sexta-feira, 28 de junho de 2013

Philip Stephens: Prosperity fuels protest in the new age of unrest


Analise interessante dos "troubles" no Brasil e em outros países.



In Istanbul, the protesters want green space and the right to enjoy a glass of wine. In São Paulo, the demand on the streets is for decent public transport and a crackdown on police corruption. The placards may be different, but the forces at work in these recent disturbances have been much the same. Politics in the rising world has been left behind by the tumultuous pace of economic and social change. The stresses are not about to go away any time soon. Welcome to the age of unrest.
At a glance, there was little to unite the demonstrators in Istanbul and Ankara with the angry crowds in São Paulo and Rio de Janeiro. The former channelled anger at an authoritarian, albeit elected, prime minister who has challenged secular freedoms. The Islamism of Recep Tayyip Erdogan’s Justice and Development party (AKP) collides with the social liberalism of an urban middle class. The catalyst for the flash protests in Brazil was a rise in bus fares – and the contrast it pointed up between failing services for Brazilians and the vast sums expended on the football World Cup and Olympics.
Missing, too, has been an obvious read-across from these nations to uprisings against autocrats in the Arab world or challenges to regimes such as those in China or Russia. Turkey and Brazil are democracies. Until recently, the former has been held as a role model for the Arab world – a lesson in how to meld pluralism and economic vibrancy with Islam. After a century of promise unfulfilled, Brazil has crossed the line between potential and actual power. Between the two nations, tens of millions have been lifted from poverty.
What unites the protests, however, is the challenge to political systems in the rising world – democratic as well as authoritarian – when confronted by economic and social change. It has all happened too fast.
In the west, the stresses and strains of the industrial revolution were spread out over a century. Politics had time to adjust to the demands of a burgeoning bourgeoisie and a more assertive working class. Even then, there were uprisings, revolutions and wars along the way.
Today’s emerging powers have seen extraordinary advances collapsed into a couple of decades. Hundreds of millions of people once locked out of politics have been enfranchised by economic growth, urbanisation and digital technology. Instant communication – from text messages to social media – have handed the educated, and often unemployed, young a powerful tool to mobilise discontent.
Democracy will not grant politicians immunity from unrest. The pressure from the streets will probably be stronger in authoritarian states – it is remarkable how almost any protest anywhere intensifies the fearfulness of Beijing. But one of the striking things about the protests in Turkey and Brazil has been their detachment from familiar political dividing lines. The protesters have been challenging the system – political elites, corrupt public servants, rich business leaders – rather than carrying a flag for traditional opposition parties.
The common denominators here are growing middle classes, young populations, overcrowded urban sprawl, poor public services, unemployment, huge income inequalities and widespread corruption.
The ingredients in this combustible mix are present in different proportions from country to country and continent to continent. But they are there in some combination from Cairo to Beijing and Jakarta to Buenos Aires. So too is the instant digital communication that can make a firestorm of a spark.
There are no easy answers for governments seeking to avoid such protests. Authoritarian regimes, most notably China, have traditionally seen growth as the answer. They are mistaken. For one thing, as we have seen in recent months, rising states are not immune to global economic cycles. Growth in the south and east is slowing. But material prosperity was always an inadequate answer.
Rising affluence in these nations increases more often than it deflects the social and political pressures. The higher people climb above the poverty line, the more they resent corruption and inequality and demand better public provision. The rule of law matters for the middle classes in a way it does not for those locked out of politics by poverty.
Nor, as Mr Erdogan should have learnt by now, is repression the answer. The protests that began in Istanbul’s Gezi Park and Taksim Square might well have been contained had the police not responded with violence and the prime minister with a series of unhinged theories and threats about grand conspiracies. Dilma Rousseff, Brazil’s president, seems to have at least partially understood this lesson by recognising the protesters had a case.
Most likely, though, there will be many more such disturbances across the rising world. On present trends, the ranks of the global middle class will swell by about another 1bn to about 3bn by 2020. The one thing we can be sure of is that these citizens, newly enfranchised by higher living standards, will be more demanding of their rulers. Governments everywhere will have to find ways to accommodate them.
The world’s new powers have a bumpy road ahead of them. The political leaders most likely to ride out the protests will be those who fill the governance gap by cracking down on corruption, mitigating the excesses of inequality, and responding to demands for modern public services. Even then, the lesson of history is that progress is unlikely to be smooth. Anyone who thinks otherwise would do well to brush up on the 1840s.

Philip Stephens

Fonte: FT

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Entrevista com Joseph Stiglitz

Valor: Como o sr. avalia a onda de pessimismo sobre emergentes?

Ele esta correto: "Muito do dinheiro gasto pelo Brasil para reduzir pobreza e fome foi muito bem gasto"

Joseph Stiglitz: Há, sem dúvida, uma desaceleração nos mercados emergentes, mas eu continuo muito otimista sobre o dinamismo dessas economias. E ainda mais quando comparamos com a recessão na Europa. Os emergentes também são mais dinâmicos do que se pode ver em boa parte dos Estados Unidos. A crise na zona do euro não acabou, os europeus não resolveram seus problemas. A crise política nos Estados Unidos também não acabou, mas felizmente a economia é suficientemente forte.

Valor: Qual a dimensão do impacto da retirada do afrouxamento quantitativo sobre os emergentes?

Stiglitz: A ironia é que o afrouxamento quantitativo não teve muito impacto nos Estados Unidos. Foi desenhado para estimular a economia americana, mas teve pouco efeito. O dinheiro não foi para onde era necessário. O impacto tem sido maior nos preços de ativos dos emergentes. A preocupação agora é com a magnitude global dessa retirada do QE3.

Valor: O que os emergentes devem fazer nesse cenário?

Stiglitz: Eles devem reconhecer que vai haver uma reversão da apreciação (da moeda), isso é bom. É preciso gerir isso, reconhecer que o mercado financeiro é instável e que são obrigados a intervir. O crescimento econômico pode se beneficiar de câmbio desvalorizado, mas o problema são os riscos no curto prazo.

Valor: Como o sr. interpreta os protestos de rua em países emergentes, como agora no Brasil?

Stiglitz: Acho que, no caso do Brasil, o país tem tido um grande sucesso nos últimos 20 anos, melhorando educação, reduzindo pobreza, fome, desigualdade. E uma interpretação ao que está acontecendo é que as aspirações excederam as mudanças, as aspirações se aceleraram.

Valor: Com desenvolvimento econômico, as demandas aumentaram?

Stiglitz: Exato. São questões legítimas na democracia. Temos esta questão nos Estados Unidos: como gastar bem o dinheiro público? Em Nova York protestamos quando o governo gasta o dinheiro em estádios, mas há outras pessoas que argumentam que isso é importante para gerar crescimento e atividade econômica. Eu acho que isso não é a melhor maneira de gastar dinheiro público, e compreendo que é uma questão legítima no debate público.

Valor: E sobre o modelo de crescimento?

Stiglitz: Não penso que haja no Brasil pessoas reclamando sobre muito consumo, mesmo havendo ambientalistas que se inquietam sobre os impactos. O que isso realmente reflete é a importante ideia levantada por nossa Comissão Internacional de Medida de Desempenho Econômico e Social (criada pelo governo francês em 2008, presidida por Stiglitz). PIB não é uma boa medida de bem-estar social. E, de alguma maneira, há muita gente dizendo nas ruas que concorda conosco. Os manifestantes estão dizendo que é tempo para um diálogo público mais amplo sobre essas questões.

Valor: A questão é gastar melhor os recursos públicos?

Stiglitz: Muito do dinheiro gasto pelo Brasil para reduzir pobreza e fome foi muito bem gasto. E, como americano, quando eu vejo que nós gastamos dinheiro na área militar, subsidiando grandes empresas, bancos, acho que devemos pensar bem nas comparações. É legítimo que os cidadãos digam nesse caso que não estão gastando bem o dinheiro público. Devemos lembrar que muito dinheiro foi bem gasto no Brasil com coisas interessantes, basta ver as melhoras dramáticas nas estatísticas do país e quão inusual isso ocorreu, tão rapidamente.


Fonte: Valor

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Peter Cunningham: A tragicomedia irlandesa


Aos poucos começa a ser conhecido os bastidores da decisão que levou a Irlanda ladeira abaixo.


Even Jonathan Swift, creator of Gulliver’s Travels and Ireland’s most famous satirist, would surely have hesitated before writing this scene. It is September 2008 and Ireland’s hapless government, faced with an unprecedented flight of capital from the country’s banking system and acting on the facts given to it, has decided to guarantee the obligations of all Irish banks.
For some of the senior executives in high-flying Anglo Irish Bank the guarantee is a cause for hilarity. Although they know that Anglo Irish is spectacularly insolvent – its bad debts, mainly from bets on property, will approach €30bn – they have suckered the government into guaranteeing their liabilities by pretending their shortfall is “only” €7bn. One executive, when asked how he came up with that amount, boasts that it was “picked out of my arse”. Howls of laughter. Think Mike Myers as Dr Evil in an Austin Powers movie, complete with cat and twitching little finger.
The fun doesn’t end there. As other EU states, including Britain and Germany, seethe at Ireland’s impromptu guarantee that is sucking funds back into the country, Anglo Irish’s chief executive tells his head of capital markets: “Just take it in anyway . . . stick the fingers up!” To which his colleague responds with a spirited rendition of “Deutschland, Deutschland über alles”. Both men dissolve in laughter. Think Peter Sellers in Dr Strangelove. Then think of the tragedy in which Ireland is about to be engulfed.
For many Irish people, the tapes of these conversations, released this week by the Irish Independent newspaper, sound like voices mocking them from beyond the grave. Anglo Irish was officially buried earlier this year, but dead too are the hopes and savings of an entire generation that long regarded shares in Irish banks as money on deposit. To such people, these recordings are further shameful evidence of how they were ruined.
By 2008, Ireland’s banks were a busted flush. Although a decade-long property boom had ended in 2006, it suited no one in government or in the property-engorged bank sector to admit it. Bertie Ahern, the former taoiseach, suggested that naysayers of the property boom would be better off committing suicide.
The almost total absence of effective banking regulation would be laughable had it not been so serious. Irish business and the Fianna Fáil-led government enjoyed a long established, cosy camaraderie in which peer review or the effective implementation of basic regulations was impossible. The result was horrific: the bankruptcy of the entire Irish banking sector involving bad debts in excess of €70bn – one of the biggest financial busts in history.
All of this disaster has been loaded on to the backs of the Irish taxpayer. The deflationary effects of draining the life blood of a small economy with a population of 4.5m in order to pay off huge bank debts are stark. Jobs in construction have all but disappeared, unemployment is stuck at about 14 per cent and emigration is running at the highest level for 25 years. Retail spending barely flickers. Everyone has been affected by wage cuts and reduced state spending. Pension funds have been decimated.
The shenanigans of Irish bankers and their client politicians have not, to date, resulted in the imprisonment of a single individual. None of the political figures then involved, some still prominent, has ever come forward to reveal how a sovereign government came to make a decision that would beggar its people. No one from the Irish central bank or the Department of Finance, two institutions centrally involved, has revealed the details of the decision- making process nor explained how shares in banks such as Anglo Irish continued to trade even after the guarantee. No official inquiry into what happened in September 2008 has taken place.
People in Ireland do not riot, burn buses or paralyse the infrastructure in their anger. They take bad news in grim silence, perhaps the result of centuries of silent forbearance. This may change. The statement this week by Taoiseach Enda Kenny that an official inquiry will now be set up, even though the contents of these tapes have apparently been known at an official level for four years, sounds increasingly desperate and has done little to placate public anger. The Anglo Irish tapes may mark the long overdue beginning of a sense of Irish outrage.

