragilidade de seus bancos e a necessidade, urgente, de recapitalização. O FMI já havia alertado para o problema e sugerido meios para resolve-lo. A solução obvia é o esquema do "Bad Bank" adotado pela Irlanda, com resultados, ainda, controversos, por piorar a situação fiscal do estado, tornando ainda mais dolorosa e demorada a retomada do crescimento econômico. Na atual situação da Espanha este modelo é totalmente inviável. Pensando nisto, a atual administração sugere uma variante deste modelo em que participariam somente os bancos com provisões adequadas para empréstimos duvidosos. Com isto seria possível separar o joio do trigo e aumentar a oferta de crédito, crucial para a retomada do crescimento econômico. A idéia é interessante, mas é difícil avalia-la sem conhecer maiores detalhes. No entanto é fato que ela seria uma opção melhor que simplesmente pedir socorro a União Européia, já que a perda de credibilidade levaria, inevitavelmente, a um pacote completo de bailout, que não interessa a ninguem. A solução seria mais simples e fácil caso o BCE pudesse desempenhar a função clássica de um banco central. Infelizmente, sabemos não ser o caso, devido a firme oposição teutônica.

A Espanha, naturalmente, continua na marca do penalti, mas não acredito na inevitabilidade de um bail out ao estilo grego, pelo simples e bom motivo que a sua economia é bem melhor e a causa da crise ser bem diferente. Insistir exclusivamente no caminho da austeridade é, no entanto, criar uma situação de profecia auto-realizada.

domingo, 29 de abril de 2012

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Nada de novo front...



Não é pessimismo exagerado afirmar que a economia espanhola vai ficar muito pior, antes de apresentar sinais de melhora. O desemprego está em 24.4%, atingindo 52% da força de trabalho abaixo dos 25 anos. Entrando em mais uma recessão que deverá ser profunda devido a politica de austeridade, recebeu um presente adicional da S&P: rebaixamento para "triple B plus". Dificilmente este será a última queda. Neste cenário não é de estranhar o patamar do yield do benchmark nesta sexta feira, 5.97%. Preocupa, também, a situação dos seus bancos. É um conjunto de más noticias que mantem a Espanha na marca do penalti.

A situação terrivel da economia espanhola, impacta negativamente sobre a italiana, como atesta o resultado do leilão de divida pública nesta sexta feira. O yield do benchmark alcançou 5.84%, contra 5.24% do leilão de marco e 5.72% no mercado secundário. É bem menos preocupante que a espanhola, mas a contaminação poderá criar uma situação de profecia auto-realizada nos dois países. O risco na italia, por enquanto é baixo, já na Espanha é alto.

No Imperio o crescimento foi menor que o esperado pelos otimistas de plantão, mas não por este pobre blogueiro. A recuperação tem sido anemica com momentos que lembra a falsa recuperação de um moribundo.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Poder da retorica e miseria da teoria...


Em interessante artigo no Valor desta quinta-feira, Oreiro, rebate o que ela chama de " velha cantilena[do pensamento ortodoxo] de que a injustiça social reinante em nosso país é resultado das políticas desenvolvimentistas em voga desde a era Vargas, que protegeram o setor industrial, atuando assim como catalizador de um processo injusto de redistribuição de renda da maioria da sociedade para alguns poucos setores privilegiados da economia brasileira". É fato reconhecido ate pelas velhinhas de Taubate que o padrão de desenvolvimento capitalista no Brasil, para usar uma expressão cara a conhecida escola de sociologia econômica do interior de sp,foi concentrador de rendas e reforçou um padrão secular de injustiça. A industrialização, sinonimo de desenvolvimento econômico, chegou a ser chamada, inclusive, também, de novo nome para a paz. A expectativa era imensa, mas o resultado, do ponto de vista da justiça social, ficou muito a desejar na grande maioria dos países. Ele é, obviamente, o resultado do tipo de industrialização/desenvolvimento econômico adotado e é necessario reconhecer este fato, pra construir o projeto de um desenvolvimento/industrialização que com inclusão social. E este é o grande detalhe ausente na agenda do auto-denominado novo desenvolvimentismo.

Também fato, reconhecido, por ele que a desvalorização do real produz uma redução do salário real. Retomando o argumento do Bresser Pereira, afirma ser , se for bem-sucedida, temporaria. E se não for bem sucedida? A historia econômica brasileira é um longo elenco de promessas, aos trabalhadores, que nunca foram honradas. Porque seria diferente desta vez? O empresário brasileiro sente saudades, para usar uma expressão do esforçado economista da ditadura, das tetas do Estado brasileiro, que sempre esteve a sua disposição, garantindo-lhe retornos de infame saudosa memória. Este padrão tem que ficar no passado e devemos criar um outro fundado na idéia de economia social de mercado, da combinação de uma pulsante e rica economia de mercado com justiça social. Todos sabemos que o mercado é o melhor meio já conhecido para criar riqueza, mas que esta longe de conseguir distribui-la respeitando o principio da justica social.

Para rebater o argumento do Oreiro não é preciso ser membro do pensamento ortodoxo, é suficiente conhecer o modelo kaldor-pasinetti.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Austeridade e inadimplencia


Com a inadiplência em alta os bancos privados, aparentemente, teriam um forte argumento para contrapor-se a demanda da atual de administração em relação aos juros. Não me parece ser o caso, já que a lucratividade dos bancos ainda se encontra em nível pra lá de saudável e o caminho para resolver o problema da inadiplencia é a formatação de um novo modelo de avaliação de crédito adequado ao novo cliente no mercado, a festejada nova classe média. Há, também, espaço pra melhorar o indice de eficiência que, no mundo de compadres, não era prioridade numero um. Agora passa a ser. A solução, como em outras áreas da econômia, é ganhos de eficiência. O resto é papo pra boi dormir.

Na área internacional já aparecem os primeiros sinais de stress entre o candidato socialista a presidência francesa e o governo alemão. Merkel não gostou nada da das criticas a política de austeridade e, devo reconhecer, ela tem razão. Apenas em parte, naturalmente. Os países que devem, obrigatoriamente, implementar políticas de austeridade, são justamente aqueles que dela discordam e adorariam continuar com a política que os colocou no atual bico de sinuca. O socialista, no entanto, tem razão, quando argumenta não ser ela uma receita para todos os países. Alguns -Alemanha e Holanda, por ex. - tem espaço para seguir política em sentido contrário , já outros, como a França, devem colocar a casa em ordem.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Chega de intermediarios, Coutinho no Bacen


Ótima entrevista com o presidente do BNDEs, Coutinho, um dos raros economistas do primeiro time da conhecida escola de sociologia econômica do interior. Confirma, aquilo, que já é quase certo: a taxa de juros deve continuar em queda. Reconhece não ser esta sua responsabilidade, mas se isto fosse realmente verdade, teria optado pelo silêncio, como escolheu a opção falar, é uma boa indicação de quem realmente da as cartas na area monetária na atual administração
.



