terça-feira, 19 de março de 2013

A opera bufa cipriota...


Como era esperado o Parlamento cipriota rejeitou a proposta de imposto sobre os depositos bancários: 36 votos contrários da oposição, 19 abstenções dos deputados do partido do Presidente de Chipre e 1 ausente à votação. Em outras palavras, todo o Parlamento, composto de 56 deputados, se manifestou contrário a proposta da troica. A reação do mercado foi negativa, porém relativamente contida, o que indica que, por enquanto, ainda prevalece a leitura que a proposta foi pensada exclusivamente para Chipre. O yield dos titulos italianos e espanhois de 10 anos subiram, e o do titulo alemão caiu atingindo valores negativos.O primeiro havia fechado sexta em 4.60% e hoje foi negociado a 4.73%. Já o segundo subiu de 4.92% para 5.04%, bem abaixo, dos valores alcançados durante a crise do bail out grego.

Recusada a proposta, inicia-se o conhecido processo de negociação lento e complicado que tornou-se a marca registrada da política da zona do euro. Uma solução de compromisso será, obviamente, encontrada, mas antes há questões praticas que devem ser resolvidas: o que fazer com os dois maiores bancos gregos que sobrevivem por obra e graça da liquidez providenciada pelo Bacen de Chipre? O ECB vai encerra-la e deixa-los quebrar e com isto dar o pontapé inicial no processo que levará a inevitável saída de Chipre da zona do euro? A resposta, me parece, ser não. Afinal é obrigação do ECB zelar pelo euro e a quebra dos bancos cipriotas dificilmente deixaria de contaminar a Italia e a Espanha. É exatamente por apostar que a ameaça do ECB, ou melhor da Alemanha, é um blefe que o parlamento cipriota optou por rechaçar a proposta da troica.

A solução a ser encontrada deverá, naturalmente, encontrar um outro meio para levantar os 5.8 bilhões do bail out, sem o quais ele não é sustentável economicamente e muito menos politicamente, já que dificilmente o Parlamento alemão aprovaria um pacote sem a contribuição dos cipriotas ou de seus amigos fora da zona do euro. Em outras palavras, ninguem está disposto a usar recursos publicos para salvar os correntistas russos. Eles devem, obrigatoriamente dar a sua contribuição via imposto sobre depositos bancários ou convencer uma empresa/banco russo a injetar recursos nos dois bancos.

Situação complicada , sem dúvida, mas que enquanto não contaminar Italia e Espanha não deverá causar grandes estragos.Resta agora esperar pela reação do mercado nesta quarta-feira e pelas negociações entre a troica e o governo cipriota.