Peter Cunningham is the author of ‘Capital Sins’, a novel set during the Irish financial crisis

terça-feira, 25 de junho de 2013

Entrevista com Luiz Gonzaga Belluzzo


Entrevista com o conhecido economista marxista brasileiro. Erudito, no entanto, continua com a mesma leitura equivocada do livro do Sraffa que defendeu na tese de doutorado e com uma leitura do Marx que ignora a produção marxista anglo-americana e o debate, anglo-italiano, sobre a teoria do valor nos anos 70. Amigos, na graduação, nos anos 80, diziam que ele era o melhor representante do marxismo bastardo. Acho que esqueciam de incluir o ortodoxo antes do bastardo. A minha opinião a respeito do Marx( e dos marxistas) é a mesma de sempre: em economia, foi apenas um ricardiano menor e em política, foi o ópio dos intelectuais,com consequencias trágicas, no seculo passado. Quanto a Unicamp, acho que o Paulo Francis estava coberto de razão...




Valor: Um tema atual discutido no livro é a chamada financeirização, a partir dos anos 1980. Como esse tema aparece em um autor do século XIX, como foi Marx?

Luiz Gonzaga Belluzzo: É o cumprimento do conceito do capitalismo, levando ao paroxismo a acumulação de riqueza abstrata. Para alguns, há um descolamento entre o capital financeiro e o industrial; mas essa tese acha que, ao controlar a finança, controla-se o capitalismo. Algo assim ocorreu depois de 1945, com a repressão financeira. Por um momento, controlou-se a finança, garantindo certa estabilidade. Mas, à medida que a expansão ocorria, não teve jeito de segurar. A partir dos anos 1980, a finança ganhou outra dimensão. Marx fica aturdido com a financeirização que vê na Inglaterra do século XIX. Ele sabia que isso é parte central do sistema.

Valor: Depois das crises, vêm as sínteses e o capital assume novas formas. Estamos num momento desses?

Belluzzo: Acho que Marx, enquanto escrevia "O Capital", foi ficando cético. Ele diz que as formas do capital são cada vez mais socializadas, e fala claramente na classe de administradores que surge, os executivos de hoje. Tanto a empresa quanto a finança levam o capitalismo a um maior grau de controle centrado na finança. Ele diz que a evolução do sistema está se organizando e se encaminha para mais concentração das forças produtivas, submissão do trabalho, mudança nas relações dentro da empresa.

Valor: Como é a relação com as classes burguesa e trabalhadora?

Belluzzo: Marx não escreveu sobre a dialética do trabalho; se não, o livro se chamaria "O Trabalho". O trabalho é produto da relação capitalista, mas subordinado e impessoal. Com o avanço do capitalismo, o trabalho fica cada vez mais submetido. Não só trabalhadores, mas administradores e burgueses também. Eles são suportes da relação social.

Valor: O senhor menciona os movimentos de contestação surgidos da crise. Eles podem tomar corpo?

Belluzzo: Eles refletem a socialização da relação capitalista. Da classe operária clássica, houve poucas manifestações. O capitalismo mudou a composição das classes sociais. Tem uma massa diversificada de dependentes e assalariados. A classe operária tradicional, das fábricas, não sumiu, mas sua composição mudou. Os processos de produção mudaram. Como vão se formar coágulos de resistência política? Por enquanto, é uma resistência difusa, de protesto e insatisfação com as instituições políticas. Isso vai ter um tempo de maturação. O desfecho não é tão rápido.

Valor: O senhor se refere às crises como um todo?

Belluzzo: Sim. A economia americana se recupera devagar e comemora até gol contra. O afrouxamento monetário ajudou, mas gera problemas mais à frente. Tentei mostrar, a partir de Marx, que está havendo uma transformação enorme na economia mundial. Tão importante quanto a do fim do século XIX, quando a incorporação de áreas agrícolas no Novo Mundo gerou uma crise agrária violenta na Europa. A queda de preços dizimou os camponeses europeus. Na Inglaterra, produziu o declínio da aristocracia, que, apesar da burguesia, era quem governava. A Inglaterra perdeu a liderança industrial. Hoje, a queda de preços é na indústria, com a incorporação da Ásia.

Valor: O capitalismo de Estado chinês afeta a interpretação marxista do capitalismo?

Belluzzo: Há quem opine que a China vai convergir para uma economia parecida com as ocidentais. Não creio. É um capitalismo de Estado bem eficiente. Os chineses dizem que sua capacidade de fazer reformas está na flexibilidade - que ironia... - do modelo político, ao contrário dos países ocidentais, que vergam sob o peso de interesses particularistas. Esses interesses não pesam no Estado chinês. Já estão fazendo reformas na previdência, na terra, a fusão de empresas estatais e privadas... O marxista chinês diz que é o caminho do socialismo. Outros dizem que é capitalismo de Estado. Estes têm razão.

Valor: A fusão das empresas na China, por obra do Estado, é um reflexo da socialização que o senhor identifica em Marx?

Belluzzo: O grau de concentração na indústria mundial é impressionante. Em todos os setores, poucas empresas dominam o mercado. Espalham as fábricas pelas regiões onde o custo é menor e transacionam internamente. Isso é irreversível. As empresas chinesas ainda são relativamente pequenas. A China está concentrando brutalmente suas empresas, para terem porte para competir. Essa é a socialização da economia.

Valor: A socialização pelo capitalismo de Estado tem particularidades significativas?

Belluzzo: É uma diferença semântica. No máximo, talvez a China construa algo como o Estado do bem-estar ampliado.
Valor: O modelo do bem-estar também não está esgotado?

Belluzzo: Hoje, a questão é pensar além dele. A tendência do progresso técnico do capitalismo, em Marx, é a desvalorização da força de trabalho. Hoje, vivenciamos a construção do mercado de trabalho marxista. Em Bangladesh, China, México, vigoram as piores condições de trabalho. Os trabalhadores de baixos salários são submetidos a uma disciplina que lembra Manchester no século XIX. Os de alto salário são submetidos a uma tensão e uma insegurança incríveis. É o moinho satânico, mais satânico ainda. E tem uma inovação que Marx não viu. Keynes, um pouco: o consumo como instrumento de acumulação. Ele funciona como se fosse investimento, pelo financiamento. O consumo é intransitivo, uma relação com o valor de troca. Conheço pessoas que saem para consumir sem saber o que vão comprar.

Valor: Mas a expansão do consumo já era imprescindível para o Estado de bem-estar original.

Belluzzo: Foi um mecanismo virtuoso de crescimento do gasto público, do investimento privado, da renda, do consumo. Os operários entraram no mundo do consumo de duráveis. Esse Estado de bem-estar chegou ao limite. O que houve nos anos 1980, com [Ronald] Reagan e [Margaret] Thatcher foi a resposta à perda de dinamismo daquela economia. O que eles pensavam que fariam era desregular as finanças e baixar os impostos dos ricos, para que a poupança aumentasse. Não foi o que aconteceu. A escalada da China não se explica sem o movimento do grande capital americano, europeu, japonês, desregulado. O que foi o neoliberalismo? Foi abrir espaço para as empresas ganharem competitividade em outros lugares, com custos salariais mais baixos. É a lógica da acumulação e da competição capitalistas.

Valor: Como o antigo centro do capitalismo sairá do impasse?

Belluzzo: Como ajustar as economias que vieram de um sistema de proteção a uma situação em que os competidores têm salários muito mais baixos e métodos de produção avançados? Vejo pessoas nos EUA certas de que o país vai recuperar a liderança industrial. Não vai. Entre a crise de 1929 e Bretton Woods, passaram-se 15 anos de guerra e crise. Estamos numa crise mais complicada ainda. A estrutura da oferta mundial mudou. Quando os EUA recomeçam a crescer, o déficit comercial explode, porque bens industriais têm elasticidade-renda alta.

Valor: Até que ponto essa crise se reflete no impasse brasileiro atual?

Belluzzo: O Brasil não debate a economia nacional com a perspectiva das transformações do mundo. O que aconteceu conosco? Começamos a mudar de posição bem no momento da migração do grande capital. O Brasil perdeu a posição que tinha nos anos 1970, de país emergente com indústria mais avançada. Depois, estabilizamos a economia e cometemos um erro fatal ao insistir no câmbio valorizado. Nunca vi um país ficar tanto tempo com o câmbio valorizado e imaginar que nada vai acontecer. Agora temos duas oportunidades: as concessões, que podem trazer ganhos ao setor industrial pelo efeito-demanda, e o Pré-Sal.

Valor: E quanto à concentração dos mercados? O BNDES tentou criar gigantes brasileiros...

Belluzzo: Não sei se tentaram nos setores certos, mas a questão é que as empresas brasileiras ainda são nanicas. Não adianta mais pensar naquele sistema empresarial de competição perfeita. Aliás, isso nunca existiu, a não ser na Inglaterra do começo da Revolução Industrial, com o monopólio da indústria. Os outros sistemas industriais nasceram monopolizados.

Valor: Em que sentido este livro retraça sua carreira acadêmica? Os ensaios usam Marx para falar da crise atual, as respostas que vieram, a posição do Brasil...

Belluzzo: Na carreira, me dediquei a dois autores, Marx e Keynes. Minha tese é sobre a controvérsia do capital, em que Joan Robinson dizia que se tratava de um conceito metafísico e Piero Sraffa assumiu uma posição positivista, criticando a circularidade da teoria clássica. Ele dizia que é errado tentar estabelecer uma relação direta do preço dos fatores de produção para suas remunerações, porque se desprezam as interrelações dentro do sistema. Comecei assim e acabei na teoria do valor de Marx, que faz uma pergunta diferente dos clássicos, apesar de partir de [David] Ricardo e Adam Smith.

Valor: Como é a pergunta?

Belluzzo: Ele pergunta em que condições os produtos do trabalho humano assumem a forma valor. Marx investiga a sociedade burguesa em seu regime de produção. Como abordar essa sociedade? A partir de sua categoria elementar, a mercadoria. Ele não pergunta pelo valor, mas pela mercadoria, o produto do trabalho com uma forma social, expressa na forma valor. A fenomenologia do valor, que percorre todo "O Capital", é analisada supondo o regime do capital constituído. A circulação simples aparece como dimensão do capitalismo. No terceiro volume, ele estuda as formas particulares: capital a juros, renda da terra etc. O valor só existe quando a subsunção do trabalho ao capital é real, no regime de acumulação capitalista. Em sociedades pré-capitalistas, há dinheiro, mas não como valor. Ele não faz uma história do dinheiro.

Valor: Ainda assim, o dinheiro é um conceito central em Marx.

Belluzzo: O dinheiro, no capitalismo, é a forma do valor por excelência. A mercadoria não sai das mãos do produtor na forma natural, mas como valor de troca, com denominação monetária. Ninguém apresenta no mercado uma camisa como tal. Apresenta com preço. No capitalismo, a riqueza é calculada em termos monetários. Marx se interessa pelo dinheiro como forma geral da riqueza. O mesmo em Keynes, que dá muitas voltas, mas formula a questão no conceito de preferência pela liquidez: quando todos convergem para a forma de riqueza universal. Isso é importante em Marx. Ele repete que o capitalismo, mais que um regime de produção de riquezas, é o regime que busca a acumulação de riqueza abstrata.

Valor: A crise reacendeu o interesse por Marx. É um interesse fecundo ou passageiro?