A desaceleração da economia mundial, principalmente dos países asiáticos, abre uma "janela de oportunidade" para o Brasil reduzir os juros, na opinião do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). "Não há razão para o Brasil não testar taxas de juros mais baixas, e é o que o Banco Central está fazendo", disse Luciano Coutinho, durante conferência promovida pela Câmara Brasileira-Americana de Comércio.

O presidente do BNDES explicou que a desaceleração global está produzindo moderação nos preços das commodities, principais itens da pauta de exportação brasileira, e ajudando a manter a inflação em níveis mais baixos. Essa conjuntura favorece a redução dos juros no Brasil, mas Coutinho esclareceu, em rápida entrevista após o evento, que cabe ao BC decidir se e quando os juros vão cair.

"Eu não disse que o juro vai cair abaixo de 9%. Disse que a conjuntura internacional, onde os preços de commodities estão mais moderados, a inflação mundial vai estar mais baixa, onde houve uma desaceleração global, é uma janela de oportunidade que o Banco Central está usando. Até onde ele [o juro] vai é uma tarefa do BC, sobre a qual não me cabe fazer comentário ou recomendação", esclareceu.

Em sua palestra, Coutinho disse não acreditar que a economia chinesa vá sofrer um "hard landing" (um pouso forçado). Sua hipótese é a de uma desaceleração suave, com a China crescendo 8,1% em 2012. Esse cenário, à medida que diminui a pressão por importação de commodities brasileiras, também representa uma oportunidade para o Brasil. "É uma oportunidade para termos uma moeda menos apreciada." A desaceleração da Ásia, explicou, é em alguma medida um "cenário bom" para o Brasil, uma vez que permitirá um maior equilíbrio da economia mundial.

Coutinho informou que, possivelmente motivada pela queda da taxa básica de juros (Selic), a demanda por papéis privados de longo prazo está crescendo, o que permitirá ao BNDES mais adiante diminuir sua participação na concessão de crédito de longo prazo, hoje predominante. Segundo ele, há "aperfeiçoamentos" a serem feitos para estimular as operações privadas de prazos maiores, uma agenda na qual vem trabalhando desde o governo Lula. "As condições estão melhorando. Nós enxergamos um potencial já em 2012 de ampliação do mercado de renda fixa privado de longo prazo", assinalou o presidente do BNDES, acrescentando que será necessário desenvolver um mercado secundário de títulos privados.

"O mercado secundário é um pouco ovo e galinha. É preciso que os bancos emissores façam mais 'trading' [negociação de papéis] de curto prazo. Nós mesmos [o BNDES] intensificamos as nossas operações de 'trading' porque, se todo o mundo negocia no curto prazo, a liquidez aumenta. Estamos em entendimento com vários agentes de mercado nos últimos meses para aumentar a liquidez", revelou.

Coutinho acha que os bancos privados têm reagido de forma "cooperativa" na redução dos spreads bancários, em processo forçado por bancos estatais por decisão do governo. Para o presidente do BNDES, há ainda no Brasil, por parte dos investidores, a mentalidade de que os papéis precisam ter rentabilidade alta, liquidez imediata e baixo risco.

"Isso tem a ver com uma cultura que se criou no Brasil, que, para evitar a dolarização, criou uma série de superatrativos para ativos em nossa moeda, uma espécie de quase-moeda de curto prazo. Acho que está na hora de começarmos a nos mover. Isso não se faz de uma forma a destruir confiança. Faz-se de um forma a criar outros ativos, à medida que os juros caem, mais atrativos porque combinam um tratamento tributário e regulatório mais favorável e oferece ao investidor uma alternativa melhor, e ele vai migrando", explicou.

Ele disse que, depois de um 2011 ruim, os investimentos estão voltando. Pesquisa do BNDES mostrou que, no primeiro trimestre, embora os desembolsos tenham recuado 1% em relação ao mesmo trimestre de 2011, as consultas das empresas cresceram 37%. A expectativa do governo é que a taxa de investimento, que vem crescendo, em média, 6% ao ano, avance pelo menos 8%, o dobro do crescimento anual médio esperado para o Produto Interno Bruto (PIB).

O presidente do BNDES, que participa hoje em Nova York de seminário organizado pelo Valor em parceria com o "Financial Times" sobre a Rio +20, explicou que uma boa parte dos investimentos que vêm sendo feitos no Brasil não tem risco de demanda. São investimentos em infraestrutura realizados pelo setor privado por meio de contratos de concessão e parcerias-público-privadas (PPPs). "É um modo mais eficiente de alavancar recursos e investimentos", comentou. "Os desembolsos do BNDES para projetos de infraestrutura crescem há dois anos a uma taxa de 25% ao ano. Em 2012 e 2013, crescerão acima de 25%."

Fonte: Valor

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Alta ansiedade



Mais uma segunda feira de alta ansiedade, causada, fundamentalmente, pelo resultado do primeiro turno da eleição presidencial na França e queda de governo na Holanda. Na França, alem da vitoria apertada do socialista, há um complicador adicional: o bom resultado obtido pela extrema direita. Se somarmos os votos da oposição, fica claro a rejeição da política que esta sendo usada para resolver o crise na zona do euro. Na Holanda, o problema é a recusa do partido mais a direita em apoiar medidas de austeridade que o primeiro ministro do país apoiou com grande ardor em outros paises. Em outras palavras, o governo da Holanda é mais um que é apeado do poder devido a política de austeridade e se o resultado frances for mantido no segundo turno, Sarkozy também tera sido mais uma vitima. A queda destes governos, pela vida democratica das urnas, é bem diferente do ocorrido na Grecia e na Italia, porém tem em comum, a falta de legitimidade das politicas que vem sendo adotadas e isto é muito perigoso porque abre espaço para os extremos do arco político, principalmente a direita. Já a extrema esquerda, por enquanto, é boa em organizar grandes comicios, mas ruim de voto.