Belluzzo: Com o colapso do regime soviético, Marx foi escanteado, como se tivesse dito algo sobre o socialismo real. Agora, a literatura sobre Marx está crescendo muito. Terry Eagleton e Nouriel Roubini escreveram sobre os acertos de Marx. Mas o ponto não é se está certo ou errado. Ele tem uma visão do capitalismo, seu funcionamento, as formas que assume. O leitor é que vai decidir se ele está certo ou errado. O esforço, hoje, é para se livrar dos antolhos do marxismo ortodoxo.

"O Capital e Suas Metamorfoses"
Luiz Gonzaga Belluzzo. Editora: Unesp. 192 págs., R$ 32,00


Fonte: Valor



segunda-feira, 24 de junho de 2013

Entrevista com Michael Spence



O Nobel Spence falando da conjuntura econômica mundial.Vale a leitura, mas não espere grandes insights...


Valor: Ben Bernanke disse que o Fed provavelmente vai começar a reduzir os estímulos monetários mais para o fim do ano e encerrar as compras de ativos no meio de 2014, mostrando uma visão razoavelmente otimista sobre a recuperação da economia americana. O cronograma é adequado?

Michael Spence: Bernanke deixou claro que a redução dos estímulos monetários está condicionada a uma melhora duradoura do desempenho da economia. Nesse cenário, acho que o cronograma condicional é apropriado. Se as melhoras não se concretizarem, a redução dos estímulos não vai ocorrer.

Valor: Os mercados reagiram com desconforto às palavras de Bernanke. O sr. acha que a economia americana e os mercados estão preparados para absorver uma política monetária menos expansionista?

Spence: Sim e não. A política expansionista impulsionou os preços dos ativos, e a sua retirada os ajustaria para baixo, tudo o mais constante. Mas se a retirada ocorrer, outras coisas terão mudado e a economia terá melhorado. Quanto disso está embutido nos preços é difícil saber. Mesmo com a economia melhorando de modo continuado, a retirada tende a produzir algum efeito negativo. No momento parece haver nervosismo em relação ao timing [da redução dos estímulos] e talvez uma falta de entendimento sobre o fato de ela ser condicionada [à melhora da economia].

Valor: Vários analistas têm dito que o Fed subestima o nível baixo da inflação, que está bem inferior à meta de longo prazo, de 2%. O sr. acha que o Fed deveria dar mais peso a esse fator em suas decisões?

Spence: A inflação certamente não parece um risco iminente - e nem a deflação. Com isso, acredito que eles vão continuar de olho na inflação.

Valor: A recuperação da economia americana é sustentável? O desemprego ainda está elevado, em 7,6%, e há um forte ajuste fiscal.

Spence: No setor privado, é bastante robusta. A diminuição do endividamento não está completa, mas caminha bem e o setor 'tradable' está se reestruturando e crescendo. A política fiscal é um peso e o investimento do setor público está bem abaixo do que deveria estar - e vai continuar assim. Eu digo que é um carro com um motor de oito cilindros em que apenas cinco estão funcionando. Os cinco cilindros são o ajuste estrutural liderado pelo setor privado.

Valor: Quais são os efeitos mais prováveis de uma política monetária americana menos expansionista sobre a economia global?

Spence: O principal efeito tende a ser um ajuste para baixo dos preços de ativos, com algum efeito negativo sobre a riqueza. Mas eu não espero um impacto maior ou prolongado. E ele vai ajudar a Europa, à medida que o dólar se fortalecer.

Valor: Quando o sr. espera que o Fed comece a elevar os juros?

Spence: Eu não tenho ideia. É algo que depende do desempenho econômico dos EUA, que, por sua vez, depende em parte do que ocorrerá no resto da economia global, especialmente na Europa.

Valor: Nos últimos dias, o mercado mostrou-se preocupado em relação à China, por causa de indicadores que apontaram uma economia mais fraca. O sr. acredita que a China terá uma desaceleração mais acentuada do que se esperava?

Spence: Provavelmente não. Há claramente nervosismo no mercado e dúvidas em relação à transparência, regulação e alavancagem em algumas partes do sistema financeiro. O Banco Central da China tem de algum modo forçado esse assunto.

Valor: Alguns analistas passaram a ficar receosos em relação a uma contração de crédito na China? Há motivos para preocupação?

Spence: Se eles estiverem contendo intermediação de baixa qualidade, pode haver algo como uma contração de crédito no curto prazo. Mas isso não é necessariamente algo ruim.

Valor: A política monetária americana vai provavelmente se tornar menos expansionista e as perspectivas para a economia chinesa não são das mais brilhantes. Como essa combinação vai afetar a economia global e os preços de commodities?

Spence: O principal efeito, como eu disse, deverá ser um ajuste para baixo dos preços dos ativos, talvez porque eles foram definidos com base na crença de que o QE [afrouxamento quantitativo] seria semipermanente. Mas as economias da China e dos EUA e várias economias emergentes parecem relativamente saudáveis, embora nenhuma esteja isolada dos riscos negativos da Europa, onde há baixo crescimento e alto desemprego.

Valor: O que um país como o Brasil pode fazer para enfrentar esse cenário global mais incerto?

Spence: Bem, agora vocês têm essas grandes manifestações de algum modo inesperadas. É importante tentar entender as origens do descontentamento. Além disso, permanecer uma economia aberta, investir com mais força, incluindo o setor público, e manter políticas de crescimento que serviram bem ao país me parecem ser os ingredientes essenciais. A desigualdade, que sempre foi alta por padrões internacionais, tem caído, mas talvez a queda tenha que ser mais rápida para atender às expectativas dos mais jovens. Administrar a conta de capitais para parcialmente isolar o Brasil de distorções de outras partes do sistema financeiro global é algo complexo, mas igualmente importante.

Fonte: Valor

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Unwinding the world’s biggest economic experiment



Bom artigo do Gavyn Davies sobre o fim do grande experimento do FED.




On Wednesday, the chairman of the Federal Reserve announced that the greatest experiment in the history of central banking might be nearing its end. Ben Bernanke’s announcement included many caveats, but the financial markets did not miss the message. Since 2009, the central bank has been buying financial assets – US Treasury bonds and some types of corporate debt – paid for by an expansion of the monetary base (so-called “printing money”). This kept interest rates low, which damaged savers but helped indebted businesses and households. It has also been the major prop for financial markets. Within about a year, if the Fed’s plans come to fruition, the US government deficit will need to be financed from private sector savings – not by the central bank. Asset markets will be left to fend for themselves as the biggest buyer withdraws from the arena.
That is why some hedge funds sold off bonds this week, causing a big drop in their prices – the flipside of which is a rise in borrowing costs (or “yields”). Mr Bernanke has expressed consternation that adjustments to the path for the Fed’s balance sheet, such as the one he announced this week, can have such a profound effect on the bond market. But investors are making logical inferences from central bank behaviour. The Fed does not change direction often. When it does, tightening often comes in a rapid series of interest rate rises that are not fully anticipated by investors.
Furthermore, when the Fed was supporting markets, investors had to seek out new sources of income to replace declining interest receipts on their government bond holdings. In this so-called “reach for yield”, some of them leveraged themselves up to buy into emerging markets and bond funds – positions they are now dropping sharply. It is impossible to be sure where deleveraging will end.
The last big unwind – a much smaller one – started almost exactly a decade ago. On June 25, 2003 the Federal Open Market Committee met amid expectations of a cut in the interest rate from 1.25 per cent to 0.75 per cent. Vincent Reinhart, the committee secretary, opened the meeting with some gallows humour. “On Friday”, he said “I was in line with my 11-year-old son to purchase Harry Potter and the Order of the Phoenix . . . It is somewhat longer than the briefing papers the committee has received. But it, too, considers an alternative world filled with uncertainty and great perils”.
Alan Greenspan was chief wizard at the Fed that day. Mr Bernanke, more radical than he is now, was there, but mostly stayed silent. The committee was fully aware of the dangers ahead when it decided to cut the federal funds rate by only 0.25 percentage points. The market concluded that the Fed was preparing to tighten policy sooner than expected, and sharply adjusted expectations for where it thought rates would be in the years ahead. The same thing happened this week.
The previous big Fed exit, announced on February 4, 1994, was even more dramatic. It was a day that triggered such turbulence that it is etched in the memory of all bond traders. Working as a Goldman Sachs economist, I was on the bond trading floor when the Fed released an innocuous-sounding statement. The FOMC had decided “to increase slightly the degree of pressure on reserve positions . . . which is expected to be associated with a small increase in short-term money- market interest rates”. Pardon? After a few moments, there was explosion of noise as realisation set in.
The market was unprepared for the Fed change, Investors were over-leveraged and knee-deep in Mexican debt and mortgages. Equities emerged relatively unscathed. But before the bloodbath ended that November, the survival of the US investment banks was at stake.
Mr Bernanke wants this time to be different. His main weapon will be transparency and forward guidance. He says the Fed will end its asset purchases only if unemployment falls below 7 per cent, reducing the risk of tightening before the economy can take it. Short-term interest rates will stay close to zero for a long time after that and eventual rises will be gradual. He wants bond prices to fall slowly, leaving time for the financial system to adjust.
There are two risks with the Fed’s exit plan. The first, raised by Paul Krugman and other Keynesian economists, is that it sends a premature signal to the world economy that the central banks will tighten before the private sector recovery has achieved escape velocity. This has happened before: the Fed made this error in 1937-8 and the Bank of Japan in 2006.
Macro-economists such as Michael Woodford argue that the main economic effect of the Fed’s asset purchases is that they signal to households and business that the central bank is serious about keeping short rates lower for longer than normal. These stimulatory effects could now be reversed. If so, the US recovery might peter out, taking the global economy down with it.
The second danger, in sharp contrast, is that the Fed has left it too late to bring market exposures under control, in which case the unwinding might take bond yields and credit spreads much higher than economic fundamentals seem to justify. In the famous phrase of Warren Buffett, the legendary investor, we only discover who is swimming naked when the tide goes out. Higher bond yields would spell danger for the financial system – and would mean rising mortgage rates at a time when the US housing market is only just starting to recover.
The exit from quantitative easing was always going to be long and arduous. There is no historical playbook for the central banks to follow. Like a fighter pilot who has experienced combat only in a flight simulator, the real thing might be very different. The central bankers are confident that they have the technical tools to finish the job but, as Mr Bernanke admits, it will be like landing that plane on an aircraft carrier, and possibly in stormy seas.

Gavyn Davies is chairman of Fulcrum Asset Management and writes a blog on macroeconomics on FT.com

Fonte: FT



quinta-feira, 20 de junho de 2013

Abenomics


Artigo interessante sobre Abe e sua proposta de política econômica.