Como resultado, aumentou o spread dos titulos de 10 anos em relação ao equivalente alemão: 79 pontos-base o holandes e 145 pontos-base o frances. Não será nenhum surpresa se o holandes perder um dos A.

domingo, 22 de abril de 2012

sexta-feira, 20 de abril de 2012

O ceu ainda não é de brigadeiro...

A semana que começou com alta ansiedade em relação ao leilão de divida espanhola na terça e na quinta, termina mais aliviada como o bom resultado deste último leilão e com a excelente noticia sobre o reforço no caixa do FMI: 430 bilhões, na forma de emprestimos, que não implica em alteração na distribuição de quotas. Vale destacar a participação dos paises emergentes nesta rodada de empréstimos, apesar da demanda deles por aumento no capital do FMI e consequente redistribuição no poder da organização para refletir o novo cenário econômico mundial. Em outras palavras, querem mais poder o que não é bem vindo seja do ponto de vista norte americano ou europeu, felizes que estão com o status quo. Se concordaram com o emprestimo, a ser efetivado, na grande maioria, no próximo encontro em junho é porque receberam em troca, pelo, menos a promessa que a questão será discutida durante este encontro.É bom lembrar que trata-se de um compromisso/promessa e em tese poderá resultar em valor menor que o anunciado. Ele vem em boa hora e aumenta sobremaneira a capacidade de reação no caso de piora da situação na zona do euro. Ele, no entanto, não exclui a necessidade de aumento de capital - e realocação no poder no FMI- pra enfrentar um cenário, pouco provável no momento, de resgate de Espanha e Italia. Outra noticia encourajadora vem da Alemanha: pelo sexto mês consecutivo o "ifo business climax" apresenta evolução positiva, ou seja melhora, consistente, no espirito animal do empresário.

Enquanto isto, no grande bananão, como esperado, nova queda na taxa de juros e dificilmente esta deverá ser a última. A atual administração esta determinada a traze-la para um nível que ela considera mais civilizado, independente, dos riscos de um repique inflacionário a partir do segundo semestre e, seguramente, no próximo ano. Na mesma tocada segue a sua política cambial que no melhor cenário apenas da uma sobrevida a setores da industria, mas que podera, em contrapartida, colocar mais lenha na fogueira da pressão inflacionária. Reafirma, com isto, a aposta no crescimento com alguma inflação no futuro que, como sabemos, é parte do mantra dos velhos desenvolvimentistas que pelo andar da carruagem foi incorporado ao receituario do auto-denominada novo desenvolvimentismo, que pelo jeito de novo tem muito pouco.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Uma andorinha so não faz verão...

O volume leiloado foi pequeno, 1.43 bilhões de euros de titulos de 10 anos e 1.1 bilhões de titulos de 2 anos, mas a demanda foi muita boa e o yield, 5.74%, levemente superior ao de janeiro, 5.40%. No mercado sencundário o benchmark(titulo de 10 anos) subiu 7 pontos-base, 5.86%, enquanto o italiano encontra-se em 5.54%, 10 pontos-base do valor de ontem. Como mencionado em outro post era um leilão importante, um teste, segundo o FT, que a Espanha conseguiu passar. Dado o pequeno volume é prematuro afirmar que ela deixou a marca do penalti: ela continuou lá e os solavancos e ataques de nervos vieram pra ficar, já que há, de fato, razões para tal comportamento: bancos que precisam de capitalização urgente, a lamentável situação fiscal das regiões autonomas( inclusive as governadas pela direita), nenhuma perspectiva de crescimento para os próximos dois anos, entre outras.

Ainda não esta confirmado, mas parece que a venda da petroleira estatizada na Argentina, estavava sendo negociada com uma empresa chinesa, pelo valor de 15 bilhões. Se for verdade, fortalece o argumento argentino e abre a possibilidade de uma nova privatização, com um novo marco regulatorio que responda aos interesses da Argentina e do novo proprietário. Mante-la sobre controle público não parece ser a melhor opção, haja vista, a necessidade de novos investimentos que, sabidamente, o estado argentino não tem condições de realizar. O pragmatismo e o interesse nacional argentino recomenda uma nova privatização.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Se ficar o bicho pega, se correr o bicho come

O FMI, finamente, descobriu o ovo de Colombo: o processo de desalavancagem dos banco da zona do euro podera levar, nos próximos 18 meses, a forte reduçao nos seus balanços( 2 tn de euros) e contração na oferta de crédito. Este processo já esta ocorrendo, como mencionado em um post antigo, e é resultado da exigência de maior solidez dos balancos dos bancos. Como a capitalização tradicional esta dificil , o caminho que resta é a venda de ativos e redução de empréstimos. Uma outra alternativa, sugerida pelo Blanchard, é injetar recursos publicos diretamente nos bancos, ou seja torna-lo quase bancos públicos. Esta foi a politica adotada no Reino Unidos e em outros países no auge da crise econômica e que, sabidamente, enfrenta forta resistência por parte de segmentos importantes da população da zona do euro obrigada a apertar os cintos por culpa, em grade parte, do comportamento pouco virtuoso destes mesmos bancos. É a velha historia: privatização dos lucros, socialização dos prejuizos, porém, a alternativa, é ainda pior, pois agrava a crise econômica e em última instancia o bem estar da maioria da população.

É sem dúvida uma situação delicada e quem vem somar aos outros problemas da zona do euro, como é o caso, da equivocada politica de austeridade para todos os paises, como cura para todos os males. O correto, como argumentamos em vários posts, é um mix de austeridade e politica expansionista, de acordo com a analise caso a caso, ou seja dos fundamentos de cada país da zona do euro. Uma regra única não é, seguramente, a solução, mas o beijo da morte para alguns países...

terça-feira, 17 de abril de 2012

A nossa mais charmosa colonia...

Recentemente um respeitável economista de esquerda declarou seu apreço pela política econômica argentina. Confesso que à epoca fique perplexo, mas como o admiro e respeito, fiquei em silêncio. Fico pensando qual foi a sua reação a noticia da estatização da petroleira de propriedade espanhola. Provavelmente, deve aprovar. Este pobre bloqueiro, reacionário segundo a turma que se passa por economista pelas bandas do meu prato predileto, considera esta mais uma tolice do conjunto de esquerdismo infantil da nossa mais charmosa colonia. A decisão piora, naturalmente, a visão que o mercado internacional dela tem, mas a sua preocupação, principal, parece ser somente com o público interno. Um ato a mais no grande circo em que se transformou a Argentina e mais barato, convenhamos, que uma nova invasão das Malvinas. Cai como uma luva para encobrir os equivocos da sua política econômica, mas, como não é solução, apenas posterga o conhecimento da verdade.

Imagino que no seu intimo há forte desejo de também pegar pesado com a petroleira brasileira. Em parte isto já vem ocorrendo, mas com o cuidado de não melindrar o governo brasileiro. Ate quando, sabe se lá. Há, por acaso, algum metodo nesta loucura? Acredito que a resposta é não. Dai, tudo ser possível. Nossa colonia parece ter um desejo irresistivel de ficar sozinha, de viver em total solidão. Quem somos nos para dizer não?

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Espanha ainda na marca do penalti...

A semana começa como terminou na sexta-feira: mercado nervoso com expectativas pessimistas sobre o futuro da economia espanhola, traduzido em aumento de 9 pontoS-base no benchmark espanhol, fechando em 6.07%, com impacto sobre o italiano de mesma maturidade, que subiu 7 pontos-base e esta em 5.59%. Como mencionado, no post de sexta feira, amanha tem leilão de titulos espanhois de curto prazo e na quinta-feira de titulos de 10 e de 2 anos.

A situação fiscal da Espanha é perfeitamente administrável, apesar do comportamento pouco virtuoso das regiões autonomas sobre forte pressão pra dançar conforme a música de Berlim ou perder parte significativa da autonomia duramente conquistada. A direita espanhola velha de guerra, defensora de uma Estado centralizado e, se possível, sem regiões autonomas, saliva de prazer diante da possibilidade de finalmente realizar o seu sonho dourado. Ironicamente, possível, graças a incompetencia dos socialistas espanhois.

O calcanhar de aquiles espanhol são seus bancos que precisam urgentemente de nova capitalização via mercado o que não é nada fácil no momento atual. Recorrer ao BCE, por enquanto, ainda não é uma alternativa, mas poderá tornar-se inevitável muito antes do que se imagina. Aos poucos, tambem, o mercado começa a reconhecer que a austeridade vai deixar, no curto prazo, a situação ainda pior o que podera traduzir-se em conflitos politicos e sociais. Em outras palavras, austeridade = ausencia de crescimento = aumento no desemprego = queda de arrecadação, que ,somados, é um Deus nos acuda...

domingo, 15 de abril de 2012

sexta-feira, 13 de abril de 2012

A beira de um ataque de nervos...

Sexta-feira com as principais bolsas em territorio negativo e o benchmark espanhol(titulo de 10 anos) rompendo a barreira dos 6% e custo do seguro contra o default em niveis perigosamente elevados. A Espanha continua na marca do penalti e a beira de um ataque de nervos com o novo governo, de direita, usando a situação econômica para tentar reverter o grau de autonomia conquistado por regiões como Catalunia, País Basco e Andaluzia, entre outras. É verdade que a gestão fiscal destes entes autonomos tem ficado muito a desejar e a continuidade desta pratica coloca, naturalmente, em risco o pacote econômico da nova administração. O enquadramento fiscal destas regiões é, portanto, necessário, sem , no entanto, atingir em cheio a autonomia. Missão, sem duvida, muito dificil e que podera criar ainda mais tensão política que é tudo que a Espanha não precisa no momento. É sempre bom lembrar que o risco de contaminação é real, como podemos verificar no comportamento do benchmark italiano na semana passada. A situação é delicada e o próximo capitulo deste dramalhão é o leilão de titulos espanhois na terça feira da próxima semana. Melhor relaxar no fim de semana.

Enquanto isto a China continua em processo de "soft landing" sob a competente batuta da sua autoridade econômica. É sem dúvida uma ótima noticia, já que havia o temor de um movimento mais brusco que seria um risco pra infartada economia mundial. Já no grande bananão, continua a novela da taxa de juros, com os bancos, como de costume, defendendo com unhas e dentes sua posição e exigindo contrapartidas da União para reduzir os juros e ampliar o credito. O comportamento dos bancos é indefensável, haja vista a sua escandolosa lucratividade, e o resultado, se mantida a posição atual, é perda de fatia de mercado. O HSBC concordou em reduzir a sua taxa minima, sem alterar a máximo, o que é um bom sinal, porém não implica, necessariamente, em queda nas taxas praticadas.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Mais piadas...

Um dia um homem entrou na biblioteca, foi a seção de referência e pediu por livros de economia. Para a surpresa da bibliotecária nenhum dos livros de economia estavam na seção de referência. "Não há problema. Eu posso ir a outra biblioteca. Sou um homem muito ocupado e tirei este fim de semana para estudar economia"
Curiosa com a figura, a bibliotecária não resistiu e perguntou ao sujeito: "Mas por que é tão urgente para o senhor estudar economia ?"
"É que eu sou economista. Estou dando aulas nesta universidade já fazem dez anos. Como eu tenho uma importante reunião da segunda-feira, imagino que a economia tenha mudado nos últimos dez anos."


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Uma mulher estava caminhando pela vizinhança quando um menino dirigiu-se a ela: "Senhora, você gostaria de ter estes cachorrinhos ? Eles são recém-nascidos, mas daqui a pouco já podem se mudar"
"Oh, que bonitinhos! Que raça são eles ?"
"São economistas."
A mulher gostou dos cachorros e falou com seu marido. Uma semana depois o marido viu os cachorros.
"Senhor, gostaria de um cachorrinho ?"
"Minha mulher falou com você há uma semana atrás. Que raça são eles mesmo ?"
"São analistas de decisão"
"Imaginei que minha mulher tivesse dito que eram economistas."
"Claro, é que eles abriram os olhos durante esta semana."


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Dois guardas estavam perseguindo um bandido. Um deles então começou a calcular a estratégia mista ótima para a perseguição, enquanto outro protestou: "Você está bobeando! Ele está fugindo!", "Relax", respondeu o policial adepto a Teoria dos Jogos."Ele estará pensando no assunto também, não estará ?"