I missed Barack Obama at Berlin’s Brandenburg Gate. I listened instead to Shinzo Abe, prime minister of Japan, at the City of London’s Guildhall. I made the right choice.
With his customary eloquence, the US president imagined the world as we would all like it to be. The Japanese prime minister gave a powerful account of what he is actually doing to restore his country’s fortunes.
I have some serious concerns about Mr Abe. His pugnacious nationalism threatens conflict with China. Taiwan used to be seen as the dangerous flashpoint in east Asia. Now is it is the Japanese-controlled and Chinese-claimed Senkaku (in Chinese Diaoyu) islands in the East China Sea. On the issue of the islands, the prime minister has the strong case but his lapses into historical revisionism anger Japan’s neighbours and alarm its allies.
His theme at the Guildhall, though, was Abenomics – and how unprecedented stimulus and radical reform will put Japan back on the economic and geopolitical map. What carried his audience was not so much the detail of the plan, but the unerring conviction.
Here was that rare thing – a politician who sounded as though he really meant it. You don’t hear many leaders declare that their political lives should be dismissed as abject failures if they do not match words with action and promises with results.
Mr Abe has already fired two of the promised three arrows to lift the Japanese economy out of two decades of stagnation. The central bank has been told to print as much money as it takes and fiscal policy has reinforced the expansionary impulse.
It was the third arrow – the modernisation of the economy through supply-side reforms and, critically, an opening up to more international competition – that he focused on at the Guildhall. As far as I could tell, he did not add to the promises already made in areas such as financial services, pharmaceuticals and agricultural trade.
What was striking was the judgment that Japan had failed because it had locked out the world and the unequivocal invitation to his audience to judge him on outcomes. This was a speech entirely devoid of the usual “ifs”, “buts” and let-out clauses. Recalling Margaret Thatcher’s famous phrase, Mr Abe pinned his colours to the mast of “Tina” – There is No Alternative.
Fifty years on from John F Kennedy’s immortal “Ich bin ein Berliner” speech, Mr Obama was painting on a bigger canvass. He wants another big push to reduce US and Russian stocks of nuclear weapons. And an effort to revive international action to tackle man-made climate change. This was serious stuff, carefully argued. Still it disappointed.
I don’t count myself among those who see Mr Obama’s reluctance to rush into a civil war in Syria as evidence of weakness or dithering. Half a century ago, these critics would probably have been telling president Kennedy to hurry up and bomb the Soviet missile batteries in Cuba. Sometimes the intelligent thing to do is to hold back.
Yet for all that, it is impossible to escape the growing distance between words and actions in Mr Obama’s foreign policy, The president has turned the US into a selective superpower – a measure, many would say, of the new geopolitical reality.
But there is selective and selective. The sense I have is of a White House forever calculating and recalculating the domestic political percentages. It is an approach that militates against risks. But getting things done is always risky. So, as it happens, is doing nothing. It just does not seem so.
Abenomics, of course, could end in failure. The euphoria that greeted the initial measures has been clouded by recent turbulence on financial markets. Japan has taken a leap into the dark.
On his side, Mr Obama could yet surprise us by putting America’s still-unmatchable weight behind the grand ambitions for a safer world. But this week, at least, I was glad that I stayed in London.

Philip Stephens

Fonte: FT

quarta-feira, 19 de junho de 2013

ROBERT W. FOGEL (01/07/1926 - 11/06/2013)


O controverso, mas brilhante pai da cliometria.


With a career that spanned being a paid organiser for the US Communist party to holding a professorship in the fiercely pro-market department of economics at the University of Chicago, Robert Fogel was a paradoxical but brilliant scholar.
Though notorious for arguing that slavery in the American south operated with high levels of productivity and profitability, he was married for 59 years to Enid, to whom he was devoted and who happened to be black. While highly combative in academic argument, his students found him kind and supportive.
Fogel, who has died aged 86, pioneered the 1960s development of “cliometrics”, a term that was coined as a joke but survived. The label refers to the use of quantitative methods to study economic history – introducing econometrics to Clio, the muse of history.
The two works that were generally accepted as his most important, and that won him the Nobel Prize for economics in 1993, were also those that attracted the most controversy. Railroads and American Economic Growth: Essays in Econometric History (1964) and Time on the Cross: the Economics of Negro Slavery (1974), which was co-authored with Stanley Engerman, were both highly innovative in their methodology and produced conclusions dramatically at odds with conventional wisdom.
Setting out to attack the idea that railroads had been indispensable to American economic growth in the 19th century, Fogel concluded that gross national product without them would have been only 4.7 per cent lower by 1890. This was explicitly counterfactual history based on taking the volume of rail freight and comparing transport costs with those for competing modes, typically canals, while supposing that in the absence of rail the US would have developed a much more extensive canal network.
The details of this calculation and the rather narrow view it takes of the possible economic benefits of rail remain at issue but, from an economist’s point of view, it asked the right question. It also points to what investors may see as an uncomfortable conclusion – that the benefits went largely to the users, not the railroad companies.
The implications remain salient today: even very important new technologies have relatively modest effects on the overall growth rate of an economy; the contribution of a technology can be evaluated only by comparing its productivity with the next best alternative; and the vast majority of the social gains of such technologies go to consumers rather than producers.
Time on the Cross was a book on which it seemed that, even though the details of the argument were too technical for most to grasp, every member of the American chattering classes in the mid-1970s had a strong opinion. This was not only because the topic was highly emotive in a society that still had big issues with civil rights but also because it was published in two volumes, with all the hard bits relegated to volume 2 and the main arguments stated quite provocatively in volume 1.
The main claims were that slave labour used in plantation agriculture could achieve higher levels of productivity than free labour, that slavery in the south was a profitable system, and that owners’ treatment of slaves recognised that they were important capital assets so abusing them was counterproductive.
The counterfactual here was that, in the absence of the civil war, slavery would have continued as it was economically viable. This last point, which was established using the tools of neoclassical economics, is now generally accepted but opponents fiercely maintained that Fogel’s view of slavery was much too benign. Never one to concede much to his academic critics, he produced a four-volume rebuttal of their arguments, Without Consent or Contract: The Rise and Fall of American Slavery (1992), also co-authored with Prof Engerman.
Fogel’s approach to academic controversy was definitely in the Chicago tradition. He was a faculty member there from 1964 to his death, except for a 1975-81 interlude at Harvard. But probably it also owed something both to the struggle of his upbringing as the son of recent Russian immigrants in New York City during the Great Depression – he was born on July 1 1926 – and to his Communist phase.
Enid died in 2007 but he is survived by two sons, five grandchildren and two great-grandchildren. Fogel also leaves an army of former students in senior academic positions who will continue the work of the cliometric approach to economic history.


Nicholas Crafts is professor of economic history at the University of Warwick

Fonte: FT

terça-feira, 18 de junho de 2013

Marcos Nobre: Protesto é resposta à tecnocracia



Marcos Nobre, filósofo da Unicamp e do Cebrap, apresenta, na entrevista abaixo, umas das melhores analises dos eventos recentes no ex(?) grande bananão.



Valor: Qual é o significado destas manifestações?

Marcos Nobre: Esse movimento é justamente um movimento antipemedebista, contra esse fechamento em si mesmo do sistema, essa blindagem contra as energias vitais, democráticas da sociedade. E é um sinal de que a democracia brasileira está viva, está atuante. E que esse pretenso consenso de como se deve caminhar, sobre o ritmo e a velocidade da diminuição da desigualdade e do aprofundamento da democracia, não é um consenso. Toda a abertura inicial do governo Lula à participação, à deliberação, pouco a pouco foi se fechando numa nova maneira tecnocrática de gestão. Isso tem muito a ver com a ida do [marqueteiro] João Santana, que deu uma organização publicitária ao governo, e a própria escolha da Dilma como candidata.

Valor: Quais são as consequências?

Nobre: Das duas uma: ou o sistema político se abre e se reforma radicalmente ou vamos ter cada vez mais a oposição de um sistema político que roda em falso, fechado nele mesmo, e uma sociedade que vai protestar contra essa democracia de baixo teor democrático.

Valor: Mas o sistema brasileiro, com modelo de votação proporcional e nominal, não é plural, fragmentado e bem menos fechado que outros que tem lógica bipartidária e sistema de lista fechada?

Nobre: O brasileiro é tão fechado quanto. Tem outro modo de operar. Temos o presidencialismo de coalizão - que é outra expressão que acho lamentável, porque o que acontece no Brasil é um condomínio pemedebista, muito diferente de uma coalizão de partidos. Essa cultura política do pemedebismo é muito mais impenetrável ainda que a de sistemas como Espanha ou França. Esse sistema é impermeável porque ele é dotado de uma cultura política, de um modo de funcionamento feito para excluir, para travar mudanças profundas. Ele é construído dessa maneira. Por isso, essas forças de contestação são forçadas a se voltar contra o próprio sistema político. Não tem alternativa dentro do sistema tal como ele funciona hoje. Pensando em um partido determinado, por onde esse protesto poderia entrar?

Valor: O PSOL surgiu como opção à esquerda do PT. Mas para conquistar a primeira prefeitura de capital (Macapá) teve apoio da direita. No Brasil, ocorreria o oposto do previsto pelo cientista político Giovanni Sartori, em vez da contaminação dos partidos grandes pela ideologia dos pequenos, estes é que imitam o pragmatismo dos grandes?

Nobre: O caso de Macapá é exatamente o exemplo que eu ia dar. Acontece que Sartori está escrevendo no pós-Maio de 1968. Isso faz uma diferença bárbara. Porque Maio de 68 resultou numa mudança radical de cultura política nas democracias avançadas. O Estado de bem-estar social, na formulação que estava na época, transformava as pessoas em clientes, em objetos de política pública. E o trade-off era mais ou menos o seguinte: a sua pensão e os seus remédios estão ali direitinho, você vai receber em dia, ao mesmo tempo você é tornado um cidadão passivo. Então, todos os movimentos estavam querendo dizer: eu não sou um cliente, eu sou cidadão. E um cidadão participa da democracia na rua. Sem isso, não teríamos essa visão de democracia que temos hoje, que não se restringe ao regime político. Democracia não é regime político. É uma forma de vida, é cultura política, não é um regime político. Sartori escreve quando já existe essa mudança, os movimentos sociais já estão todos ali. É diferente da nossa situação. Experimentamos blindagem neoliberal, que veio até a crise de 2008, que é a blindagem que os movimentos da Europa querem romper. O neoliberalismo no Brasil tem elemento diferente, que é o pemedebismo.

Valor: O que marca o pemedebismo?

Nobre: Não tem um sistema organizado em oposição e situação. É um sistema em que todo mundo está dentro do governo. E que oposição e situação se organizam dentro do próprio governo. Ninguém está fora dele. A oposição formal, ou virtual, a única coisa que faz é esperar a economia dar errado para ver se o poder cai no colo dela. E não aposta justamente nisso em que apostam os movimentos. O [governador de São Paulo Geraldo] Alckmin está tão atônito quanto o [prefeito Fernando] Haddad. Porque para eles a economia determina tudo. Acontece que a economia não determina tudo. Em Maio 1968, se estava no auge, no pico de distribuição de renda, pró-salários. Estamos num momento em que a economia não está resplandecendo, mas o desemprego está baixo, a renda continua aumentando um pouco, e é quando explodem as coisas.

Valor: Não é um protesto sobre os 20 centavos?

Nobre: Também. Mas eles recorreram à Constituição para fundamentar a reivindicação do Movimento Passe Livre. Basta uma pessoa andar em qualquer transporte público, em qualquer cidade brasileira, para ficar horrorizado. O protesto é sobre isso. Mas não é por acaso que ele canalizou todas as forças de insatisfação.

Valor: E por que a área de transporte levou a essa mobilização?

Nobre: A insatisfação pode começar num bandejão de uma universidade e virar Maio de 1968. O estopim é imprevisível. É a vitalidade da democracia. Representa o susto da ordem.

Valor: Em que medida os protestos refletem a contradição de camadas da população que ganharam poder de consumo mas que continuam a receber serviços públicos de baixa qualidade?

Nobre: É um fator, desde que não seja o fator. Porque de novo aí as pessoas vão tentar explicar tudo pela economia. Diminuir a desigualdade é avançar a democracia, só que você não pode fazer uma troca de menos desigualdade, mas eu aceito ficar com o mesmo grau de liberdade. As duas coisas têm que vir juntas.

Valor: A causa não seria a perda do controle das ruas pelo PT?