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Um economista experiente e um economista não tão experiente estavam andando, quando avistaram uma merda na calçada.
O economista experiente falou: "Se você comer esta merda eu te dou $ 20.000,00". O economista não experiente calculou o problema de otimização e concluiu que o ótimo seria comer a merda a fim de pegar o dinheiro.
Os dois continuaram andando pela rua até que quase pisaram em outra merda. O economista não tão experiente disse: "Agora se vo-cê comer esta merda eu te dou $ 20.000,00."
Após avaliar cuidadosamente, o economista experiente comeu a merda e pegou o dinheiro.
Continuaram caminhando, enquanto o economista não tão experiente divagava: "Veja, nós dois temos a mesma quantidade de dinheiro que tínhamos antes, mas ambos comemos merda. Eu não nos vejo em uma posição ótima."
O economista experiente disse. "Bem, é verdade, mas você está subestimando o fato de que nós dois estivemos envolvidos num comércio de $ 40.000,00!"

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Martin Wolf e o Bundesbank


Wolf é um dos melhores analistas econômicos da midia anglo-americana e por isto sempre vale a pena ler o que ele escreve, mesmo sabendo que sua analise da crise da zona do euro mostrou-se exageradamente pessimista e, em vários aspectos, equivocada. Ele acerta, no entanto, na avaliação do Bundesbank, cujo comportamento tem sido lamentavelmente pouco inspirador e mais destrutivo que construtivo, confirmando, que filosofia é realmente o forte da Alemanha
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How far has the eurozone come towards resolving its crisis? The optimistic answer would be that it has rescued itself from a heart attack, but must still manage a difficult convalescence, with a good chance of further attacks. It must also adopt a regime able to protect itself against future crises. This task, too, is incomplete. But the eurozone has secured time. The big question is how well it now uses it.
Arguably, the crucial step is to agree on the nature of the illness. On this, progress is now being achieved, at least among economists. It is widely accepted that the balance of payments is fundamental to any understanding of the present crisis. Indeed, the balance of payments may matter more in the eurozone than among economies not bound together in a currency union. Hans-Werner Sinn of CESifo, in Munich, has done much to explain, in his words, that “the European Monetary Union is experiencing a serious internal balance of payments crisis that is similar, in important ways, to the crisis of the Bretton Woods System, in the years prior to its demise.” A special issue of the CESifo Forum, published in January 2012, is dedicated to this theme. In March, Bruegel, a Brussels-based think-tank, published a seminal paper on “Sudden Stops in the Euro Area”. Then, in late March, Jens Weidmann, president of the Bundesbank, explored the issue in a speech in London on “rebalancing Europe”.

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In the years of euphoria prior to the financial crisis, private capital flowed freely, not least into countries in southern Europe. Greece, Portugal and Spain ran current account deficits of 10 per cent of gross domestic product, or more. These financed huge excesses of spending over income in private sectors, public sectors, or both. These economic booms also generated large losses in external competitiveness.
Then came the “sudden stops” in private inflows. As the Bruegel paper notes, such stops occurred during the global crisis of 2008 (affecting Greece and Ireland), in the spring of 2010 (affecting Greece, Ireland and Portugal) and, finally, in the second half of 2011 (affecting Italy, Portugal and Spain). In some cases, what happened went beyond a mere stop in inflows. Ireland, for example experienced large capital flight. Of course, when capital ceased to flow to the private sector, activity collapsed and the fiscal position worsened dramatically.
The eurozone was unprepared for such an interruption in cross-border finance: it was believed impossible. Once the stops had happened, the eurozone had two options: force external adjustment on countries shut out of the markets or finance them via official sources. The second was the chosen option, with the European Central Bank the dominant source of finance, in its role as lender of last resort to banks. The ECB has become the “European Monetary Fund” (see charts).
So what is to be done? Mr Weidman describes what he calls a “typical German position”. This is that “the deficit countries must adjust. They must address their structural problems. They must reduce domestic demand. They must become more competitive and they must increase their exports.”
What, in this, is the role of the surplus countries? On this, Mr Weidmann is clear: “it is sometimes suggested that rebalancing should be undertaken by ‘meeting in the middle’, that is by making surplus countries such as Germany less competitive. This suggestion implies that the adjustment as such would be shared between deficit and surplus countries. But the question we have to ask ourselves is: ‘where would this take us? ... [H]ow can Europe succeed ... if we ... give up our hard-won competitiveness? To succeed, Europe as a whole has to become more dynamic, more inventive and more productive.”
Alas, these remarks confuse productivity with competitiveness. Yet these are distinct: the US, for example, is more productive, but less competitive, than China. External competitiveness is relative. Moreover, at the global level, the adjustment must also be shared. Mr Weidmann knows this. As he says, “of course, surplus countries will eventually be affected as deficit countries adjust”. The question is by what mechanism.
The external competitiveness of the eurozone depends on the exchange rate. Yet that is not a policy variable. Members can only seek to improve their competitiveness vis a vis one another. That is exactly what Germany did in the 2000s. Now this must be reversed. Goldman Sachs has provided two excellent pieces of research on what this might imply (“Achieving fiscal and external balance”, March 15 and 22). It concludes that, to achieve a sustainable external position, Portugal needs a real depreciation of its exchange rate of 35 per cent, Greece one of 30 per cent, Spain one of 20 per cent and Italy one of 10-15 per cent, while Ireland is now competitive. Such adjustments imply offsetting appreciation in core countries. Moreover, with average inflation of 2 per cent in the eurozone and, say, zero inflation in currently uncompetitive countries, adjustment would take Portugal and Greece 15 years, Spain 10 years and Italy 5-10 years. Moreover, that would also imply 4 per cent annual inflation in the rest of the eurozone.
Might such an internal adjustment even occur naturally? Yes, it might. At present, the ECB is pursuing an expansionary policy. At the same time, German banks surely want to lend more at home. A huge lending boom in Germany would be a big help. But suppose that did not happen. Then today’s austerity-blighted eurozone would end up with a prolonged period of weak demand. It might, as a result, generate a large shift in its net exports. For the rest of the world, that would be a beggar-my-neighbour policy, impossible to tolerate in hard times. For the eurozone to pursue such a policy, while asking outsiders to increase their finance of its members in difficulty, via additional resources for the International Monetary Fund, would add insult to injury. The outsiders should just say no. They should insist, instead, that additional support must be predicated on two-sided adjustment inside the zone.
The good news is that agreement is emerging on the role in the crisis of the payments imbalances. The bad news is that the eurozone does not yet agree that competitiveness is necessarily relative. As soon as it does, the route to convalescence will at least be clear, however hard.

Fonte: FT

terça-feira, 10 de abril de 2012

Patinho feio não mora mais aqui...