Nobre: Primeiro, sou contra essa ideia de cooptação simplesmente. Houve um convencimento durante o governo Lula da parte organizada da sociedade - sindicatos, ONGs, associações de lutas por direitos. Nenhum partido controla um movimento social autêntico. Outra metáfora que eu detesto é a da fadiga de material. Estamos falando de política e não de construção civil. Não tem nada a ver com o governo estar há muito tempo no poder. Trata-se da maneira pela qual se mantém no poder. É o processo de tecnocratização.

Valor: É um movimento de classe média?

Nobre: Não. Esse é outro dos muitos mitos que envolvem os protestos. É um mito que eles pertencem à classe média alta, às redes sociais ou que expressariam um fenômeno natural de inconformismo da juventude.

Valor: Que relação há entre os protestos no Brasil e no exterior?

Nobre: Vamos distinguir o que é Primavera Árabe do que é Turquia e Brasil. Não se pode confundir protestos em geral numa democracia e protestos em ditaduras.


Fonte: Valor

segunda-feira, 17 de junho de 2013

The west’s dominance of the Middle East is ending



Gideon Rachman disseca com precisão cirurgica os motivos do inicio do fim do dominio ocidental no Oriente Médio. Analise, se correta, com serias implicações para a relações econômicas internacionais. Vale a leitura

Should the west arm the Syrian rebels? That is the issue of the day in Washington, London and at the Group of Eight summit. But behind this debate lies a bigger question. Can western powers continue to shape the future of the Middle East as they have for the past century?
The current, increasingly fragile borders of the Middle East are, to a large extent, the product of some lines on the map drawn by Britain and France in the Sykes-Picot agreement of 1916. The era when Britain and France were the dominant outside powers ended definitively with the Suez crisis of 1956 – when the US pulled the plug on the two nations’ intervention in Egypt. During the cold war, the US and the USSR were the big players. After the collapse of the Soviet Union in 1991, America stood alone as the great power in the Middle East: organising the coalition to defeat Saddam Hussein in 1991, protecting the flow of oil from the Gulf, containing Iran and attempting to broker a peace settlement between Israel and the Arab states.
Those who are urging the US to get more deeply involved in the Syrian conflict now are living in the past. They assume that America can and should continue to dominate the politics of the Middle East. But four fundamental changes make it no longer realistic, or even desirable, for the US to dominate the region in the old way.
These changes are the failures of the Afghan and Iraq wars; the Great Recession, the Arab spring and the prospect of US energy independence.
Over the past decade, the US has learnt that while its military might can topple regimes in the greater Middle East very quickly, America and its allies are very bad at nation-building. A decade of involvement has left both Afghanistan and Iraq deeply unstable and wracked by conflict. Neither country is securely in the “western camp”.
The result is that even the advocates of western intervention in Syria, such as Senator John McCain, proclaim that they are opposed to “boots on the ground”. Instead, they are pushing to supply weapons to the Syrian rebels – arguing that this is necessary to secure a more desirable political outcome.
President Barack Obama has given some ground to the “arm the rebels” camp. But his reluctance and scepticism are evident – and amply justified. If a full-scale western occupation of both Iraq and Afghanistan was unable to secure a decent outcome, why does anybody believe that supplying a few light weapons to the Syrian rebels will be more effective?
The Great Recession also means that the west’s capacity to “bear any burden” can no longer be taken for granted. European military spending is falling fast – and cuts in the Pentagon budget have begun. With the direct and indirect cost of the Iraq war estimated at $3tn and the US government borrowing 40 cents of every dollar that it spends, it is hardly surprising that Mr Obama is wary of taking on new commitments in the Middle East.
The third new factor is the Arab spring. President Hosni Mubarak of Egypt was a long-time ally and client of the US. Nonetheless, Washington decided to let him fall in early 2011 – much to the disgust and alarm of other long-term American allies in the region, notably Saudi Arabia and Israel. But the Obama administration was right to drop Mr Mubarak. He could not have been propped up without risking a Syria-style bloodbath.
More fundamentally, the US has recognised that, ultimately, the people of the Middle East are going to have to shape their own destinies. Many of the forces at work in the region – such as Islamism and Sunni-Shia sectarianism – are alarming to the west but they cannot be forever channelled or suppressed.
Finally, the ability of the US to take a more hands-off attitude is greatly enhanced by the shale revolution in the US, which lessens American dependence on Middle Eastern oil.
Accepting that western domination of the Middle East is coming to an end, however, should not be confused with saying that western nations will not defend their interests.
The US has large military bases in the Gulf and, together with its allies, will still try to prevent the Middle East becoming dominated by a hostile power. Despite its role in Syria, Russia is not a plausible regional hegemon. But Iran worries the US; an attack on its nuclear programme remains an option, despite the encouraging result of this weekend’s presidential elections. Jihadist forces, linked to al-Qaeda, will also encounter western resistance – one reason why the Syrian opposition continues to be treated very warily. And the US and its European allies will remain deeply involved in regional diplomacy over Syria.
Western humanitarian instincts will play a role too – as they did in the decision to support the Libyan rebellion. But, as Syria is demonstrating, there is a limit to what the west will take on. Even former Australian foreign minister Gareth Evans, the intellectual godfather of the doctrine of the “responsibility to protect” civilians, is warning against military intervention in Syria.
Despite the US decision to begin to supply military assistance to the rebels, Mr Obama is obviously still wary of deep involvement in the Syrian conflict. More than some of his advisers and allies, he seems to appreciate the limited ability of outside powers to control the new order that it is emerging in the region. The era of direct colonialism in the Middle East ended decades ago. The era of informal empire is now also coming to a close.

Fonte: FT

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Subjects of desire


Artigo bem interessante da Gillian Tett sobre as preferencias do vestibulandos americanos. Lá, como aqui, a área de humanidades é a preferida dos adolescentes. Felizmente, eles podem contar com o grande afluxo de estudantes para seus cursos de pós graduação na área de ciências, assim como o alto percentual deles que optam por fazer carreira no Império.


Does America need more computer scientists and engineers? Or does it actually require people who understand political history and prose? These are not entirely academic questions. In recent weeks, thousands of frazzled American families have endured the modern hell that is high-school exams. But it is not just the dreaded SAT tests that are causing nightmares. For many of the families and teenagers I know, the really nasty challenge revolves around the so-called Advanced Placement, or AP, tests.
In theory, these are voluntary, supplementary exams, which were devised six decades ago by the College Board, a non-profit group, to let talented teenagers experience introductory college work. In practice, however, the fight to get into American colleges is now so ultra-competitive that more and more kids are being pushed into taking these exams. In 2012, more than two million students took 3.7 million AP tests, more than double the number a decade earlier, and five times the number two decades before.
Unsurprisingly, this explosion has stirred up heated debate. Last year, for example, John Tierney, a politics professor and Boston high-school teacher, set the US blogosphere buzzing after he dubbed the AP “one of the great frauds currently perpetrated on American high-school students”. Most notably, Tierney decried the exams as a waste of valuable teaching resources, which foster “a kind of mindless genuflection to a prescribed plan of study that squelches creativity and free inquiry”.
However, the AP organisers disagree. “The AP Program is not a simple cure for all challenges we face within our education systems. But as educators use AP standards to help a diversity of students engage in rigorous work worth doing, I find myself inspired daily by what they are achieving,” declared Trevor Packer, a senior vice-president of the AP board.
To my mind, what is most interesting of all about these exams is the question of what those American kids – or their parents – are choosing to study. If you look at the US high school education system overall, it is admirably broad in scope – at least, it is compared to the UK, where children must pick just two, three or four subjects to study at the age of 16 via A-levels.
However, within its broad system, the AP is one of the few places where specialism rules: teenagers typically choose to sit exams in just one or two subjects from 39 different courses. Now, you might think that in this era of economic flux, technological innovation and globalisation, students and schools would opt for subjects that tap into this trend. Policy makers today are trumpeting so-called “STEM” subjects (science, technology, engineering and maths) and parents know that these subjects tend to produce jobs.
But the AP exams do not reflect that at all. Last year, according to the AP website, the most popular exam to take, by a long margin, was English literature and composition: 824,000 kids sat those tests, a threefold increase on the decade. In second place was American history, which attracted 428,000 students, twice the number of a decade before. In third place, with 360,000 students, was one STEM subject: calculus. After that came US politics and government, psychology and world history. Biology ranked below that, while chemistry and computing science were further down the list. And physics was so unpopular that seven times more students sat the English exams than physics.
Why? The AP website itself does not comment on the pattern, and it is unclear whether the AP subject choice always matches college degrees. Some of those students studying poetry, in other words, may still become engineers. Indeed, it would be nice to think – or dream – that some far-minded teenagers are deliberately using the AP exam to enhance their communication skills or civic knowledge of the American constitution before they become scientists.
. . .
In truth, though, I suspect that most students are picking English and history because it seems an easy thing to do, given the slant of their prior education (or the education of the parents who are helping them study). I would also bet that very few humanities students are being steered towards calculus and physics “just for fun”: in high school, as in western society more broadly, science has an aura of exclusivity and inaccessibility; mental barriers are erected at an early age. But frankly, that is a tragedy. Speaking for myself, I have spent my life embedded in the humanities: after doing English, French, maths and art at school, I did degrees in social anthropology before becoming a journalist. But
in spite of that background – or, rather, because of it – I am keenly aware of the value of STEM subjects. Indeed, I regret having dropped science at such a young age. That does not mean, let me stress, that literature and history are not extremely valuable subjects – they are. After all, studying these subjects in high school has helped to foster a common civic identity in America, particularly given its immigrant roots. Indeed, many of those arriving in the country did not initially come from English-speaking cultures, which is one reason these subjects are taught so heavily. But a seven-to-one ratio between prose and physics seems a strange ratio for modern America – most of all at a time of economic challenge and technological change.

Fonte: FT

quinta-feira, 13 de junho de 2013

China is giving Europe a harsh lesson in geopolitics


Ótimo artigo do Philip Stephens sobre os movimentos na China no tabuleiro internacional. É um dado fundamental, nas discussões sobre o espaço do Brasil nesta nova ordem econômica internacional. Para avançar a discussão é preciso, também, definir o que seria o interesse nacional na esfera internacional. Infelizmente, a discussão sobre este tema ainda é bastante embrionaria, já que o debate acadêmico ainda é prisioneiro de uma visão de mundo que, curiosamente, a China, um país nominalmente marxista-lenista, felizmente, já se livrou.

From time to time a small coincidence throws up a salutary reminder of the new geopolitical constellation. This happened the other day when Xi Jinping travelled to the US for talks with Barack Obama and, simultaneously, Beijing fired a broadside at Brussels. For a European, it was a distinctly unsettling experience.
As the US and Chinese presidents strolled in the sunshine at the Sunnylands resort in Palm Springs, mapping out what Mr Xi calls a new type of “great power” relationship, the People’s Daily published a trenchant editorial underlining Beijing’s rather frostier view of Europe. The wary respect afforded by Mr Xi to the leader of what is still the world’s sole superpower was notably absent from the message sent to America’s transatlantic allies.
The editorial appeared under the pen name Zhong Sheng, which sounds much the same in Mandarin as “Voice of China”. The casus belli was a burgeoning trade dispute with the European Commission about China’s alleged dumping of solar panels. The sentiments, though, went beyond an expression of anger at Karel De Gucht, the EU trade commissioner.
The editorial reminded Europe of its fading power in a reordered world: “The change of the times and the shifts of power have failed to change the condescending attitude of some Europeans.” Translated: a declining continent should know its place. If not: “China doesn’t want a trade war, but trade protectionism cannot but trigger a counterattack.” In Beijing’s view there is no doubt as to who would win such a confrontation. To concentrate minds, it launched its own anti-dumping probe into imports of European wine.
Equally striking was the open acknowledgment of a divide-and-rule approach to the EU. The People’s Daily pointed out that Mr De Gucht’s proposed anti-dumping duties were opposed by most member countries. What it might have added is that this testified to the success of China’s strategy of applying intense pressure to individual governments.
In advance of the solar panel decision, China deployed an array of threats. And, hey presto, Germany’s Angela Merkel was at the top of the list of leaders ready to disown Mr De Gucht. A visit to Berlin by Chinese premier Li Keqiang could then go ahead as planned.
Beijing adopts the same muscular response to what it deems to be interference in its internal affairs. Last year Britain’s David Cameron met the Dalai Lama in London. The prime minister has since been frozen out by the Chinese leadership. His German and French counterparts, who are said to have given private “assurances” about future contact with the Tibetan spiritual leader, are free to drum up business in Beijing.
Given that they are unable to agree among themselves, I suppose it is a stretch to imagine Europeans might make common cause with the Americans. A proposed transatlantic trade and investment pact offers Europe an opportunity to avoid geopolitical irrelevance. But even before the starting gun has been officially fired, a pall has fallen over prospects for a deal. Europeans do not seem to understand they have by far the most to lose from failure.
I heard many objections to the TTIP the other day during the annual gathering in Venice of the Council for the United States and Italy. Most came from the EU side. Beyond calls for protection of this or that sector, I sensed a more visceral hostility. Why should proud Europeans bend their national and cultural preferences to the wishes of bossy Americans?
It is all too difficult, Europeans say of attempts to agree common regulatory standards or to accept mutual recognition of rules and norms in areas as diverse as pharmaceuticals, food hygiene and financial services. There are too many national and special interests at stake. That is before you get to French cultural exceptionalism or to arguments about data protection thrown up by recent revelations about the interception activities of the US National Security Agency.
What is missing from these disputes about genetically modified food, public procurement practices, cotton prices and the rest is sight of the bigger prize. Put together the TTIP talks with parallel negotiations for a Trans-Pacific Partnership and with a putative free-trade deal between Europe and Japan, and the story becomes one about the cohesion or otherwise of the world’s advanced democracies.
One way of looking at the planned patchwork of deals is as a plot to lock out China; and the aim certainly is to continue to set norms and standards for the global economy. Another view, though, is that if western nations want to preserve an open, liberal and inclusive trading system, they must at least agree among themselves. A multilateral deal would have been preferable but, as was evident during the failed Doha round, it is out of reach.
None of this is to suggest Europe should simply bow to US demands. There are plenty of areas where Washington will have to make painful concessions if a transatlantic accord is to be reached. There is no reason also why the two sides cannot agree to disagree on some of the most sensitive issues if there is substantive progress elsewhere.
Europe has most to lose. The US possesses the economic and military strength and the natural resources to go it alone as a self-sufficient superpower. Europe faces the choice between cohesion and irrelevance. It has more to fear from an assertive China than cause to resent the US. Europeans can only hope that policy makers recognise the harsh facts of geopolitical life and put fights about chlorinated chickens into some perspective.

Fonte: FT

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Piadas sobre economistas..

Há duas classes de economistas que prevêem as coisas: Aqueles que não sabem e aqueles que não sabem que não sabem.
(J.K. Galbraith)

Lei de Murphy da Política Econômica: Os economistas tem a menor influência na Política Econômica quanto mais sabem e mais concordam; tem a maior influência na Política Econômica quando sabem o mínimo e discordam veementemente.
(Alan S. Blinder)

Um economista é um especialista que saberá amanhã porquê as coisas que previu ontem não acontecerem hoje.
(Laurence J.Peter)

Um estudo de economia geralmente revela que a melhor época para comprar qualquer coisa é o ano passado.

Se todos os economistas fossem postos lado a lado eles não iriam alcançar uma conclusão.
(George B. Shaw)

Se você coloca dois economistas em uma sala, você acha duas opiniões, ao não ser que um deles seja Keynes, quando você acha três opiniões.
(W. Churchill)

Um economista é alguém que vê alguma coisa funcionando na prática e pergunta como funcionaria em princípios.
(Stephen M. Goldfeld)

Um físico, um químico e um economista estão perdidos em uma ilha deserta, sem nada para comer, somente com uma lata de sopa enlatada. Entretanto era preciso abrí-la. O físico disse, "vamos bater na lata com uma pedra", o químico disse "vamos fazer uma fogueira e aquecer a lata antes", enquanto o economista complementou, "assumindo a hipótese de que nós temos um abridor de lata...".
(Paul Samuelson)

terça-feira, 11 de junho de 2013

Martin Wolf: The overstated inflation danger


Ótimo artigo do Wolf sobre inflação no leão desdentado e no Imperio.


Almost three years ago, at the World Economic Forum’s “Summer Davos”, in Tianjin, I heard a Republican politician say that the US would be in hyperinflation within two years. I was stunned. Yet a large number of people believe that hyperinflation is coming. If the US is in trouble, so, surely, is the UK. Is there anything in such predictions? The answer is: possibly, in the very long run. At present, however, the risk is that inflation may be too low, not too high. Paradoxically, that increases inflation risk in the long run.
What drives an inflationary process? The late Milton Friedman gave the classic answer: “Inflation is always and everywhere a monetary phenomenon in the sense that it is and can be produced only by a more rapid increase in the quantity of money than in output.” But this does not explain why the quantity of money should grow more rapidly than output. The answer of those now terrified of inflation is twofold. First, central banks are “printing money” through “quantitative easing”, which will ultimately produce an explosive rise in broad money. Second, prospective levels of public debt will ultimately encourage governments to default, via inflation.
Let us look at this big issue for the UK, which has rising public debt and relatively high recent inflation.
Whatever the longer-term dangers, the picture for the next two years or so is quite the opposite. Both core and headline inflation rates are reasonably low. Wage inflation is close to zero and, despite falling productivity, unit labour costs are rising at below 2 per cent a year. The exchange rate has stabilised, as have commodity prices. The International Monetary Fund forecasts that they are likely to fall in the next few years. On balance, then, short-term inflationary pressures are very weak. What is true for the UK is even truer of the US and the eurozone.
Now turn to the next five years. Over that period, demand and capacity utilisation become important. Alas, UK gross domestic product is 16 per cent below its pre-crisis trend. Official estimates also indicate much excess capacity: the IMF estimates the “output gap” – the difference between actual and potential output – at 4 per cent of the latter this year. Though not as high as one might expect, unemployment is at about 8 per cent. Furthermore, the expansion of the central bank’s own balance sheet has not offset the declining willingness of the banks to lend. As a consequence, the amount of credit and so-called “broad money” in circulation is shrinking. Finally, fiscal policy is highly contractionary.
Even over the medium term, then, it is hard to believe inflation is more than a will-o’-the-wisp. So what about the longer term? Could the 2020s see an inflationary upsurge? Many believe so because there is a direct link – the so-called “money multiplier” – between the reserves of commercial banks held at the central bank and the lending by commercial banks to the public. They assume banks will lend more against these reserves, meaning that the current high level of reserves at the central bank is an indicator of future monetary expansion.
But a solvent bank can obtain the reserves it needs from the central bank. Moreover, the central bank will make sure that such a bank never falls short of reserves, since the alternative could well be a breakdown of the payment system. So what limits banks’ lending? The answer is: its own solvency and that of its customers.
So the equity capital of the bank is, accordingly, a far more important determinant of its ability to create money than its reserves. Moreover, should the central bank wish to lower excess bank reserves, it can either sell government debt to the public or raise their reserve requirements. Thus, the idea that a high level of reserves guarantees a future surge in broad money is false.
A more cogent argument for the likelihood of high inflation is not that it is a necessary consequence of today’s policies, but rather that it is the simplest way for policy makers to deal with the overhang of public (or private) debt. In this view, distributional conflicts – between creditors and debtors or perhaps between young and old – are resolved by inflationary default on liabilities. It is easy to think of precedents for such an inflationary redistribution of wealth. What, after all, are the alternatives? Broadly speaking, they are: austerity; growth; and financial repression (reductions in interest rates, probably combined with exchange controls and other restrictions on investors). Inflation can fit quite comfortably with these alternative elements.
In fact, the UK has an interesting recent history of managing high public debt. After the second world war, net debt was more than 200 per cent of gross domestic product. By the early 1970s, that was down to 50 per cent. How did this remarkable change happen? The answer is that nominal debt outstanding rose by just 29 per cent between 1948-49 and 1970-71, while nominal GDP rose by 336 per cent. Both real GDP (up 91 per cent) and the price level (up 128 per cent) contributed to this happy outcome: the compound rate of growth of nominal GDP was 6.9 per cent, of the real economy 3 per cent and of the price level 3.8 per cent. (See charts.)
Unless the UK turns out to be just like Japan over the past two decades, the level of public debt relative to GDP should, on most forecasts, end up, in the 2020s, at less than half of what it was in 1948. Given that, even growth of nominal GDP at 4 per cent a year should do the job. This assumes that it will be possible to put the primary fiscal deficit (before interest payments) into a surplus of, say, 2 per cent of GDP by the early 2020s and that long-term real interest rates will also be no higher than 2 per cent. Under these assumptions the strategy of growing out of the debt becomes perfectly plausible.
What are the greatest threats? The answer has to be: a sharp fall in real GDP that would crush house prices, raise unemployment, push the economy into deflation and, quite possibly, even generate a further financial shock. This would make the numerator – public debt – even bigger and the denominator – nominal GDP – still smaller. The only offset could be lower interest rates. But, as Japan’s experience shows, even ultra-low interest rates do not protect an economy against the adverse impact of very prolonged fiscal deficits and deflation.
Strong and sustainable growth is the solution. That can turn the inflation threat into a paper tiger.

Martin Wolf

Fonte: FT

segunda-feira, 10 de junho de 2013

David Kupfer:Dilemas da gestão macroeconômica



Kupfer foi muito feliz na analise dos dilemas colocados pela taxa de câmbio. Vale a leitura...




Após duas décadas no limbo, começam a se avolumar sinais de que a taxa de câmbio está entrando na esfera das prioridades da política macroeconômica. Para muitos analistas, o dólar atual na casa de R$ 2,10 não se mostra apreciado o suficiente para frear a inflação nem depreciado o necessário para estimular o investimento e as exportações líquidas. Predomina uma curiosa sensação de que, mesmo que ninguém saiba exatamente onde o câmbio está, todos têm a certeza de que ele está fora de lugar. Segundo os ditames dos manuais de economia, um consenso dessa natureza seria suficiente para colocar a taxa de câmbio em movimento, como de fato ocorreu ao longo do mês de maio. Mas o Brasil nunca foi um bom campo de testes para esses manuais e não há razão para que agora seja diferente.

Os números do PIB do primeiro trimestre de 2013 trazem um elemento novo importante para contextualizar essa questão. Muito mais do que o valor absoluto de 0,6% de crescimento em relação ao trimestre anterior, o comportamento dos componentes do PIB parece finalmente revelar um quadro de previsibilidade, com o investimento crescendo à frente do consumo e com um baita sinal amarelo piscando no front externo. Senão vejamos: primeiro, diante da retração do ritmo de crescimento econômico é ou não é mais fácil compreender a parada do consumo das famílias, que cresceu apenas 0,1% nesse primeiro trimestre, do que a excitação dos anos anteriores? Segundo, diante da concentração de estímulos mobilizados pela política econômica com o objetivo de promover investimentos é ou não é mais fácil compreender a retomada da formação bruta de capital fixo, que evoluiu muito à frente do PIB (4,6% no período), do que o desempenho frustrante dos anos anteriores? Terceiro, diante do quadro de câmbio apreciado em um mundo em guerra cambial é ou não é mais fácil entender a posição deficitária assumida pelas exportações líquidas (crescimento de 6,3% das importações e queda de 6,4% das exportações) do que os superávits dos últimos anos?