O impacto das noticias da semana passada tem sido forte, com queda das bolsas e afora e leve elevação dos juros dos titulos de 10 anos da Espanha, 5,97% e Italia, 5.66%. O primeiro chegou, inclusive, a romper a barreira dos 6%. As razões do retorno no stress da zona são bem conhecidas: perspectiva de crescimento anemico que deverá ser ainda pior como resutlado de políticas de austeridade, principalmente, na região do mediterraneo. E sem crescimento, risco de piora fiscal e necessidade de capitalização dos bancos torna-se muito difícil a tarefa de tirar a Espanha da marca do penalti. Ela ainda é a bola da vez, sem dúvida, porém, a disputa, com a Itailia, pela nada honrosa posição continua acirrada. Lembrando que a última tem pela frente uma complicada eleição e a lua de mel com os partidos da base do mussolini de hospicio esta com os dias contados. O namoro com a oposição a figura menor da historia política italiana era previsivel, mas não deixa de ser um ingrediente a mais na divertida novela que é a vida política e econômica de um país que pede para não ser levado a serio.


Enquanto isto, no Imperio, a Presidenta, cumpre seu papel e reclama da política americana para o dolar e pede mudanças que, sabidamente, não vai acontecer, pelo simples e bom motivo que tal política não existe. Ela é o resultado da tentativa de evitar um mergulho para pior da economia americana o que, obviamente, não é do interesse nacional americano e muito menos do resto do mundo, Brasil, inclusive. Melhor alocar toda a energia na solução dos problemas internos e aposentar, de vez, o complexo de patinho feio. Afinal, já somos um cisne e deveriamos comportar como tal...

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Semana passada no Imperio...

Semana passada fechou com grande emoção gerada pelos numeros do mercado de trabalho americano. O numero de vagas ficou bem aquem do esperado e o leve recuo no desemprego éxplicado pelo aumento no numero daqueles que desistiram de procurar o emprego. Na revisão do valor do primeiro, é possível que ele aumente, como, alias, já ocorreu em outros meses. Já o resultado do desemprego é preocupante, por indicar mudança de humor que poderá vir a contaminar o consumo das familias. Não é um resultado de todo surpreendente, já havia argumentado em outros posts que a situação do mercado de trabalho era anemica e que a recuperação estava longe de ser uma Brastemp. Os resultados positivos dos últimos meses podem ser explicados pelo inverno ameno que permitiu a manutenção de atividades, normalmente, interrompidas neste período. Impacto parecido já havia ocorrido na Alemanha.

Na zona do euro Espanha voltou a provocar susts com elevação dos juros cobrados pelos seus titulos, movimento este, que acabou levando a movimento no mesmo sentido dos titulos italianos. Aqui, também, não há nenhuma surpresa, já que solavancos deste tipo já eram esperados e pode ser explicado como mais uma forma de pressão sobre a nova administração espanhola, em razão do resultado eleitoral fortemente desfavorável na Andaluzia.


Resta saber qual será o impacto ao longo deste semana.

domingo, 8 de abril de 2012

sexta-feira, 6 de abril de 2012

SANTA MISSA NA CEIA DO SENHOR - HOMILIA DO PAPA BENTO XVI

Basílica de São João de Latrão
Quinta-feira Santa, 5 de Abril de 2012


Amados irmãos e irmãs!

A Quinta-feira Santa não é apenas o dia da instituição da Santíssima Eucaristia, cujo esplendor se estende sem dúvida sobre tudo o mais, tudo atraindo, por assim dizer, para dentro dela. Faz parte da Quinta-feira Santa também a noite escura do Monte das Oliveiras, nela Se embrenhando Jesus com os seus discípulos; faz parte dela a solidão e o abandono vivido por Jesus, que, rezando, vai ao encontro da escuridão da morte; faz parte dela a traição de Judas e a prisão de Jesus, bem como a negação de Pedro; e ainda a acusação diante do Sinédrio e a entrega aos pagãos, a Pilatos. Nesta hora, procuremos compreender mais profundamente alguma coisa destes acontecimentos, porque neles se realiza o mistério da nossa Redenção.

Jesus embrenha-se na noite. A noite significa falta de comunicação, uma situação em que não nos vemos um ao outro. É um símbolo da não compreensão, do obscurecimento da verdade. É o espaço onde o mal, que em presença da luz tem de se esconder, pode desenvolver-se. O próprio Jesus – que é a luz e a verdade, a comunicação, a pureza e a bondade – entra na noite. Esta, em última análise, é símbolo da morte, da perda definitiva de comunhão e de vida. Jesus entra na noite para a superar, inaugurando o novo dia de Deus na história da humanidade.

Pelo caminho, Jesus cantou com os seus apóstolos os Salmos da libertação e redenção de Israel, que evocavam a primeira Páscoa no Egito, a noite da libertação. Chegado ao destino Ele, como faz habitualmente, vai rezar sozinho e, como Filho, falar com o Pai. Mas, diversamente do que é costume, quer ter perto de Si três discípulos: Pedro, Tiago e João; são os mesmos três que viveram a experiência da sua Transfiguração – viram transparecer, luminosa, a glória de Deus através da sua figura humana – , tendo-O visto no centro da Lei e dos Profetas, entre Moisés e Elias. Ouviram-No falar, com ambos, acerca do seu «êxodo» em Jerusalém. O êxodo de Jesus em Jerusalém: que palavra misteriosa! No êxodo de Israel do Egipto, dera-se o acontecimento da fuga e da libertação do povo de Deus. Que aspecto deveria ter o êxodo de Jesus, para que nele se cumprisse, de modo definitivo, o sentido daquele drama histórico? Agora os discípulos tornavam-se testemunhas do primeiro trecho de tal êxodo – a humilhação extrema –, mas que era o passo essencial da saída para a liberdade e a vida nova, que o êxodo tem em vista. Os discípulos, cuja proximidade Jesus pretendeu naquela hora de ânsia extrema como elemento de apoio humano, depressa se adormentaram. Todavia ainda ouviram alguns fragmentos das palavras ditas em oração por Jesus e observaram o seu comportamento. Estas duas coisas gravam-se profundamente no espírito deles, que depois as transmitiram aos cristãos para sempre. Jesus chama a Deus «Abbá»; isto significa – como eles adiantam – «Pai». Não é, porém, a forma usual para dizer «pai», mas uma palavra própria da linguagem das crianças, ou seja, uma palavra meiga que ninguém ousaria aplicar a Deus. É a linguagem d’Aquele que é verdadeiramente «criança», Filho do Pai, d’Aquele que vive em comunhão com Deus, na unidade mais profunda com Ele.