Para quem não tem bola de cristal, essa maior clareza do movimento do PIB ajuda a desenhar cenários para os caminhos e dilemas da política econômica para o futuro próximo. Um primeiro cenário seria imaginar uma estratégia macroeconômica que vise resgatar o dinamismo apresentado pelo consumo das famílias nos últimos anos. Dados os limites mais estreitos deixados pelo esforço fiscal já realizado para fomentar os investimentos, a subida da Selic para conter a inflação e o estreitamento do crédito para devolver as operações de financiamento ao consumo aos seus parâmetros usuais de segurança, não parece haver alternativa nesse cenário que não recolocar o real nos níveis ultravalorizados de 2011 ou antes. Impactos disruptivos sobre as contas externas desautorizam essa hipótese.
Um segundo cenário seria dado por uma estratégia voltada para buscar reproduzir o "investment-led" de 2004-2008. Uma desvalorização branda, juntamente com outras medidas visando emparelhar os custos sistêmicos domésticos aos internacionais (infraestrutura, tributação, etc) talvez já se mostre suficiente para incrementar a rentabilidade da indústria e repor a atratividade dos novos investimentos. Embora difícil de quantificar, essa desvalorização branda poderia ser da ordem de 15%, levando o dólar a R$ 2,30. Implicaria repetir agora em junho ou nos próximos meses os 6,6% de queda do real ocorridos em maio.

Um terceiro cenário seria formatado por uma estratégia objetivando repetir o "export led" dos anos iniciais da década de 2000. Nas condições negativas que hoje cercam os mercados internacionais de commodities (minerais), incrementar as exportações exigiria repor rapidamente a competitividade do setor manufatureiro. Isso significaria promover um brutal choque de produtividade industrial que, enquanto não vem, tornaria imprescindível uma desvalorização radical do real. Nesse cenário é ainda mais difícil estimar valores, mas poderia estar se falando em uma desvalorização da ordem de 30%, como a ocorrida na crise cambial do início de 1999, que levaria o dólar para algo em torno de R$ 2,60.

Evidentemente, seja brando ou radical, conter o impacto inflacionário do repasse do ajuste cambial aos preços dos bens comercializáveis requereria um recuo proporcional nos preços dos serviços, invertendo o sentido do processo que garantiu a estabilidade monetária desde o plano Real. A favor dessa acomodação tem-se o espaço para o crescimento da produtividade e para a queima da gordura existente nas margens hoje praticadas nos serviços, além do fato de que os salários estão parando de crescer. Contudo, a efetividade do processo está sujeita também à capacidade da indústria reverter a atual tendência de crescimento da propensão a importar intermediários, partes e peças. Infelizmente, essa capacidade depende de determinantes tecnológicos que a tornam uma verdadeira incógnita.

Após um longo período de marasmo o regime cambial brasileiro está agora sob pressão. Ao que tudo indica, o país não pode mais prescindir de uma política cambial que defina pelo menos um horizonte de médio prazo para a flutuação do câmbio. Os caminhos sugerem que a hora de desatar o nó cambial pode ter chegado. Porém, não se pode perder de vista que, em episódios de desvalorização, mais importante do que a magnitude é a forma com que o processo é gerido. E é aí que residem os dilemas.

David Kupfer

Fonte: Valor





sexta-feira, 7 de junho de 2013

Why the ECB is reluctant to “go negative”


Ótima analise sobre um conhecido dilema da política monetária do ECB: ' going negative",


The ECB decided yesterday against “going negative” by reducing its deposit rate from zero to -0.25 per cent. The Governing Council again debated the pros and cons of such a measure, which would represent the first time that any of the major four central banks would ever have reduced a key policy rate to below zero [1]. Mr Draghi said again that the ECB was “technically ready” to take this action, and that the option remains “on the shelf”.

Many in the markets believe that this is just a bluff to prevent the euro from rising in the foreign exchange markets. There have been several unsupportive comments from leading members of the Governing Council (Asmussen, Mersch, Noyer and Nowotny) and Mr Draghi admitted that disagreements exist in the Council. Nevertheless, the President has deliberately left the option on the table, so it is important to understand the debate.

The technical aspects of negative rates have been very well covered in FT Alphaville recently, but I would like to focus on the broader policy implications. Why would a central bank want to take this action, and could it back-fire on them?

The fundamental case for trying to move interest rates into negative territory is of course the same as it is for reducing interest rates at any other time, which is to bring private expenditure into the present from the future. In order to do this, interest rates on savings and borrowing throughout the economy need to decline, so there has to be a pass-through from the central bank, via the commercial banks, to households and corporates. Other desired effects can be a lower exchange rate, and a decline in bond yields, resulting in higher asset prices.

It is not at all clear, however, that any of these effects would operate if the ECB were to go negative, and there is some chance that the impact would be perverse.
FT Alphaville has suggested that a cut in the rate paid on bank deposits at the ECB would reduce money market liquidity and may not even be translated into money market rates, such as the overnight eonia rate. The discussion here can become rather abstruse, but my own view is that the ECB could certainly drive the eonia rate negative if it wanted to do so, and it is important to note that market rates in Denmark followed the policy rate when the latter went negative. Therefore, I assume that short term money market rates in the eurozone would drop below zero.

This might have an impact on the euro exchange rate, that cannot be taken for granted. A key consideration is that a cut in the deposit rate to -0.25 per cent would almost certainly be the last rate cut in the ECB’s armoury, because any further move into negative territory may induce banks and others to hold physical currency instead of deposits. That process would rapidly become a wasteful nightmare. Consequently, foreign exchange traders would not need to fear any further rate move into deeper negative territory by the ECB, and this could actually encourage them to hold long euro positions.

More important, the follow-through from money market rates to other rates in the economy is far from assured. In Denmark’s case, there was no transmission of negative rates to lower rates on customers’ bank deposits, so banks’ margins were reduced. Banks might seek to restore their profitability by raising the rates they charge on customer loans, which would of course be the opposite of what the ECB intends. This has not happened yet in Denmark, but nor have lending rates dropped either. So the ECB might well find it difficult to transmit its rate reduction to the rest of the economy.

Meanwhile, the arrival of negative money market rates would lead to a number of practical problems, some of which may be serious. Zero is not just like any other number. Last November, Eurozone banks represented to the ECB that some money market funds would not be able to handle negative rates (because their net asset values cannot be reduced below par). In the US in 2008, this caused a disruptive run on money market funds, some of which collapsed.

Recent reports suggest that about half of the eurozone’s money market funds have now changed their legal structure so that they can handle this problem, but that still leaves half of a €1tn industry to worry about!

Furthermore, JPMorgan has argued that negative money market rates would be likely to cause problems for the repo market in government bonds, where a reduction in liquidity would be very unwelcome. Danish experience suggests that money market rates might become much more volatile as banks try to pass the “hot potato” of loss making deposits among themselves at very short notice.

The final perverse effect would come on bank profits. Since the 2008 crash, the central banks have been helping to repair banks’ balance sheets by offering them very low cost cash which they could use to purchase other, higher-yielding assets, such as government bonds. A reduction in deposit rates to below zero would act as a direct tax on the banks. While many observers might think this is appropriate, the ECB probably does not agree with them.


Conclusion

The conclusion is that a move into negative territory would, at most, involve only a small decline in money market rates, which may not be followed by similar moves in the rates which really matter, on customer deposits and loans. There could be some disruptive effects in the money markets, and damage to bank’s profitability, which is currently undesired.

It is not surprising that the ECB, like the Fed and the Bank of England before it, has been reluctant to go down this path. If further non standard measures are needed from the ECB, as they probably will be, Mr Draghi may struggle to get a majority in the Governing Council for negative rates. An ultra long, ultra low cost, LTRO seems much more likely.




——————————————————————————————

Footnote [1]

Denmark reduced its equivalent to the ECB’s deposit rate to -0.2 per cent last July, and it is now at -0.1 per cent. Sweden briefly went negative with its policy rate in 2009-10. There have been several other occasions when market interest rates have been negative, including negative Swiss bank deposit rates in the late 1970, and negative treasury bill rates in the core countries of the eurozone during the recent crisis.


Gavyn Davies

Fonte: FT

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Entrevista com o Guido Mantega.







Valor: A nova taxa de câmbio, mais desvalorizada, já é o reflexo de um mundo pós-crise e de uma economia americana mais dinâmica?

Mantega: Não diria que já é o pós-crise. Acho que estamos no final da crise. Os Estados Unidos estão melhorando, mas ainda têm melhoras e retrocessos. Não é uma recuperação sólida. Surgirá uma nova economia americana. Os EUA sofreram grandes mudanças. A nova energia barata lá aumenta muito a produtividade, mas eles ainda não resolveram os problemas do "subprime". A Europa escolheu um caminho complicado, que é a unificação fiscal e do sistema monetário. Isso é adequado e correto, mas eles estão mergulhados na recessão. Os países emergentes foram atingidos. China, Índia e Brasil desaceleraram. O comércio mundial está fraco. As perspectivas são de melhora, mas por enquanto estamos nas promessas. Essa situação retardou os efeitos das medidas que tomamos, aqui no Brasil, nos últimos anos, para reestruturação da economia, para maior dinamismo e maior produtividade. O comércio exterior está parado e é fundamental para todo mundo. No ano passado, cresceu uma mixaria, 1% a 2%.

Valor: E a China desacelera mais do que se pensava?

Mantega: Na medida em que vão melhorando as perspectivas de vida da população, a China não vai mais crescer a 10%. Isso ocorre só na arrancada. Agora, se crescer a 6% está bom. Isso vai demandar um ajuste da economia mundial.

Valor: O que significa, para o Brasil, uma economia americana mais forte e exportadora, e uma China mais fraca e voltada para o mercado doméstico?

Mantega: Estados Unidos mais forte seria com um crescimento de 2,5% a 3%, mas não para este ano. Os EUA têm dinamismo pela nova energia mais barata (gás de xisto) e avanços tecnológicos. Eles avançaram bastante na produtividade e querem exportar mais. Isso é um problema. Quando a economia americana se recuperar, vai chacoalhar, por exemplo, a indústria química mundial.

Valor: E nós?

Mantega: Estamos fazendo várias mudanças estruturais na economia brasileira. No pós-crise, todos serão mais competitivos e temos que estar e estamos sintonizados com esse movimento.

Valor: Isso requer mais câmbio?

Mantega: Câmbio é importante. Nesse momento, há uma desvalorização generalizada, principalmente nos países emergentes produtores de commodities, por causa do presidente do Federal Reserve (Fed), Ben Bernanke, que anunciou que deverá reduzir os estímulos e comprar menos ativos financeiros. Os mercados se movimentam para se preparar para a redução dos estímulos americanos. Acredito que haverá volatilidade nesses mercados, mas acho que os Estados Unidos só aumentarão os juros nos próximos anos.

Valor: O sr. acha que as mudanças lá serão lentas, graduais?