Se nos perguntássemos qual era o elemento mais característico da figura de Jesus nos Evangelhos, temos de dizer: a sua relação com Deus. Ele está sempre em comunhão com Deus; estar com o Pai é o núcleo da sua personalidade. Através de Cristo, conhecemos verdadeiramente Deus. «A Deus jamais alguém O viu»: diz São João. Aquele que «está no seio do Pai (…) O deu a conhecer» (1, 18). Agora conhecemos Deus, como Ele é verdadeiramente: Ele é Pai; e Pai com uma bondade absoluta, à qual nos podemos confiar. O evangelista Marcos, que conservou as recordações de São Pedro, narra que Jesus, depois da invocação «Abbá», acrescentou: Tudo Te é possível; Tu podes tudo (cf. 14, 36). Aquele que é a Bondade, ao mesmo tempo é poder, é omnipotente. O poder é bondade e a bondade é poder. Esta confiança podemos aprendê-la a partir da oração de Jesus no Monte das Oliveiras.

Antes de reflectir sobre o conteúdo da súplica de Jesus, devemos ainda fixar a nossa atenção sobre o que os evangelistas nos referem a propósito do comportamento d’Ele durante a sua oração. Mateus e Marcos dizem-nos que «caiu com a face por terra» (Mt 26, 39; cf. Mc 14, 35), assumindo por conseguinte a posição de submissão total, como se manteve na liturgia romana de Sexta-feira Santa. Lucas, por sua vez, diz-nos que Jesus rezava de joelhos. Nos Actos dos Apóstolos, fala da oração de joelhos feita pelos santos: Estêvão durante a sua lapidação, Pedro no contexto da ressurreição de um morto, Paulo a caminho do martírio. Assim Lucas redigiu uma pequena história da oração feita de joelhos na Igreja nascente. Ajoelhando-se, os cristãos entram na oração de Jesus no Monte das Oliveiras. Ameaçados pelo poder do mal, eles ajoelham: permanecem de pé frente ao mundo, mas, enquanto filhos, estão de joelhos diante do Pai. Diante da glória de Deus, nós, cristãos, ajoelhamo-nos reconhecendo a sua divindade; mas, com este gesto, exprimimos também a nossa confiança de que Ele vence.

Jesus luta com o Pai: melhor, luta consigo mesmo; e luta por nós. Sente angústia frente ao poder da morte. Este sentimento é, antes de mais nada, a turvação que prova o homem, e mesmo toda a criatura viva, em presença da morte. Mas, em Jesus, trata-se de algo mais. Ele estende o olhar pelas noites do mal; e vê a maré torpe de toda a mentira e infâmia que vem ao seu encontro naquele cálice que deve beber. É a turvação sentida pelo totalmente Puro e Santo frente à torrente do mal que inunda este mundo e que se lança sobre Ele. Vê-me também a mim, e reza por mim. Assim este momento da angústia mortal de Jesus é um elemento essencial no processo da Redenção; de facto, a Carta aos Hebreus qualificou a luta de Jesus no Monte das Oliveiras como um acontecimento sacerdotal. Nesta oração de Jesus, permeada de angústia mortal, o Senhor cumpre a função do sacerdotes: toma sobre Si o pecado da humanidade, toma a todos nós e leva-nos para junto do Pai.

Por último, devemos debruçar-nos sobre o conteúdo da oração de Jesus no Monte das Oliveiras. Jesus diz: «Pai, tudo Te é possível; afasta de Mim este cálice! Mas não se faça o que Eu quero, e sim o que Tu queres» (Mc 14, 36). A vontade natural do Homem Jesus recua, assustada, perante uma realidade tão monstruosa; pede que isso Lhe seja poupado. Todavia, enquanto Filho, depõe esta vontade humana na vontade do Pai: não Eu, mas Tu. E assim Ele transformou a atitude de Adão, o pecado primordial do homem, curando deste modo o homem. A atitude de Adão fora: Não o que quiseste Tu, ó Deus; eu mesmo quero ser deus. Esta soberba é a verdadeira essência do pecado. Pensamos que só poderemos ser livres e verdadeiramente nós mesmos, se seguirmos exclusivamente a nossa vontade. Vemos Deus como contrário à nossa liberdade. Devemos libertar-nos d’Ele – isto é todo o nosso pensar –; só então seremos livres. Tal é a rebelião fundamental, que permeia a história, e a mentira de fundo que desnatura a nossa vida. Quando o homem se põe contra Deus, põe-se contra a sua própria verdade e, por conseguinte, não fica livre mas alienado de si mesmo. Só somos livres, se permanecermos na nossa verdade, se estivermos unidos a Deus. Então tornamo-nos verdadeiramente «como Deus»; mas não opondo-nos a Deus, desfazendo-nos d’Ele ou negando-O. Na luta da oração no Monte das Oliveiras, Jesus desfez a falsa contradição entre obediência e liberdade, e abriu o caminho para a liberdade. Peçamos ao Senhor que nos introduza neste «sim» à vontade de Deus, tornando-nos deste modo verdadeiramente livres. Amen.

Fonte: www.vatican.va

quinta-feira, 5 de abril de 2012

BB esta certo..

Não entendo o espanto e tão pouco a reação a decisão do BB. É claro que é uma decisão de governo e nem um pouco original: empresas estatais sempre foram usadas como instrumento de política econômica, inclusive no governo do FHC. Alias esta é sua própria razão de ser e por isto mesmo perfeitamente legitimo. O problema aparece quando este uso coloca em risco a sua saude financeira e existência no longo prazo como foi o caso, por ex, dos bancos estaduais. Este não me parece ser o caso do BB. A política de redução dos juros e a ampliação dos limites de crédito aos clientes em suas principais linhas é correta e perfeitamente justificavel, haja vista a baixa inadimplência vis à vis a dos bancos privados. Nada justifica o nível elevado de spread no grande bananão e tão pouco o comportamento da taxa de juros cobrada pelos bancos em um momento que a selic esta em queda.

Não há, obviamente, garantia que isto possa levar a redução semelhante nos bancos privados, mas se isto não ocorrer, poderá aumentar a participação do BB no mercado. Como esta política também deverá ser replicada pela CEF, alguma reação se espera do setor privado, alem da reclamação costumeira contra a existência de bancos públicos. Argumentar que há aumento no risco não me parece correto, já que não há indicação de desrespeito a Basileia.

O conjunto de medidas deverá garantir um crescimento razoavel da economia no corrente ano e o risco é que ele seja um pouco acima do equilibrio o que poderá pressionar ainda mais os preços a partir do segundo semestre. Mas, como já mencionamos em vários posts, esta não parece ser a preocupação da atual administração, focada que esta, no crescimento econômico, mesmo com um pouco de inflação.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

A outra alternativa é a morte...

Em artigo bem interessante no jornal da ditabranda desta quarta-feira, Mesquita, observa que se é verdade que em 1985,a parcela da industria no PIB era de 27,2%, tambem é verdade que:

"em 1985, em uma economia forçada à autarquia pela crise do balanço de pagamentos e a carência de reservas internacionais, o desempenho comercial da indústria brasileira era aparentemente mais forte do que o atual.

É verdade, também, que o Brasil era então uma espécie de Grécia tropical, estava virtualmente insolvente, vivia recorrendo ao FMI e falhando em cumprir seus compromissos internacionais.

Mais que isso: em 1985, a economia tinha uma taxa de inflação de 10,8% ao mês. O total do ano chegou a 242%, com viés de alta"(p.B8).

Em outras palavras, ele argumenta que a participação de 1985 é o resultado de uma economia fechada e em situação de anormalidade econômica, logo é incorreto comparar este resultado com a participação atual, 14,6%, já que a economia é bem diferente: aberta e com bons fundamentos econômicos. É uma argumento forte e que não pode ser descartado tão facilmente e que, seguramente, explica a queda da participação, mas não o aumento, recente, na velocidade desta queda. Tão pouco responde a questão sobre o que fazer? Como mencionado ontem protecionismo não é uma solução, mas tão pouco é correto não fazer nada. As medidas do governo não resolvem os problemas de fundo, são de fato apenas um esparadrapo, mas sem elas o risco é o desaparecimento do que resta da industria nacional. E isto, naturalmente, seria uma grande burrice.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Maluquinho vai a luta...

O Governo lançou mais um conjunto de medidas esparadrapo para dar algum folego a cambaleante indústria nacional. A desoneração da folha é uma boa medida, assim como aumentar a tributação sobre bebidas para compensar a perda de arrecadação. O pessoal vai reclamar, afinal ninguem gosta de pagar mais pelo chopp nosso de cada dia. Amantes do vinho, como este blogueiro, já estão cabreiros com possíveis medidas de proteção a produção local, e vão ficar ainda mais p. da vida com a medida. Maluquinho deveria ter aproveitado a oportunidade para aumentar, também, a tributação sobre o cigarro. Tributar bebidas e cigarros para tapar buracos criados com medidas pra agradar os eleitores é pratica comum em vários países. Redução do custo de financiamento do comércio exterior é urgente, haja vista, o encarecimento resultado de recentes medidas atrapalhadas da criatividade desenvolvimentista. Já a decisão de cobrar PIS e Cofins somente de bens importados é uma tolice que contraria as regras da OMC e vai ajudar a colar no Brasil o rotulo de protecionistas. Protecionismo nunca é uma boa idéia, uma falsa solução que somente cria mais problemas. A Presidente deveria conter este seu lado, herança do brizolismo e da unicamp, mas contraria a tradição petista, que nunca foi protecionista ou nacionalista.

Repasses do Tesouro Nacional ao BNDES era a única altermativa a mão, porém, ela vem se tornando uma pratica recorrente o que está longe de ser um comportamento prudente. Alias, a prudência é virtude ainda mais importante em momentos de dificuldades, dai ser tolice argumentar que é necessário correr riscos...

A cereja do bolo, foi o reconhecimendo,se ainda necessário fosse, que 1,80 é o patamar com o qual ele trabalha.

O comjunto de medidas, em que pese uma tolice aqui e acola, é bem vindo e necessário, porém, não é a salvação da lavoura, como diria meu inesquecivel e sabio pai, para isto o governo deve encarar o problema nada palatável da reforma tributária e o empresariado do grande bananão tem que ser desmamado e aprender a cuidar de si mesmo, sem recorrer sempre as tetas do contribuinte brasileiro. Infelizmente no momento isto não é possível, porém, algum dia isto tera que ser feito. E lembro mais uma vez que escolher vencedores não é função do governo...

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Piadas sobre economistas

Um matemático, um economista teórico e um econometricista são requisitados para achar um gato preto, que não existe, num quarto escuro e fechado.
O Matemático fica louco tentando achar o gato que não existe e vai parar no hospício.
O Economista Teórico não consegue achar o gato preto, entretanto sai do quarto dizendo orgulhosamente que pode construir um modelo para descrever todos os movimentos do gato com grande acurácia
O Econometricista passa uma hora dentro do quarto procurando o gato que não existe e depois grita, de dentro do quarto de que pegou o gato pelo pescoço.

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Um economista indiano explicava aos seus alunos de pós-graduação a teoria da reencarnação."Se você é um bondoso economista", disse, "você irá renascer como um físico. Mas se você for um maldoso economista, então você irá renascer como um sociólogo."
(P. Krugman, 1994)

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Três matemáticos e três economistas foram viajar de trem. Os matemáticos estavam rindo dos economistas, que haviam comprado somente um bilhete e iriam tomar multa. Quando o cobrador veio, os economistas foram para o banheiro. O cobrador bateu na porta do banheiro e um deles estendeu o bilhete com a mão, sendo bem sucedidos.
Noutro dia os matemáticos resolveram usar a mesma estratégia e compraram um só bilhete. Porém os economistas não compraram nenhum. Quando o cobrador estavam chegando os matemáticos foram para o banheiro. Quando ouviram as batidas na porta entregaram o bilhete ao condutor. O bilhete não retornou. Por que ? Os economistas pegaram e foram a outro banheiro.

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Dois homens estavam andando de balão e se perderam. Decidiram baixar o balão e perguntar para algum transeunte.
"Ei, você poderia nos dizer onde estamos ?"
"Vocês estão em um balão", respondeu o transeunte.
"A resposta é correta e absolutamente inútil. Este homem deve ser um economista", comentaram entre eles, no balão.
"E você deve ser um empresário", respondeu o transeunte.
"Exato. Como você sabe disto ?"
"Você tem uma excelente visão de onde está e mesmo assim você não sabe onde está."

domingo, 1 de abril de 2012