Mantega: Serão lentas, até porque eles não estão com essa bola toda. Os americanos não têm o crescimento sólido e o desemprego não chegou aos 6,5% que o Fed havia estipulado para começar a retirada dos estímulos. Mas os mercados gostam de antecipar esses movimentos, porque, com essa volatilidade, ganham dinheiro.

Valor: O sr. acredita que o câmbio na faixa de R$ 2,10 é algo mais permanente?

Mantega: Acho que teremos volatilidade, idas e vindas ao sabor das notícias. Se a recuperação não se consolidar, o Fed manterá os estímulos. Por enquanto os sinais são erráticos.

Valor: O fluxo de recursos financeiros para o Brasil está negativo desde fevereiro (US$ 5,9 bilhões) e o saldo da balança está em queda. Isso acaba afetando o câmbio.

Mantega: O nosso fluxo não me preocupa, porque o investimento estrangeiro direto será forte, tem o fluxo financeiro, vamos ter IPOs (emissão primária), tomada de crédito de brasileiros lá fora. Não haverá problema para fechar as contas externas brasileiras, apesar de ter havido queda no nosso saldo comercial. Essa queda, aliás, se deve praticamente à conta petróleo. Sem o petróleo, estaríamos com superávit de mais de US$ 5 bilhões no quadrimestre.

Valor: Voltando à política cambial, intervir nas situações de volatilidade é suficiente para dar certa estabilidade ao setor real?

Mantega: Apesar da volatilidade, nós estamos hoje com um câmbio mais flexível, mais flutuante do que em outras épocas, com menos intervenções.

Valor: Mais flutuante do que no ano passado?

Mantega: É, mais flutuante do que no ano passado. Isso significa que o mercado está levando a um câmbio adequado. Você vai tirando a mão e vai vendo que ele se comporta com menos volatilidade. Não nos últimos dez dias, que foram atípicos. Mas olhando o conjunto da obra, estamos com menos intervenção. O Banco Central não está comprando divisas há muito tempo e mesmo os "swaps", as intervenções no mercado futuro, estavam praticamente zeradas até a semana passada. Estamos gradualmente tirando a incidência dos IOF. Tiramos da renda variável e, agora, da renda fixa.
Valor: Os empréstimos com prazo inferior a um ano permanecem com IOF?

Mantega: Está em vigor. Ainda temos lastro, se necessário.

Valor: E o IOF sobre os derivativos pode ser retirado?

Mantega: Não sei se vou tirar ou não. A gente olha as condições do mercado, da economia. Estão previstos novos IPOs este ano. Já tivemos as captações da Petrobras, do Banco do Brasil Seguridade. A situação está mais equilibrada e o câmbio tende a flutuar de forma mais perfeita.

Valor: Esse novo patamar já tornaria a indústria competitiva?

Mantega: Não sei pra que lado vai o real, e não quero interpretar o câmbio. O ideal é que ele reflita os fundamentos. Nós tivemos diminuição do saldo comercial e a tendência da conta corrente este ano é de um déficit maior do que o do ano passado, entre 2,8% a 3% do PIB em 12 meses. Já em 2014, a oferta de petróleo será grande e a conta petróleo, a vilã do momento, estará estabilizada, podendo haver um retrocesso no déficit em conta corrente, que deve ficar por volta de 2,5% do PIB. Ele também aumentou este ano, porque a remessa de lucros e dividendos deu uma puxada na conta de serviços, assim como os gastos com viagens internacionais.

Valor: Em geral, os gastos com viagens ao exterior respondem rapidamente à taxa de câmbio, não?

Mantega: Nós desvalorizamos o real em 17% a 18% no ano passado, mas os gastos com viagens internacionais só aumentam. Acho que eles respondem mais à renda do cidadão, da classe média.

Valor: O sr. acha possível o dólar bater em R$ 3 no ano que vem?

Mantega: Isso seria o sonho de uns e o pesadelo de outros. Mas acho muito difícil que o mercado leve a taxa para esse patamar. Nem dá para pensar. Mas o governo não trabalha com um patamar, senão ele não seria flutuante.

Valor: O aumento do investimento por dois trimestres já significa uma retomada firme?

Mantega: A retomada dos investimentos foi confirmada nos dados de abril, que mostram vigor. E não é só na área de caminhões. Nos dados divulgados pelo IBGE na terça-feira, da Pesquisa Industrial Mensal, o que chama a atenção é exatamente o investimento que está difuso. Aqui você pode ver [o ministro mostra as tabelas]: bens de capital cresceu 3,2%; bens de capital para fins industriais cresceu 14,6%; bens de capital agrícola, 12,5%; bens de capital para peças agrícolas, 48%; e bens de capital para energia elétrica, 17%. E mais importante: bens de capital para a construção cresceu 30%. Isso significa uma retomada da construção. A formação bruta de capital fixo, você sabe, são duas coisas: construção e máquinas e equipamentos.

Valor: O sr. acha, portanto, que já é um movimento consolidado e disseminado?

Mantega: Eu acredito que vai se consolidar. Quatro meses é um terço do ano. Já dá para dizer que há uma expansão do investimento e os dados do BNDES, que é um grande financiador do investimento, confirmam isso. E o melhor da história é que daqui a pouco vem as concessões. Esse movimento será consolidado pelas novas concessões. Calculamos um adicional de R$ 40 bilhões no investimento do ano que vem só com as esses projetos. Vejo um movimento sólido de investimento no Brasil, que vai se estender até o fim do ano e vai pegar fogo, porque o ano que vem as concessões licitadas este ano estarão todas exercendo o investimento.

Valor: O discurso do governo é de que o crescimento puxado pelo consumo se esgotou e, agora, terá que ser liderado pelo investimento. Só que o investimento representa 18,45 % do PIB, enquanto o consumo responde por 65% do produto. Dá para dizer que antes era o consumo e agora será o investimento?

Mantega: Eu nunca falei que se esgotou o consumo. O consumo continuará crescendo no Brasil, mesmo porque ele é uma decorrência da massa salarial, do nível de emprego que continua crescendo, do salário real dos trabalhadores, que continua crescendo. Nós constituímos um mercado interno poderoso no Brasil e isso representa 60% do PIB. O consumo continuará crescendo, provavelmente a uma taxa mais baixa do que no passado. As vendas do varejo crescem 6% ao ano. Não é de se jogar fora. Mas agora vão aumentar mais devagar. Primeiro, porque há menos oferta de crédito para o consumo. Segundo, porque as famílias tiveram um "boom" de consumo. As famílias brasileiras há seis ou oito anos atrás tinham um padrão de muito pouco crédito. O nível de endividamento era de apenas 15%. Houve uma ocupação desse espaço e nesse período o crédito cresceu fortemente. Daqui para frente, como nós já nos aproximamos de países mais avançados, não é possível continuar nessa trajetória. O consumo das famílias deverá ter expansão de 3,5% e 4%. Por outro lado, há uma mudança estrutural. O que mais cresce é o financiamento habitacional. As famílias estão consumindo mais moradia e isso se reflete nos investimentos. O financiamento habitacional representa hoje 55% do total. Em 2007, o financiamento a bens duráveis representava 70% do crédito total. Essa é uma mudança estrutural benéfica.
Valor: Os bancos privados estão com retração do crédito? Há instituições que cortaram substancialmente os financiamentos para veículos.

Mantega: Teve banco privado com problemas com o financiamento de veículos e travou [novas concessões]. Nós estamos com uma retração geral do crédito, e isso explica também porque o financiamento de bens duráveis é menor. Os bancos privados resolveram segurar o consumo. Isso significa que o dia que eles resolverem liberar, você aumenta o consumo. Por isso estou dizendo: tem um componente estrutural e um conjuntural nessa redução do crescimento do consumo. Não há nenhum esgotamento. O que há é uma acomodação para um patamar de crescimento mais baixo.

Valor: Mas os estímulos do governo, que antes foram dirigidos ao aumento do consumo, agora se voltam para a expansão dos investimentos?

Mantega: Tem gente que acha que nós não estimulamos o investimento. Isso é um equívoco. O investimento cresceu mais do que o PIB nos últimos dez anos. De 2003 a 2012, o investimento cresceu, em média, 5,7% e o PIB, 3,6%. Nas desonerações, 70% vão para os investimentos e para a produção. O restante é consumo.

Valor: Qual a sua expectativa para a expansão do investimento este ano?

Mantega: Ele poderá crescer entre 6% e 7%. Ele está surpreendendo e vindo acima do que estava programado. As concessões de infraestrutura vão dar um grande impulso. Na verdade, temos atrasos de infraestrutura construídos nos últimos 30 a 40 anos. Isso é um problema, mas ao mesmo tempo é uma oportunidade, porque tem uma grande demanda a ser atendida.

Valor: No ano passado tivemos um câmbio desvalorizado, juros baixos e inflação alta. Que lição o sr. tirou disso?

Mantega: No ano passado tínhamos que fazer um ajuste do câmbio, porque estávamos perdendo muita competitividade. O real se desvalorizou 17%, embora ainda esteja valorizado, se você pegar uma série histórica maior. Mas foi um ajuste. É claro que esse ajuste tem impacto na inflação. Além disso, tivemos um choque de oferta, uma seca nos Estados Unidos e mesmo aqui tivemos seca. Tudo isso causou uma pressão inflacionária que se propagou para este ano.

Valor: A desvalorização do ano passado foi feita meio que na marra, não?

Mantega: Foi feita. Nós usamos os IOFs para isso, usamos também os swaps e tudo mais. De fato foi feita, porque a briga comercial estava dura. Nós estávamos sofrendo uma invasão de importações a preços artificialmente baixos por causa do câmbio.

Valor: O senhor diria que dada a pressão inflacionária que essa intervenção criou, a política deu errado?

Mantega: Absolutamente. Se nós não tivéssemos feito isso, a indústria brasileira podia ter acabado, sofreria uma deterioração.

Valor: A recuperação da industria é consistente?

Mantega: Foi acima das expectativas do mercado e vem dando sinais de recuperação. As pessoas esperam um crescimento linear, mas o crescimento se dá em ziguezague. O importante é a trajetória ser ascendente e isso está acontecendo. Mostra que as medidas do governo estão surtindo efeito e assim mesmo é um efeito retardado.

Valor: O novo ciclo de aperto monetário, com aumento da taxa Selic, pode prejudicar essa retomada?

Mantega: Acredito que não. O surto inflacionário, que já está passando, criou uma expectativa ruim. Então o Banco Central [ao elevar os juros] corta essa expectativa e diminui a possibilidade de uma propagação da inflação. Não vai prejudicar, porque os investimentos não se movem pela taxa básica de juros.

Valor: Mas ela afeta o consumo...

Mantega: Afeta o consumo, mas não o investimento que se move com as taxas do BNDES, que estão muito boas. O custo financeiro do investimento é muito baixo, o custo tributário está sendo reduzido e contivemos o custo da energia elétrica. A desoneração da folha entrou praticamente esse ano para uma boa parte dos setores, tudo isso será perceptível e vai estimular a atividade econômica.

Valor: Há muita especulação sobre como é o processo decisório na questão dos juros no governo Dilma Rousseff. Qual o grau de autonomia do Copom?

Mantega: Essa uma decisão do Copom. Não é da presidenta nem do ministro da Fazenda. Quem quiser acreditar (que é diferente), que acredite. O governo Dilma começou em 2011 com um aumento na taxa de juros. Você acha que nós gostamos de aumentar a taxa de juros? Não gostamos. Mas o Banco Central achou que tinha que aumentar e aumentou. Levou os juros para 12,5%. Depois voltou. É o processo natural. O BC decide quando e quanto tem que aumentar. Não tem nenhuma interferência nossa


Fonte: Valor